• Nenhum resultado encontrado

1.3 A PROTEÇÃO JURÍDICA DO NOME E SEUS ELEMENTOS

1.3.2 T UTELA E SPECÍFICA DO N OME C IVIL

Como o foco de análise desta pesquisa é especificamente o nome civil das pessoas naturais, e considerando que já foram apresentados os mecanismos de gerais de defesa dos direitos da personalidade, passa a ser necessário apontar os instrumentos particulares de tutela deste instituto.

Deste modo, nesta premissa investigar-se-ão os dispositivos específicos de proteção do nome civil, mencionando-os, bem como evidenciando as interpretações dadas a tais dispositivos.

1.3.2.1 Do Direito ao nome

Um dos direitos fundamentais da pessoa humana é o direito à identidade, que introduz o rol de direitos de caráter moral, pois se forma na união entre a pessoa e a sociedade. 96

Assim, o direito ao nome compõe o direito à identidade, ao lado do direito ao pseudônimo, do direito ao título (nobiliárquico, honorífico, eclesiástico, científico e militar), do direito ao signo figurativo (brasões e insígnias), entre outros. 97

94 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. p.178.

95 BITTAR; DINIZ apud GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: volume 1: parte geral. p. 160.

96 BITTAR, Carlos Alberto. Os Direitos da Personalidade. p. 120.

Nas palavras de Sílvio Venosa,

ao nascermos, ganhamos um nome que não tivemos oportunidade de escolher. Conservamos esse nome, em princípio por toda a vida, como marca distintiva na sociedade, como algo que nos rotula no meio em que vivemos, até a morte. Após a morte, o nome da pessoa continua a ser lembrado e ter influência, mormente se essa pessoa desempenhou atividade de vulto em vida. Ainda que assim não tenha ocorrido, o nome da pessoa falecida permanece na lembrança daqueles que lhe foram caros. 98

Sendo assim, o nome é um dos mais meritórios elementos da personalidade, pois trata-se do elemento de referência por excelência dos indivíduos. 99No mesmo sentido, sabe-se que o “nome da pessoa natural é o sinal exterior mais visível de sua individualidade, sendo através dele que a identificamos no seu âmbito familiar e social.” 100

Assim, é necessário enfatizar que o nome civil possuiu dois aspectos, um público e outro individual. O primeiro deriva-se da circunstância de o Estado interessar-se em que os indivíduos sejam precisamente identificados. 101 Já o segundo, funda-se no “poder reconhecido ao seu possuidor de por ele designar-se e de reprimir abusos cometidos por terceiros.” 102

Feita estas considerações, no Livro I (Das Pessoas), Titulo I (Das Pessoas Naturais), Capítulo II (Dos Direitos da Personalidade), do CC/2002, encontram-se disciplinadas disposições inerentes do nome civil.

Por conseguinte, o primeiro artigo exclusivo do instituto jurídico do nome é o art. 16, que assim dispõe: “Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.” 103 Assim, diante dele, nota-se que todo ser humano possui o direito de ser identificado por expressão que o individue (prenome) entre os demais membros de sua família (sobrenome). 104

97 FRANÇA, R. Limongi. Instituições de Direito Civil. p. 1030.

98 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. p. 185.

99 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil, v. 1: parte geral. p. 107.

100 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA Filho, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: Parte geral.

p. 111.

101 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: volume 1: parte geral. p. 120-121.

102 PEREIRA, Caio Mário da Silva; MORAES, Celina Bodin de. Instituições de Direito Civil, Volume I: Introdução Ao Direito Civil: Teoria Geral do Direito Civil. p. 245.

103 BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 15 de agosto de 2007.

104 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil, Volume 1. p. 185.

