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Quantitativo de enunciados interrogativos totais do corpus.

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 86-96)

C ONVERSAÇÃO C OLOQUIAL

Esquema 1: Quantitativo de enunciados interrogativos totais do corpus.

Esquema 1: Quantitativo de enunciados interrogativos totais do corpus.

Cabe salientar que o número de enunciados interrogativos totais em cada variedade foi o mesmo: 39 para cada uma das variedades aqui estudadas. A coincidência numérica do total de enunciados encontrados na variedade de Buenos Aires e na variedade de Santiago do Chile não deixa de ser surpreendente e deixa margem para que imaginemos que, no mesmo tipo de conversa, com o mesmo tipo de duração, as “porções interrogativas” das conversas poderiam ter a mesma frequência de distribuição.

Os enunciados foram etiquetados em função da modalidade, com a sigla “int”; da variedade lingüística, “a” para Buenos Aires e “c” para Santiago do Chile e, em função do sexo do informante, sendo “f” para feminino e “m” para masculino. Assim, um enunciado com rótulo “intcm1” indica um enunciado interrogativo total, produzido pelo informante masculino da variedade de Santiago do Chile.

3.1.2.1- Conversa 1

A Conversa 1 ocorre entre duas informantes do sexo feminino da variedade de Buenos Aires. São duas amigas que conversam sobre diferentes temas: estudos, amigos em comum, familiares, festas, etc. Verificamos nesta gravação a ocorrência de 26 enunciados interrogativos totais: 11 proferidos pelo informante 1 e 15, pelo informante 28.

8 Ressaltamos que o informante 1 é sempre o que liga, isto é, o falante que está nos Estados Unidos. E, o

4 conversas telefônicas 78 enunciados interrogativos totais 39 variedade de Buenos Aires 26 proferidos pelos informantes do sexo feminino 13 proferidos pelos informantes do sexo masculino 39 variedade de Santiago do Chile 15 proferidos pelos informantes do sexo feminino 24 proferidos pelos informantes do sexo masculino

3.1.2.2- Conversa 2

A Conversa 2 ocorre entre dois informantes do sexo masculino da variedade de Buenos Aires. São dois rapazes que conversam sobre os seguintes temas: estudos de pós- graduação, trabalho, família, as cidades onde vivem, etc. Verificamos nesta gravação a ocorrência de 13 enunciados interrogativos totais: 5 proferidos pelo informante 1 e 9, pelo informante 2.

3.1.2.3- Conversa 3

A Conversa 3 ocorre entre duas informantes do sexo feminino da variedade de Santiago do Chile. São duas amigas que conversam sobre diferentes temas: estudos, amigos em comum, familiares, festas, etc. Verificamos nesta gravação a ocorrência de 15 enunciados interrogativos totais: 2 proferidos pelo informante 1 e, 13 pelo informante 2.

3.1.2.4- Conversa 4

A Conversa 4 ocorre entre dois informantes do sexo masculino da variedade de Santiago do Chile. São dois rapazes que conversam sobre os seguintes temas: estudos de pós-graduação, trabalho, família, as cidades onde vivem, etc. Verificamos nesta gravação a ocorrência de 24 enunciados interrogativos totais: 18 proferidos pelo informante 1 e, 6 pelo informante 2.

Nesta conversa, diferentemente das outras três anteriores, o informante 1 foi o que mais perguntou. Acreditamos que essa diferença se encontre no tópico da conversa, uma vez que o informante 1 tenta ajudar o informante 2 a solucionar seu problema com o acesso à internet.

3.1.3- Critérios de transcrição ortográfica

Após escolhermos as quatro gravações que constituiriam o corpus, seguimos para a primeira etapa de revisão. Dos quinze minutos de cada conversa, dez já estão transcritos ortograficamente, por isso transcrevemos os cinco minutos restantes a fim de observar a

ocorrência de outros enunciados interrogativos totais9. Vale mencionar que essa segunda

transcrição das quatro conversas telefônicas foi revisada por duas falantes de espanhol, a primeira com idade de 45 anos, nascida em Montevidéu (Uruguai) e residente no Brasil desde os 7 anos e a segunda com idade de 27 anos, nascida em Misiones (Argentina) e residente no Brasil desde os 21 anos.

