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Brincar na sala azul

No documento Apêndices do Relatório (páginas 99-102)

JORNAIS DE APRENDIZAGEM

1.JORNAIS DE APRENDIZAGEM DO JARDIM DE INFÂNCIA

1.2. Brincar na sala azul

A sala tem o nome de sala azul, nome atribuído pelas crianças que dela fazem parte. É um espaço amplo, como muita luminosidade, mas que facilmente se torna num ambiente mais escurecido na hora da sesta (das 13 às 14 horas). Curiosamente de todas as paredes brancas e uma delas é cinzenta, isto porque o que realmente importa sobressair são as pinturas e todos os trabalhos coloridos elaborados por cada criança.

A sala está organizada por áreas temáticas (desenho, leitura, escrita, matemática, o faz de conta e a construção). Cada área tem quatro cartões correspondentes que ditam o número máximo de crianças que podem usufruir, em simultâneo, dessa área temática após indicação da educadora. Exemplificando, a criança dirige-se ao espaço do faz de conta e coloca o cartão com uma fita ao pescoço e depois brinca nesse espaço. Sempre que a criança quiser pode mudar de área, se houver disponibilidade para participar nas outras áreas, ou seja sempre que existirem cartões disponíveis. A escolha de cada área

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reflete de certa forma as preferências de cada criança e de alguma forma é nestes momentos que expressam as suas emoções maioritariamente positivas.

Todas as áreas estão adaptadas à idade pré-escolar. A sala tem acesso a um atelier (comum a outra sala) onde são desenvolvidas atividades de expressão plástica, oficina de artes, culinária. Também de fácil acesso existe a casa de banho, em que a educadora investe na importância da lavagem das mãos. A sala tem 23 crianças de diferentes nacionalidades (espanhola, angolana e ucraniana), mas nas brincadeiras não se evidenciou essas diferenças e pela minha perceção até existia complementaridade. No início da manhã, a educadora reuniu todas as crianças numa roda e deu-me a oportunidade para me apresentar. Como me chamava, quem eu era, o que estava ali a fazer foram as perguntas iniciais. Posteriormente, quando perceberam que era enfermeira reportavam-se de imediato para o “hospital”. Mais especificamente, o que eu fazia lá e se existiam brinquedos! Este dado foi interessante, pois todos eles não associaram o hospital a um local de sofrimento emocional e a grande parte quis marcar posição fazendo as suas queixinhas a alguém de cuidava dos meninos quando estavam doentes (“Eu tenho muita tosse queres ver?”, “Eu tenho um dói-dói no dedo”, “Eu uma vez engasguei-me”, “Eu levei duas picas e depois a senhora meteu-me um penso bonito no braço”, “Eu uma vez fiquei em casa muito doente com febre”. Portanto, a imagem que grande parte delas apresentava do enfermeiro é que é uma pessoa que cuida deles, para ficarem bem e puderem brincar. Todos eles muito diferentes, uns mais ativos outros menos intervenientes, mas ainda assim com vontade de brincar. No grupo existem duas crianças sinalizadas, uma com autismo e outra com um diagnóstico ainda não estabelecido (ainda em avaliação, mas que apresenta um défice na linguagem, pouco participativo, não interage com as outras crianças, isola-se durante a brincadeira livre). A idade pré-escolar é a idade das descobertas da imaginação e da construção de padrões socioculturais, pelo que a leitura é uma das atividades de destaque. Este ano letivo são trabalhados dois livros, de acordo com o plano curricular do ministério da educação, cujo objetivo será trabalhar um tema passando uma mensagem específica. Este ano são elas “O elefante diferente- que espantava toda a gente” dos autores Manuela Castro Neves e Madalena Matoso e “A zebra Zezé” de Aventura & Alberto Faria.

A parceria entre a educadora e os pais era evidente no que diz respeito à atividade do brincar. No momento da admissão da criança na instituição existe uma entrevista entre a educadora e os pais ou o encarregado de educação, entrevista esta que comtempla a

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àrea do brincar e da relação que a criança estabelece o meio. Relativamente à atividade do brincar, a educadora explora aspetos relacionados com as preferências da criança, os seus brinquedos e atividades habituais, a existência ou não de dificuldades na relacionamento com os outros, as limitações que a criança tem no desenvolvimento de atividades, que possam implicar algum problema motor e/ou cognitivo. No entanto, apesar de serem considerados estas particularidades específicas de cada criança, em que são potencializadas as suas capacidades em sala e fragilizadas as suas limitações. Uma das regras implementadas na sala, é que a criança pode brincar com objetos trazidos de casa, apenas à sexta-feira (facilitar a organização da sala e facilita a gestão dos brinquedos pessoais). Para além de existir a preocupação de fazer o levantamento das necessidades da criança, no momento da admissão na instituição, a equipa educativa procura investir numa comunicação aberta, que se foca no reconhecimento pela importância do papel dos pais na educação dos filhos e na potencialização das suas habilidades, para fazerem um acompanhamento nas atividades lúdicas em casa. Por exemplo, relacionado com o tema “O Outono” a educadora pediu a colaboração dos pais para em casa fazerem um desenho com a criança. A comunicação com os pais também é facilitada, porque existe um ambiente acolhedor na receção e na despedida da criança. E devo salientar que apesar de ter estado pouco tempo com estas crianças, quando eu me ia embora, ou até mesmo o inverso, corriam atrás de mim para me darem um abraço e um beijinho.

Para terminar gostaria de relatar uma das situações que exemplifica na perfeição que a tomada de decisão na sala azul é partilhada, em que a opinião da criança é sempre considerada. Cada criança teve de escolher um animal para a sala azul. Atendendo ao tema da sala foi dada uma orientação pela educadora, como tendo de ser um animal do ar (céu azul) ou da água (mar azul). Foi feita uma roda, em que cada uma das crianças exprimia a sua opinião relativamente à escolha de um animal… O que foi um momento muito engraçado, acompanhado de gargalhadas espontâneas, pois alguns sugeriram uma baleia, um golfinho, uma águia…respostas não adequadas ao tema da sala! Mas a educadora introduziu mais alguns critérios orientadores, apresentando algumas sugestões, como um peixe, uma tartaruga, um canário, um periquito…Os votos começaram e terminaram. A sala azul por unanimidade vai ter um peixe. Eu dei o meu contributo e sugeri um peixe Beta, que é azul e vive em água fria, que eles acharam o nome e a ideia muito apelativa.

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No documento Apêndices do Relatório (páginas 99-102)