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CAPÍTULO 4: A SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA

1. HISTÓRICO E ESTRUTURA DA SECRETARIA

A Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo foi criada como órgão estadual pelo Decreto nº 13.426 de 16 de março de 1979, sendo desvinculada da antiga Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo (no Decreto nº 49.165/1967). Apesar da estrutura da Secretaria da Cultura ser criada na década de 70, o tema da cultura no Estado de São Paulo tem início na década de 40, com a criação do Decreto-Lei nº 13.411 de 1943, que “cria, diretamente subordinado ao Chefe do Governo do Estado, o Conselho Estadual de Bibliotecas e Museus” (São Paulo, 1943). A partir disso, várias legislações pontuais foram institucionalizadas pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP).

Porém, essa nova Secretaria da Cultura criada em 1979 não possuía estrutura funcional plenamente implantada a altura das demandas necessárias. Nesse sentido, ao longo do tempo, houve um déficit considerável de funcionários públicos. Essa fragilidade foi enfrentada por algumas estratégias de contrações irregulares, no ponto de vista jurídico, ao longo do tempo: dentre elas, contratação por serviços temporários por meio de empresas.

Por exemplo, no caso havia o Banespa, que era o Banco associado ao Estado de São Paulo, e tinha um subsidiário chamado Baneser. As pessoas eram contratadas pelo Baneser para prestação de serviços nos equipamentos vinculados à Secretaria. Isto, é claro, gerava uma situação absolutamente inadequada, intranquila e injusta. (S5, 2018, grifo nosso).

48 Para solucionar o processo de contratações, além das dificuldades de compras (dependência de licitação), o modelo de Organização Social foi implantando no plano estadual com a Lei Complementar nº 846/1998. Porém, a destinação deste mecanismo à área da cultura se deu de modo particular:

A Lei previa a utilização do modelo tanto para a área da saúde como de cultura, esta última resultante de ação de última hora do então secretário de estado da cultura que incluiu um inciso neste sentido, já que o documento havia sido concebido inicialmente na Secretaria da Saúde para lidar especificamente com a questão hospitalar. Preocupava o secretário a inadequação do modelo vigente para operar a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP). (Costin, 2005, p.3).

Mesmo após a promulgação da Lei das OSs no âmbito estadual, em 1998 (Decreto-Lei nº 43.493/1998), a administração direta continuava utilizando processos precários, em contratações temporárias sem vínculos formais. Os chamados “funcionários credenciados” tinham suas contratações viabilizadas por decretos governamentais. Com as inúmeras irregularidades de contratações, houveram questionamentos de diversas autoridades da Justiça do Trabalho, dentre elas, o Ministério Público do Trabalho, que obrigou a Secretaria a firmar Termos de Ajustamento de Conduta para que fosse regularizada a situação. No último deles, o TAC - Inquérito Civil nº 283/2000, assinado em 26/12/2002, foi estipulado o prazo máximo de 36 meses para regularização de todas as contratações (São Paulo, 2018b).

Nesse sentido, a realização de parcerias com a sociedade civil, por meio da gestão das Organizações Sociais surge como solução para adequar as contratações, uma vez que a legislação exige que os contratos com os funcionários sejam CLT. Além disso, a adoção do modelo OS facilita os processos de compras e contratações de serviços: não havendo vínculo direto à Lei 8.666/1993, existe maior agilidade, mesmo que os processos sejam condicionados a regulamentos próprios de cada OS aprovados pela SEC (São Paulo, 2018b).

Para formalização de Contratos de Gestão das primeiras OSs, a Secretaria exigia que a qualificação de entidades do terceiro setor como Organizações Sociais fosse baseada em experiência comprovada ou vinculação com programas ou equipamentos culturais. Dessa maneira, a organização qualificada teria reconhecimento como entidade de interesse público e relevância social na área de cultura, atendendo à exigência da legislação. Porém, a SEC deparou-se com dificuldades em encontrar entidades que se enquadravam nesses requisitos, uma vez que a formalização e profissionalização do terceiro setor, em especial na área de cultura, é recente. Atendendo à publicidade requerida pela Lei nº 846/1998, foi mantido,

49 permanentemente, um chamamento para entidades interessadas em qualificarem-se como OSs, se cadastrarem no portal institucional da Secretaria da Cultura (São Paulo, 2018b).