Na transcrição ortográfica das gravações optamos pela não utilização de sinais de pontuação, com exceção do ponto de interrogação, ao início e fim de enunciados interrogativos. Os interrogativos totais foram destacados em negrito. Utilizamos as letras maiúsculas para nomes próprios; fonte itálica para as palavras do inglês; parêntesis duplo – (( )) – para o não entendimento de alguma palavra e a sigla “[risas]” para sinalizar a risada dos falantes.

Também optamos por registrar marcas de fala espontânea tais como: (i) repetições, (ii) recomeços, (iii) supressão de sílabas e (iv) pausas sonoras. Na tabela 19 abaixo, exemplificamos tais marcas.

Tabela 19

Marcas do discurso espontâneo Exemplos

Repetições A: capaz que no sé no sé bien a lo mejor

porque son chotas líneas nada más eso y no te andaba comentando vos sabés que acá

hay hay un departamento que se llama

epidemiology que es básicamente estadística

aplicada a medicina

[Conversa 2]

Recomeços B: pero me ac- pero me acuerdo que es lo

importante

[Conversa 2]

Supressão de sílabas A: ah mi (her)manito re bien

[Conversa 1]

Pausas sonoras B: que lástima eh pero es mejor que tomes

eso que no te de ese dolor tan espantoso [Conversa 3]

Tabela 19: Exemplos de marcas de espontâneo.

9 Encontramos no total dos 20 minutos que não possuíam transcrição ortográfica (5 minutos para cada uma

das 4 gravações), mais 27 enunciados interrogativos totais, além dos 51 já transcritos: 8 enunciados na conversa 1; 4, na conversa 2; 8, na conversa 3 e 7, na conversa 4.

Cabe mencionar que cada linha da transcrição ortográfica das gravações foi numerada em ordem crescente.

3.2- Programas de Análise

Apresentaremos os dois programas computacionais utilizados para a análise dos dados desta dissertação: Audacity e Praat.

3.2.1- Audacity

Audacity10 é um programa livre utilizado para a gravação e edição de som. Para o

trabalho desenvolvido nesta pesquisa, o programa nos permitiu separar os enunciados interrogativos totais das demais partes das gravações.

Janela do Audacity

Figura 20: Exemplo de uma gravação do nosso corpus no programa Audacity.

Após a separação dos enunciados no Audacity, estes foram analisados acusticamente no Praat.

3.2.2- Praat

Praat11 é um programa de análise acústica desenvolvido por Paul Boersma e David

Weenink da Universidade de Amsterdam (1993-2013). Este software se programa a partir de

scripts que permitem adequá-lo às mais diferentes pesquisas na área de Ciências da Fala.

Especificamente para a nossa investigação, este programa permitiu analisar o contorno e valores de F0 e de duração, bem como segmentar manualmente cada enunciado em três níveis: segmentação das vogais, segmentação das sílabas e notação fonológica das sílabas do pré-núcleo e do núcleo, como ilustrado na figura 2.

Janela do Praat

Figura 21: Exemplo de um enunciado do nosso corpus no programa Praat.

Ao observar nossos enunciados, constatamos que algumas curvas melódicas, como a exemplificada no exemplo da figura 2, acima, apresentavam algumas perturbações não pertinentes em função de fatores fonéticos, microprosódicos ou externos. Como solução a este problema, suavizamos12 os contornos melódicos para sua melhor visualização, como ilustra a figura 3.

11 É possível fazer o download do programa Praat no endereço: http://www.fon.hum.uva.nl/praat/.

12 Para suavizar uma curva melódica no Praat é necessário selecionar o arquivo de som, clicar em analyse

periodicity e em to pitch (ac). Será criado um arquivo de pitch que deverá ser selecionado. Feita a seleção, clicar

¿Hablaban en código?

Figura 22: Exemplo de contorno melódico suavizado.

A seguir, apresentamos os critérios utilizados para a análise dos dados.

3.3- Critérios de Análise

Para a realização deste estudo, levamos em consideração dois tipos de análise: uma análise do ponto de vista acústico e outra, do ponto de vista pragmático. A seguir, apresentamos, detalhadamente, essas duas etapas de análise.

3.3.1- Análise Acústica

Do ponto de vista fonético, analisamos o comportamento da frequência fundamental e da duração no pré-núcleo e no núcleo dos enunciados interrogativos totais. Cabe lembrar que consideramos como pré-núcleo o vocábulo que contém a primeira sílaba tônica do enunciado e como núcleo, o vocábulo que contém a última sílaba tônica do enunciado.

