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BREVE HISTÓRICO SOBRE O INSTITUTO JURÍDICO DO NOME

Por primazia, é elementar que se revele da onde, quando e como se deu o processo de formação do nome civil. Isto se justifica, pelo simples fato de que, independente do que se analise, reportando-se ao passado, é que se permite uma compreensão mais precisa quanto ao processo de formação dos valores e propriedades. Logo, não sendo o instituto jurídico do nome de maneira diversa.

1.1.1 Origens Históricas do Nome

Assim sendo, é relevante mencionar que o nome apresentou-se como algo indispensável desde uma época extremamente longínqua. 9

9 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil, v. 1: parte geral. 41. ed. rev. e atual.

por Ana Cristina de Barros Monteiro França Pinto. São Paulo: Saraiva, 2007. p.107.

Sílvio Venosa afirma que “desde o tempo em que o homem passou a verbalizar seus conceitos e pensamentos, começou a dar denominação às coisas e a seus semelhantes.” 10

Conforme leciona Limongi França, as primeiras necessidades de designação do homem se deu no momento em que passou a conviver com as demais pessoas.11

Atualmente, não se tem notícia de alguma comunidade que indubitavelmente não reconhecesse o instituto do nome, com exceção dos Atlantes, um povo com residência no continente africano.12 Apesar do grupo possuir nome, não recebiam nomes individuais. 13

Também, sabe-se que

nas sociedades rudimentares, um único nome era suficiente para distinguir o indivíduo local. À medida que a civilização tornou-se mais burilada e aumenta o número de indivíduos, passa a existir necessidade de complementar o nome individual com algum restritivo que melhor identifique as pessoas. 14

Dito isto, apresenta-se o nome civil na antiguidade.

1.1.2 Nome Civil na Antiguidade

Nesta premissa, o exame deter-se-á aos povos hebreu, grego e romano, justificando-se tal postura por dois motivos. Primeiramente, por serem a eles que a doutrina direciona seu estudo quando analisa os aspectos do nome civil na antiguidade. Depois, por serem estes povos, os que têm maior elo com a vida social dos povos contemporâneos do ocidente. 15

1.1.2.1 Hebreus

Quanto a este povo, pode-se dizer que não são raras às vezes em que são referidos quando analisa-se a história de determinada sociedade atual.

10 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. v.1. 6.ed. reimp. São Paulo: Atlas, 2006.

p.186.

11 FRANÇA, Rubens Limongi. Do Nome Civil das Pessoas Naturais. 3. ed. rev. São Paulo: Ed.

Revista dos Tribunais, 1975. p. 24.

12 V. Tedesco Júnior apud LIMONGI FRANÇA. Do Nome Civil das Pessoas Naturais. p. 25.

13 HERÒDOTO apud FRANÇA, Rubens Limongi. Do Nome Civil das Pessoas Naturais. p. 25.

14 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. v.1. p. 186.

15 FRANÇA, Rubens Limongi. Do Nome Civil das Pessoas Naturais. p. 27-28.

Deste modo, Limongi França exprime que “entre os hebreus usava-se, em princípio, um único nome: Éster, Rachel, Jacob, David. Nos meninos era posto após a circuncisão, ao oitavo dia do nascimento.” 16

Porém, conforme a população se torna mais numerosa, as pessoas particularizaram-se com referência ao nome de seu pai (ex: José Bar-Jacó, significando José, filho de Jacó), 17 assim como, passou-se a acrescer ao nome vocábulos inerentes à origem (ex: Ruth Moabita) e à profissão (ex: Matheus Publicanus). 18

1.1.2.2 Gregos

O povo grego é outro que não pode ser deixar de lado quando se pretende compreender a procedência de determinados posicionamentos culturais.

