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6. P ROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

6.2 T RATAMENTO DOS DADOS

Miles e Huberman (1984, cit. por Lessard-Hébert, Goyette e Boutin, 1994: 118) definem a fase de tratamento dos dados “como «a estruturação de um conjunto de informações que vai permitir tirar conclusões e tomar decisões»”.

Para procedermos ao tratamento dos dados obtidos através da análise dos documentos e da entrevista, recorremos, respectivamente, às técnicas de análise documental e de análise de conteúdo.

23 O primeiro contacto com os professores foi anterior à construção do guião, com o objectivo de procedermos a uma primeira sensibilização e de averiguarmos da intenção dos mesmos em participarem no estudo.

24 Quanto à Coordenadora Concelhia, desde o início se manifestou disponível para connosco colaborar, apoiando-nos ao longo de todo o Estudo.

25 Foi utilizado um gravador áudio, de pequenas dimensões (micro cassetes), de modo a eliminar, tanto quanto possível, eventuais constrangimentos por parte dos entrevistados.

6.2.1.DOS DOCUMENTOS

Em investigação qualitativa, esta técnica tem “uma função de complementaridade” (Lessard-Hébert, Goyette e Boutin, 1994: 144), o que nos iria permitir «triangular» estes dados com os obtidos através da entrevista. Neste sentido, procedemos à análise documental das fontes já mencionadas anteriormente, procedendo, primeiramente, à leitura exploratória da documentação, após o que foi feita a sistematização dos pontos/referências com maior interesse para o estudo, através da organização dos mesmos em quadros de síntese.

6.2.2.DAS ENTREVISTAS

Ao utilizarmos a entrevista como uma das técnicas de recolha de dados para a realização do presente trabalho, obtivemos um considerável número de textos narrativos (11) que, “tal como são, não se prestam facilmente a uma consulta visual rápida” (Lessard-Hébert, Goyette e Boutin, 1994: 118), pelo que optámos, para a sua compreensão e sistematização, pela técnica da análise de conteúdo26.

Para muitos autores, a análise de conteúdo das entrevistas é considerada como a “técnica”, o “conjunto de técnicas” ou o “processo” mais adequado para transformar os “dados brutos” num corpus de informação significativo e passível de interpretação fundamentada (Quivy e Campenhoudt, 1992, entre outros).

A primeira etapa da análise de conteúdo das entrevistas consistiu na transcrição27 das respectivas gravações áudio, o mais fielmente possível, processo este que se revelou moroso, dado o volume de informação recolhida. Obtiveram-se, assim, 11 protocolos

26 Dada a quantidade de material recolhido, o tratamento das entrevistas foi o que mais se prolongou no

tempo, na realização do presente trabalho.

27 Procurou-se, sempre que possível, proceder à transcrição de cada entrevista logo após a sua realização,

o que, segundo Gonçalves (1997: 104) “não só facilita essa demorada tarefa, mas, sobretudo, torna mais rica a sua análise”.

(Anexos III e VIII)28, após o que foi realizada uma comparação entre o material transcrito e a respectiva gravação, de forma a reduzir ao máximo qualquer falha ocorrida.

A fim de garantir o anonimato dos entrevistados e o sigilo da informação, desenvolvemos os seguintes procedimentos:

a) Codificação das entrevistas - fizemos corresponder a cada uma das entrevistas o código 01 a 10, colocado no canto superior direito de cada página. No caso da entrevista à Coordenadora Concelhia, a mesma é identificada por CC, também no canto superior direito.

b) Nos casos em que os entrevistados mencionaram nomes de formandos, os mesmos foram substituídos por outros, fictícios, garantindo-se assim a total confidencialidade dos dados.

c) Quando os entrevistados mencionaram nomes dos outros protagonistas do estudo, foram os mesmos substituídos pelo código respectivo. Sempre que foi feita referência ao nome da Coordenadora Concelhia, o mesmo foi substituído por CC.

d) Fez-se a elisão dos nomes das escolas e de entidades susceptíveis de levar à identificação dos intervenientes, bem como das localidades mencionadas.

O passo seguinte consistiu, a partir da leitura flutuante dos protocolos, naquilo a que Maroy (1997) designa de “redução de dados”29, ou seja, procedemos à elisão das questões colocadas e dos segmentos do discurso que se afastavam dos objectivos do

28 Dada a quantidade e volume da informação resultante desta etapa do trabalho, incluímos em anexo

apenas um dos protocolos das entrevistas aos professores, escolhido aleatoriamente, e o protocolo da entrevista à Coordenadora Concelhia.