Calculamos os valores de frequência fundamental, em hertz, a partir do ponto mais alto de intensidade das sílabas tônicas do pré-núcleo e do núcleo e suas respectivas sílabas adjacentes, pretônica e pós-tônica. Para o cálculo da duração, em milissegundos, consideramos o valor total das sílabas pretônicas, tônicas e pós-tônicas dos enunciados.

a a a e o i o ha bla ban en co di go L+>H* L+¡H* HL% ¿hablaban en código? 30 450 100 200 300 400 P itc h ( H z) Time (s) 0 1.292

Do ponto de vista fonológico, recorremos à versão do modelo Sp_ToBI, Spanish

Tones and Break Indices (ESTEBAS-VILAPLANA & PRIETO, 2008; AGUILAR et alii,

2009), apresentada no capítulo 1, que constitui uma nova proposta de etiquetagem prosódica da língua espanhola capaz de representar os contrastes entonacionais encontrados em cada variedade.

Objetivamos, através dessa análise fonológica, elaborar uma lista de representações para os enunciados interrogativos totais proferidos por nossos informantes de Buenos Aires e Santiago do Chile.

A partir dos resultados de nosso estudo descritivo, esperamos corroborar ou não os resultados encontrados por Sosa (1999), Gabriel et alii (2010) e Figueiredo (2011) para a variedade de Buenos Aires e Ortiz et alii (2010) para a variedade de Santiago do Chile.

3.3.2- Análise Pragmática

Consideramos em nossa pesquisa o modelo de classificação adotado por Hedberg et

alii (2010). Este modelo foi proposto com o objetivo de investigar a correlação entre a

forma prosódica e a função pragmática de enunciados interrogativos parciais, do inglês. A questão de pesquisa de tais autores parte do trabalho de Halliday (1994), uma vez que este sugere que o contorno melódico das interrogativas parciais do inglês é descendente. No entanto, sabe-se que nem todos os contornos melódicos desse tipo de enunciado se apresentam em queda. Nesse sentido, Hedberg et alii (2010) buscam verificar se o contexto influencia na escolha do contorno entonacional.

Para isso, definem-se cinco dimensões binárias que são relevantes para a caracterização de cada categoria pragmática, a saber: (i) busca de informação, se a pergunta é utilizada para solicitar uma informação a fim de preencher uma lacuna informativa do interrogador; (ii) mudança de piso conversacional, se a pergunta é utilizada para passar o direito de falar ao outro, sem mudar o falante que detém o turno da conversa; (iii) mudança de tópico, se a pergunta é utilizada para mudar o tópico da conversa; (iv) interrupção, se a pergunta interrompe o curso do discurso, sobrepondo-se a um enunciado ainda não terminado e (v) conteúdo proposicional está na gravação, se a pergunta apresentar uma proposição mencionada anteriormente na gravação em forma de resposta.

A partir dessas cinco dimensões, definem-se as nove categorias pragmáticas, identificadas minimamente para que fossem diferentes uma das outras categorias em pelo

menos uma das cinco dimensões, conforme a tabela 20, abaixo. Cada dimensão recebe um valor “+”, caso a interrogativa satisfaça este critério ou um sinal “-”, caso seja o contrário, conforme tabela abaixo em que a dimensão cuja sigla é “IS” significa busca de informação; “FP”, mudança de piso conversacional; “TC”, mudança de tópico; “INT”, interrupção e a sigla “IR” significa conteúdo já mencionado na conversa.

Categorias Pragmáticas

Categorias Pragmáticas Dimensão Pragmática

IS FP TC INT IR

Detalhe de Elaboração + - - - -

Mudança de Turno + + ± - -

Diretor do Fluxo de Informação + - + - -

Pergunta Retórica - ± ± ± ± Informação Suplementar + - - + - Iniciador de Tópico + ± + - - Pergunta Recíproca + + - - - Pergunta Esclarecedora + - - ± + Retomada de Tópico + ± + - +

Tabela 20: Categorias Pragmáticas (Adaptada de Hedberg et alii, 2010.)

