• Nenhum resultado encontrado

Cálculo da produtividade média do trabalho na economia brasileira

Apêndice X: Composição do investimento – SCN antigo

2. Produtividade: teoria e revisão de literatura

2.3. Cálculo da produtividade média do trabalho na economia brasileira

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão encarregado da elaboração de estatísticas oficiais no país, tem sido o responsável, desde 1986, pela construção do Sistema de Contas Nacionais (SCN). Ao longo dos anos esse sistema tem passado por diversas alterações metodológicas que, como será visto em maiores detalhes no capítulo 3, têm tido como intuito adaptar-se às recomendações internacionais de compilação e apresentação de dados.

Coexistem, atualmente, duas versões do SCN em consonância com o System of

National Accounts (SNA) 1993 das Nações Unidas. A primeira versão, que doravante será

chamada de SCN antigo, foi divulgada em 1997 e compreende o período entre 1995 e 2009. Seus dados são classificados em 80 produtos e 42 atividades econômicas, as quais são construídas, por sua vez, conforme a primeira versão publicada da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). Do total dessas atividades, uma corresponde à agropecuária, 32 à indústria e as nove restantes aos serviços. A segunda versão, que será chamada de SCN novo, corresponde a uma revisão metodológica da primeira e foi divulgada em 2007. O SCN novo contém dados referentes ao período 2000 a 2009, desagregados em 110 produtos e 56 atividades econômicas. As atividades econômicas do SCN novo, construídas de acordo com a CNAE 1.0, dividem-se na seguinte proporção: duas correspondem à agropecuária, 39 à indústria, e 15 aos serviços.

Em linhas gerais, a revisão metodológica de 2007 teve como objetivo principal a elaboração de um sistema de contas referenciado em fontes anuais capazes de fornecer dados a preços correntes, estabelecendo um controle da evolução das séries. Isto por que o SCN antigo, em sua versão original, tinha como fonte principal os Censos Econômicos de 1985, a partir dos quais se realizavam as extrapolações dos dados. Com a divulgação do SCN novo,

manteve-se, concomitantemente a divulgação do SCN antigo, cujas informações foram retropoladas a fim de se adaptar à nova metodologia. A estrutura do SCN antigo, no entanto, permaneceu inalterada conforme os 80 produtos e as 42 atividades econômicas, enquanto que a nova série de dados passou a ser regida, como se viu, de acordo com os 110 produtos e 56 atividades econômicas.

Tanto o SCN antigo quanto o SCN novo são formados, dentre outros elementos, pela Tabela de Recursos e Usos (TRU). Essa tabela, elaborada com base nos fluxos de bens e serviços, contém informações referentes ao valor adicionado, aos salários e às ocupações, todas elas discriminadas por tipo de atividade econômica6. O valor adicionado, como discutido anteriormente, representa a medida de produto mais adequada para medir a produtividade média do trabalho. De acordo com o IBGE (2008b: p. 166), entende-se por valor adicionado o “valor que a atividade (econômica) agrega aos bens e serviços consumidos no seu processo produtivo”. Ele representa “a contribuição ao produto interno bruto das diversas atividades econômicas, obtida pela diferença entre o valor bruto da produção e o consumo intermediário absorvido por essas atividades”.

Os salários, por sua vez, que permitem calcular o custo unitário do trabalho, são definidos pelo IBGE (2007d: p. 5), como o valor recebido “em contrapartida pelo trabalho, quer em moeda ou em espécie. Os salários são contabilizados brutos, isto é, antes de qualquer dedução para a previdência social a cargo dos assalariados ou recolhimento de imposto de renda”. Incluem-se, nesta categoria, as “importâncias pagas no período a título de salários, remuneração de férias, honorários, comissões sobre vendas, ajudas de custo, gratificações, participações nos lucros, retiradas de sócios e proprietários dentro dos limites fixados pelas autoridades fiscais e auxílio-alimentação”.