Ao mesmo tempo, enquanto aguardava entidades interessadas, a Secretaria decidiu buscá-las por iniciativa própria: a equipe técnica realizou uma intensiva gestão junto às associações de amigos dos equipamentos e programas culturais, já parceiros da administração direta, além de antigas instituições de cultura de São Paulo, o que resultou nas primeiras entidades qualificadas. Além disso, a Secretaria estimulou a criação de entidades para a gestão específica de determinados equipamentos culturais (São Paulo, 2018b).

Assim, apenas no final de 2004, seis anos após a promulgação da lei, ocorreram as primeiras celebrações de Contratos de Gestão entre SEC e Organizações Sociais de Cultura. Foram eles: a Associação de Amigos do Projeto Guri, na área de formação cultural; a Associação Paulista de Amigos da Arte, na área de difusão.

No ano de 2006, observa-se ampla reestruturação da Secretaria, o que Matta (2013) indica que como decorrência das assinaturas dos Contratos de Gestão com as OSCs, uma vez que as atividades da SEC deveriam ser alteradas para atendimento ao modelo de parceria em fase de implementação.

Desse modo, após o Decreto nº 50.941, de 5 de julho de 2006, que estipula a primeira estrutura da Secretaria, houveram quatro Decretos-Lei subsequentes que a modificaram para chegar na estrutura atual: a) Decreto nº 55.913/2010, que institui a Unidade de Bibliotecas e Leitura (UBL); b) Decreto nº 59.046/2013, que cria a Unidade de Monitoramento (UM); c)

Decreto nº 60.681/2014, que institui a Comissão de Avaliação da Execução dos Contratos de

Gestão das Organizações Sociais da Área da Cultura; e d) Decreto nº 61.832/2016, responsável pela criação da Unidade de Fomento e Economia Criativa (UF), reorganizando a antiga Unidade de Fomento e Difusão da Produção Cultural (UFDPC), que foi fundida com a Unidade de Bibliotecas e Leituras e agora se chama Unidade de Difusão, Bibliotecas e Leitura (UDBL) (São Paulo, 2006a, 2013, 2014, 2016).

Até janeiro de 2019, a estrutura da Secretaria era a detalhada abaixo:

I. Gabinete do Secretário; II. Conselho Estadual de Cultura;

50 IV. Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e

Turístico do Estado (CONDEPHAAT);

V. Comissão de Avaliação da Execução dos Contratos de Gestão; VI. Unidade de Monitoramento (UM);

VII. Unidades de Atividades Culturais:

a) Unidade de Formação Cultural (UFC);

b) Unidade de Fomento e Economia Criativa (UF);

c) Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico (UPPH); d) Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico (UPPM); e) Unidade de Difusão Cultural, Bibliotecas e Leitura (UDBL); VIII. Entidades vinculadas:

a) Fundação Padre Anchieta – Centro Paulista de Rádio e TV Educativas; b) Fundação Memorial da América Latina.

Assim, de acordo com “Caderno UM Especial 5 anos”, a partir da legislação de 2016 que visou a reorganização da Secretaria: “a administração direta dos equipamentos culturais, programas e grupos artísticos da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo foi integralmente transformada em administração em parceria com as organizações do terceiro setor” (São Paulo, 2018b, p. 09).

Logo, dentre as inovações para gerência dos CGs, em 2014 cria-se a Comissão de Avaliação da Execução dos Contratos de Gestão que prevê a fiscalização periódica dos CGs, gerando pareceres e relatórios com a avaliação das atividades desempenhadas e dos resultados obtidos pelas Organizações Sociais de Cultura. Sua composição possui cinco membros da sociedade civil e quatro servidores públicos estaduais, não necessariamente alocados na Secretaria da Cultura.

Como o enfoque desta pesquisa é a relação entre a Secretaria da Cultura e as Organizações Sociais, delimitamos a análise da Secretaria em quatro Unidades que atuam diretamente com as OSCs: Unidade de Formação Cultural (UFC), Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico (UPPM), Unidade de Difusão Cultural, Bibliotecas e Leitura (UDBL) – Unidades Gestoras; e a Unidade de Monitoramento (UM). A Comissão de Avaliação não foi priorizada para análise, pois não possui equipe própria alocada, dentro da Secretaria, para realização de suas avaliações.

51 Assim, optamos em deixar a seção específica seguinte para o histórico da Unidade de Monitoramento que foi a grande inovação do recorte do período estudado na SEC: a gestão de Marcelo Araújo (2012-2016). O detalhamento das outras Unidades Gestoras está no capítulo seguinte, que consta a análise de casos múltiplos, em que relacionamos a Unidade Gestora específica aos Contratos de Gestão analisados.