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2.4 Dois modelos de propostas bilíngües bem-sucedidos dão exemplo de humanidade e saem da teoria para a vida.

2.4.3 Algumas experiências brasileiras em matéria de educação de surdos.

2.4.3.1 O modelo de educação inclusiva do Distrito Federal.

No Distrito Federal o modelo inclusivo de educação foi implantado pela Lei Distrital 3.218, de 18 de novembro de 2003, que implantava e apontava o entendimento acerca do que é Educação Inclusiva:

Art. 1º Fica estabelecido o modelo de Educação Inclusiva em todas as escolas da rede pública de ensino do Distrito Federal.

§ 1º Para os efeitos desta Lei, entende-se por Educação Inclusiva o atendimento a todas as crianças em escolas do ensino regular, respeitando suas diferenças e atendendo suas necessidades, ressalvados os casos nos quais se demonstre que a educação nas classes comuns não pode satisfazer às necessidades educativas ou sociais da criança ou quando necessário para o bem-estar da criança.

Seguindo o exemplo deixado pela Lei Libra a regulamentação da lei veio um pouco mais tarde na forma do Decreto Distrital 26.293 de 05 de outubro de 2005, que além de instituir a Escola Inclusiva e o Serviço de Apoio, mantinha as Escolas Especializadas (as chamada Escolas Especiais) no sistema público de ensino, nos seguintes termos:

Art. 1o A Educação Inclusiva compreende o atendimento a todas as crianças, com deficiência ou não, em escolas comuns, respeitando-se suas diferenças e atendendo suas necessidades, ressalvados os casos em que a educação nas classes comuns não possa satisfazer às necessidades educativas ou sociais da criança ou quando necessário para o seu bem-estar.

Art. 3o As escolas especializadas deverão ser mantidas visando o atendimento complementar a alunos com necessidades educacionais especiais matriculados nas escolas comuns da Rede Pública de Ensino ou para atendimento exclusivo àqueles cujas condições não lhes permitam, no momento, beneficiar-se da escola comum. Parágrafo Único. O atendimento exclusivo será ofertado, prioritariamente, a alunos entre 0 (zero) a 21 (vinte e um) anos, com carga horária e dias letivos idênticos aos da escola comum ou em atendimento diferenciado com dias letivos e carga horária específicos, conforme possibilidades físico-motora, cognitiva e social do educando, de forma a garantir o seu bem-estar e o seu desenvolvimento global.

(...)

Art. 5o O Projeto Pedagógico das escolas da Rede Pública de Ensino deverão contemplar, em consonância com as orientações pedagógicas oficiais, as estratégias necessárias à implementação da Educação Inclusiva, dentre elas:

I – Sistema de Apoio Especializado, caracterizado pelo conjunto de ações pedagógicas capazes de atender às especialidades dos alunos com necessidades educacionais especiais e de toda a comunidade escolar, podendo ser realizado nas Classes Especiais, Classes de Integração Inversa, Salas de Apoio/Recurso, Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual e Auditivo e Escolas Especializadas; II – adaptações curriculares que possibilitem ao aluno com necessidades educacionais especiais participar do currículo comum de ensino, respeitando sua

individualidade e seu próprio; (sic)

III – procedimentos e instrumentos de avaliação adequados às possibilidades dos

alunos com necessidades educacionais especiais;

IV – organização específica de sua estrutura e funcionamento para atender às necessidades educacionais de todos os alunos participantes da Educação Inclusiva. Sendo assim, o Distrito Federal conta com escolas de Ensino Especial e escolas de Ensino Inclusivo. As chamadas Escolas Inclusivas são todas de Ensino Fundamental e do Ensino Médio e, no que toca ao atendimento de alunos surdos e de alunos com perdas auditivas, contam com a atuação de professores não-regentes cuja função é interpretar simultaneamente seis aulas por dia, cinco dias por semana para a Libras.

Tais professores são oriundos das diversas licenciaturas e aprenderam a Libras em cursos livres e/ou com o contato com alguma comunidade surda. Trabalham sempre em companhia de um outro professor, dessa feita regente, que ministra suas aulas para os alunos ouvintes da turma de inclusão. Há de se destacar que ainda não há adaptação curricular nas escolas inclusivas, portanto os alunos surdos “aprendem” pelo currículo dos alunos surdos, com a diferença de que contam com o concurso de professores-intérpretes e do Serviço de Apoio em turno contrário que nas Escolas Inclusivas funcionam como Salas de Apoio/Recurso.

O Serviço de Apoio nas Escolas Inclusivas (Salas de Apoio/Recurso) que atende em turno contrário existe no Ensino Médio e no Ensino Fundamental das escolas públicas do Distrito Federal. Dessa forma, por exemplo, se os alunos surdos assistem aula na turma inclusiva pela manhã, à tarde eles retornam à escola para que outros professores, ouvintes,

com conhecimento de Libras, em algumas escolas são os mesmos professores que interpretam nas turmas de inclusão, auxiliem, entre outras atividades, na confecção e organização de trabalhos, resolução de exercícios e para o reforço também.

No Serviço de Apoio, os professores dão atendimento por áreas afins do conhecimento, assim, o professor de Biologia presta atendimento, também, em Química; o professor de Física presta atendimento, também, em Matemática e daí por diante. Não obstante, nem sempre a escola funciona dessa maneira. É possível se ver, por exemplo, professores de Língua Portuguesa prestando atendimento em Matemática e outras disciplinas ou mesmo um outro professor prestando atendimento em áreas para as quais não está habilitado, o que compromete tanto o ensino quanto a aprendizagem.

As Escolas Especiais ou Especializadas funcionam em regime complementar, como uma espécie de clínica terapêutica, ou ainda atendendo àqueles que, por alguma razão, não podem ou não conseguem freqüentar uma classe de inclusão. Nessas escolas não há a cooperação de tradutores de sinais, embora haja professores com conhecimento de Libras, pois as aulas são ministradas por esses mesmos professores de acordo com as disposições individuais de cada aluno.

O modelo descrito nessa seção não pode ainda ser considerado um modelo bilíngüe de educação de surdos se comparado com os modelos suecos e venezuelanos descritos nas seções (2.3.1 e 2.3.2), De fato o modelo de educação inclusiva do Distrito Federal precisa avançar em muitos pontos que não apenas estratégias de acesso ao currículo regular e adoção de um tradutor de sinais para a turma. A escola que se pretende inclusiva, no que diz respeito à educação de surdos, deve no mínimo promover a Libras entre surdos e ouvintes, pelo menos, dentro de suas instalações.

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