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O corpus da nossa pesquisa está constituído pelas manifestações discursivas do movimento Vem pra Rua, extraídas das mídias sociais oficiais (Twitter e Facebook), no período compreendido entre o dia 17 de março e 17 de abril de 2016, últimos trinta dias antes da votação pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff na câmara de deputados. A escolha desse período obedeceu ao fato de que entendemos que essa “reta final” em direção à votação do impeachment na câmara representou um período discursivo “quente”, com postagens que evidenciaram uma carga política/ideológica muito forte.

Apesar de que acompanhamos as mobilizações cidadãs nas redes sociais desde o ano 2013 – data na qual a “ida as ruas” ainda não estava representada por movimentos organizados e não estava exclusivamente orientada contra o governo federal –, fizemos também um seguimento minucioso da trajetória discursiva do Vem pra rua desde seu surgimento em 2014, no entanto entendemos que nesses últimos trinta dias antes da votação foi possível observar uma “condensação” discursiva, resultado de quase dois anos de articulação do movimento.

No site oficial do Vem pra Rua encontram-se os links que conduzem às mídias sociais do grupo que serão, como foi dito, objeto de estudo de nossa pesquisa. Com foco nas manifestações discursivas do movimento Vem pra rua, a pesquisa considera, para a organização do corpus de análise, o site oficial do movimento Vem pra rua

(www.vemprarua.net), a página oficial de Facebook

(www.facebook.com/VemPraRuaBrasil.org) e a conta de Twitter (@vemprarua_br), juntamente com as manifestações de tuiteiros seguidores da conta oficial.

Interessa-nos particularmente analisar as estratégias discursivas utilizadas pela organização na busca de conseguir seus propósitos políticos.Para tanto, deveremos transgredir o caminho de análise do texto escrito e adentrarmos na análise de múltiplos códigos semióticos, característicos das novas vias de comunicação, propostas principalmente pelas atuais formas de interação virtual. Nas inúmeras postagens do grupo existem escolhas linguísticas e imagéticas que em todo momento contribuem para reforçar os propósitos, em aparência, minuciosamente traçados.

Esta pesquisa tem um corpus constituído por 55 textos, incluindo a apresentação da página oficial do Vem pra rua na internet, os 40 textos publicados no Twitter pela conta oficial do grupo e por seus seguidores e os 14 textos correspondentes as postagens feitas na conta oficial do Facebook. A quantidade de textos de cada categoria respondeu a um processo

de escolha que levou em consideração, principalmente, a representatividade discursiva em função das temáticas encontradas. Mais adiante, ainda nesta seção da tese, explicamos como chegamos a esse recorte.

A página oficial será utilizada como ponto de partida, quanto à apresentação do movimento, como primeiro e mais abrangente momento de auto-afirmação identitária por parte do Vem pra rua. A partir do site, concretamente na seção Sobre nós, iremos percorrer “a trilha” discursiva ao analisar criticamente textos publicados nas contas oficiais das redes sociais Twitter e Facebook do movimento. Cada um dos espaços virtuais tem as suas possibilidades discursivas em função das ferramentas, dos aplicativos e da proposta de comunicação e de interatividade.

Figura 2: Página oficial do movimento Vem pra rua na web

Para compor esse corpus, partimos primeiro de um seguimento das publicações do grupo nas suas redes sociais, desde sua formação em 2014. Nesse percurso o discurso destacado era o de combate à corrupção sem grandes compromissos a favor ou contra ideologias partidárias. Com o passar do tempo, os posicionamentos ficaram mais claros e atingiram seu ápice no final de 2015 e começo de 2016, com discursos mais diretamente contra o partido do governo e seus representantes. O grupo, no começo do surgimento do possível impeachment à presidenta Dilma Rousseff na agenda política nacional, não se posicionou. Com o devir dos fatos, e, segundo se diz, a pressão política de grupos opositores, o Vem pra rua definiu claramente seu discurso. Começou assim uma campanha pró- impeachment que teve grande investimento na Comunicação virtual. Para definir os textos que serviriam aos nossos objetivos de análise, fizemos uma leitura minuciosa das publicações do grupo e realizamos buscas feitas no Twitter Advanced, ferramenta do Twitter que permite procurar posts por palavras, datas, hashtags, e outros critérios tanto isolados como

combinados. Nossa procura foi pelas hashtags #vemprarua e #vemprarua_brasil, no período do dia 17 de março a 17 de abril de 2016. Na busca realizada a partir dessas palavras-chave, aparecem publicações da conta oficial do Vem pra rua e de usuários do Twitter que seguem a conta.

Logo, após uma seleção macro, recolhemos mais de 300 tuítes e, após várias leituras desse primeiro recorte, fomos identificando unidades temáticas abordadas pelos tuiteiros. Dessa forma, começou um processo de decantação de tuítes que, dentro de cada categoria de temas, representava melhor as posturas discursivas identificadas. Num processo detalhado e cuidadoso de seleção chegamos aos 40 tuítes “finalistas”, entendendo que contribuem para dar uma ideia fiel do registro da maioria das vozes que se manifestavam na rede social a partir dessas hashtags.

No caso doFacebook, a seleção foi mais simples porque nos concentramos na página oficial e no período no qual tínhamos interesse, assim, logo após uma primeira seleção com mais de 60 postagens,escolhemos as 14 que representavam as estratégias discursivas do movimento.

Na dissertação de mestrado, decidimos focar o nosso recorte no Twitter, analisando discursivamente as manifestações dos tuiteiros de um movimento que se levantou contra a prefeita da cidade de Natal, RN, num determinado período de tempo. Nessa instância, além de sair do território do estado de RN para uma mobilização nacional, decidimos ampliar o recorte para duas mídias sociais em lugar de uma: Facebook e Twitter. Além da exigência desse momento acadêmico de ampliar nosso campo de estudo, entendemos que olhar para um movimento que protagonizou uma mobilização nacional, em uma frente de ataque ideologicamente oposto ao que foi defendido pelo movimento estudado no mestrado, vai nos oferecer uma nova perspectiva do papel que desempenham as redes sociais nestas mobilizações.