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C ONSIDERAÇÕES F INAIS

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 175-179)

Nesta dissertação, tivemos como proposta descrever a entoação de enunciados interrogativos totais realizados em conversas telefônicas coloquiais por falantes de espanhol das variedades de Buenos Aires e de Santiago do Chile, a partir da investigação da correlação entre a forma prosódica e a função pragmática destes enunciados.

Três objetivos nos conduziram durante a produção do trabalho, a saber: (i) verificar quais são os contornos entonacionais encontrados em conversas coloquiais dos enunciados interrogativos totais nas variedades argentina (Buenos Aires) e chilena (Santiago do Chile), através de dois parâmetros acústicos: frequência fundamental e duração; observando se dados conversacionais e espontâneos confirmam ou não os resultados já descritos para a fala lida e/ou atuada (SOSA, 1999; GABRIEL et alii, 2010; ORTIZ et alii, 2010; FIGUEIREDO, 2011); (ii) analisar se há convergência ou divergência entre a forma prosódica e a função pragmática; (iii) descrever os contornos entonacionais do tag question “¿no?” nas variedades do espanhol de Buenos Aires e de Santiago do Chile e verificar se dito marcador pertence a um mesmo sintagma entonacional ou se constitui um sintagma distinto.

No capítulo 1, nos centramos na discussão dos modelos teóricos entonacionais e dos estudos que nos embasaram para que pudéssemos analisar os nossos dados. Mais especificamente, descrevemos (i) os pressupostos da fonologia entonacional, situada dentro dos princípios do modelo métrico-autossegmental; (ii) o sistema de notação Sp_ToBI, concebido como um tipo estandarizado de etiquetagem prosódica capaz de transcrever e notar fonologicamente a entoação de diversas variedades do espanhol e (iii) os pressupostos da fonologia prosódica. Ainda neste capítulo, apresentamos estudos recentes da entoação de enunciados interrogativos totais das variedades de Buenos Aires e Santiago do Chile.

Definimos, no capítulo 2, os conceitos de (i) coloquial (registro situacional); (ii)

oral (produção e recepção pelo canal fônico); (iii) espontâneo (grau de planejamento da

informação) e (iv) conversacional, (discurso oral, dialogal, imediato, dinâmico, cooperativo e mudança de turno não pré-determinada). Apresentamos, também, o que entendemos por conversação coloquial, uma modalidade conversacional com marcas de situacional (coloquial). Além de destacar a estrutura de uma conversação a partir da

sucessão de turnos de fala e, em especial, a estrutura organizacional de uma conversa telefônica.

No capítulo metodológico, o capítulo 3, relatamos como foram coletados os 78

enunciados interrogativos totais analisados para esta dissertação, bem como os critérios

de análise dos dados, tanto do ponto de vista fonético e de notação fonológica quanto do ponto de vista pragmático.

Apresentamos as análises e discussões dos nossos dados nos capítulos 4, 5 e 6, em que objetivamos responder às perguntas levantadas na introdução desta dissertação. Nos capítulos 4 e 5, apresentamos as análises referentes à descrição dos contornos dos enunciados interrogativos totais a partir das medidas de F0 e de duração nas variedades de Buenos Aires e Santiago do Chile, respectivamente. Verificamos algumas diferenças entre as duas variedades aqui analisadas. Do ponto de vista fonético e no que se refere à

implementação de F0 no pré-núcleo, em ambas as variedades observamos um

comportamento, majoritariamente, ascendente.

Por outro lado, a implementação de F0 no núcleo apresentou diferenças significativas entre as duas variedades. Na variedade de Buenos Aires, observamos três diferentes contornos para o núcleo dos enunciados interrogativos totais: contorno

circunflexo, em 19 dos 39 dados analisados (49%); contorno ascendente em 12 dos 39

dados analisados (31%) e contorno descendente em 8 dos 39 dados analisados (20%). Verificamos ainda que nos 12 enunciados em que o núcleo é ascendente, o vocábulo final possui padrão acentual oxítono ou é constituído por um monossílabo tônico. Portanto, constatamos que, nestes casos, houve truncamento do padrão esperado para a variedade de Buenos Aires, o circunflexo.

Para a variedade de Santiago do Chile, também observamos três diferentes contornos para os enunciados interrogativos totais: contorno ascendente, em 32 dos 39 dados analisados (85%); contorno descendente, em 5 dos 30 dados analisados (13%) e contorno circunflexo, em 1 dos 39 dados analisados (2%).

Confrontando as duas variedades aqui estudadas, constatamos que na variedade de Buenos Aires, a ocorrência de enunciados interrogativos totais com contorno circunflexo no núcleo é majoritária, ao passo que na variedade de Santiago do Chile, o contorno ascendente no núcleo é o mais recorrente.