1.3.2.2 Da Tutela Específica do Nome

Conseqüentemente, a tutela do nome pode ser: de uma pessoa específica, ou seja, de seu prenome juntamente com seu sobrenome; ou apenas do sobrenome, tendo-se interesse de tal proteção pelo fato de portador integrar a família. No primeiro caso, cuida-se de direito individual, pessoal e exclusivo. Já na segunda hipótese, trata-se de direito de todos os membros da família, logo, sendo cada um dos membros legitimados para requerer tutela. 105

Orlando Gomes elucida que “o direito ao nome contém as faculdades: a) de usa-lo; b) de defende-lo.” 106

“A faculdade de usá-lo consiste no direito de todo homem se fazer chamar por ele. Resume-se praticamente no poder de exigir a retificação do nome nos atos em que for alterado.” 107

“A de defende-lo, no poder de agir contra que o usurpe, o empregue de modo a expor a pessoa ao desprezo público, tornando-o ridículo, desprezível ou odioso, ou recuse a chamar o titular por seu nome.” 108

Logo, é certo que o ordenamento jurídico oferece ferramentas que objetivam e são capazes de prestar a tutela do nome civil.

1.3.2.2.1 Da Tutela do Nome quanto à Exposição ao Desprezo Público

O CC/2002, em seu art. 17 dispõe que “o nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.” 109

Assim, Washington de Barros Monteiro elucida que este dispositivo tem a finalidade de ”proteger o nome da pessoa, impedindo o seu uso de forma a expô-la sem situações indesejáveis, vexatórias, ainda que de modo involuntário, por exemplo, em reportagens jornalísticas ligadas a circunstâncias constrangedoras.” 110

105 PERLINGIERI apud Daniel Queiroz. Direitos da Personalidade e Código Civil de 2002: uma abordagem contemporânea. Revista Forense. p. 67.

106 ORLANDO GOMES. Introdução ao Direito Civil. p. 161.

107 ORLANDO GOMES. Introdução ao Direito Civil. p. 161.

108 ORLANDO GOMES. Introdução ao Direito Civil. p. 161.

109 BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 15 de agosto de 2007.

110 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil, v. 1: parte geral. p. 118.

No mesmo sentido, pode citar-se a hipótese de alguém usar nome alheio em rádio, internet, livro, revistas, obras artísticas chacoteando-o. 111

Todavia, a tutela oferecida pela lei ao nome não deve restringir-se à específica circunstância de desprezo público. Porque a maneira como a ele é referida ao nome das pessoas, em publicação ou representação, é comum não provocar uma intensasensação de desprezo pelo público, mas, mesmo assim, ser agressiva à dignidade do titular do nome. Sendo neste caso, devida a proteção ao nome. 112

Destarte, qualquer menção ao nome de pessoa deve ser feita de forma prudente e respeitosa, jamais com o intuito de ofendê-la. 113 Mas havendo exposição ao desprezo público, mesmo que não tenha havido finalidade difamatória por parte do autor da ofensa, o prejudicado pode solicitar em juízo indenização. 114

Salienta-se, que o art. 17 do CC/2002 deve ser interpretado com bom senso, pois não se pode tiranizar a simples menção de nome alheio por meio da imprensa em qualquer de suas categorias. 115

Neste sentido, Bodin de Moraes leciona que

o uso do nome alheio é, porém permitido, em várias hipóteses, independentemente de autorização; assim, por exemplo, nas citações em obras científicas e culturais, e nas críticas literárias, mesmo quanto desfavoráveis. A utilização, por outro lado, será proibida sempre que servir a expor a pessoa a humilhações, ou quando presente o intuito de

‘achincalhar’. 116

Portanto, constata-se haver considerável preocupação do legislador do CC/2002 no que se refere à tutela do nome em publicações e representações, procurando-se evitar ao máximo qualquer situação de desprezo público.117

111 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil, Volume 1. p. 189 e DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 1: teoria geral do direito civil. p. 189

112 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil, Volume 1. p. 189.

113 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil, v. 1: parte geral. p. 118.

114 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 1: teoria geral do direito civil. p. 202 e COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil, Volume 1. p. 189.

115 PEREIRA, Caio Mário da Silva; MORAES, Celina Bodin de. Instituições de Direito Civil, Volume I: Introdução Ao Direito Civil: Teoria Geral do Direito Civil. p. 246.

