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S INTAGMAS E NTONACIONAIS SEGUIDOS

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 163-175)

DE TAG QUESTION:

ANÁLISE

PRELIMINAR

Nesta dissertação, objetivamos analisar prosódica e pragmaticamente a entoação de enunciados interrogativos totais. Em nossos dados, amostras de fala espontânea, chamou- nos a atenção, as perguntas finais de confirmação (ou tag questions). Por essa razão, interessou-nos investigar, ainda que preliminarmente, a estrutura prosódica da partícula “¿no?”.

O Dicionário de Partículas Discursivas do Espanhol (BRIZ, PONS & PORTOLÉS, 2008) define o marcador discursivo “¿no?” como aquele que (i) apela ao ouvinte solicitando de maneira reforçada que confirme, ratifique ou aceite o dito ou o que o falante pede e (ii) reafirma o que o próprio falante diz ao mesmo tempo em que chama a atenção do ouvinte para que se alie com o que se está dizendo.

Nos últimos anos tem crescido o número de pesquisas e estudos sobre as propriedades destas partículas discursivas, no entanto, o âmbito suprassegmental está pendente de uma investigação mais profunda.

Em vista disso, pretendemos com esta análise preliminar descrever os contornos entonacionais do tag question “¿no?” nas variedades do espanhol de Buenos Aires e Santiago do Chile. Além disso, verificaremos se dito marcador pertence a um mesmo sintagma entonacional ou se constitui um sintagma distinto. Assim como os resultados encontrados em Serra (2009) para o português do Brasil, acreditamos que estes tag questions serão realizados em sintagmas entonacionais diferentes.

Para nossas análises utilizaremos os pressupostos da fonologia prosódica (NESPOR & VOGEL, 1994; SERRA, 2009) e da fonologia entonacional (PIERREHUMBERT, 1980; LADD, 1996; SOSA, 1999; ESTEBAS-VILAPLANA & PRIETO, 2008), já discutidos no capítulo 1 desta dissertação.

6.1- Estudos sobre os tag questions: O âmbito prosódico

Como já mencionamos anteriormente, não são muitos os trabalhos que se propõem a descrever a entoação de partículas discursivas em espanhol. Nesta seção, discutiremos

alguns estudos que tratam da análise prosódica dessas partículas, embora não apresentem coincidências em termos de métodos nem de elementos prosódicos analisados.

Cid (1996) realiza uma investigação experimental sobre a produção de tag questions, através de gravações de fala atuada por seis falantes de espanhol de diferentes nacionalidades, a fim de verificar o comportamento do contorno entonacional nesse tipo de pergunta confirmativa. O objetivo da autora é identificar as diferenças entre os tag

questions “¿no?” e “¿verdad?” produzidos em espanhol (língua materna) e seus equivalentes

em inglês (língua estrangeira) por esses seis falantes e compará-los com a produção do mesmo item por anglofalantes. Cid (1996) conclui que os falantes de espanhol tendem a produzir o tag question com contorno ascendente final tanto em espanhol como língua materna quanto em inglês como língua estrangeira ao passo que os falantes de inglês tendem a basear-se em conteúdos atitudinais e semânticos determinados pelo contexto.

Em trabalho semelhante para o português do Brasil, variedade carioca, Serra (2009) apresenta um estudo sobre percepção e realização de fronteiras prosódicas dos Is+né. Em relação à percepção, a autora afirma que a preferência dos juízes está em marcar a ruptura depois do I+né. Por outro lado, em relação à realização de Is+né em fala espontânea, os resultados são variados, podendo o I+né constituir um único I ou constituir dois Is separados. Das 37 ocorrências de fala espontânea estudadas pela autora, apenas 2 casos de Is+né foram realizados como um único I. Para estes casos, foram propostos dois contornos nucleares distintos: H*+LL% e L+H*LH%.

No que se refere à realização de Is+né constituindo dois Is separados, Serra (2009) observa um contorno caracterizado pela realização no primeiro I de um acento tonal e tom de fronteira e por apenas um tom de fronteira no I constituído pelo “né”, sem acento tonal, ao qual denomina “I degenerado”20. Nos 4 dados de fala espontânea deste tipo,

foram observados os seguintes contornos: H+L* L% + L%, em 1 I percebido; H+L* L% + H%, em 2 Is não percebidos e L+H* L% + L%, em 1 I não percebido (figura 71).

[pra começar a entrar literaturas]I [né]I

Figura 71: Exemplo de “I degenerado” (SERRA, 2009:135).

Na figura 71, acima, observamos um exemplo do que a autora denomina “I degenerado”, caracterizado pela realização de um acento tonal e de um tom de fronteira no primeiro I e por apenas um tom de fronteira no I constituído pelo “né”, sem acento tonal.

