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CAPÍTULO 3 – I MPLEMENTAÇÃO DO M ODELO

V. Cálculo dos Custos por Actividade e Identificação dos Indutores de Actividades

Identificados os recursos afectos às actividades, torna-se possível aferir os custos das actividades.

Os custos atribuídos são custos anuais e foram recolhidos através das várias fontes de informação mencionadas no ponto I.

A priori deve ainda ser concretizada a tarefa de definir os indutores de actividades que permitirão

imputar os custos das actividades aos objectos de custo.

Identificação dos Indutores de Actividades

Os indutores de actividades são utilizados para avaliar os custos dos objectos de custo (Baker, 1998) que, no nosso caso, são representados pelos doentes de uma patologia: insuficiência respiratória.

A análise de apenas uma patologia, facto em grande parte justificado pela indisponibilidade de tempo para uma análise mais profunda dos objectos de custo, tornou possível a abreviação de algumas fases do processo de implementação do modelo, entre as quais a fase final de atribuição dos custos das actividades aos objectos de custo porquanto o processo de apuramento dos custos foi desde logo feito para uma patologia.

Não obstante, para qualquer patologia tratada as actividades identificadas são as mesmas. Sendo que a grande variação está ao nível do consumo de recursos, a identificação do objecto de custo foi feita

ab initio, de acordo, inclusivamente, com a metodologia proposta por Popesko (2010).

Os indutores de actividades escolhidos foram, consoante o caso, o número de doentes admitidos/tratados e o tempo de permanência no serviço, apurado pela demora média da patologia. A opção pelo tempo de permanência no serviço foi feita especialmente no caso dos consumos de material, produtos farmacêuticos e MCDTs dado que as actividades que consomem estes recursos são actividades de rotina que assentam na vigilância do doente durante toda a sua estadia no serviço.

Assim, após a distribuição do custo dos recursos pelas várias actividades, em conformidade com os indutores de custos definidos, para cada actividade foi considerado o número de doentes tratados ou o tempo de permanência no serviço, dois factores determinantes do nível de consumo das actividades.

Considerámos que apenas as actividades primárias de admissão de doentes, realização do diagnóstico e

alta clínica e administrativa, bem como a actividade de suporte preparação da unidade para a recepção do doente deveriam ter como indutor de actividades o número de doentes

admitidos/tratados dado que estas actividades não se prolongam na estadia do doente. Por outro lado, todas as outras actividades, na medida em que se repetem durante o tempo de internamento, devem ter em consideração este facto já que os recursos são consumidos todos os dias e genericamente ao mesmo nível de consumo.

Neste sentido, estamos finalmente aptos a avançar com os custos das actividades para os doentes com patologia de insuficiência respiratória:

3.6 Conclusão

Neste capítulo foi desenvolvida a implementação do modelo CBA a uma unidade de cuidados intensivos hospitalar.

Seguindo a metodologia enunciada na revisão da literatura e tendo como premissa a necessidade de apurar os custos reais das actividades desenvolvidas no serviço, foi possível verificar que, em consonância com os trabalhos já desenvolvidos por vários autores, o método CBA pode ser aplicado ao sector da saúde e que o mesmo constitui uma mais-valia para os gestores de topo e demais profissionais de saúde com funções de gestão, porquanto a aplicação do CBA permite a definição das actividades efectivamente realizadas pelo serviço para as diversas patologias tratadas.

Para além do custeio apurado para a patologia, a aplicação do CBA permitiu ter uma noção da construção do custo na perspectiva das actividades que asseguram o processo produtivo.

Neste sentido, tornou-se possível perceber onde e como são gastos os recursos e de que forma poderão os mesmos ser racionalizados promovendo, assim, a eficiência e eficácia da sua utilização, bem como uma orientação para o produto final (doente tratado com a patologia de insuficiência

respiratória) através da eliminação de actividades que não geram valor acrescentado ou, pelo menos,

através da gestão de recursos financeiramente mais pesados para as actividades que geram valor.

