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3.2 A INDICAÇÃO DOUTRINÁRIA E JURISPRUDÊNCIAL DA POSSIBILIDADE

3.2.1 E XPOSIÇÃO AO R IDÍCULO

Primeiramente, são necessários alguns esclarecimentos quanto à terminologia “exposição ao ridículo”, bem como uma tentativa de conceituá-la.

Assim, é imprescindível esclarecer que na referida expressão “há uma acentuada carga de subjetividade”, 338 isto é, “a noção de ridículo é relativa, porque nem sempre as pessoas têm a mesma percepção das coisas, ou seja, o que é ridículo para uns, pode não ser para outros.” 339

Mas, dentro de um juízo médio, pode-se dizer que o prenome que expõe ao ridículo, é aquele que coloca seu titular em situação de zombaria, de escárnio, de

337 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 1: teoria geral do direito civil. p. 209.

338 PEREIRA, Ézio Luiz. Alteração do Prenome à Luz do Princípio da Dignidade Humana. p. 51.

339 AMORIM, José Roberto Neves. Direito ao Nome da Pessoa Física. p. 59.

vergonha, de sarcasmo, de riso, deixando-o constrangido; até mesmo levando-o ao isolamento. 340

Também vale elucidar, que de acordo com Ézio Luiz Pereira, em determinados casos o prenome propriamente dito pode não ser ridículo sob uma visão isolada, porém, torna-se dentro de um determinado contexto (ex: pai extravagante, que em uma sociedade de judeus registra seu filho com o prenome de Hitler). O prenome em si não é ridículo, mas no meio social provoca constrangimento ao filho, sendo assim suscetível de alteração. 341

Ao aludir-se à possibilidade de alteração de prenome ridículo, é conveniente relembrar que o conteúdo original do art. 58, § único da LRP342 regulava-a, possibilitando a alteração com base no art. 55 § único (registro de prenome suscetível de exposição ao ridículo). Porém, a referida norma foi revogada como colocado no subtítulo 2.4.2 (O Prenome e a Lei dos Registros Públicos) do presente trabalho.

Como previsto no art. 55, § único, sabe-se que é dever do oficial recusar-se a efetuar o registro de prenome ridículo, devendo submeter o caso ao juiz competente na ocorrência de insistência dos pais. Mas, se ocorrer o indevido registro mesmo com este dever do oficial, permiti-se a alteração do prenome. 343

Então, existem algumas justificativas doutrinárias demonstrando o vigor da concessão de alteração do prenome sob este motivo: há quem fundamente que por não ter sido revogado o art. 109 da LRP, 344 bem como porque continua vigente o § único do art. 55 da mesma lei permanece legítima a referida alteração; 345 já para outros, pela simples razão do magistrado estar sujeito à prescrição do art. 5º da LICC, 346 já é permita a outorga do direito em questão. 347

340 AMORIM, José Roberto Neves. Direito ao Nome da Pessoa Física. p. 60.

341 PEREIRA, Ézio Luiz. Alteração do Prenome à Luz do Princípio da Dignidade Humana. p. 52-53. 342 Assim previa originalmente o dispositivo: Parágrafo único - Quando, entretanto, for evidente o erro gráfico do prenome, admite-se a retificação, bem como a sua mudança mediante sentença do Juiz, a requerimento do interessado, no caso do parágrafo único do artigo 55, se o oficial não o houver impugnado.

343 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. v.1. p.192-193.

344 Art. 109 - Quem pretender que se restaure, supra ou retifique assentamento no Registro Civil, requererá, em petição fundamentada e instruída com documentos ou com indicação de testemunhas, que o Juiz o ordene, ouvido o órgão do Ministério Público e os interessados, no prazo de cinco dias, que correrá em cartório.

345 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: volume 1: parte geral. p. 128.-129.

346 Art. 5º - Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.

347 AMORIM, José Roberto Neves. Direito ao Nome da Pessoa Física. p. 60.

Também é possível perceber que a jurisprudência autoriza a alteração de prenome ridículo, uma vez que assim pontifica:

Retificação de Registro Civil - assento de nascimento - alteração do prenome – presente motivo suficiente - situação eventualmente constrangedora e passível de expor ao ridículo - inteligência dos arts. 55, 57, 58 e 109 da lei n° 6.015/73 - recurso provido. 348

Diante da ementa acima exposta, nota-se que o apelante teve sua pretensão concedida através da interpretação e combinação dos referidos dispositivos da LRP, assegurando ao

apelante, em síntese, que a alteração de seu prenome de Cornélio para Renato encontra amparo legal, porquanto aquele é associado pelas pessoas ao adjetivo “corno” da linguagem coloquial, utilizado para designar o marido de mulher adúltera, situação que gera constrangimento e o expõe ao ridículo. 349

Na mesma linha, encontra-se o seguinte julgado:

Registros Públicos - Retificação de Prenome - Alegação de que o prenome vem sendo motivo de galhofas, expondo a autora a situações vexatórias - Juízo a quo que repeliu as provas produzidas e julgou improcedente o pedido - Inadmissibilidade - Testemunhas que reconheceram a situação vexatóna pela qual a autora é submetida - Dignidade da pessoa humana - Retificação procedente - Recurso Provido. 350

Como observa-se, a apelante teve sucesso em seu recurso, já que a

realidade trazida aos autos conduz à conclusão de que a recorrente sofre efetivamente situações vexatórias, inclusive com verdadeiro desrespeito por parte de seus alunos e adolescentes do bairro, os quais lhe impuseram a alcunha de “Jumentina”.351

Logo, havendo desacato a seu prenome de registro que é Juventina. Desta forma, sendo digna de deferimento a almejada “modificação de seu prenome para

348 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. 5ª Câmara de Direito Privado. Apelação com Revisão N° 498.806.4/1-00. Apelante: Cornélio Morais da Silva. Relator Francisco Casconi. São Paulo, 27 de junho de 2007.

349 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. 5ª Câmara de Direito Privado. Apelação com Revisão n. 498.806.4/1-00. Apelante: Cornélio Morais da Silva. Relator Francisco Casconi. São Paulo, 27 de junho de 2007.

350 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. 1ª Câmara de Direito Privado. Apel. Cível com Revisão N° 506.303.4/7-00. Apelante: Juventina Martins Rodrigues. Relator Carlos Augusto de Santi Ribeiro. São Paulo, 23 de outubro de 2007.

351 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. 1ª Câmara de Direito Privado. Apel. Cível com Revisão N° 506.303.4/7-00. Apelante: Juventina Martins Rodrigues. Relator Carlos Augusto de Santi Ribeiro. São Paulo, 23 de outubro de 2007.

‘Cristina’”, 352 além do mais, porque como mencionado no acórdão, a apelante utiliza este prenome para “ser identificada em seu meio social”. 353

Por conseguinte, apesar de não mais presente expressamente na Lei dos Registros Públicos o dispositivo que autorizava a alteração do prenome por motivo de exposição ao ridículo, é patente que continua válido este caso de alteração por força doutrinária, bem como jurisprudencial, tutelando-se assim, a individualização da pessoa humana.