A princípio, neste período (antiguidade), os gregos “designavam as pessoas por um único nome formado de uma só palavra: Demóstenes, Péricles, Ulisses.” 19

Entretanto, Sílvio Venosa esclarece que

os gregos, também a princípio, tinham um único nome. Posteriormente, com a maior complexidade das sociedades, passara, a deter três nomes, desde que pertencessem a família regularmente constituída: um era o nome particular, outro o nome do pai e o terceiro o nome de toda a gens. 20

Assim sendo, necessita ser ressaltado que o primeiro nome corresponde ao prenome que hoje a sociedade brasileira adota; o segundo ao sobrenome; e quanto ao último, não possui-se atualmente nome equivalente, pois não há o hábito de se designar a gens. 21

1.1.2.3 Romanos

Os romanos também possuíam características peculiares quanto ao nome das pessoas que compunham seu meio social.

Desta forma, tem-se a informação que

16 FRANÇA, Rubens Limongi. Do Nome Civil das Pessoas Naturais. p. 28.

17 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil, v. 1: parte geral. p. 107 e PEREIRA, Caio Mário da Silva; MORAES, Celina Bodin de. Instituições de Direito Civil, Volume I: Introdução Ao Direito Civil: Teoria Geral do Direito Civil. 20. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p.

243.

18 FRANÇA, Rubens Limongi. Do Nome Civil das Pessoas Naturais. p. 28.

19 PEREIRA, Caio Mário da Silva; MORAES, Celina Bodin de. Instituições de Direito Civil, Volume I:

Introdução Ao Direito Civil: Teoria Geral do Direito Civil. p. 243.

20 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. v.1. p.187.

21 FRANÇA, Rubens Limongi. Do Nome Civil das Pessoas Naturais. p. 29.

inicialmente, entre os romanos havia apenas o gentílico, que era o nome usado por todos os membros da mesma gens, e o prenome, que era o nome próprio de cada pessoa. A indicação por três nomes apareceu devido ao grande desenvolvimento da gens. 22

Então, justifica-se o fato de que

em Roma, o nome dos patrícios era de formação bastante complexa, pois tinham os romanos três nomes próprios para distinguir a pessoa: o prenome, o nome e o cognome, acrescentando-se, às vezes, um quarto elemento, o agnome.23

Diante disto, é essencial elucidar estes elementos do nome. O prenome (colocado antes do nome) tinha a função de discernir as pessoas de uma mesma família, sendo interessante mencionar que não excediam o número de trinta, eram conhecidos por todos e normalmente se escreviam de forma abreviada (ex: A = Aulus, Ap = Appius, Sex = Sextus). O nome era utilizado para especificar a gens a qual o sujeito integrava, sendo mais precisamente um adjetivo e acabava em ius (ex:

Cornellius, Fabius), posicionado logo após o prenome. O cognome discriminava a família do indivíduo de uma mesma gens, ocupando a posição de terceiro lugar (ex:

Publius Cornelius Scipio indicava uma pessoa chamada Publius, da gente Cornelia, da família Cipiões). O agnome significava alguma característica especial do indivíduo (ex: Publius Cornelius Scipio Africanus, significando algum atributo específico ocorrido na África). 24

Existiam também outras classes além dos patrícios, que possuíam a estrutura do nome de maneira diversa. Os escravos eram avocados pela expressão “pueri”

por seus senhores; e pelas demais pessoas, somada ao prenome de seu proprietário (ex: Lucipor = Luci puer). 25 Os nomes formados por apenas um ou dois elementos, eram atribuídos à plebe. 26

Dito isto, vale mencionar que entre eles, ocorria o que se designava de

“rerum enim vocabula imutabilia sunt, hominum mutabilia”, ou seja, os nomes das coisas são, em verdade, imutáveis, os dos homens, mutáveis. Desta forma, é possível constatar que nem sempre em Roma as normas relativas ao nome foram rigorosas. Entretanto, em determinada época, para um indivíduo acrescer algum nome era imprescindível um exame antecedente da assembléia gentilícia, e não do

22 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. v.1. p.187.

23 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. v.1. p.187.

24 PEREIRA, Caio Mário da Silva; MORAES, Celina Bodin de. Instituições de Direito Civil, Volume I:

Introdução Ao Direito Civil: Teoria Geral do Direito Civil. p. 244 e Pe. João Ravizza apud FRANÇA, Rubens Limongi. Do Nome Civil das Pessoas Naturais. p. 30-31.

