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O PRENOME COMO DIREITO FUNDAMENTAL PREVISTO NA CRFB/88

Assim, inicialmente, é necessário mencionar que a CRFB/88 é a lei maior de nosso Estado, prevendo normas essenciais à pessoa humana. Assim, ela não trata apenas de uma modalidade específica de direitos ou deveres, mas aborda preceitos de diversas naturezas que o legislador constituinte entendeu indispensável à vida em sociedade, proporcionando a base para criação; interpretação; e aplicação das normas infraconstitucionais, sempre almejando uma ordem social justa. Assim sendo, nesta linha, pode-se afirmar

quanto à natureza dessas normas, que em princípio, o legislador constitucional estabelece comandos para o legislador ordinário, para o juiz e

para os demais intérpretes (‘como a lei das leis’). Neste sentido, as normas constitucionais definem horizontes, fixam balizas, estabelecem contornos que governarão a ordem jurídica do país como normas fundamentais e, portanto, ocupantes do ápice da pirâmide legal. 165

Logo, independente da matéria em questão, é indiscutível a essencialidade das normas constitucionais às infra-constitucionais.

Dito isto, pode-se apresentar as premissas constitucionais que amparam o prenome.

2.1.1 O Princípio da Dignidade Humana na CRFB/88

Este princípio, já foi minuciosamente tratado no capítulo anterior (subtítulo 1.4.2 – Princípio da Dignidade Humana).

2.1.2 Outras Disposições Constitucionais Relacionadas ao Prenome

Além do princípio da dignidade humana, há outros dispositivos constitucionais aplicáveis ao prenome.

2.1.2.1 Dos Objetivos Fundamentais da República Federativa do Brasil

Assim, inicialmente, citar-se-ão os preceitos inseridos no art. 3º da CRFB/88, que tratam dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil e são relacionados ao prenome.

A primeira regra neste ponto, versa sobre a construção de uma sociedade livre, justa e solidária (inciso I) 166. Como percebe-se, este dispositivo descende da ideologia adotada na Revolução Francesa, uma vez que a terminologia “livre” refere-se à liberdade; “justa”, à igualdade; e “solidária”, à fraternidade. 167 Quando fala-se em liberdade, deve associar-se à liberdade para modificação de prenome ridículo; e quando refere-se a igualdade, supõe-se à igualdade de possuir-se prenome digno como os demais. 168

165 BITTAR, Carlos Alberto. O Direito Civil na Constituição de 1988. 2ª Edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1991. p. 19.

166 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constitui%E7ao.htm>. Acesso em: 16 de agosto de 2007.

167 PEREIRA, Ézio Luiz. Alteração do Prenome à Luz do Princípio da Dignidade Humana. p. 40.

168 PEREIRA, Ézio Luiz. Alteração do Prenome à Luz do Princípio da Dignidade Humana. p. 89.

Outra norma referente aos objetivos fundamentais inerente ao prenome, é a que trata da finalidade da promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (inciso IV), 169 no sentido de que o magistrado não deve negar provimento a pedido de alteração de prenome vexatório por questões meramente técnicas, pois assim não haveria de se falar “em bem de todos”. 170

2.1.2.2 Dos Princípios que regem a República Federativa do Brasil nas suas Relações Internacionais

Esta premissa refere-se ao princípio da prevalência dos direitos humanos, inserido expressamente no inciso II, do art. 4º, da CRFB/88, 171 onde segundo ele a República Federativa do Brasil está vinculada aos referidos direitos, nas suas relações internacionais, uma vez que a “Convenção Americana de Direitos Humanos – o chamado Pacto de San José da Costa Rica, já ratificado pelo Brasil - art. 18 prevê:” 172 “Toda pessoa tem direito a um prenome e aos nomes de seus pais ou ao de um destes. A lei deve regular a forma de assegurar a todos esse direito, mediante nomes fictícios, se for necessário.” 173

Destarte, é perceptível que o direito ao prenome decorre além do mais, de princípio supra-constitucional, verificando-se assim seu valor não apenas na sociedade brasileira, mas também na comunidade internacional, considerando-se como direito essencial da pessoa humana.

169 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constitui%E7ao.htm>. Acesso em: 16 de agosto de 2007.

170 PEREIRA, Ézio Luiz. Alteração do Prenome à Luz do Princípio da Dignidade Humana. p. 89.

171 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constitui%E7ao.htm>. Acesso em: 16 de agosto de 2007.

172 MORAES, Maria Celina Bodin de. A Tutela do Nome da Pessoa Humana. Revista Forense. p.

218.

173 Pacto de San José da Costa Rica. Disponível em:

<http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sanjose.htm> . Acesso em:

17 de novembro de 2007.

2.1.2.3 Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos

Os direitos e deveres individuais e coletivos também são outros que possuem vínculo jurídico com o prenome. O dispositivo foco é o caput do art. 5º da CRFB/88,

174 associado aos seus incisos X, XXXV, LIV, LV, LXXIV; bem como seus § § 1º e 2º.

