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C URSOS DE A LFABETIZAÇÃO /1 º C ICLO – E NSINO R ECORRENTE

(Frequência e certificação)

Ano lectivo 2002/2003 Ano lectivo 2003/2004 Concelhos

Formandos Certificações Nº Formandos Nº Certificações Nº

Albufeira 94 52 96 69 Aljezur 26 4 12 2 Alcoutim 16 3 19 3 Castro Marim 22 5 25 4 Faro 98 15 56 9 Lagoa 62 10 67 10 Lagos 47 8 81 12 Loulé 78 15 106 16 Monchique 18 3 22 3 Olhão 238 30 164 24 Portimão 91 21 102 15 S. Brás Alportel 20 4 16 3 Silves 28 4 34 6 Tavira 0 0 50 8 Vila do Bispo 85 15 77 12 V. Real Stº António 79 25 95 20 TOTAIS 1002 214 1022 216

Pela análise deste Quadro, constata-se que apesar do número total de formandos que frequentaram o 1º Ciclo não ter sofrido uma alteração muito significativa do ano lectivo de 2002/03 para o de 2003/04, o mesmo sucedendo com os formandos certificados, a nível de concelho, apercebemo-nos, contudo, de algumas oscilações. Embora Olhão continue a ser o concelho com o valor mais elevado de frequência, registou-se um decréscimo no último ano considerado. Quanto à certificação, a mesma não acompanha os valores de frequência deste nível de ensino, registando-se uma clara divergência entre o número de formandos que frequentam os cursos e os que obtêm o certificado da conclusão do 1º Ciclo.

Os concelhos de Faro e de Aljezur registam a maior quebra no número de formandos inscritos; inversamente, no de Tavira verifica-se uma tendência muito positiva, uma vez

que não houve, no ano 2002/03, formandos a frequentar o 1º Ciclo do Ensino Recorrente e no ano seguinte este valor passou para 50.

O 1º Ciclo do Ensino Recorrente funciona, regra geral, em instalações de estabelecimento de ensino públicos, mas também noutros locais, tais como Associações Recreativas, Centros Culturais, Centros Sociais, Juntas de Freguesia e Coordenações Concelhias, por exemplo.

Para o formando, a frequência destes cursos significa muito mais do que a simples alfabetização. De facto, este processo não se traduz somente em aprender a juntar umas letras, em escrever o nome, em ler uns algarismos, implica, necessariamente, a auto- transformação pessoal e a aquisição de um melhor auto-conceito. Com efeito, o público que a estes cursos acorre pretende muito mais do que a mera certificação, procurando o desenvolvimento de atitudes, valores, competências e conhecimentos.

Outras questões se levantam com a tendencial desorçamentação deste sistema: a redução do número de professores destacados e o processo de recrutamento de docentes para desenvolver o trabalho com o seu público específico. Dada a natureza do presente trabalho, justifica-se que nos debrucemos também sobre as pessoas – profissionais que são os professores do Ensino Recorrente.

3.O PAPEL DO PROFESSOR NO ENSINO RECORRENTE

Os formadores constituem um núcleo importante na configuração e funcionamento do Ensino Recorrente. São, maioritariamente, professores dos vários grupos de docência

do ensino regular; contudo, nos cursos de alfabetização da Educação Extra-Escolar12, alguns destes formadores são bolseiros.

Os bolseiros são cidadãos com diferentes formações, não sendo requisito obrigatório possuir habilitação para a docência, ao contrário dos professores. Costumam ser recrutados anualmente, mediante concurso de bolsas de actividades e recebem uma compensação monetária para compensar as despesas (actualmente, ronda os 150€/ mês). Quanto aos docentes, os que exercem funções no Ensino Recorrente em regime de acumulação com o ensino regular, “não têm disponibilidade para participar em formação, reuniões ou para prepararem materiais, pelo que aplicam as estratégias e os materiais que utilizam com as crianças” (Pinto, Matos e Rothes, 1998: 59).

Por este motivo, o destacamento constitui, assim, na opinião destes autores, o regime mais adequado ao desenvolvimento desta modalidade de ensino, permitindo ao docente maior disponibilidade para preparar e pôr em prática sistemas pedagógicos adequados aos formandos.

No âmbito da avaliação do Subprograma Educação de Adultos do Prodep – 1990-93, Almeida et al. (1995, cit. in Pinto, Matos e Rothes, 1998) concluíram que a utilização de estratégias pedagógicas, diferenciadas das utilizadas no ensino regular, aparece associada, não à formação académica ou experiência no ensino, mas sim à experiência na área do Ensino Recorrente. Esta ideia vem reforçar o princípio defendido desde sempre em Educação de Adultos de que deve ser privilegiada a experiência, “desde que traduzida em atitudes, competências e conhecimentos adequados” (Pinto, Matos e Rothes, 1998: 63).

12 Modalidade destinada fundamentalmente a combater o analfabetismo literal e funcional (Desp.

37/SEEBS/93, ponto 1.4). Estes cursos são equivalentes ao Ensino Recorrente, conforme o ponto 2.10 do mesmo Despacho.

Para Maria José Esteves (1996, cit. in Pinto, Matos e Rothes, 1998: 65), os professores são o principal elemento através do qual os formandos distinguem o Ensino Recorrente do ensino que frequentaram quando eram crianças ou jovens, tendo os mesmos apontado, inclusivamente, algumas qualidades que os distinguem dos professores que conheceram anteriormente: “a paciência, a atenção, o apoio, o encorajamento, a responsabilidade e a boa formação”.

Segundo os dados disponíveis, os formadores poder-se-ão agrupar em dois grandes «pólos», que tendem a opor-se, como referem Pinto, Matos e Rothes (1998):

A) docentes com muitos anos de experiência a) docentes sem experiência de ensino B) docentes que optam pelo Ensino Recorrente por

gosto b) docentes que são obrigados a leccionar nesse domínio

C) docentes com experiência positiva no Ensino

Recorrente c) docentes sem qualquer experiência ou formação específica nesta área

D) docentes com perfil adequado, que acreditam na

capacidade de aprendizagem dos formandos, estimulando-os e apoiando-os

d) docentes que têm dos formandos representações

negativas que impedem a apropriação dos processos e a consecução de competências

E) docentes disponíveis, que praticam a necessária

diferenciação pedagógica, transformando a formação numa experiência gratificante

e) docentes que reproduzem o desagrado e o

insucesso que os formandos viveram antes

Num contexto de educação em que os indivíduos estão, pela segunda vez (ou mais) a esforçar-se para superar a lacuna de que foram vítimas em tempo oportuno, os aspectos menos positivos assumem, como se pode perceber, particular gravidade.

É ao funcionamento deste subsistema de ensino, à sua concepção e organização que deverão ser apontados alguns destes constrangimentos, resultantes, em grande parte, dos principais problemas identificados pelos Coordenadores Concelhios e demais profissionais que convivem, in loco, com os professores: falta de perfil e de formação na área; colocação tardia e, por vezes, compulsiva; acumulação de funções docentes no ensino regular e no Ensino Recorrente; falta de condições de trabalho; ausência de acompanhamento técnico-pedagógico; isolamento e absentismo, entre outros.

Enquanto principal factor da variabilidade da qualidade do Ensino Recorrente e para concluir este ponto, afigura-se-nos importante realçar que se torna necessário repensar o perfil dos professores e respectiva formação, bem como os próprios critérios e os mecanismos do seu recrutamento, não esquecendo que representam, também, o principal investimento financeiro de que esta modalidade de ensino é objecto.