25 Pe. João Ravizza apud FRANÇA, Rubens Limongi. Do Nome Civil das Pessoas Naturais. p. 31.

26 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil, v. 1: parte geral. p. 108.

seu genitor. Advindo o Império Diocleciano e Maximiano, houve a promulgação de uma constituição que permitia a pessoa livre alterar seu prenome, nome, ou cognome, desde que preenchesse o requisito de tal modificação ser feita licitamente e sem fraude. 27

1.1.3 Nome Civil na Idade Média

Realizada a análise sobre o nome civil na antiguidade, pode-se adentrar no período da Idade Média, já que a segue e tem tanta relevância quanto à época anterior.

Os povos germânicos utilizavam apenas um nome para individualizá-los; e se a gente dos Merovíngios utilizavam sobrenomes, tinha mais a função de “splendor familiae” do que propriamente para distinção dos indivíduos. 28

“Com a invasão dos bárbaros, na Idade Média, retornou-se ao costume do nome único.” 29 Justificando-se pelo fato que a religião cristã, ao contrário da romana em que a pessoa era unida à família, tinha o indivíduo como uma vida à parte, ou seja, com total independência, de modo que não lhe causava nenhum tipo de aversão separá-lo dos parentes. Assim, por vários anos, o nome originário do batistério foi o único nome. 30

Conseqüentemente,

passou-se a dar nome de santo às crianças por influência da Igreja, substituindo-se os nomes bárbaros pelos nomes do calendário cristão.

Com o aumento da população, começou a surgir confusão entre muitas pessoas com o mesmo nome e de diversas famílias. 31

Então, origina-se o sobrenome que atualmente conhece-se, ligado: ao lugar de nascimento (ex: do Porto); a uma profissão (ex: Ferreiro); a uma característica particular da pessoa (ex: Branco, Manco, Baixo); a uma planta (ex: Pereira); a um animal (ex: Coelho), a um objeto (ex: Leite); ou ao genitor (ex: Afonso Henriques – filho de Henrique). 32

27 FRANÇA, Rubens Limongi. Do Nome Civil das Pessoas Naturais. p. 32.

28 PONTES DE MIRANDA. Tratado de Direito Privado. Tomo I. 2. edição. Campinas: Bookseller, 2000. p. 300.

29 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. v.1. p.187.

30 COULANGES apud FRANÇA, Rubens Limongi. Do Nome Civil das Pessoas Naturais. p. 33.

31 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. v.1. p.187.

32 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. v.1. p.187-188 e MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil, v. 1: parte geral. p. 108.

Assim, vale dizer, que de acordo com determinados doutrinadores, apenas no século XIII ressurgiu um sistema de nomenclatura mais trabalhado, aderindo-se a duplicidade de nomes (apesar de já existir entre os reis e pessoas de grau social superior nos séculos VIII e IX). 33

1.1.4 Nome Civil entre os Povos Modernos e na Comunidade Luso-Brasileira

Limongi França, em sua obra “Do nome Civil das Pessoas Naturais” traz uma ligeira exposição do nome civil entre os povos modernos, bem como da sociedade luso-brasileira, permitindo ter-se uma noção como se dava nestas sociedades a formação do instituto em questão.

Assim, tendo como escopo o mundo ocidental moderno (França, Alemanha, Itália, Espanha, etc), via de regra, levando-se em conta filólogos, juristas e o conjunto de leis, tinha-se o hábito similar de utilizar dois elementos na composição nome, ou seja, o nome individual e o nome de família. 34 Porém, não deixavam de existir outros elementos correspondentes como as alcunhas, os pseudônimos, os títulos, as partículas, etc. 35

Quanto à comunidade luso-brasileira, aponta-se que o mesmo sistema, isto é, adotava-se essencialmente um nome individual e o patronímico. Entretanto, não deixavam de existir outros elementos secundários do nome, que em maior intensidade do que as demais nações, não possuíam um padrão no modo de classificar estes elementos. 36

Disto isto, tem-se uma ligeira noção do nome civil entre povos modernos e luso-brasileiros no tocante ao seu surgimento, classificações elementares, hábitos e entre outros aspectos históricos.