De acordo com o IBGE (2007d: p. 3), entende-se por ocupações os “empregos ou postos de trabalho, definidos como contratos (explícitos ou implícitos) entre um indivíduo e uma unidade institucional, para a prestação de trabalho em contrapartida de uma remuneração (rendimento misto) por um período definido”. Uma pessoa ocupada, por sua vez, é conceituada, pelo IBGE (2007d: p. 2), como um “indivíduo que exerce uma atividade econômica situada dentro da fronteira de produção do sistema”. Entende-se por produção dentro dos limites do sistema “toda a produção realmente destinada ao mercado, ou seja, quer se destine à venda ou à permuta”. Incluem-se, também, “todos os bens e serviços fornecidos gratuitamente, ou a preços que não são economicamente significativos às famílias ou

6 O termo atividade econômica, é definido pelo IBGE, como o “conjunto de unidades de produção caracterizado pelo produto produzido, classificado conforme sua produção principal” (ver IBGE, 2013b: p. 2).

coletivamente à comunidade, pelos serviços da administração pública ou pelas Instituições Sem Fins Lucrativos à Serviços das Famílias (ISFLSFs)”. Contabiliza-se, portanto, “toda e qualquer produção, inclusive a produção das famílias retida para uso próprio desde que esta seja importante frente à produção total do bem”. Incluem-se também “os trabalhadores não remunerados com mais de uma e menos de 15 horas trabalhadas na semana, uma vez que todo tipo de produção é contabilizada, mesmo que reduzida em termos de horas trabalhadas”.

Desta maneira, “ter uma ocupação ou emprego, para uma pessoa ocupada, consiste em ocupar um posto de trabalho em uma unidade de produção”. Considera-se a possibilidade de que “uma mesma pessoa possa ter várias ocupações, umas das quais é considerada a principal7” (IBGE, 2007d: p. 3). Ainda, de acordo com o IBGE (2007d), o SCN distingue as seguintes posições na ocupação: (i) empregado, com e sem vínculo; (ii) trabalhador por conta própria; e (iii) trabalhador não remunerado. Com base nestas descrições, é possível então tratar o conceito de ocupação como sinônimo de pessoal ocupado e, assim, definir a produtividade média do trabalho8 da seguinte maneira:

Para cada ano disponível, os dados referentes ao valor adicionado por atividade econômica são disponibilizados pelo SCN tanto a preços correntes quanto a preços constantes do ano anterior. Discutiu-se, no início do capítulo, que ao analisar a evolução da produtividade em distintos pontos do tempo é preciso expurgar as distorções provenientes de mudanças nos preços relativos ocorridas durante o período. Com base nessas informações, e utilizando o mecanismo de índice de preços de Paasche, foram calculados, para efeito desta dissertação, os deflatores anuais para cada uma das 42 atividades econômicas do SCN antigo e para as 56 atividades econômicas do SCN novo. Sob este prisma, portanto, é possível obter um deflator implícito para cada atividade econômica, assim como um deflator implícito para a economia como um todo.

Definindo como o valor adicionado da -ésima atividade econômica no ano , onde e representam, respectivamente, os preços e as quantidades, então a variação de preços ano a ano é dada por:

7 A ocupação principal é considerada como sendo a de maior tempo de permanência ou a de maior remuneração (IBGE, 2007c: p. 3).