Com relação à implementação da duração, também foi possível encontrar comportamentos distintos entre as duas variedades. Na variedade de Buenos Aires,

encontramos uma diferença entre pré-núcleo e núcleo. O primeiro apresenta maior duração da sílaba tônica ao passo que no núcleo, a sílaba pós-tônica apresenta maior duração.

Na variedade de Santiago do Chile observamos uma diferença entre sujeitos do sexo feminino e sujeitos do sexo masculino. Tanto no pré-núcleo como no núcleo, a sílaba pós-tônica apresenta maior duração, no caso dos sujeitos do sexo feminino e, no caso dos sujeitos do sexo masculino, a sílaba tônica é a que apresenta maior duração. Cabe salientar, contudo, que independente do sexo do sujeito, há um aumento médio de +35ms, para o pré-núcleo e um aumento médio de +56ms, para o núcleo, da sílaba pretônica para a tônica, o que poderia caracterizar a implementação da duração nesta variedade.

Pensando na notação fonológica dos contornos do núcleo e considerando as descrições realizadas por Gabriel et alii (2010) e por Ortiz et alii (2010), para as variedades de Buenos Aires e de Santiago do Chile, respectivamente, para dados de fala atuada, verificamos em nossos dados de fala espontânea a ocorrência majoritária do mesmo contorno para o núcleo dos enunciados interrogativos totais propostos pelos autores. Portanto, no que se refere à implementação de F0 e notação fonológica, 30 dos 39 enunciados analisados (77%) na variedade de Buenos Aires receberam notação

L+¡H*HL%, isto é, contorno de F0 com sílaba pretônica baixa, tônica ascendente até a

sílaba pós-tônica onde inicia o movimento descendente. Já, para a variedade de Santiago

do Chile, 32 dos 39 enunciados analisados (85%) receberam notação L+H*HH%, ou

seja, sílaba pretônica baixa, seguida de tônica ascendente com tom de fronteira também ascendente.

Para dar conta da análise pragmática dos dados, recorremos ao modelo de classificação proposto por Hedberg et alii (2010), que prevê nove categorias pragmáticas para os enunciados interrogativos, segundo o seu uso no discurso. Observamos que para as diferentes categorias pragmáticas, encontramos configurações nucleares semelhantes, enquanto que para uma mesma categoria, verificamos diferentes configurações nucleares. Por essa razão, constatamos que tal variação de padrões no núcleo se relaciona com os graus de certeza epistêmica, estabelecidos pelo contexto (COUPER-KUHLEN, 2012).

Nossos dados demonstram a ocorrência de duas certezas epistêmicas que se distinguem pelo comportamento de F0 na posição nuclear do enunciado. A primeira equivale aos casos em que o grau de certeza é neutro, isto é, um pedido real de informação em que se deseja obter um dado. A segunda engloba os casos em que há certeza da verdade do conteúdo proposicional do enunciado, ou seja, as perguntas confirmativas.

Em síntese, as perguntas que funcionam como um pedido de informação apresentam como contorno mais frequente o ascendente-descendente, com notação fonológica L+¡H*HL% e as que funcionam como um pedido de confirmação, apresentam como contorno mais frequente o descendente com notação L*L%, para a

variedade de Buenos Aires. Já para a variedade de Santiago do Chile, as perguntas que

funcionam como um pedido de informação apresentam como contorno mais frequente o ascendente, com notação fonológica L+H*HH% e as que funcionam como um pedido

de confirmação, apresentam como contorno mais frequente o descendente com notação H+L*L%.

Ainda encontramos três exemplos de enunciados interrogativos totais cujo núcleo apresenta foco contrastivo, dois na variedade de Buenos Aires e um na variedade de Santiago do Chile. Nestes casos, o contorno mais recorrente, para ambas as variedades, foi o circunflexo, L+H*L%. No caso específico da variedade de Buenos Aires, encontramos enunciado interrogativo, funcionando como uma pergunta de cortesia. Este enunciado apresentou contorno ascendente, com tom de fronteira médio e recebeu notação fonológica L+H*M%.

Realizamos, no capítulo 6, uma análise preliminar de um corpus piloto composto por sintagmas entonacionais (Is) seguidos de “¿no?”, caracterizado por ser uma pergunta final de confirmação. A análise dessa amostra piloto de dados demonstra que os tag questions dos enunciados se prosodizam separadamente, isto é, são realizados em Is diferentes. O I que precede o “¿no?” apresenta tom de fronteira baixo em 16 dos 18 enunciados analisados (89%). Além disso, 100% dos 18 Is constituídos pelo “¿no?” apresentam um contorno

entonacional com final ascendente (HH%) composto também por acento tonal L+H*

em todos os dados.

Esperamos com esta dissertação ter contribuído para os estudos entonacionais de língua espanhola por meio de investigações no contexto de fala espontânea conversacional.

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 175-179)