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Apêndice X: Composição do investimento – SCN antigo

3. Aspectos metodológicos: potencialidades e limitações das diferentes fontes de dados e

3.1. System of National Accounts (SNA)

A origem do System of National Accounts (SNA), elaborado pelas Nações Unidas, remonta à primeira sessão da Comissão Estatística de dita organização, realizada em 1947, na qual foi enfatizada a necessidade de se criar padrões estatísticos capazes de reunir dados comparáveis internacionalmente. Buscando atender a esta necessidade, o Subcomitê de Estatística da Renda Nacional do Comitê de Peritos em Estatística da Liga das Nações elaborou, naquele mesmo ano, o relatório “Measurement of National Income and the

Construction of Social Accounts”. Neste relatório, formularam-se as bases metodológicas que

viriam a se consolidar na publicação, em 1953, do primeiro manual dedicado à construção de um sistema de contas nacionais, conhecido como “A System of National Accounts and

Supporting Tables” ou, simplesmente, como SNA 534.

Com o objetivo de aprimorar e uniformizar os conceitos e a estrutura de apresentação das informações, o SNA 53 propôs a construção de um conjunto simplificado de seis contas padronizadas que descreviam os fluxos econômicos a partir de uma ótica institucional, isto é, em relação à produção, renda, formação de capital, famílias e instituições privadas sem fins de lucro, governo e transações externas. Estas contas, por sua vez, subdividiam-se em doze tabelas que permitiam identificar os seguintes agregados macroeconômicos: (i) produto nacional bruto; (ii) produto interno bruto; (iii) renda; (iv) distribuição da renda; (v) financiamento da formação bruta de capital; (vi) composição da formação bruta de capital;

(vii) receitas e despesas das famílias e instituições privadas sem fins de lucro; (viii)

composição do consumo privado; (ix) receitas e despesas governamentais; (x) composição das despesas do governo; (xi) transações externas; e (xii) receitas e despesas do setor rural. Apesar de, à época, já se reconhecer a utilidade dos números índices para calcular séries históricas a preços constantes, os valores monetários das contas e tabelas descritas pelo SNA 53 eram expressos unicamente em termos de preços correntes.

Com base no SNA 53, duas versões revisadas foram publicadas. Na primeira, divulgada em 1960, conhecida como SNA 60, a principal modificação consistiu na eliminação da tabela referente às receitas e despesas do setor rural, enquanto que na segunda, publicada em 1964, o SNA 64, corrigiram-se uma série de conceitos e referências, com vistas a alcançar a maior consistência possível com a primeira versão da International Standard Industrial

4 O manual é por vezes chamado de SNA 52, em referência ao seu ano de elaboração (ver, por exemplo, Paulani e Braga, 2003).

Classification of All Economic Activities (ISIC) das Nações Unidas, a classificação

internacional de atividades econômicas.

Após as revisões de 1960 e 1964, o SNA 53 ainda passou por uma terceira revisão, a qual culminou na publicação, em 1968, de um novo manual de contas nacionais. No prefácio do “System of National Accounts” de 1968, ou SNA 68, descrevem-se duas importantes inovações do sistema: por um lado, a desagregação da conta de produção em matrizes insumo-produto e, por outro, a incorporação de dados calculados a preços constantes utilizando índices de preço de base fixa. A recomendação de que as informações fossem discriminadas por tipo de agente econômico, ao invés de setores institucionais, permitiu, ademais, um maior detalhamento das quatro contas que compunham o sistema, a saber: (i) produção; (ii) apropriação e uso da renda; (iii) acumulação de capital; e (iv) resto do mundo.

O SNA 68 permaneceu vigente até 1993, ano em que foi publicado o “System of

National Accounts 1993”, ou SNA 935. De acordo com Nunes (1998: p. 134), a utilização do SNA 68 foi, em parte, prejudicada pelas grandes mudanças ocorridas nas estruturas produtivas das economias capitalistas, acompanhadas pela elevação das taxas de inflação decorrentes das crises do petróleo em 1973 e 1979 e, também, pelo surgimento de inovações financeiras não previstas em dito manual. Desta forma, o SNA 93 surge como uma proposta para atender às exigências da nova realidade econômica, tornando-se referência internacional para a construção das contas nacionais6.

O SNA 93 introduziu significativas mudanças no que se refere à estrutura do sistema de contas nacionais, que passou a ser composto por um corpo central – formado pelas Contas Econômicas Integradas (CEI) e a Tabela de Recursos e Usos (TRU) – e pelas contas satélites, as quais continham informações socioeconômicas relacionadas ao sistema de contas, mas com a particularidade de não serem expressas em valores monetários. As CEI contemplavam as seguintes contas: (i) conta de geração da renda; (ii) conta de distribuição primária da renda;

(iii) conta de distribuição secundária da renda; (iv) conta de uso da renda; (v) conta de capital; (vi) conta financeira; (vii) conta de outras mudanças no volume de ativos; e (viii) conta de

reavaliação. A TRU, por sua vez, representava os fluxos de bens e serviços, a partir dos quais seria possível construir as novas matrizes insumo-produto.

Destacam-se duas outras alterações apresentadas no SNA 93. Em primeiro lugar, a recomendação de sempre calcular as séries históricas a preços do ano anterior incentivou a

5 Este documento foi preparado através de uma colaboração entre a Eurostat, o FMI, a OCDE, as Nações Unidas e o Banco Mundial. O mesmo se aplica à elaboração do SNA 2008.

6 De fato, as duas últimas versões do Sistema de Contas Nacionais (SCN) do Brasil foram construídas com base nas recomendações propostas pelo SNA 93. Este ponto será tratado com mais detalhes ainda neste capítulo.

construção de índices de preços em cadeia, isto é, índices de preço de base móvel. Em segundo lugar, a atualização da classificação de atividades econômicas de acordo com a ISIC Rev. 3. permitiu diferenciar o setor industrial em categorias segundo intensidade tecnológica, de acordo com a taxonomia proposta pela OCDE.

A última versão do manual, conhecida como “System of National Accounts 2008” ou SNA 2008, conserva o marco teórico básico de seu predecessor, incorporando pequenas mudanças, a fim de dar maior especificidade e refinamento aos conceitos utilizados. Uma importante atualização refere-se à adoção da ISIC Rev. 4, a qual representa uma revisão mais profunda da classificação de atividades econômicas. No Brasil, iniciaram-se, em 2011, os trabalhos de concepção e compilação das contas nacionais conforme as recomendações propostas pelo SNA 2008.