A análise à cadeia de valor da UCIP permite, desde logo, verificar que a actividade de realização do

tratamento consome mais de 50% dos custos totais da patologia e, como tal, é nesta actividade que

se concentra o valor acrescentado do processo de prestação de cuidados no serviço. Naturalmente, a opção de incluir somente nesta actividade alguns dos custos mais pesados na estrutura de custos já que aqui e não através da prescrição é que o consumo é efectivamente realizado, fomentou o peso da actividade no fluxograma do “processo produtivo”.

É de denotar que alguns recursos poderão estar a ser sub utilizados e que o peso dos custos com pessoal é efectivamente determinante para o custo total das actividades (as organizações de saúde são labour intensive). Este facto é significativamente denotado nas actividades em que participam

diferentes grupos profissionais. Com efeito, a desigualdade remuneratória claramente evidenciada nalguns grupos de profissionais, faz aumentar ou diminuir o custo de algumas actividades que podem mesmo ser fundamentais na estadia do doente no serviço.

De salientar também que algumas actividades de suporte têm, ao contrário do que seria expectável, um peso bastante elevado nos custos da patologia. Entre estas ressalva a actividade de realização de

registos nos sistemas informáticos e no processo clínico. Com efeito, não seria razoável identificar esta

actividade como primária porquanto ela não está directamente associada ao tratamento. Não obstante, o seu peso na estrutura de custos revela que esta actividade é tão essencial ao processo como ou mais do que outras actividades sem as quais os tratamento dos doentes não se concretiza. A classificação desta actividade parece, assim, carecer de reavaliação.

O mesmo diga-se da actividade de reposição de stocks. A análise dos custos desta actividade permite- nos verificar que os enfermeiros são indubitavelmente os promotores do bom funcionamento do armazém dos seus serviços. Esta actividade faz desde logo evidenciar uma das principais funções daquele grupo profissional.

Desta análise é possível concluir pela vantagem evidente da cadeia de valor ou da estrutura de custos por actividades em detrimento de uma análise de custos por natureza. A gestão estratégica do serviço passaria necessariamente por ajustar, adequar e racionalizar as actividades e os custos dos recursos a elas associados, por forma a canalizar alguns recursos para outras actividades ou mesmo para outros serviços mais carenciados. A tradicional abordagem de cada serviço no sentido de evidenciar o eterno volume de trabalho e a constante carência de outros recursos deixa, numa perspectiva CBA/GBA, de ter grande significado já que todos os recursos servem apenas o nível de execução das actividades em que participam.

Ainda que de todo o interesse, não foi possível comparar os resultados obtidos através do modelo CBA com os valores obtidos pelo modelo tradicional. Isto porque, o apuramento do custo da unidade de obra (doente tratado ou dia de internamento) é feito pelo método dos centros de custo e respectiva imputação aos mesmos de acordo com os critérios definidos na contabilidade analítica (CA).

Desta forma, não é sequer possível obter um custo aproximado de um doente por patologia ou quando muito por GDH. Não estando perante situações semelhantes, optámos por não comparar os custos unitários gerados pela CA com os valores obtidos na aplicação do CBA aos doentes de determinada patologia.

Acresce que os critérios de imputação dos custos indirectos podem aumentar ou diminuir substancialmente o custo unitário total, o que vai de encontro às críticas avançadas aos sistemas de custeio tradicionais. Sublinhe-se, por exemplo, os custos indirectos imputados em função da área da UCIP. Sendo a UCIP um serviço com uma área reduzida, poderá ter um peso menor na imputação de alguns tipos de custos, como acontece com os custos do Serviço de Instalações e Equipamentos. Não obstante, a UCIP é um dos mais onerosos serviços nesta matéria, não só porque o investimento é muito elevado, mas também porque os custos de assistência e conservação dos equipamentos, ainda que grande parte estejam incluídos no contrato de aquisição, são muito altos.

Temos assim que o objectivo geral de saber se o modelo CBA poderia ser implementado a uma unidade de cuidados intensivos e se o mesmo traria benefícios para o serviço no conhecimento dos seus custos reais, parece ter sido cumprido com sucesso.