Para os demais casos em que o I que contém o “né” possui acento tonal, Serra (2009) apresenta um contorno do primeiro I semelhante ao do segundo I, H+L* L% + H+L* L%, vide figura 72.

[é o curso que tá salvando um pouco a faculdade]I [né]I

Figura 72: Exemplo de fronteira prosódica entre o I precedente e o I que contém o “né?”, ambos com

acento tonal e tom de fronteira (SERRA, 2009:135).

A autora conclui que há uma grande variedade de contornos entonacionais para os Is+né. Além disso, a diferença encontrada entre a produção e a percepção, em que houve preferência pela marcação de ruptura após o I+né, corrobora a proposta de restruturação

de I que prevê que um I pequeno tende a constituir um domínio composto com um I adjacente.

É possível encontrar para o espanhol, estudos de outros marcadores discursivos, embora não sejam exclusivamente interrogativos, como a investigação de Martín Butragueño (2003). Em sua pesquisa, o autor descreve o contorno entonacional de diferentes marcadores encontrados em um corpus do projeto “Cambio y Variación Lingüística en la Ciudad de México” de três estilos de fala: gravação de conversa, questionário lido e texto lido. Considerando a classificação discursiva proposta por Martín Zorraquino e Portolés (1999), o autor divide os marcadores em cinco categorias: (i) estruturadores da informação, (ii) conectores, (iii) reformuladores, (iv) operadores argumentativos e (v) marcadores conversacionais. Além destes critérios discursivos, o autor considera em suas análises a redução fônica ou não dos marcadores, a presença ou ausência de fronteiras (pausas, alongamentos ou inflexões melódicas) anteriores ou posteriores aos marcadores e os acentos tonais associados a tais itens.

Considerando alguns estudos que sugerem que os marcadores são seguidos de pausas e outras investigações que propõem a associação dos marcadores a estruturas nucleares suspensivas, Martín Butragueño (2003) parte da hipótese de que os marcadores apresentam contorno nuclear H*+HL%. Sua análise corrobora que os marcadores seguidos de fronteira apresentam uma marca prosódica específica, com estrutura suspensiva H*+(H)L%, ou seja, um início alto, que pode ou não ser seguido de uma nova subida, seguida de uma descida final. Por outro lado, quando o marcador não possui fronteira e se incorpora ao enunciado, isto é, não possui autonomia tonal, recebe acentos tonais esperados para as posições pré-nucleares: L*+H e algumas vezes H* e L+H*, este último quando o marcador apresenta algum tipo de focalização.

Para o espanhol do Chile, mais especificamente, Pereira (2011) descreve os padrões fonético-acústicos dos marcadores “a ver”, “bueno”, “claro”, “vale”, “¿cómo?” e “ya”, associados aos significados pragmáticos de raiva, assentimento e estranheza, por informantes de nível superior, falantes de espanhol do Chile. Os enunciados gravados foram construídos através de situações fictícias semelhantes a situações reais de fala (fala atuada). Para a análise entonacional, o autor considerou a proposta de análise por configurações de Cantero (2002) e Cantero e Font (2009), que consiste em “discriminar los valores frecuenciales relevantes (los segmentos tonales) de los valores irrelevantes (las F0 de las consonantes sonoras y de las glides)” (CANTERO e FONT, 2009 apud PEREIRA, 2011: 90).

A partir dessa investigação, Pereira (2011) sugere que os marcadores discursivos estudados apresentam diferenças significativas na manifestação tanto fonética quanto acústica dependendo do significado pragmático do contexto em que o marcador se insere.

Pensando nas discussões realizadas até aqui, levantamos as seguintes questões: (i) os

tag questions “¿no?” são realizados como um mesmo I junto ao I que os precede ou se

realizam em Is diferentes? e (ii) quais são os contornos entonacionais do marcador interrogativo “¿no?” nas variedades do espanhol de Buenos Aires e Santiago do Chile?

6.2- Corpus Preliminar

Para responder às duas perguntas levantadas anteriormente, analisamos 18 ocorrências de Is+¿no?: 9 encontradas nas duas entrevistas da variedade de Buenos Aires e 9, nas duas entrevistas da variedade de Santiago do Chile. Para a variedade de Santiago do Chile, encontramos uma variante do marcador conversacional confirmativo ¿no?, o ¿ah?, que funciona como indexador social e regional. Por isso, analisamos também os casos em que o ¿ah? aparece como confirmativo final.

Nesta seção, objetivamos apresentar uma descrição inicial do fenômeno de fronteiras prosódicas, a partir de uma pequena amostra piloto, que será ampliada em trabalhos futuros. A seguir, transcrevemos estas 18 ocorrências de Is+¿no? ou da variante Is+¿ah?, na variedade de Santiago do Chile.

