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Nas bases teóricas desta pesquisa encontra-se a Análise Crítica do Discurso que, como foi mencionado, tem sido apresentada como caminho teórico e metodológico (CHOULIARAKI& FAIRCLOUGH, 1999; FAIRCLOUGH, 2001, 2003). Gill (2012), ao destacar as especificidades do analista do discurso no momento da investigação científica, destaca de forma quase humorística o papel desses estudiosos da linguagem:

na minha opinião, a analise de discurso deveria trazer consigo urna alerta sobre a saúde, semelhante aos que são colocados em comerciais de cigarros, porque fazer uma analise de discurso muda fundamentalmente as maneiras como nós experienciamos a linguagem e as relações sociais (GILL, 2012, p. 253).

Tomando como ponto de partida a ACD, escolhemos, como adiantamos no começo do capítulo, recorrer à proposta transdisciplinar da Abordagem Sociológica e Comunicacional do Discurso (ASCD), como via de compreensão das mudanças sociais que representam a realidade cambiante na qual nos inserimos. Pedrosa (2012), impulsora da corrente, resume a proposta da ASCD da seguinte maneira:

como uma abordagem nascente, a ASCD apresenta algumas propostas, mas também alguns questionamentos que a movem ao desenvolvimento. Seu diálogo ocorre, nesse primeiro momento, com a Sociologia (Aplicada) para a Mudança Social, a Comunicação para a Mudança Social, os Estudos Culturais e a Linguística Sistêmico Funcional (PEDROSA, 2012).

Seguindo os pressupostos de estarmos imersos numa modernidade líquida (BAUMAN, 2009), representada prioritariamente pelas profundas mudanças nas chamadas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs).Também contribuem para esta pesquisa a Comunicação para a Mudança Social (GUMUCIO DAGRON, 2008) e a Sociologia aplicada à Mudança Social (SACO, 2006), ambas trazendo uma visão humanista ao cenário de transformações velozes que caracterizam o tempo atual.

Para nos ajudar na materialização das análises discursivas, utilizamos como ferramentas de apoio as que nos oferece a Linguística Sistêmico-Funcional (HALLIDAY, 2004), especialmente por meio do Sistema de Avaliatividade, proposto por Martin e White (2005), que nos brinda excelentes ferramentas para “lidar” com as avaliações presentes no texto, provendo suporte para analisar “as realizações linguísticas das atitudes, julgamentos e emoções do produtor textual, e o modo como essas avaliações são negociadas de maneira interpessoal” (WHITE, 2005).

O Sistema nos oferece três subsistemas que nos auxiliarão nas nossas análises: a Atitude, o Engajamento e a Gradação. Detalharemos mais em profundidade as três categorias analíticas no capítulo III desta tese, porém podemos adiantar que enquanto a Atitude é o subsistema das emoções e contempla categorias ainda mais específicas como a Apreciação, o Julgamento e o Afeto; o Engajamento refere-se a questões dialógicas do texto, subdividindo- se em primeira instância em duas subcategorias que são a Heteroglossia (abertura ao diálogo) e a monoglossia (fechamento para toda forma de diálogo). Por fim, o terceiro subsistema da Avaliatividade, a Gradação, refere-se às marcas de intensidade nos textos, assim temos como grande divisão dessa categoria os subsistemas de Força (o grau de uma qualidade) e Foco (graduar categorias que a priori não podem ser graduadas).

Junto às análises linguísticas teremos o suporte da Representação dos Atores Sociais de Van Leeuwen (1997, 2008), que nos guiará para compreender a sustentação ideológica dos produtores dos textos ao representar os diversos atores. Na proposta de Van Leeuwen (1997, 2008), partimos de duas grandes categorias: a Inclusão e a Exclusão. No caso do nosso trabalho a inclusão dos atores acabará nos auxiliando em maior medida, principalmente mediante as subcategorias de ativação e passivação dos atores (atores responsáveis pelas ações ou destinatários delas), individualização ou de assimilação (atores identificados individualmente ou fazendo parte de um coletivo) e personalização e impersonalização (os atores aparecem claramente identificados ou disfarçados mediante alguma característica).

Como os textos que analisaremos têm uma construção semiótica multimodal, principalmente aqueles publicados no Facebook, não poderíamos deixar de analisá-los a partir de uma teoria que nos outorgasse as ferramentas necessárias para uma melhor compreensão das motivações ideológicas que motivaram a construção de sentidos. Para tanto, apelamos às dimensões que nos oferece a Gramática da Multimodalidade, proposta por Cope e Kalantzis (2009). Segundo os autores, existem cinco dimensões que atingem todos os níveis de comunicação (escrito, visual, gestual, espacial e áudio), essas cinco dimensões são, a saber: Representacional (escolhas de representação dos atores nas imagens), Social (como se

vinculam os significados com as pessoas às quais se dirigem os textos), Organizacional (de que forma estão organizados os elementos na imagem), Contextual (a que contexto mais amplo estão relacionadas essas imagens) e Ideológica (a intencionalidade ideológica por trás da composição visual). A perspectiva multisemiótica da construção de significados, tão pertinente no cenário de modernidade líquida (BAUMAM, 2001), permite-nos, tanto como leitores quanto como analistas do discurso, uma melhor compreensão das mensagens que recebemos. Dessa maneira, teremos também ferramentas para identificar casos de abuso de poder e naturalização de hegemonias imperantes.

Pretendemos,portanto, que o aprofundamento na análise discursiva seja atingido mediante uma Abordagem Transdisciplinar (ASCD), apoiada na Teoria da Multimodalidade (COPE; KALANTZIS, 2009), em um olhar atento para o Interdiscurso, por meio da constatação da utilização estratégica das características midiáticas atuais de Transmidialidade e de Convergência (cf. JENKINS, 2008). Jenkins (2008), na sua obra Cultura da Convergência, define esse conceito como: “convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginam estar falando” (JENKINS, 2008, p. 29). Pretendemos que o diálogo entre estas abordagens nos permita desvelar a articulação midiático/discursiva de um movimento que se apresenta como espontâneo e popular, em uma aparente postura democrática baseada na Interatividade com seus seguidores. A seguir representamos graficamente essa dinâmica de análise:

Entendemos que qualquer evento midiático contemporâneo virá a contemplar uma construção multisemiótica de significados e exigir dos leitores, nesse sentido, uma capacidade particular de compreensão das mensagens. Portanto, se estamos nos referindo ao estudo da estratégia de Comunicação, levada a cabo por um movimento social, é pertinente e imprescindível que a abordagem desta investigação também seja feita a partir de um olhar que implique o diálogo e o trabalho conjunto entre várias áreas do conhecimento.