8 A partir deste ponto, tratar-se-á o termo produtividade média do trabalho como sinônimo de produtividade do trabalho.

Como afirma Squeff (2012: p. 31), a determinação do ano-base para calcular séries a preços constantes não é uma escolha trivial. Se for estabelecido como referência um determinado ano em que houve indubitavelmente uma distorção nos preços relativos, ao se inflacionar ou deflacionar os valores correntes dos anos anteriores ou posteriores ao ano-base, estar-se-á apenas corrigindo a estrutura de preços relativos deste ano para os demais anos. Deste modo, 2009 (ano em que se manifestaram os efeitos da crise subprime iniciada em 2008) deve ser imediatamente excluído da lista de possibilidades, embora seja o ano mais recente para os quais há dados disponíveis e, portanto, de mais fácil interpretação em termos de grandeza9. Assim sendo, e objetivando ser o mais imparcial possível na escolha do ano- base, calculou-se o valor adicionado a preços constantes de 1995 no caso do SCN antigo e a preços constantes de 2000 para o caso do SCN novo. Isto posto, o valor adicionado de 1996 a preços de 1995 para o SCN antigo é dado por:

Analogamente, o valor adicionado de 2001 a preços de 2000 para o SCN novo é dado por:

Com base no índice de quantidade de Laspeyres, a variação de quantidade ano a ano é calculada da seguinte maneira:

9 Este aspecto metodológico é muitas vezes ignorado por pesquisadores. Em Bonelli et al (2013), por exemplo, calcula-se a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) tendo como ano-base o ano de 2009.

Logo, para o restante da série de valor adicionado do SCN antigo, tem-se:

De maneira similar, tem-se, para o SCN novo:

Vale ressaltar que os mesmos deflatores implícitos calculados para cada atividade econômica permitem, ademais, transformar os salários correntes em preços constantes, mediante a divisão destes pela variação de preços acumulada em cada ano. Deste modo, obtêm-se, para o SCN antigo, salários a preços de 1995 e, para o SCN novo, salários a preços de 2000.

O debate econômico recente relacionado à produtividade do trabalho tem se dedicado, em diversas ocasiões, à questão da desindustrialização, isto é, à perda da importância relativa da indústria dentro da economia [ver, por exemplo, Palma (2005), Bresser Pereira e Marconi (2008), Nassif (2008), Bonelli e Pessôa (2010), Oreiro e Feijó (2010), Marconi e Rocha (2011) e Squeff (2012)]. No geral, os estudos disponíveis, que por vezes apresentam conceitos de desindustrialização distintos e visões bastante divergentes a respeito do que tem acontecido com a economia brasileira, costumam realizar análises detalhadas apenas para a indústria – especificamente a indústria de transformação –, deixando os serviços de lado ou, quando muito, tratando-os como um setor único e homogêneo.

Considera-se, nesta dissertação, que o tratamento homogêneo usualmente conferido ao setor de serviços não é apropriado, uma vez que existem diferenças relacionadas ao uso, distribuição e produção de tecnologia e de conhecimento entre as diferentes atividades econômicas. Por conseguinte, utilizando como base o marco teórico da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Statistical Office of the European

Community (Eurostat), propõe-se construir uma classificação das atividades econômicas

para construir estas classificações, que será explicada no capítulo 3, identifica as atividades econômicas da indústria de transformação de acordo com quatro categorias de intensidade tecnológica, a saber: (i) alta; (ii) média-alta; (iii) média-baixa; e (iv) baixa. As atividades econômicas do setor de serviços, por sua vez, são identificadas de acordo com três categorias de intensidade em conhecimento: (i) alta; (ii) média; e (iii) baixa.

No capítulo 4, avaliar-se-á a trajetória da produtividade do trabalho e de seus fatores explicativos – valor adicionado e pessoal ocupado –, assim como o comportamento dos salários por trabalhador e a distribuição do investimento no setor industrial. Mediante as propostas de classificação desenvolvidas, faz-se possível discutir estas questões não apenas para os grandes setores da economia, ou desagregadamente, para cada atividade econômica, mas também segundo intensidade tecnológica e intensidade em conhecimento. Esta nova abordagem permite, assim, obter novos e importantes resultados sobre a evolução da produtividade do trabalho e suas questões relacionadas, principalmente no que se refere ao setor de serviços e à evolução da estrutura produtiva do país.

3. Aspectos metodológicos: potencialidades e limitações das diferentes fontes de dados e