 9 ocorrências de Is+¿no? repertoriadas nas duas entrevistas da variedade de Buenos Aires

FEMININOS

1- [sí]I [por um año]I [¿no?]I

MASCULINOS

1- [es lo que hacés vos]I [pero tiene un nombre formal]I [digamos]I [¿no?]I 2- [sí]I [por eso por eso]I [igualmente]I [te lo comentaba]I [nunca se sabe]I [¿no?]I 3- [es la que vive en Quilmes]I [¿no?]I

4- [no hay ninguna]I [¿no?]I 5- [huevadas]I [¿no?]I

6- [con cosas del mundial y con cosas del atentado]I [¿no?]I [bastante deprimente la verdad]I

7- [yaquilandia es uno]I [¿no?]I 8- [mucho tiempo]I [¿no?]I

 9 ocorrências de Is+¿no? e de sua variante regional “ah” repertoriadas nas duas entrevistas da variedade de Santiago do Chile

FEMININOS

1- [medio celoso]I [¿no?]I

2- [estaba como molesto de que le hablabas mucho de Eddie]I [¿ah?]I 3- [porque cuando él él ya termina]I [otro va a ir en su lugar]I [¿ah?]I 4- [parece que eso es lo que él quiere]I [¿ah?]I

5- [y así como para quedarse tanto tiempo tampoco]I [¿ah?]I

6- [posiblemente podría ser una semana]I [o dos semanas]I [o algo así quizás]I [¿ah?]I

MASCULINOS

1- [el reuna es lo que les da servicio a ustedes]I [parece]I [¿no?]I 2- [conoces el reuna tú]I [¿no?]I

3- [porque ustedes no han recibido nada de mensajes de afuera]I [¿no?]I

Vejamos a seguir, as análises e discussões dos dados para cada variedade do espanhol.

6.3- Análises Preliminares

Vejamos, a seguir, as análises e discussões dos dados para cada variedade do espanhol.

6.3.1- Buenos Aires

Conforme explicamos no capítulo 1, a teoria da fonologia prosódica (NESPOR & VOGEL, 1994) sugere que o limite de um I pode ser identificado por uma pausa, um alongamento silábico pré-fronteira ou um movimento tonal. No caso da variedade de

Buenos Aires, o alongamento e a inflexão tonal foram responsáveis pela marcação do limite de I, uma vez que em nenhum dos dados analisados houve pausa entre o I precedente e o “¿no?”.

Para os 8 enunciados analisados, observamos que em 100% dos dados, os Is+¿no? foram realizados como dois Is separados, ou seja, houve realização de fronteira prosódica entre o I precedente e o “¿no?”, com acento tonal e tom de fronteira em ambos os Is, como ilustrado na figura 73.

[sí]I [por un año]I [¿no?]I

Figura 73: Realização de fronteira prosódica entre o I precedente e o I que contém o “¿no?”, ambos com

acento tonal e tom de fronteira, na variedade de Buenos Aires. Enunciado produzido pelo informante 2, do sexo feminino.

Com relação às fronteiras que ocorreram no I antes do “¿no?”, observamos que 8 dos 9 enunciados (89%), a fronteira foi realizada com tom de fronteira baixo e apenas 1 (11%), a fronteira foi realizada com um tom alto. A tabela 27 ilustra a distribuição das configurações nucleares obtidas para os Is precedentes ao “¿no?”.

sí por un año no H* L% L+H* HH% 50 350 100 200 300 P it ch ( H z) Time (s) 0 1.475

Tabela 27

Configurações Nucleares Ocorrências

(L+)H*L% 5

(H+)L*L% 3

H*H% 1

Tabela 27: Distribuição das configurações nucleares obtidas para os Is precedentes ao “¿no?”, na

variedade de Buenos Aires.

Levando em consideração os contornos para os Is constituídos pelo “¿no?”, constatamos que em todos os dados a fronteira foi realizada com um tom alto. Em 100% dos casos, a configuração nuclear do “¿no?” é composta por um acento bitonal e tom de fronteira alto L+H*HH%, como ilustra a figura 74.

[es es la que vive en Quilmes]I [¿no?]I

Figura 74: Contorno de “¿no?” L+H*HH%, realizado em 100% dos 8 casos.

A análise dos dados demonstra que os tag questions dos enunciados analisados na variedade de Buenos Aires se prosodizam separadamente, isto é, são realizados em Is diferentes. O I que precede o ¿no?” apresenta tom de fronteira baixo em 88% dos dados analisados. Além disso, 100% dos Is constituídos pelo “¿no?” apresentam um contorno entonacional com final ascendente (HH%) composto também por acento tonal (L+H*).

