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Breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio É a causa de pedir da ação trabalhista.

Neste ponto, devemos estabelecer a diferença entre “fundamentos fáticos”, “fundamentos jurídicos” e “fundamentos legais”.

“Fundamentos fáticos” são os fatos que originaram o conflito objeto da demanda. Tanto a CLT como o CPC exigem a exposição dos “fundamentos fáticos”, ainda que a CLT faça essa exigência de forma mais simples (“breve exposição dos fatos”).

“Fundamentos jurídicos” é a adequação dos fatos ao direito (não é adequação à norma, à lei). A CLT não faz esta exigência, ao contrário do CPC.

“Fundamentos legais” é a indicação da norma, da lei, que ampara seu pedido. Nem a CLT nem o CPC fazem esta exigência.

Assim, se dissermos que o “reclamante trabalhava das 8 horas às 20 horas, sem intervalo, sendo essa jornada superior à máxima permitida, conforme artigo 7º, XIII, da Constituição Federal”, a indicação do horário (reclamante trabalhava das 8 horas às 20 horas, sem intervalo) é fundamento fático, a indicação da jornada máxima (sendo essa jornada superior à máxima permitida) é fundamento jurídico, e a indicação do artigo (conforme artigo 7º, XIII, da Constituição Federal) é o fundamento legal.

No processo do trabalho, ao contrário do processo civil, não há necessidade do fundamento jurídico, mas apenas da breve exposição dos fatos. Ainda que “breve”, deve conter todos os fatos. Não confundir breve com incompleta.

ATENÇÃO: não há necessidade de fundamento legal em nem uma petição inicial (excetuando se o direito é estadual, municipal ou estrangeiro, quando, então, se necessário, o Juiz determinará a prova de teor e vigência, e, em casos em que a causa de pedir for o fundamento legal, como no caso de Ação Rescisória por violação literal de dispositivo de lei).

Como a exposição dos fatos é “uma história”, certamente que há uma ordem a ser seguida. Em uma ação referente a uma relação de emprego, de regra, iniciamos com os dados gerais da relação. Após, a exposição dos fatos referentes a pedidos relacionados à formação da contratualidade. Depois, a exposição dos fatos referentes a pedidos relacionados à extinção da contratualidade. Por fim, a exposição dos fatos relativos a pedidos do transcurso da contratualidade.

Pedido

O pedido é o que a parte está buscando com a ação. É a tutela pretendida. É o que, em tese, deveria ter sido cumprido pela parte adversa, e não foi.

ATENÇÃO: pedido não é a mesma coisa que requerimento. Pedido é o bem da vida buscado no processo (ex.: aviso-prévio, horas extras etc.). Não se “PEDE” que a reclamada apresente os recibos, registros de jornada, mas sim se “REQUER” que ela apresente.

Talvez seja a parte mais “formal” da petição inicial trabalhista. Deve seguir a mesma ordem da causa de pedir (breve exposição dos fatos): formação – extinção – transcurso.

A CLT não contém maiores especificações sobre o pedido, autorizando a aplicação subsidiária do processo civil, observando eventuais adequações que respeitem o princípio da simplicidade, que norteia o processo do trabalho.

De início, o pedido deve ser certo E determinado (e não certo OU determinado, como consta, de forma equivocada, no art. 286, CPC).

Pedido certo é aquele que é inconfundível, que é expresso.

Pedido determinado é aquele definido e delimitado em sua qualidade e quantidade (a quantidade deve ser flexibilizada, pois nem sempre é possível quantificar o pedido). Classificação dos pedidos:

Será simples, quando a ação possuir apenas um pedido. Será cumulado, quando, na ação, existir mais de um pedido (é o que ocorre, de regra, no processo do trabalho).

O art. 292, § 1º, CPC, estabelece os requisitos para a cumulação de pedidos:

Art. 292. É permitida a cumulação, num único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão.

§ 1o São requisitos de admissibilidade da cumulação: I - que os pedidos sejam compatíveis entre si;

II - que seja competente para conhecer deles o mesmo juízo;

III - que seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.

§ 2o Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, admitir-se-á a cumulação, se o autor empregar o procedimento ordinário.

A cumulação de pedidos pode ser:

Própria – quando existem vários pedidos com pretensão de acolhimento (e não deferimento) de todos.

Simples – quando existem pedidos que não têm entre si relação de precedência lógica. São independentes.

Sucessiva – o acolhimento de um pedido pressupõe o acolhimento do anterior. Há vínculo de precedência lógica.

Imprópria – vários pedidos, mas só um pode ser atendido.