116 MORAES, Maria Celina Bodin de. A Tutela do Nome da Pessoa Humana. Revista Forense. Rio de Janeiro. Forense. v. 364, nov. 2002. p. 217-228. p. 220.

117 PEREIRA, Caio Mário da Silva; MORAES, Celina Bodin de. Instituições de Direito Civil, Volume I: Introdução Ao Direito Civil: Teoria Geral do Direito Civil. p. 246.

1.3.2.2.2 Da Tutela do Nome em Propaganda Comercial

No art. 18 do CC/2002, encontra-se mais uma disposição relativa à proteção do nome civil, protegendo-se desta vez o nome em propaganda comercial.

Assim dispõe o referido artigo: “Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.” 118

Primeiramente, é conveniente esclarecer que o ordenamento jurídico pátrio, diferentemente de alguns países, não diferencia propaganda e publicidade. 119Logo, esta norma jurídica abrange todos os anúncios com o intuito, direta ou indiretamente, estimular a venda de produtos ou serviços do anunciante, pouco importando o objeto de divulgação (ex: cartaz esterno, publicações periódicas, televisão, rádio, internet. etc). 120

Também deve ser enfatizado que “seja a pessoa famosa ou não, é direito dela não ter o seu nome explorado na promoção de interesses exclusivamente econômicos de terceiros.” 121 Porém,apesar do nome propriamente dito não possuir valor pecuniário, nada tolhe o direito do titular permitir seu uso a troco de dinheiro.122

É patente que se alguém usufruir o nome alheio sem permissão do titular, poderá o sujeito ser obrigado a privar-se de tal conduta, além de indenizar o titular do nome pela violação. 123

Após esta exposição, constata-se que o nome civil de outrem somente pode ser explorado, desde que haja a devida permissão do titular. Além disso, nota-se que tal utilização, via de regra, ocorre quando o titular do nome obtém algum tipo de benefício financeiro.

1.3.2.2.3 Breve Exposição da Tutela do Pseudônimo

O pseudônimo não é elemento integrante do nome civil, mas como possui uma relação direta com este instituto, recebe proteção do ordenamento legal brasileiro.

118 BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 18 de agosto de 2007.

119 BENJAMIN, apud COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil, Volume 1. p. 190.

120 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil, Volume 1. p. 190.

121 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil, Volume 1. p. 190.

122 PEREIRA, Caio Mário da Silva; MORAES, Celina Bodin de. Instituições de Direito Civil, Volume I: Introdução Ao Direito Civil: Teoria Geral do Direito Civil. p. 247.

123 PEREIRA, Caio Mário da Silva; MORAES, Celina Bodin de. Instituições de Direito Civil, Volume I: Introdução Ao Direito Civil: Teoria Geral do Direito Civil. p. 247.

Nesta linha, o art. 19 do CC assim prescreve: “O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome.” 124

Assim, deve-se ressaltar, que esta disposição existe por ser corriqueiro alguém tornar-se famoso, mas seu nome não ser conhecido, sendo identificado apenas por seu pseudônimo. 125

Também é pertinente enunciar, que “se o objetivo da lei é proteger os meios de identificar a pessoa, e ela é mais conhecida pelo pseudônimo do que pelo nome, não há razão para dar a este importância superior àquele.” 126

Assim sendo, o pseudônimo integra a personalidade da pessoa no exercício de suas atividades, ou em razão de interesses preciosos inerentes à sua identidade.127

Logo, o art. 19 do CC/2002 dá o direito à indenização em caso de emprego irregular de pseudônimo em propaganda comercial; ou em casos que haja intenção de auferir vantagem política, artística, eleitoral ou religiosa. 128

Por fim, vale acentuar que os preceitos relativos à tutela dos direitos da personalidade contidos na legislação civil, recebem legítimo significado quando interpretados em consonância com a cláusula geral de tutela dos direito da personalidade contida na CRFB/88, art. 3º, inciso III (princípio da dignidade humana). 129