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TIPO DE CONTRATO SOCIAL

4 UM PROCESSO CHAMADO COMUNICAÇÃO

4.5 Convergência, Transmidialidade, Hipermídia

Diante da discussão sobre Convergência midiática, o livro intituladoCultura da Convergência, de Henry Jenkins (2008), tem se posicionado como uma das leituras de “ponto de partida” para avançar na compreensão do “trânsito” intermidiático. Segundo Jenkins (2006),o termo Convergência, vinculado à Comunicação, foi utilizado pela primeira vez por Ithiel de Sola Pool, a quem o autor designa como “profeta da convergência” (JENKINS, 2006, p.10), graças a sua obra Technologies ofFreedom (1983). No entanto, encontramos em outras publicações que o responsável por utilizar pela primeira vez o conceito da Convergência, vinculado aos médios de comunicação social, foi Nicholas Negroponte32, em 1979.

Jenkins (2008, 2006, p. 11) esclareceque

com «convergência» me refiro ao fluxo de conteúdo através de múltiples plataformas midiáticas, à cooperação entre múltiplas industrias midiáticas e ao comportamento migratório das audiências midiáticas, dispostas a ir quase a qualquer parte na procura do tipo desejado de experiências de entretenimento.

A convergência midiática refere-se à coexistência de diversas plataformas, nas quais traspassam permanentemente fronteiras invisíveis. Se antes era claro que a televisão era a mídia das mídias, com a sua proposta audiovisualentrando nos lares da maioria da população do planeta, agora, embora sabendo que o trono ainda lhe pertence, não podemos deixar de perceber que estamos perante um novo ecossistema da Comunicação (BARBERO, 2002). Nesse novo cenário, as mídias tradicionais, representadas pela televisão, o rádio e a mídia

32 Negroponte tem tido grande reconhecimento mundial por incentivar o projeto OLPC (one laptop per child),

que desenvolve computadores portáteis a baixo custo com o objetivo de diminuir a brecha digital entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Autor do livro Being digital publicado em 1995 e já traduzido em mais de 40 línguas.

impressa, encontram-se dentro de uma nova realidade. As mídias tradicionais têm precisado se adaptar, entre outros aspectos, a forma de se comunicar com seus telespectadores, leitores e ouvintes. Ao mesmo tempo, a convivência obrigada com novas plataformas de comunicação que surgiram (e continuam surgindo) com a internetcriou novas condições de se comunicar com os diferentes públicos.

Por um lado, atualmente tem se tornado praticamente imprescindível que toda proposta de comunicação veiculada às mídias tradicionais tenha a sua “extensão” virtual. Esse “braço” na rede pode, por exemplo:(i) significar apenas um canal de divulgação do que se passa no suporte tradicional; (ii) pode representar uma versão especialmente desenhada para as plataformas online; (iii) simplesmente reproduzir o que foi publicado ou emitido no veículo original ou (iv) pode ser também, por meio das redes sociais, um canal de interação com o público. Qualquer proposta de veiculação para TV, rádio ou impresso cobra, complementarmente, uma presença na rede.

Concomitantemente, surge hoje uma infinidade de produtos que já nascem fora das mídias tradicionais, cujo propósito inicial desconsidera essas plataformas ou, em um sentido inverso, utiliza-as para divulgar o que de fato nasceu para ser veiculado na internet. Sites, jornais, TV, rádio online, blogs, vídeos avulsos ou canais no Youtube,podcasts, aplicativos, TV ondemand e inúmeras outras possibilidades que, junto às redes sociais, abriram novas e inovadoras vias de comunicação, desafiaram as hierarquias do fluxo de conteúdos e compartilham o cenário da Comunicação hoje.

O que caracteriza essa (hiper)modernidade – além das inúmeras opções de transmissão de informação com as que contamos os atores sociais, seja na condição de emissores ou consumidores de mídia – é a permeabilidade que tudo o traspassa. Essa transposição nos canais de comunicação alcança diversos aspectos. Por um lado, fica muito claro, como foi abordado antes, que as mídias já não existem nas suas formas puras. As mídias comunicam, junto a outras mídias, obtendo as “vantagens” que cada uma pode oferecer. Contudo é imprescindível que entendamos que existem também outras múltiplas circunstancias que caracterizam a Convergência. Nesse sentido, expressa-se Levy (1999, p. 19) de forma bem eloquente:

é o transbordamento caótico das informações, a inundação de dados, as águas tumultuosas e os turbilhões da comunicação, a cacofonia e o psitacismo ensurdecedor das mídias, a guerra das imagens, as propagandas e as contrapropagandas, a confusão dos espíritos.

Junto à sensação inevitável de caos que carrega a narrativa transmídia, também impera reconhecer que alcança um grau de complexidade muito alto, entre outros fatores, pela imersão do consumidor de informação no transcorrer do processo.

A complexa narrativa vem tanto pela extensão, por meio de diversas plataformas, como as já citadas, quanto pela variedade de suportes para o aceso a esses canais. Se antes para assistir televisão precisávamos ligar o aparelho especialmente criado para essa mídia, hoje podemos assistir TV em diferentes suportes, tais como celulares, tablets, computadores. O mesmo acontece com jornais, rádios e navegar na rede. A forma de contar e de ouvir histórias, seja ela por meio da ficção ou apenas com o intuito de informar ou influenciar, requer uma visão transmidiática.

Transmídia é a multiplicidade de suportes que se organizam para construir uma narrativa que se potencializa na conjunção das diversas vias de expressão.Nas palavras de Jenkins (2006, p. 135), “uma história transmidiática se desenrola através de múltiples suportes midiáticos, com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo” (p. 135).Segundo o estudioso, cada meio tem a sua autonomia e, portanto, “na forma ideal de narrativa transmidiática, cada meio faz o que faz de melhor” (JENKINS, 2008, p. 135). Para Jenkins (2006), a compreensão das possibilidades de cada um permite um contato mais íntimo e profundo. A “liberdade de movimento” entre as mídias que a transmidialidade oferece acaba atraindo públicos diferentes.