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TIPO DE CONTRATO SOCIAL

4 UM PROCESSO CHAMADO COMUNICAÇÃO

4.1 Breve contextualização histórica

As pesquisas sobre Comunicação tomam força, na década de 1960, de mãos dadas com a ideia de levar desenvolvimento àqueles países que, segundo critérios hegemônicos, estavam “ficando para trás”. A investigação em Comunicação teve períodos fortes, um deles compreende a década de 1960 e metade da década de 1970. Durante esse período, a concentração do interesse estava justamente em associar a Comunicação ao desenvolvimento, levando, por meio das mídias e de outros canais, segundo as ideias do momento, as ferramentas necessárias para a evolução dos povos chamados, naquele tempo, de “subdesenvolvidos”.O problema da proposta era o olhar recortado para o desenvolvimento econômico e tecnológico, esquecendo-se do contexto sociocultural das comunidades.

Essas primeiras tentativas teóricas de pensar a Comunicação como uma via de transformação apareceram nos Estados Unidos, considerado, pela maioria dos pesquisadores latino-americanos em Comunicação Social, o berço dos modelos tradicionais da Comunicação verticalista. Nesse contexto, autores como Everett Rogers, Daniel Lerner o Wilbur Schramm (BARRANQUERO, 2006) representaram o que se denominou Comunicação para o Desenvolvimento, ou Difusionismo, etapa na qual se começou a entender a Comunicação como uma ferramenta importante nos processos de transformação social.

Porém, a transformação era pensada fundamentalmente a partir da perspectiva de incentivar o desenvolvimento agrícola, por meio da difusão de modelos que tinham sido criados para o agricultor norte-americano.Assim, “as ações, centraram se, de modo

experimental, em programas de capacitação em tecnologias, extensão de inovações agrícolas, educação para a saúde, em zonas pouco industrializadas...” (BARRANQUERO, 2006, p. 2).

Pensar a Comunicação como ferramenta de desenvolvimento foi o argumento forte de muitos estudiosos daquela fase, na qual as mídias de massas irromperam com força, mobilizando os parâmetros do fluxo de informação. Luis Ramiro Beltrán, jornalista e pesquisador em Comunicação para o Desenvolvimento, já em 1968 escreveu que “só por meio da comunicação ao povo (eficiente e efetivamente) pode ter lugar qualquer desenvolvimento” (BELTRÁN, 1968, p. 26).

Desde aquela primeira definição de Aristóteles – na qual entendia a comunicação (retórica) como formada por três elementos: locutor, discurso e ouvinte –, muitas definições têm chegado aos livros de Comunicação Social (BELTRÁN, 1981). Laswell, em 1948, propôs um paradigma que tem tido, até hoje, grande incidência nas pesquisas e nas salas de aula da área. Ademais, esse paradigma adicionou ao modelo aristotélico de quem, diz o que, a quem, a ideia de como o diz e com que efeito. Laswell (1948 apud BELTRAN, 1981, p. 3) entendia que “uma forma conveniente para descrever um ato de comunicação é a de dar respostas às seguintes perguntas:¿Quem?,¿Diz o que?, ¿Em qual canal? (médio\MEIO), ¿A quem?, ¿Com que efeito?”. Os estudos de Laswell tiveram grande eco na Propaganda e na Publicidade, devido a esse olhar atento para os efeitos da mensagem.

A maioria das definições de Comunicação posteriores a Laswell veio “agarrada” ao conceito de transmissão, assim como ao conceito de influência (BELTRAN, 1981, p. 3). Beltrán publicou, em 1981, um ensaio que apresenta um percurso pelas várias tentativas de ajustar a definição de Comunicação, até chegar à ideia de um processo de construção participativa e dialógica. Entendemos que o ensaio Adiós a Aristóteles: laComunicación “Horizontal”, de Beltrán, constitui uma leitura obrigatória para entender esse processo em constante construção.