Eventual – são pedidos subsidiários. O posterior só é analisado, se o anterior não puder ser analisado, ou for rejeitado. A ordem vincula o Juiz. Importante para interesse de recorrer (art. 289, CPC, que, de forma não técnica, refere-se à “ordem sucessiva”).

Alternativa – Uma ou outra pretensão pode ser acolhida, sem que o autor estabeleça preferência na inicial. Acolhido um, o autor não pode recorrer em relação ao outro.

Os pedidos podem ser formulados de forma direta, em rol destacado na petição inicial, ou indireta, quando se formula o pedido logo após sua causa de pedir. A forma direta é a mais comum e a mais técnica.

Podem existir pedidos sem causa de pedir, que prescindem de causa de pedir. Esses pedidos contêm em si os respectivos fundamentos. São pedidos que não comportam mais de uma causa de pedir. Por exemplo:

Multa do artigo 467, CLT. Honorários advocatícios.

Multa do art. 477, § 8º, CLT (para alguns)

Pode ocorrer de constar causa de pedir na petição inicial, mas não constar pedido. É possível o acolhimento deste “pedido”? A análise é caso a caso, sempre levando em consideração as seguintes perguntas: a parte contrária poderá se defender? O Juiz poderá julgar?

Em regra, os pedidos devem ser interpretados restritivamente. Porém, existe o que chamamos de pedidos implícitos, ou seja, que não há necessidade de postular. Alguns doutrinadores preferem diferenciar o pedido implícito do pedido acessório. Não vejo necessidade prática desta diferenciação. O importante é saber que alguns pedidos são acolhidos, mesmo que não expressamente postulados. Por exemplo:

Juros e correção monetária (Súmula 211, TST) Prestações vincendas (art. 290, CPC)

Normas cogentes da CLT, como anotação de CTPS, hora reduzida noturna (para alguns) etc.

Normas cogentes da Constituição Federal (1/3 de férias, adicional de horas extras etc.)

Honorários advocatícios, exceto nas relações de emprego (para alguns, conforme jurisprudência que está se consolidando em alguns TRTs, também nas ações de relação de emprego).

Art. 467, CLT (para alguns).

Conversão de reintegração em indenização – art. 496, CLT (muito aplicada para os empregados domésticos).

Adicional de insalubridade para agente diverso do alegado na inicial (TST, Súmula 293).

Meio de efetivação diverso daquele invocado no pedido (art. 461, CPC).

Somente no procedimento sumaríssimo, há a necessidade de liquidação dos pedidos. Se a ação tramitar pelo procedimento ordinário, não há necessidade de a parte apresentar pedidos líquidos.

Para a fixação do procedimento, verificamos o valor da causa. Se for até 40 salários- mínimos, o procedimento será sumaríssimo.

Questão muito discutida na jurisprudência e na doutrina diz respeito à forma do pedido de indenização por danos morais. A pergunta é: deve a parte estabelecer o valor? E se estabelecer, o Juiz fica vinculado a este valor?

De início, destaco o problema recursal, sucumbencial, se a parte não indicar um valor, e o Juiz arbitrar um valor que ela considere baixo. A princípio, não teria interesse recursal, pois não foi vencida na demanda (talvez existisse a possibilidade, se o valor arbitrado fosse excessivamente pequeno).

Outro problema é: se a parte delimita um valor, pode o Juiz arbitrar valor menor ou maior? No primeiro caso, a resposta é afirmativa. Não há vinculação do Juiz ao valor pedido, se ele decidir por valor menor.

Mas, se o Juiz entender que o dano merece indenização superior à postulada? A princípio, o valor postulado será o limite, exceto nas indenizações por dano moral coletivo, onde o Juiz pode arbitrar valor superior ao postulado.

A saída é postular a indenização por danos morais “em valor não inferior a R$...”. Assim, permanece a possibilidade de recurso, se o valor for inferior, e permite que o Juiz arbitre valor superior ao mínimo postulado.

Perfeitamente aplicável o art. 286, CPC, ao processo do trabalho. Assim, quando o pedido for de obrigação de fazer ou não fazer, o reclamante poderá requerer a cominação de multa pelo descumprimento da obrigação.

O destaque da expressão “requerer” foi proposital. Não podemos confundir (o que é corriqueiro no processo do trabalho) “pedido” com “requerimento”. Pedido não é a mesma coisa que requerimento. Pedido é o bem da vida buscado no processo (ex.: aviso- prévio, horas extras etc.). Requerimento é a forma como eu pretendo conseguir este “bem da vida” (as provas que eu quero produzir, o benefício da justiça gratuita, a cominação de multa em razão do descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer etc).

