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Entrevista no serviço de urgência pediátrica

No documento Apêndices do Relatório (páginas 49-54)

ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADAS

GUIÃO GERAL DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA A descrição do ambiente da entrevista contempla os seguintes aspetos:

3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DAS ENTREVISTAS

3.3. Entrevista no serviço de urgência pediátrica

Caracterização do ambiente da entrevista:

- Local e contexto – Serviço de urgência de pediatria/Gabinete de enfermagem; - Duração efetiva da entrevista - 25 minutos.

Caraterização do entrevistado:

- Idade e sexo – 43 anos e sexo feminino;

- Tempo de exercício profissional - Exercício profissional há 20 anos na área da pediatria (17 anos em cuidados intensivos, 3 anos em urgência pediátrica, 2 anos em cardiologia pediátrica em funções de acumulação e 1 ano em puerpério e berçário, transporte pediátrico desde o seu início do ano 2010).

- Atividade/cargo na instituição - Coordenadora do serviço de urgência de pediatria, especialista em enfermagem na área da saúde infantil e pediatria.

Pergunta 1

a) “Através da brincadeira a criança aprende aquilo que ninguém lhe pode ensinar, ou seja, aprende sobre o seu mundo e as formas como lidar com ele, conhecendo-se a si própria. Penso que os valores específicos da brincadeira e as suas funções durante a infância incluem o desenvolvimento sensório-motor, intelectual, socialização, criatividade, autoconsciência entre outros. Para mim, o brincar não tem de ser necessariamente

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sinónimo de atividade, mas nas brincadeiras existe envolvimento e ação dos músculos, articulações, ossos, visão, audição e perceção dos movimentos, coordenação entre o cérebro e o corpo. Logo, o brincar é uma ótima forma de explorar o mundo físico e a maturidade sensorial, motora, cognitiva e intelectual, bem como estimular o desenvolvimento das competências sociais da criança em que nós próprios estabelecemos regras”.

“Posso relatar uma experiência pessoal. Ainda sem ter muita consciência dos benefícios do brincar durante a hospitalização de uma criança e tendo a intenção que o nosso filho crescesse com uma visão das limitações e necessidades que as crianças internadas viviam, durante os fins-de-semana que estava a trabalhava, ele ia por períodos brincar com alguns dos meninos que estavam na unidade. Mesmo quando ventilados, em que a comunicação verbal estava comprometida, rapidamente percebi que pelo facto de serem estimulados com o brincar a sua adaptação ao ventilador melhorava, ficavam mais tranquilos. Além disso, acabavam por ser mobilizados sem cariz obrigatório. Assim sendo, julgo que o brincar é um direito da criança e fazendo uso dele passei a ter maior colaboração e envolvimento da criança e família no processo terapêutico”.

Pergunta 2

a) “Através das atividades de brincar é possível aceder às vivências da criança, identificar algumas das suas necessidades. Acredito que o brincar constituiu-se como um espaço que possibilita escolhas e a livre expressão da criança e penso que com a sua integração nos cuidados podemos: melhorar a relação e comunicação; melhorar a compreensão e aceitação de procedimentos pela criança; conhecer as necessidades individuais da criança; manter a integridade da criança/família. A brincadeira terapêutica permite trazer bem-estar à criança, ajudando-a a expressar emoções e a lidar com medos e preocupações, permitindo-nos conhecer os seus sentimentos e as suas necessidades específicas. O brincar integrado nos cuidados de enfermagem poderá ser usado com várias finalidades, assumindo sempre no meu ponto de vista uma intencionalidade terapêutica”.

b) “Na minha prática diária aproveito o brincar livre, que surge espontaneamente, não é orientado, é conduzido pela criança, que utilizo com a finalidade de distração e prazer, permitindo à criança brincar com todos os materiais disponíveis no serviço, permitindo

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assim a expressão das suas emoções. Outras vezes utilizo o brincar dirigido, mas este implica uma programação, estruturação e definição de temas e fins específicos, onde é permitido a criança manipular e explorar o material com o qual se depara a experiência da hospitalização. Brincar com luvas, máscaras, seringas, facilita a sua adaptação e compreensão, por exemplo, na preparação pré operatória da criança”.

“A brincadeira adquire valor terapêutico em qualquer idade e liberta a criança e a família de tensões, stresse e receios que nascem num ambiente como o da urgência. Ao brincar a criança exprime as emoções, os sentimentos, e os impulsos inaceitáveis de uma forma socialmente aceitável. Pelas vivências que eu tenho nas brincadeiras a criança acaba por revelar muito de si, permitindo que os enfermeiros identifiquem as suas necessidades e desejos, mesmo quando não comunica verbalmente. Mas na brincadeira a criança necessita de aceitação por parte dos adultos e da sua presença, como suporte no controlo e canalização das suas reações negativas e agressivas. E neste ponto nós profissionais ainda temos um longo caminho a percorrer”.

