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Breve histórico sobre política pública de cultura e a convergência com as Organizações

CAPÍTULO 2: REVISÃO DA LITERATURA

2. ORGANIZAÇÕES SOCIAIS

2.3. Breve histórico sobre política pública de cultura e a convergência com as Organizações

No Brasil, a política pública de cultura é uma iniciativa recente, uma vez que o país passou por um momento de repressão e censura, frutos da ditadura militar. Porém, ainda neste

22 primeiro momento, o regime militar teria incentivado a criação de Secretarias Estaduais de Cultura, sendo a primeira no Estado do Ceará, ainda em 1966. Após 1975, com a redemocratização, teriam surgido novas institucionalizações como políticas culturais nacionais, dentre elas: a elaboração do primeiro Plano Nacional de Cultura e a criação da Fundação Nacional das Artes (FUNARTE), ambos em 1975 (Rubim, 2007).

Botelho (2007) destaca que a estrutura do FUNARTE juntamente com o Plano Nacional de Cultura se traduziria, em 1985, na criação do Ministério da Cultura (MinC), juntamente às seguintes iniciativas: criação da Empresa Brasileira de Filmes (EMBRAFILME); revisão da atuação do Serviço Nacional de Teatro; fusão do já Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN); e criação do Conselho Nacional do Direito Autoral (CNDA) e do Conselho Nacional do Cinema (CONCINE).

Após a criação do MinC, criou-se a Lei Sarney, em 1986: um grande marco por ser uma lei de incentivo à cultura. Para Rubim (2007), trata-se de uma “ruptura radical com os modos, até então vigentes, de financiar cultura”, pois “em vez, de financiamento direto, agora o próprio Estado propunha que os recursos fossem buscados pretensamente no mercado, só que o dinheiro em boa medida era público, decorrente do mecanismo de renúncia fiscal” (Rubim, 2007, p. 24).

No início da década de 1990, o Ministério da Cultura (MinC) e a Lei Sarney deixaram de existir. O primeiro foi transformado em Secretaria Especial da Presidência da República durante o governo Collor, sendo resumido em duas novas estruturas: o Instituto Brasileiro de Arte e Cultura (IBAC) e o Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC). Já a Lei Sarney deixa de existir a partir de decreto que revisava regras quanto ao imposto de renda (Botelho, 2007).

Em 1992, com a recriação do MinC, institui-se a Lei Rouanet, que é vista como uma retomada no conceito de leis de incentivo fiscal para a promoção de atividades culturais, sendo instituída em novos moldes quanto às regras de dedução dos impostos a serem pagos. O Programa Nacional de Apoio à Cultura (PRONAC), instituído pela Lei, traz três diferentes mecanismos para o fomento à produção cultural: o mecenato; o Fundo Nacional de Cultura (FNC); e o Fundo de Investimento Cultural e Artístico (FICART), que nunca veio a entrar de fato em funcionamento (Calabre, 2009).

Logo, verifica-se que, no Brasil, a implementação de política pública de Cultura ocorre por três diferentes maneiras:

23 a) Leis de incentivo, em que a formulação e a implementação ficam de

responsabilidade do beneficiado;

b) Ações governamentais, em que a formulação e a implementação são realizadas dentro da estrutura governamental, como ocorre na maioria das Secretarias Municipais de Cultura;

c) Parceria com Organizações Não-Estatais, em que os governos são responsáveis pela política, podendo a implementação ser realizada por Organizações da Sociedade Civil, Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público e Organizações Sociais de Cultura – que é o enfoque deste estudo.

Simis (2007) aborda a cultura como um direito, sendo muito mais do que uma atividade econômica, embora a economia da cultura tenha hoje um papel importante na geração de empregos. A autora ressalta, também, a importância da cultura estar em articulação governamental com outras políticas públicas, tais como educação e saúde. Dentre as iniciativas de integração, está o Sistema Nacional de Cultura (SNC) que desde 2005, é gerenciado pelo governo federal e atrai estados e municípios para que possam sistematizar a política, seu sistema de financiamento, o plano de cultura pactuado com a sociedade, o conselho de cultura atuante, e a participação nas Conferências de Cultura.

Atualmente, dentro do Sistema Nacional de Cultura existe o Sistema de Informações e Monitoramento (Simcultura) que tem responsabilidade de produzir, sistematizar e difundir, de forma ampla e irrestrita, dados abertos, informações georreferenciadas, estatísticas, indicadores, estudos e pesquisas sobre o campo cultural brasileiro6.

O Simcultura compila a política nacional de cultura em quatro ações: Lei Federal de Incentivo à Cultura (Rouanet), Vale-Cultura, Rede Cultura Viva e Centro de Artes e Esportes Unificados (CEUs), além do monitoramento do Cadastro Geral de Informações Quilombolas e do Comércio Exterior de Bens Culturais.

Em setembro de 2013, o governo do Estado de São Paulo, por intermédio de sua Secretaria da Cultura realizou adesão ao Sistema Nacional da Cultura implicando no compromisso de criar e manter uma estrutura voltada à gestão da política cultural e visando a construção de um instrumento de articulação de políticas culturais nas três esferas do poder público – federal, estadual e municipal – de forma permanente e participativa, como por meio

24 de realização periódica de conferências de cultura7. Desse modo, a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo teve que paralisar as ações relativas ao Plano Estadual da Cultura para execução do Plano Nacional, que precisava estar finalizado em dois anos (no caso, em 2015).

Em 2018, ocorreu a assinatura do primeiro Contrato de Gestão da área da cultura em nível federal: a Associação Comunicativa Roquette Pinto (ACERP), qualificada como Organização Social. A organização foi selecionada para a gestão integral do principal centro de memória e referência do cinema brasileiro: a Cinemateca Brasileira. Com chamamento em 2016, o contrato tem vigência até 2021. A assinatura do Contrato de Gestão foi feita pelo então Ministro da Cultura e atual Secretário de Estado da Cultura do Estado de São Paulo: Sérgio Sá Leitão.

Antes da assinatura deste contrato, o Decreto nº 9.190/2017 já havia homologado o Programa Nacional de Publicização em nível federal, qualificando Organizações Sociais de Cultura para celebrarem contratos de gestão com o MinC (Brasil, 2017). Sérgio Sá Leitão fica como Ministro até dezembro de 2018 e assume, em 2019, a Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.

No início de 2019, a gestão de Jair Bolsonaro extingue o Ministério da Cultura, transformando-o em Secretaria Especial da Cultura, alocado no Ministério da Cidadania. O atual momento político do país produz incertezas no campo da cultura, uma vez que parcerias com o terceiro setor e a utilização de Leis de Incentivo são vistas como privilégios à população, e não como o direito social previsto constitucionalmente no art. 215 da Carta Magna (Brasil, 1988).