Não se “PEDE” que a reclamada apresente os recibos, registros de jornada, mas sim se “REQUER” que ela apresente. Se a petição for feita em “capítulos” (petição “direta”, que é o mais comum e aconselhável), apresentando todos os fatos para, após, apresentar todos os pedidos, não podemos incluir no “capítulo” dos pedidos, os requerimentos, que deverão, por ordem lógica, ser apresentados logo após os pedidos (para eu explicitar a forma como eu quero conseguir o “bem da vida” buscado na demanda, primeiro eu tenho que explicitar qual “bem da vida” eu quero.

A data

É a data em que a petição inicial é assinada. Se for verbal, é a data do comparecimento pessoal da parte à Vara do Trabalho, para apresentar sua reclamação.

A data da assinatura da petição inicial, apesar de ser requisito, não parece ser essencial. A data relevante para o processo é o da distribuição do feito.

Assinatura do reclamante ou de seu representante...

Esse requisito é específico do processo do trabalho (no processo civil, a assinatura será sempre do advogado). Se ocorrer o esquecimento da assinatura, há uma nulidade (há quem diga que é pressuposto processual de existência), que pode ser sanada no momento da audiência.

O CPC exige alguns requisitos que não constam da CLT. Será que há aplicação subsidiária nestes casos?

As provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados

As provas no processo do trabalho são apresentadas em audiência. Assim, não há a necessidade de o reclamante especificar as provas que pretende produzir.

O requerimento para a citação do réu

Não há necessidade de constar requerimento para citação do reclamado, pois há previsão legal de que esta será efetuada pelo chefe de secretaria, sem a necessidade de

despacho do Juiz. Se não há a necessidade de despacho do Juiz, não há por que constar este requerimento.

Valor da causa

A exigência de estipulação de valor para a causa é matéria bastante discutida no processo do trabalho. Parece pacífico que, se o procedimento for o sumaríssimo, é necessário o apontamento do valor da causa.

Nos demais procedimentos, ordinário e sumário (para os que entendem que este continua existindo), há quem defenda a necessidade do apontamento do valor da causa, e há os que defendem posicionamento contrário. Estes últimos alegam que o art. 2º, da Lei n° 5.584/70, continua em vigência, o que faz com que o Juiz, se a parte não estipula o valor da causa, faça-o de ofício. Os primeiros entendem que, se há a necessidade de apontamento no procedimento sumaríssimo, também há para os outros, até para possibilitar saber que a causa não é pelo procedimento sumaríssimo.

Alteração subjetiva e/ou objetiva (causa de pedir e pedido) da ação

Existe a possibilidade de o reclamante alterar subjetiva e/ou objetivamente a ação, acrescentando fatos e/ou pedidos. É o que chamamos de aditamento da petição inicial. A discussão é até que momento isso pode ser feito.

O art. 264, CPC, dispõe que é vedada, sem a concordância do réu, a alteração da demanda após a citação.

No PT, há três correntes: até a citação; até o final dos cinco dias para elaboração da defesa (prazo mínimo para elaboração da defesa) e (majoritariamente), até a audiência, antes da contestação.

Indeferimento da petição inicial

Os vícios que levam ao indeferimento da petição inicial (art. 295, CPC) devem ser verificados antes da apresentação de defesa. Se verificados após a contestação, já não será mais hipótese de indeferimento da petição inicial. Como no processo do trabalho, de regra, o Juiz só toma conhecimento do processo, só analisa o processo, na audiência, dificilmente existirá possibilidade de indeferimento da petição inicial.

Documentos indispensáveis X prova do direito

Alguns documentos são considerados prova do direito. Outros são denominados de indispensáveis à propositura da ação. A diferença é importante em razão das consequências jurídicas da sua ausência no processo.

Documentos indispensáveis: inépcia. Prova do direito: improcedência.

Existe discussão do que seria “documento indispensável à propositura” da ação no processo do trabalho. Alguns exemplos:

Norma coletiva em reclamatória trabalhista comum? Documentos que comprovam gestação?

Documentos que comprovam a existência de filhos em pedido de salário-família?

AUDIÊNCIAS

Audiência, em uma definição bem resumida, é o lugar e momento em que o Juiz se reúne com as partes, com o objetivo de praticar atos processuais. No processo civil, as audiências servem para a prática de determinados atos processuais.

Já no processo do trabalho, pela aplicação do princípio da concentração dos atos em audiência, quase todos os atos são nela praticados. A rigor, na leitura da CLT, somente a petição inicial dos “atos processuais principais” não é realizado em audiência.