(( )) es es la que vive en Quilmes no

L+H* L% L+H* HH% 50 450 100 200 300 400 P it ch ( H z) Time (s) 0.69 2.18

6.3.2- Santiago do Chile

No caso da variedade de Santiago do Chile, observamos que nos 9 enunciados analisados, tanto os 5 casos Is+¿no? quanto os 4 casos de Is+¿ah? foram realizados como dois Is separados, ou seja, houve realização de fronteira prosódica entre o I precedente e o “¿no?”/“¿ah?”, com acento tonal e tom de fronteira em ambos os Is, como ilustrado na figura 75 e 76, respectivamente.

[porque ustedes no han recibido nada de mensajes de afuera]I [¿no?]I

Figura 75: Realização de fronteira prosódica entre o I precedente e o “¿no?”, ambos com acento tonal e

tom de fronteira, na variedade de Santiago do Chile.

porque ustedes no han recibido nada de mensajes de afuera no?

H* L% L+H* HH% 50 400 100 200 300 P it ch ( H z) Time (s) 1.812 2.73

[porque cuando él él ya termina]I [otro va a ir en su lugar]I [¿ah?]I

Figura 76: Realização de fronteira prosódica entre o I precedente e o “¿ah?”, ambos com acento tonal e

tom de fronteira, na variedade de Santiago do Chile.

Com relação às fronteiras que ocorreram no I antes do “¿no?”, observamos que 8 dos 9 enunciados (89%) se realizaram com tom de fronteira baixo e apenas 1 (11%) foi realizada com um tom de fronteira alto-descendente. A tabela 28 ilustra a distribuição das configurações nucleares obtidas para os Is precedentes ao “¿no?” ou de sua variante “¿ah”.

Tabela 28

Configurações Nucleares Ocorrências

H*L% 6

L*L% 2

H*HL% 1

Tabela 28: Distribuição das configurações nucleares obtidas para os Is precedentes ao “¿no?”, na

variedade de Santiago do Chile.

Com relação aos contornos dos Is constituídos pelo “¿no?” ou “¿ah?”, constatamos que em todos os 9 dados (100%) a fronteira foi realizada com um tom alto. Cabe destacar também que em todos os dados, encontramos um acento tonal ascendente L+H*, como ilustrado na figura 77.

rque cuando él él ya termina otro va a ir en su lugar 373ms ¿ah?

L* L% L+H* HH% 30 450 100 200 300 400 P it ch ( H z) Time (s) 2.011 4.035

[el reúna es el que les da servicio a ustedes]I [parece]I [¿no?]I

Figura 77: Contorno de “¿no?” L+H*HH% realizada em 100% dos casos, na variedade de Santiago

do Chile.

A análise dos dados demonstra que os tag questions dos 9 enunciados analisados na variedade de Santiago do Chile se prosodizam separadamente, isto é, são realizados em Is diferentes. O I que precede o “¿no?” ou o “¿ah?” apresenta tom de fronteira baixo em 88% dos dados analisados. Além disso, 100% dos Is constituídos pelo “¿no?” apresentam um contorno entonacional com final ascendente (HH%) composto também por acento tonal (L+H*).

Confrontando a realização de Is+¿no? nas duas variedades de espanhol aqui analisadas, notamos que em ambas há realização majoritária de uma fronteira prosódica entre o I precedente e o I constituído pelo tag question, conforme já havia sido parcialmente divulgado em Serra e Gomes da Silva (2013). Destacamos também a recorrência de uma configuração nuclear ascendente neste segundo I.

Tal configuração ascendente difere das realizações do tag question “né?”, em português do Brasil, variedade carioca. Segundo Serra (2009), o I constituído pela pergunta confirmativa apresenta, como mais frequente, um contorno descendente H+L*L%.

Cabe ressaltar a necessidade de ampliação do corpus e de realização de um teste perceptivo a fim de verificar se os juízes perceberão a realização dos Is+¿no? ou Is+¿ah? em Is diferentes, como foi demonstrado na análise prosódica.

el reuna es el que le da servicio a ustedes parece no?

L* L% L+H* HH% 75 350 200 300 P it ch ( H z) Time (s) 1.937 3.018

6.4- Resumindo

 A análise dessa amostra preliminar de dados demonstra que os tag questions dos enunciados se prosodizam separadamente, isto é, são realizados em Is diferentes. O I que precede o “¿no?” ou da variante “¿ah?”, na variedade de Santiago do Chile apresenta tom de fronteira baixo em 16 dos 18 enunciados analisados (89%). Além disso, 100% dos 18 Is constituídos pelo “¿no?”/“¿ah?” apresentam um contorno entonacional com final ascendente (HH%) composto também por acento tonal L+H* em todos os dados.

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 163-175)