29 Segundo Lessard-Hébert, Goyette e Boutin (1994), neste caso, trata-se de uma redução a posteriori, por

se realizar após a recolha de dados, estando a sua utilização ligada aos procedimentos para tratar os dados. Para Maroy (1997), a redução dos dados é entendida como uma actividade cognitiva, assim como a apresentação/organização dos dados e a interpretação/validação dos resultados. Estas actividades, que podem ser articuladas, estão presentes a partir do momento da recolha de dados.

estudo e do quadro conceptual delineado30, tendo obtido, assim, 11 “novos” textos (Anexos IV e IX)31.

Esta actividade, presente ao longo de todo o processo de investigação qualitativa, assume, assim, um papel-chave na análise, na medida em que é necessário formular um certo número de opções para decidir, por exemplo, que dados conservar ou excluir.

A partir deste corpus mais reduzido de informação, procedemos então à sua divisão em segmentos discursivos ou unidades de significação, começando a evidenciar-se o que de comum foi encontrado nas respostas dos diferentes sujeitos (professores) e que prefigurava a categorização32 dos discursos, processo este que consistiu no que chamámos de “Pré-categorização da entrevista” (Anexos V e X).

Procedemos, de seguida, à leitura em profundidade do corpus, tendo também por referente as questões que constituem os guiões das entrevistas e os respectivos objectivos, das quais emergiram, em ambos os casos, 13 temas, compreendendo diferentes categorias e subcategorias, que deram corpo às respectivas grelhas de categorização das entrevistas33.

Estes instrumentos, por resumirem as informações relativas a cada uma das pessoas que entrevistámos, foram construídos com o objectivo de permitir “um trabalho de interpretação (em particular, de comparação)” (Maroy, 1997: 123), auxiliando-nos a

30 Sempre que a compreensibilidade do texto o exigia, mantivemos, redigidas sob a forma de síntese, em

itálico e entre parênteses, as questões formuladas. Adoptámos igual procedimento para segmentos do discurso, quando a sua compreensão, o seu sentido ou o seu âmbito o impunham.

31 Dado o volume de informação, a que já aludimos, apenas se apresentam em anexo documentos

relativos aos diferentes momentos da análise de conteúdo da entrevista 03 – seleccionada aleatoriamente-, bem como os relativos à entrevista à Coordenadora Concelhia.

32 Ao procedermos à análise qualitativa de materiais de entrevistas, a operação intelectual básica que lhe

está subjacente consiste, principalmente, “em descobrir «categorias», quer dizer, classes pertinentes de objectos, de acções, de pessoas ou de acontecimentos” (Maroy, 1997: 118).

33 De acordo com Maroy (1997: 120), trata-se de um processo de “descrição analítica”, uma vez que o

esquema geral de análise não parte de uma grelha pré-existente; pelo contrário, “é elaborado e derivado dos materiais”, sendo as categorias “sugeridas ou descobertas indutivamente a partir dos dados”. Nesta etapa, as grelhas ainda são provisórias, uma vez que são susceptíveis de ser ajustadas em função do material empírico recolhido (Maroy, 1997).

direccionar uma informação mais extensa para a obtenção de pistas que nos ajudem a responder às perguntas de pesquisa. Esta etapa é classificada de “apresentação/organização dos dados (data display)” (Maroy, 1997: 123), sendo importantíssima para a interpretação dos resultados.

O passo seguinte consistiu, com base nas grelhas já referidas, na categorização das unidades de significação ou sentido das 10 entrevistas dos professores (Anexos VI e VII), por um lado, e da Coordenadora Concelhia (Anexos XI e XII), por outro.

Para validação do processo, tanto no que à construção da grelha de categorização diz respeito, como no que à categorização das unidades de sentido concerne, recorremos ao método dos “juízes externos” (o Orientador deste trabalho e uma colega com experiência de investigação serviram-nos de juízes). As suas opiniões e conselhos possibilitaram-nos efectuar os ajustamentos necessários, designadamente, no que à grelha de categorização respeita, que ficou configurada em definitivo, tal como é apresentada no Quadro N.º 17.

QUADRO N.º 17