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CAPÍTULO 5 PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA E AS BASES

5.1 Breve Histórico da Pedagogia da Alternância

A Pedagogia da Alternância tem sua origem em Sérignac-Péboudou, França, quando, em 1935, surge a experiência da Maison Familiale Rurale - (MRF)28, iniciada com a organização de um pequeno grupo de agricultores e um padre, todos unidos por um ideal e uma preocupação comum: a situação e o futuro do meio rural e a insatisfação com o ensino e o sistema educacional do País, que, na sua interpretação, não atendia às especificidades de uma educação voltada para o meio rural. Estes decidem, então, assumir uma forma diferenciada de educação para seus filhos (GIMONET, 1999, NOVÉ-JOSSERAND, 1998, SILVA, MORAIS E BOFF, 2006, TEIXEIRA 2008, MENEZES, 2003).

Tudo começa quando um jovem, Yves Peyrat, de 12 anos de idade, ao concluir o ensino primário, decide interromper os estudos e opta por se dedicar inteiramente ao trabalho na agricultura, ajudando seu pai na propriedade familiar. A atitude e decisão desse jovem, foi o fator desencadeador da ideia de alternância. O pai, o agricultor Jean Peyrat, por sua vez, discorda da decisão do filho e procura alternativas para o impasse. De acordo com Nové- Josserand (1988), sendo o pai um profissional competente, engajado e comprometido com os movimentos organizados do campo, na sua época, pois além de ser presidente do sindicato rural de Sérignac Péboudou, era membro do Secretariado Central de Iniciativa rural - SCIR, tinha convicção da necessidade de uma boa formação do agricultor, para conduzir, com

28 Maison Familiale Rurale, em português significa Casa Familiar Rural. O termo é, até hoje, utilizado na França e é adaptado ou modificado nas diversas experiências implantadas no mundo.

eficácia, um empreendimento agrícola. Por isso, não podia concordar com a decisão do filho de abandonar os estudos antes de concluí-lo, mas, ao mesmo, não era favorável que o filho se afastasse da família e do seu meio para estudar em escolas urbanas que, muito provavelmente, o afastaria da sua realidade e, caso retornasse ao campo, o olharia com desdém e vergonha da sua origem agrícola.

À época, a tendência era a de que o/a jovem que fosse estudar na cidade, por lá ficasse. Estudar na cidade era uma oportunidade para sair do campo. E os/as agricultores/as afirmavam, segundo Nové-Josserand (1998), que as escolas urbanas serviam para formar cidadãos para a cidade. Eram poucos os verdadeiros agricultores que saíam das escolas oficiais de agricultura. E o agricultor vivenciava o dilema de instruir-se e abandonar a terra ou, caso optasse por permanecer nela, ficar ignorante por toda a vida. Por isso, o pai de Yves enfatiza a necessidade de uma escola diferenciada que pudesse reverter o processo de expulsão dos jovens que, além de ficar no campo e permanecer na terra, pudessem ter acesso a uma formação escolar, em níveis mais elevados e com uma formação profissional, técnica e humanista adequada; uma educação escolar que atendesse as necessidades psicossociais dos jovens e que também propiciasse profissionalização em atividades agrícolas para o mundo rural, que contribuísse para o desenvolvimento social e econômico da sua região.

A permanência do jovem no campo era uma necessidade, bem o sabia, Jean Peyrat, pois estes seriam os seus sucessores no empreendimento familiar, mas sabia, também, da importância de um formação adequada e aprofundada para preparar estes mesmos jovens que ficassem no campo, pois os desafios que os aguardavam eram muitos. O agricultor, inconformado, tanto com a decisão do filho de abandonar os estudos como com as possibilidades existentes de escolarização, uma vez que almejava, para Yves, outras possibilidades, procura, então, o vigário da paróquia, Padre Granereau, e relata a situação que está vivenciando - de não concordar que o filho interrompa os estudos e da sua determinação de impedir que isso aconteça. Muitas opções foram levantadas durante a conversa, porém todas foram rejeitadas por Jean que argumentava serem, as escolas do Estado, voltadas para formar citadinos, as escolas de agronomia, além de não formarem verdadeiros agricultores, eram caras, portanto, fora da realidade do agricultor, e os cursos por correspondência, na sua visão, não resolviam o problema da formação; eram só um paliativo. Diante da relutância do agricultor, em aceitar as alternativas propostas, o padre se propõe, então, ele próprio a ensinar o jovem Yves. Inicialmente, o agricultor argumenta que sozinho seria ruim para o seu filho

estudar e Jean aceitou confiar a educação do seu filho ao Padre Granereau com a condição de que este não se transformasse em um preceptor. Evidenciou-se, deste modo, a necessidade de criar um novo tipo de escola. Definiram o número mínino de alunos em quatro, para começar a escola e o padre comunica a notícia da criação de uma escola de jovens agricultores à comunidade de Sérignac Péboudou, que não o levam muito a sério. Jean Peyrat não se deu por vencido e teve uma ação decisiva no rumo dos acontecimentos. Procurou conversar sobre a proposta dessa nova escola com alguns agricultores que lhe pareciam mais abertos a esta ideia inovadora. O primeiro deles foi o Sr. Calewaert, membro do Sindicato Rural, um migrante vindo do norte. Este, planejava colocar seu filho mais velho no curso complementar em Eymet, em 1935, e no ano seguinte, pensava em enviar seu outro filho. Ambos discutem longamente sobre a proposta e Sr. Callewaert decide confiar seus dois filhos ao padre Granereau. Após a conversa com Sr. Callewaert, Jean faz a mesma proposta a Edouard Clavier, agricultor recém-instalado numa propriedade de 25 hectares. Estava lançada, assim, a ideia da alternância, que se inicia com três famílias e quatro jovens que decidiram enfrentar o desafio do que seria uma grande e arriscada experiência educativa.