Inicialmente, menciona-se o inciso X, 175 que é o dispositivo possibilitante ao indivíduo que tenha seu prenome lesado por terceiros, ajuizar ação de indenização de por dano moral, uma vez que, “o prenome digno está umbilicalmente ligado à honra e à imagem”, 176 no sentido de que estes são direitos da personalidade, possuindo o mesmo sustentáculo constitucional que o prenome (dignidade humana).177 Além do mais, eles (honra, imagem e intimidade) são conexos com o direito ao nome, em virtude de em todas as correlações, estarem à vista a identidade ou identificação do sujeito através do nome, fazendo a ligação de individualização e, em decorrência, o reconhecimento social, no sentido físico.178

Outro inciso relevante ao prenome, é o XXXV, prescrevendo que a “lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, 179 ou seja,

“consagra-se neste versículo constitucional o princípio da ubiqüidade, da inafastabilidade do controle jurisdicional ou do acesso à Justiça, num nítido desenho da tutela reparatória e da tutela preventiva”, 180 prevendo no que se refere ao prenome, por exemplo, que é permitido entre outras hipóteses alterar-se o prenome vexatório.

Quanto aos aspectos processuais, pode-se mencionar o inciso LIV, dispondo que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. 181 Além do inciso LV, que articula que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla

174 Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...

175 X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

176 PEREIRA, Ézio Luiz. Alteração do Prenome à Luz do Princípio da Dignidade Humana. p. 90.

177 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988. p. 88.

178 AMORIM, José Roberto Neves. Direito ao Nome da Pessoa Física. p. 97.

179 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constitui%E7ao.htm>. Acesso em: 16 de agosto de 2007.

180 PEREIRA, Ézio Luiz. Alteração do Prenome à Luz do Princípio da Dignidade Humana. p. 90.

181 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constitui%E7ao.htm>. Acesso em: 16 de agosto de 2007.

defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. 182 Destarte, por meio destes preceitos ninguém pode ser desprovido do direito de modificar prenome ridículo sem que lhe seja proporcionado o devido aparelhamento jurisdicional com a oportunidade de expor seus motivos. 183 Ainda no tocante aos aspectos processuais, de acordo com o inciso LXXIV, “o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”. 184

Já o § 1º, do art. 5º, da CRFB/88 evidencia que “as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”, 185 mesmo não havendo determinações infraconstitucionais. Logo, ocorrendo alteração do prenome, este tem efeito instantâneo já que digno. 186

Também é necessário enfatizar com fulcro no § 2º deste mesmo artigo, que

“os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.” 187 Logo, a partir disto César Fiúza esclarece que

arrola o legislador constituinte vários desdobramentos de um direito geral de personalidade, que denomina direitos fundamentais, tais como a liberdade, a honra, e outros, deixando claro, evidentemente, que a lista não é exaustiva.188

Portanto, o que é desejado demonstrar por meio destes termos, é que não há problema sobre o fato do prenome não estar explícito neste rol de direitos fundamentais, pois implicitamente ele está presente no âmbito constitucional.

2.1.2.4 Da Família e da Criança

No Título VIII, Capítulo VII, da CRFB/88 encontram-se disposições concernentes à família e à criança, onde o art. 226, em seu § 7º dispõe que

fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao

182 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constitui%E7ao.htm>. Acesso em: 16 de agosto de 2007.

183 PEREIRA, Ézio Luiz. Alteração do Prenome à Luz do Princípio da Dignidade Humana. p. 90.

184 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constitui%E7ao.htm>. Acesso em: 16 de agosto de 2007.

185 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constitui%E7ao.htm>. Acesso em: 16 de agosto de 2007.

186 PEREIRA, Ézio Luiz. Alteração do Prenome à Luz do Princípio da Dignidade Humana. p. 91.

187 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constitui%E7ao.htm>. Acesso em: 16 de agosto de 2007.

188 FIÚZA, César. Direito Civil: Curso Completo. p. 168.

Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. 189

Destarte, Ézio Luiz Pereira exprime que

sob o enfoque da família, os pais têm a obrigação de ofertar aos seus filhos um prenome digno, de conformidade com a ordenança gizada no art.

226, §7º, onde vêem inseridos os princípios da dignidade humana e da paternidade responsável. 190

Outro dispositivo vinculado ao prenome no que toca à família e à criança é o caput do art. 227, prescrevendo que

é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 191

Desta forma, ao proclamar-se a dignidade, o respeito e a liberdade da infante e do adolescente, oferta-se assim, o direito ao prenome digno, preceituando-se como dever da família, da coletividade e do Estado resguardar tais direitos. 192

Realizada esta elucidação, percebe-se que a CRFB/88, além de oferecer o direito ao prenome a todas as pessoas, protege-o nas mais variadas situações, como exemplificadamente, ao tentar, ou efetivamente registrar-se prenome constrangedor; além de tutelar-se o prenome contra agressão de terceiros.