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Breve apontamento histórico ao desenvolvimento dos IT

PARTE II – ESTUDOS DE CASO

5.3. Irish Institutes of Technology (IT)

5.3.2. Breve apontamento histórico ao desenvolvimento dos IT

Para sustentar uma política de desenvolvimento económico centrada na captação de investimento estrangeiro, o Governo Irlandês levou a cabo um conjunto de acções de suporte, do qual se destacam medidas de reforço e de valorização educativa. Central a esse pacote de medidas educativas foi a criação

52 Numa primeira fase de evolução, o sector não-universitário irlandês foi composto por uma rede de Regional Technical Colleges

(RTC), que posteriormente, se passaram a designar, por razões que identificaremos adiante, por Institutes of Technology.

53Importa, neste ponto, fazer uma chamada de atenção para o facto de não terem existido, na adopção deste modelo educativo,

preocupações explícitas de índole social, como as verificadas no caso dos Community Colleges americanos. Como várias vezes referido, a expansão e diversificação do sistema de ensino pós-secundário irlandês resultou da necessidade de responder às solicitações do tecido económico, sobretudo internacional, que se localizou no país. “The key future of the Irish education system (…) has been its inexpensive volume production of technical graduate, undertaken without incurring costs of tackling educational disadvantage (…) (Barry, 2005: 1).

dos Colégios Técnicos Regionais (Regional Technical Collges, RTCs), e a implementação de um diploma de certificação técnica, em Maio de 1963 (OCDE, 2006a).

Visando, por um lado, a criação de uma base de qualificações e competências de suporte à economia emergente, e por outro, a criação de condições de sustentabilidade económica a médio e longo prazo, o modelo educativo preconizado para estes colégios técnicos regionais centrou-se na resposta:

• à necessidade de desenvolvimento de uma trajectória de ensino pós-secundária alternativa às formas tradicionais existentes (ensino universitário), com uma missão fundamentalmente vocacional e técnica;

• à necessidade de aproximar o ensino pós-secundário à economia;

• à necessidade de educar mais pessoas, no sentido de criar bolsas de mão-de-obra técnica altamente especializada.

Tendo presente este conjunto de objectivos, os RTCs desenvolveram-se como uma estrutura institucional autónoma, caracterizando-se por:

• uma organização infraestrutural de base e incidência regional,

• uma missão técnica e vocacional,

• uma oferta formativa diversificada, quer do ponto de vista dos conteúdos, quer do ponto de vista da organização da aprendizagem,

• uma maior abertura ao nível das condições de acesso e financiamento.

Importa, desde já, fazer uma nota de reflexão sobre a questão da autonomia institucional que caracterizou o desenvolvimento dos RTCs, bem como dos Community Colleges americanos, estudados anteriormente. Em ambos os casos, o desenvolvimento de um modelo alternativo ao ensino pós-secundário tradicional existente exigiu a criação de uma estrutura institucional individualizada e autónoma, caracterizada por especificidades de missão e acção educativa distintas das organizações pré-existentes. Procurou-se através destas novas formas institucionais vincular ao sistema de ensino pós-secundário uma alternativa educativa de ensino profissionalizante, credivél e independente de todo o quadro de práticas educativas tradicionais, e reforçar na comunidade económica e social o reconhecimento e aceitação deste modelo alternativo. Em ambos os casos, a institucionalização deste modelo mostrou ser uma solução adequada.

Em Portugal esta institucionalização não se verifica. Actualmente os CETs são assumidos por um conjunto de instituições de formação54 que abrangem o ensino secundário e pós-secundário. Esta heterogeneidade de soluções institucionais tem, como iremos ver mais adiante, dificultado a gestão e a organização destas ofertas, e o aproveitamento efectivo das suas potencialidades.

5.3.2.1. Fase de criação e expansão (1960-80)

O desenvolvimento dos RTC dá-se, de forma efectiva, em 1966, com a subida ao poder de um novo ministro da educação, Dounough O’Malley, e com a consequente mudança de política sustentada numa visão economicista da educação. Em reforço da estratégia educativa criada para o apoio aos investimentos económicos em curso, o ministro O’Malley ordenou o estabelecimento de uma comissão de supervisão – Steering Comittee on Technical Education -, para monitorar e avaliar o desenvolvimento dos RTCs. Após um ano de trabalho, esta comissão apresentou um primeiro relatório de apreciação onde identificou como principal missão destes colégios a educação técnica e vocacional direccionada para as necessidades económicas.

We believe that the long-term function of the Colleges will be to educate for trade and industry over a broad spectrum of occupations ranging from craft to professional level (…). They will, however, be more immediately concerned with providing courses aimed at filling gaps in the industrial manpower structure, particularly in the technician area. (Steering Committee on Technical Education, 1967:11 in Clancy, 2008:125)

Segundo o mesmo relatório, esta missão educativa deveria ser concretizada mediante a disponibilização de uma oferta polivalente, ao nível de: i) cursos de ensino secundário (sénior cycle post-primary courses), ii) cursos de certificação profissional; iii) cursos de qualificação técnica, iv) cursos de nível terciário, de acesso a qualificações superiores ou profissionais e iv) educação para adultos (OCDE, 2006a).