Posteriormente a Laswell, os engenheiros Shannon e Weaver (1971) desenvolveram um modelo eletromecânico de comunicação, no qual estavam incluídos os elementos: fonte, transmissor, canal, receptor e destinatário. De uma forma muito simplificada, a fonte era a origem na qual era emitido o sinal que, por sua vez, era transmitido por um transmissor, em algum canal escolhido, e logo recebido pelo receptor(ponto oposto da fonte),até finalmente chegar ao destinatário da mensagem.

Schrammtomou esse modelo de Shannon e Weaver (1971) e o adaptou à comunicação humana, substituindo o transmissor e o destinatário pelos conceitos de codificador e

decodificador, respectivamente. A ideia de transmissão continuava prevalecendo nesses modelos (BELTRÁN, 1981).

A incidência ou não das mídias no desenvolvimento, as próprias definições dos conceitos “desenvolvimento” e “comunicação”, que se discutiam a partir da década de 1960, já começavam a mostrar que o grande desafio era “atingir” os destinatários das mensagens ou, “comunicacionalmentefalando”, os chamados receptores, ou, em termos de Schramm, decodificadores. Não é nosso objetivo retomar a linha do tempo na qual vão se encaixando os principais modelos que tem representado a evolução das Ciências da Comunicação ao longo dos anos, mas queremos sim destacar como as ideias iniciais, que associam a Comunicação à transmissão de informação, têm dado muito trabalho para seremdesconstruídas. Conceitos que vêm de longe ainda estão arraigados no modo cotidiano de “fazer comunicação”.

Após esse “encantamento” midiático dos anos 50 e 60, surgido a partir da imposição das mass mídias, pesquisadores da Comunicação, principalmente provenientes de vários países de América Latina, protagonizaram um movimento intelectual que questionava os efeitos culturais das grandes mídias. Na década de 1970, começou a se consolidar um cenário intelectual de resistência aos parâmetros hegemônicos de transmissão vertical de modelos materiais e simbólicos. Esse seria um segundo momento forte de pesquisas em Comunicação Social, começando em meados de 1970 e se estendendo até o final da década de 1980.

Nesse período, Beltrán (1981, p. 6) expressa que “finalmente, a definição conceitual própria da natureza da comunicação, tal como proveniente dos países desenvolvidos, está sendo rebatida hoje nos países em desenvolvimento”.Nesse contexto de luta ideológica, destacaram-se estudiosos como AntonioPasquali, na Venezuela; Paulo Freire, no Brasil; Rosa MaríaAlfaro, no Perú; Armand Mattelart, no Chile; Luis Ramiro Beltrán, na Bolívia; Marita Matta e Eliseo Verón, na Argentina;Néstor García Canclini, no México; Mario Kaplún, no Uruguai, e Jesús Martín Barbero, na Colômbia, entre outros.

Essa segunda fase, chave das pesquisas em Comunicação, foi caracterizada, como descreve Beltrán (1981), por uma tensão entre o norte e o sul, entre o desenvolvimento e os que se contentavam com “estar em vias de...”. A constatação, legitimada pelo informe Mc Bride27, a cargo da UNESCO, de que a grande maioria da informação do planeta (incluindo a dos países em desenvolvimento) provinha de agências de notícias dos Estados Unidos e da

27 O informe Mc Bride foi publicado pela UNESCO em 1980 revelando a grande desigualdade no fluxo de

informação, o intercambio de informação entre países em desenvolvimento era praticamente inexistente assim como a produção de notícias proveniente desse grupo de nações. Estados Unidos, Europa e Japão concentravam as principais agências noticiosas do planeta e nelas produziam também uma visão fragmentada sobre os países de América do Sul, onde se destacavam os problemas de educação, pobreza e desigualdade social.

Europa. Esse desequilíbrio revela um desequilíbrio assustador nas fontes de informação que não era outra coisa senão reflexo da concentração midiática imperante e da verticalidade do fluxo das comunicações. Essas condições geraram um contexto propíciopara esses estudiosos e comunicadores, principalmente latino-americanos levantassem a bandeira da luta pela busca do equilíbrio.