As nove categorias de classificação propostas por Hedberg et alii (2010) são:

(i) detalhe de elaboração – engloba os enunciados interrogativos que visam uma elaboração sobre o tópico atual da conversa. São perguntas que buscam uma informação (IS+) sem mudar o piso converacional (FP-), nem o tópico (TC-). Tampouco há interrupção do falante que possui o turno de fala (INT-) nem conteúdo proposicional na gravação (IR-).

(ii) mudança de turno – as perguntas são usadas como estratégia para passar o turno ao outro falante. São perguntas que buscam uma informação (IS+) ao passar o piso conversacional ao outro falante (FP+), podendo ou não mudar o tópico da conversa (TC±). Nesta categoria, não há interrupção do falante que possui o turno de fala (INT-) nem conteúdo proposicional na gravação (IR-).

(iii) diretor do fluxo de informação – perguntas usadas pelo ouvinte como uma estratégia de controlar o tema da conversa, pois o direciona. São perguntas que buscam uma informação (IS+), ao mudar o tópico da conversa (TC+). Nesta categoria não se passa o piso conversacional (FP-), não há interrupção do falante que possui o turno de fala (INT-) nem conteúdo proposicional na gravação (IR-).

(iv) pergunta retórica – são perguntas que não buscam uma informação (IS-), pois o falante as faz para si mesmo. Do ponto de vista atitudinal (MORAES, 2008b; FIGUEIREDO, 2011; SÁ, inédito), consideramos uma pergunta como retórica quando o falante tem certeza da negatividade do conteúdo proposicional.

(v) informação suplementar – engloba as perguntas que indagam sobre alguma informação relevante ao tópico corrente. São perguntas que buscam uma informação (IS+) sem mudar o piso conversacional (FP-), nem o tópico (TC-), nem há conteúdo proposicional na gravação (IR-). Diferencia-se da categoria de detalhe de elaboração por haver interrupção do falante que possui o turno de fala (INT+).

(vi) iniciador de tópico – perguntas que objetivam iniciar um novo tópico. São perguntas que buscam uma informação (IS+), ao mudar o tópico da conversa (TC+), podendo ou não mudar o turno (FP±), nem interrupção do falante que possui o turno de fala (INT-) nem conteúdo proposicional na gravação (IR-).

(vii) pergunta recíproca – perguntas que o falante faz para o ouvinte assim que o falante acaba de responder a mesma pergunta. São perguntas que buscam uma informação (IS+) ao passar o piso conversacional ao outro falante (FP+), mas sem mudar o tópico da conversa (TC-). Nesta categoria, não há interrupção do falante que possui o turno de fala (INT-) nem conteúdo proposicional na gravação (IR-).

(viii) pergunta esclarecedora – perguntas que funcionam como um pedido de repetição de uma informação já dada anteriormente. São perguntas que buscam uma informação (IS+) sem mudar o turno (FP-), nem o tópico (TC-). No entanto, há conteúdo proposicional na gravação (IR+).

(ix) retomada de tópico – perguntas que mudam o tópico da conversa ao retomar um antigo tópico. São perguntas que buscam uma informação (IS+) podendo ou não mudar o turno (FP±). Nesta categoria, há conteúdo proposicional na gravação (IR+) e mudança de tópico (TC+).

3.4- Resumindo

 Neste capítulo, relatamos como foram coletados os 78 enunciados interrogativos

totais analisados para esta dissertação. Cabe lembrar que trabalhamos com 4 gravações

de conversas telefônicas coloquiais, sendo duas da variedade de Buenos Aires, nas quais encontramos um total de 39 enunciados interrogativos totais e duas da variedade de

Santiago do Chile, nas quais também repertoriamos um total de 39 enunciados interrogativos totais.

 Com os resultados deste estudo descritivo esperamos verificar, do ponto de vista

fonético, quais são os comportamentos dos parâmetros acústicos F0 e duração dos

enunciados interrogativos totais nas variedades argentina (Buenos Aires) e chilena (Santiago do Chile).

 Do ponto de vista fonológico, objetivamos elaborar uma lista de representações para os enunciados interrogativos totais proferidos por nossos informantes de Buenos Aires e Santiago do Chile.

 E ainda, do ponto de vista pragmático, esperamos observar se há equivalência entre forma prosódica e função pragmática, isto é, verificar se a função pragmática desempenhada no discurso modifica ou não o contorno entonacional dos enunciados interrogativos totais.

 Nos próximos capítulos, a partir da metodologia adotada, veremos os resultados obtidos com o corpus analisado.

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 86-96)