Pergunta 3

a) “Num serviço de urgência pediátrica, a maioria dos cuidados são urgentes e alguns emergentes e para confirmarmos um diagnóstico, normalmente, são necessários vários exames complementares de diagnóstico e procedimentos invasivos. O tratamento da dor nem sempre é prioritário ou mesmo preventivo, embora a equipa de enfermagem esteja cada vez mais a trabalhar esta área. As estratégias de distração através da brincadeira e a música, devido à falta de tempo e à necessidade de rapidez e eficiência nas ações de enfermagem, talvez sejam as mais utilizadas”.

b) “A falta de tempo, motivação, conhecimento e imperatividade de atuação imediata são fatores que influenciam o brincar na urgência. Em consequência, este aspeto tão importante na humanização dos cuidados e na promoção do bem- estar e conforto da criança na transição saúde-doença, é relegado para segundo plano e esquecido por muitos profissionais de enfermagem. Acredito que a atitude e postura dos profissionais são essenciais na abordagem às crianças e famílias. O humor e a boa disposição por parte dos profissionais podem ser suficientes para aliviar o stresse e controlar a dor, da criança que recorre à urgência. Estas técnicas são eficazes, económicas e requerem pouco tempo, porque as crianças estão distraídas durante o procedimento, não exigindo

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grande preparação prévia. Contudo, é importante não esquecer a segurança e conforto da criança e o distrair não é desvalorizar os sentimentos da mesma. É muito importante a presença de alguém de confiança ao seu lado”.

3.4. Entrevista na unidade de cuidados intensivos pediátricos

Caracterização do ambiente da entrevista:

- Local e contexto - Unidade de cuidados intensivos pediátricos/ Gabinete de enfermagem;

- Duração efetiva da entrevista – 15 minutos. Caracterização do entrevistado:

- A idade e sexo - 49 anos e sexo feminino;

- Tempo de exercício profissional - Exercício profissional desde há cerca 21 anos, tendo prestado cuidados em diversos serviços, como o serviço de pneumologia de adultos e o serviço de doenças infetocontagiosas da pediatria. Atualmente, encontra- se na unidade de cuidados intensivos pediátricos, há cerca de 14 anos;

- Atividade/cargo na instituição - Chefe de serviço especialista em enfermagem na área de medicina física e da reabilitação.

Pergunta 1.

a) “As crianças do nosso serviço têm idades compreendidas entre os 0-18 anos e as atividades são realizadas de acordo com a idade. Os enfermeiros articulam com as educadoras sempre que necessário. Estas têm mais prática, mais tempo e mais formação. Em internamentos prolongados os enfermeiros utilizam, sobretudo, os videojogos e os livros temáticos. Contudo, a oportunidade que temos é estreita pela gravidade da doença e o brincar passa para segundo plano. Mas também depende da disponibilidade e da apetência de cada um de nós para o fazer. Por exemplo, alguns enfermeiros exemplificam alguns procedimentos através do brincar, por exemplo, com um boneco. A nossa prioridade passa por salvar vidas e na maioria das situações, quando a criança está estável é transferida para outro serviço”.

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Pergunta 2.

a) “Gerir as emoções num contexto em que o estado da criança é crítico não é nada fácil, mas o brincar não deixa de ser um dos direitos da criança. É fundamental utilizar o brincar na recuperação da criança, para obtermos uma melhor resposta da criança aos tratamentos. Além disso, contribuir para o desenvolvimento da criança através das atividades lúdicas permite que a criança tenha uma resposta mais positiva face ao processo de doença. Em cuidados intensivos muitas das vezes não é possível brincar com a criança pela sua condição física e por falta de oportunidade de colocar em prática esta intervenção “.

b) “Acredito que a atividade do brincar pode atenuar o sofrimento da criança e família, criando momentos de escape e, muitas das vezes, é fundamental criar oportunidades de brincarmos para que a gravidade da situação seja atenuada. Mas esta atividade permite também estabelecermos uma relação de descontração e de brincadeira entre os vários intervenientes do cuidar, contribuindo para gerir o stresse e a sensação que todos podem experimentar… Como a incapacidade ou a sensação de impotência de atuação perante certas situações”.

Pergunta 3

a) ”Pela gravidade das mais diversas situações críticas, grande parte das vezes a equipa de enfermagem não tem oportunidade para preparar a criança, até porque a nossa intervenção é no imediato”.

b) “Em cuidados intensivos a emergência das situações clínicas e a instabilidade hemodinâmica da criança são os dois fatores que interferem no uso do brincar terapêutico nas práticas de enfermagem. Contudo, gostaria de salientar que nem sempre os cuidados têm de ser intensivos, mas já existe uma formatação prévia na nossa atuação com as rotinas implementadas. Podemos sempre estimular a família a interagir com a criança e usar o brinquedo como forma de comunicação”.

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No documento Apêndices do Relatório (páginas 49-54)