O parecer da Comissão reconhece, pela primeira vez, a missão terciária dos RTC, assumindo-os como instituições de ensino pós-secundário não-universitário55. Ao longo dos anos que se seguiram, a natureza

terciária e vocacional dos RTC foi-se destacando e reforçando.

From their inauguration the new colleges concentrated their provision of third level courses (…). In addition to their strong vocational empahasis the courses offerings of the RCTs were also distinctive in that they were short-cycle or mainly sub-degree level courses. The majority of courses were of two-year duration leading to a National Certificate (…) (Clancy, 2008:126)

Em início da década de 70 as autoridades irlandesas decidiram-se pela adopção de um sistema de ensino superior binário, com os RTCs a assumir a categoria de ensino pós-secundário não-universitário.

5.3.2.2. Fase de transformação e consolidação (1980-2000)

Apesar do reconhecimento da sua missão vocacional, enquanto resposta eficiente às necessidades de mão- de-obra qualificada do mercado de trabalho, os RTCs funcionaram até muito recentemente sob um sistema de gestão e organização centralizado e pouco flexível, que exerceu obstáculos significativos ao seu desempenho junto das comunidades socio-económicas locais (Clancy, 2008). Segundo o autor, na base desta ausência de autonomia esteve uma disputa institucional sobre a gestão e orientação formativa dos RTC e do seu papel enquanto instituições ao serviço da economia.

O reforço da sua identidade e autonomia educativa dá-se apenas em 1992, com a implementação do Regional Technical Colleges Act:

Because of strains concerning the limited autonomy of the RTC, the government introduced legislation in 1992 establishing the RCTs as autonomous institutions (The Regional Technical Colleges Act, 1992). This Act defined the functions of the colleges: to provide vocational and technical education and training for the economic, technological, scientific, commercial, industrial, social and cultural development of the state with particular reference to the region served by the Colleges (Clancy, 2008:136).

Adendas ao Regional Technical Colleges Act de 1992, nomeadamente em 1997, 1998 e 1999, resultaram redesignação de Regional Technological College para Institutes of Technology e no reforço da sua rede institucional. Na base desta mudança de designação institucional esteve a tensão existente entre uma vontade de criar um subsistema próprio, institucionalmente autónomo e individualizado, capaz de configurar uma alternativa formativa credível com um prestígio semelhante ao do ensino universitário, e a autonomia de resposta às questões locais, via disponibilização de uma oferta educativa mais diversificada e dirigida.

Since the passing of the Regional Technical Colleges Act in 1992, the most important development in this sector has been the change in title whereby each of the former RCTs was designated as an Institute of Technology. This development emanated from the report of the Steering Committee on the Future Development of Higher Education (HEA 1995) and the separate report of its Technical Working Group (1995). One of the issues examined by these committees was the claim for a university in the city of Waterford to meet the perceived inadequacy in higher education provision in the south-east of the country. The Technical Working Group (…) did not support the establishment of a university but instead argued that the existing RCT should be upgraded to an Institute of Technology (…), with an acknowledgement that it should be allowed to offer more degree programs than that offered in other RCTs. This recommendation to introduce differentiation between existing RCTs and to favour enhanced status for one proved to be political naïve, and while Waterford RCT became Waterford Institute of Technology, the Government was forced to accede to pressure from other RCTs to re-desigante all RCTs as Institute of Technology (Clancy, 2008: 140)

A alteração do quadro regulamentar de acção ao longo da década de 90 permitiu a consolidação institucional dos IT, e a sua consagração educativa. Entre meados da década de 70 e finais da década de 90, o número de alunos a frequentar os IT cresceu na ordem dos 900% (CDIT, 2003).

The success of the Institutes of Technology both in fulfilling their role of training and educating for industry, in adapting to industry needs in a rapidly changing environment, can be measured in their rapid expansion and increased enrolments – increasing from 3234 in 1975/76 to over 32000 in 1997/98.(CDIT, 2003).

5.3.2.3. Institutes of Technology – O retrato actual

Actualmente, o sistema de IT irlandês conta com 13 Institutos56, distribuídos por todo o territóio nacional. De acordo com a informação disponível no relatório da OCDE (2006), encontravam-se matriculados, em 2001, 38000 estudantes, dos quais 33000 (aprox. 87%) em regime parcial. A expressão significativa da frequência estudantil a tempo parcial testemunha a importância destas instituições no desenvolvimento de carreiras educativas ao serviço de públicos não-tradicionais (OCDE, 2006a).

Do ponto de vista programático, os IT tem-se centrado na sua missão vocacional, através da oferta de cursos de ciclo curto conducentes à certificação de Higher Certificate (2 anos). Paralelamente, têm assumido de, forma gradual, outras missões complementares, como sejam o ensino académico, com a oferta de cursos de graduação e pós-graduação, e o desenvolvimento de actividades de investigação ao serviço das comunidades locais e regionais.

Actualmente, os IT contabilizam cerca de 40% dos alunos matriculados no ensino pós-secundário irlandês e 53% dos alunos matriculados pela primeira vez. Destes, cerca de 80% estão inseridos em cursos conducentes ao Higher Certificate e Diploma Certificate (cursos de especialização profissional de ciclo curto, de 2 e 3 anos respectivamente), e os restantes 20% estão em envolvidos em programas conducentes ao grau de Bachelor’s e pós-graduações (OCDE, 2006a:186).