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INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

Há determinadas lides em que seus efeitos podem extrapolar o limite subjetivo nela presente. De forma indireta, outras pessoas podem ser “atingidas” por aquela prestação jurisdicional. No ordenamento processual civil pátrio, existem “remédios” para essas situações, o que se denomina “intervenção de terceiros”.

A intervenção de terceiro ocorre, quando uma pessoa ou ente que não era parte originária na ação nela ingressa, defendendo seus próprios interesses ou o de uma das partes primitivas da relação.

O “interesse” acima referido deve ser jurídico, e não econômico, político, moral etc (o que por vezes não é de fácil visualização).

Por se tratar de incidente processual, é inevitável a “quebra” da sequência normal do processo, causando atrasos e demoras, o que é abominado pela principiologia que fundamenta o processo. Assim, somente em situações específicas, previstas em lei (CPC), é que se permitirá esse tipo de “intromissão” no processo.

DINAMARCO ensina que “o fundamento da existência dos institutos da intervenção de terceiros no sistema do processo civil é a proximidade entre certos terceiros e o objeto da causa, podendo-se prever que por algum modo o julgamento desta projetará efeito indireto sobre sua esfera de direito”.

O ordenamento processual do trabalho é omisso em relação à matéria (a exceção do previsto no art. 486, §1º, CLT). Será que as normas — e formas — previstas no CPC são aplicáveis no processo do trabalho?

As relações de trabalho, por vezes, criam situações jurídicas em que, em tese, seriam perfeitamente aplicáveis as disposições acerca da intervenção de terceiro.

A pergunta acima formulada se sustenta pela forma, pela dinâmica como se estrutura o processo do trabalho (informal, concentração dos atos em audiência), em total contraposição à forma como se apresentam, na legislação processual civil, as hipóteses de intervenção de terceiros, com muitos detalhes, extremamente complicados e formalistas.

A cizânia doutrinária e jurisprudencial é grande sobre o tema, principalmente após a ampliação de competência promovida pela EC 45/04.

Vamos analisar as formas de intervenção de terceiro, mais com o objetivo de apreciar a possibilidade de aplicação no processo do trabalho, assim como verificar as adaptações necessárias para a transposição dos institutos, do processo civil para o laboral, quando admitidos.

Assistência

É uma espécie de intervenção de terceiro voluntária, por meio da qual alguém passa a integrar uma relação processual já em andamento, desde que tenha interesse jurídico, com o objetivo de praticar atos processuais tendentes a beneficiar a parte a quem pretende assistir.

Apesar de não estar no capítulo VI do CPC, que trata da intervenção de terceiros (arts. 56 a 80 do CPC), a assistência (arts. 50 a 55 do CPC) é, sem dúvida, uma espécie de intervenção de terceiro.

A assistência tem lugar em qualquer procedimento e em qualquer grau de jurisdição. Art. 50. Pendendo uma causa entre duas ou mais pessoas, o terceiro, que tiver interesse jurídico em que a sentença seja favorável a uma delas, poderá intervir no processo para assisti-la.

Parágrafo único. A assistência tem lugar em qualquer dos tipos de procedimento e em todos os graus da jurisdição; mas o assistente recebe o processo no estado em que se encontra.

A doutrina e a jurisprudência são pacíficas na possibilidade de utilização da assistência no processo do trabalho.

TST, Súmula 82. A intervenção assistencial, simples ou adesiva, só é admissível se demonstrado o interesse jurídico e não o meramente econômico.

Na assistência simples (ou adesiva), o assistente mantém relação jurídica com o assistido e entra no processo como mero auxiliar. A decisão do processo o atingirá apenas indiretamente. Não há relação do assistente com o adversário do assistido.

Na assistência litisconsorcial (ou qualificada), o assistente mantém relação jurídica com o adversário do assistido, e a decisão o atingirá diretamente.

As disposições do art. 53, CXPC, só são aplicáveis ao assistente simples.

Art. 53. A assistência não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação ou transija sobre direitos controvertidos; casos em que, terminando o processo, cessa a intervenção do assistente.

Ainda que possível a sua aplicação no processo do trabalho, é de rara ocorrência e sem muito efeito prático.

A doutrina e a jurisprudência trazem poucos exemplos de assistência. Muito se fala nas atuações do sindicato como substituto, recebendo assistência do empregado substituído. Mas, somente poderá ser aceito este exemplo, se entendermos que a atuação do sindicato não é exclusiva (no mesmo processo).

Também poderia ser admitida a participação, como assistente, de empresa do mesmo grupo econômico etc.

Na verdade, o entendimento pela possibilidade de utilização deste meio interventivo no PT decorre muito da sua simplicidade procedimental.

Procedimento (tudo nos mesmos autos)

1) Requerimento formulado pelo assistente, a qualquer momento, de modo fundamentado (indicação da parte que deseja assistir e da relação de direito material que mantém com uma das partes).

2) Ouvida das partes originárias, no prazo de cinco dias (CPC, art. 51).

3) Havendo concordância das partes (que pode ser tácita), deferimento e inclusão do assistente em um dos polos da relação processual (conforme a posição daquele a quem busca assistir).

4) Não havendo concordância das partes, produção de provas (sendo necessário) e decisão (irrecorrível de imediato).

5) Deferido o requerimento, inclusão do assistente em um dos polos da relação processual e prosseguimento normal, observando a limitação de poderes processuais que se reconhece, em especial, ao assistente simples.

6) Indeferido o requerimento, prosseguimento normal.

Oposição

Ocorre, quando terceiro ingressa no processo, de forma voluntária, disputando a titularidade de coisa ou direito objeto do conflito que originou a demanda.

Só pode ser intentada até a sentença, por força do disposto no art. 56, CPC.

Art. 56. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu, poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos.

A sua aplicação no processo do trabalho é controvertida, não pelos exemplos que possam ser “criados”, mas sim por problema de competência material. Muitos dizem que não existiria competência entre, por exemplo, o empregado opoente e o empregado oposto.

Na oposição, a lide incidente seria do opoente em face dos opostos, autor e réu do processo inicial, que formariam uma espécie de litisconsórcio passivo.

A ação proposta pelo opoente pode ser intentada de forma autônoma, mesmo após a sentença do processo em que ele poderia intervir, quando, então, seria somente em relação à parte vencedora daquela ação.

Outro “problema”, trazido por parte da doutrina, para a aplicação da oposição no processo trabalhista, é a formalidade de seu procedimento que, no mínimo, retardaria muito o processo original.

Procedimento

1) Petição inicial, formulada pelo opoente, dirigindo a ação em face de ambas as partes do processo principal e observando os demais requisitos legais (CPC, art. 57).

2) Distribuição da ação, por dependência, sempre antes de ser proferida a sentença no processo principal (CPC, art. 56).

3) Admitida a distribuição por dependência, citação dos réus, na pessoa de seus advogados (se tiverem). Não admitida, prosseguimento da oposição como ação comum.

4) Admitida a distribuição por dependência e citados os réus, prosseguimento normal (da oposição) até o encerramento da fase postulatória e apensamento dos autos aos do processo principal.

5) Prosseguimento normal de ambas as ações, aproveitando-se a mesma dilação probatória e o mesmo julgamento.

6) No julgamento, deve ser apreciada a oposição e, após, se for o caso, a ação principal (CPC, art. 61) – a procedência da oposição conduz à improcedência (ou à extinção sem julgamento do mérito, por perda do objeto) da ação principal; pode haver procedência parcial da oposição e, portanto, julgamento da ação principal.