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6. P ROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

6.1 R ECOLHA DE DADOS

Os instrumentos seleccionados para a realização de uma investigação estão intimamente ligados à finalidade do estudo e aos seus pressupostos teóricos, pelo que as técnicas a usar dependem, designadamente, de factores como: natureza do fenómeno a estudar, objecto de estudo, recursos disponíveis, acesso ao campo e factores temporais.

Nesta investigação, utilizámos variados recursos com vista à recolha de informação diversificada que possibilitasse encontrar respostas para as questões inicialmente colocadas. De acordo com Lessard-Hébert, Goyette e Boutin (1994: 25-26), “é frequentemente útil, senão mesmo necessário, recorrer a diferentes técnicas numa mesma investigação”, o que, dadas as nossas limitações temporais, nos levou a recorrer a duas técnicas: análise documental e entrevista.

6.1.1.ANÁLISE DOCUMENTAL

A análise de documentos serviu tanto para aumentarmos os conhecimentos sobre o 1º Ciclo do Ensino Recorrente como para melhor compreender os fenómenos associados a esta área de estudo, possibilitando-nos, assim, complementar informações e encontrar pistas para a interpretação dos dados recolhidos. Com ela, pretendemos, pois, obter informações, designadamente conhecer factos, atributos e comportamentos que nos permitissem caracterizar os professores do 1º Ciclo do Ensino Recorrente.

Em termos de análise documental, recorremos a diversas fontes, sobretudo documentos legais e relatórios e estatísticas do Ministério da Educação. Assim, foram analisadas e registadas informações da legislação em vigor acerca da temática em estudo, nomeadamente: Lei Quadro da Educação de Adultos (Decreto-Lei n.º 74/91, de 9 de Fevereiro); Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro); Programa para o Desenvolvimento da Educação e Formação de Adultos (Resolução do Conselho de Ministros n.º 92/98, de 25 de Junho); Nova Orgânica do Ministério da Educação (Decreto-Lei n.º 208/2002, de 17 de Outubro); Portaria n.º 432/89, de 14 de

Junho, que regulamenta os objectivos, plano curricular e formas de avaliação dos cursos do 1º Ciclo do Ensino Básico Recorrente; Despacho n.º 37/SEEBS/93, de 27 de Agosto, que estabelece a organização dos cursos de Educação Extra-Escolar; Portaria n.º 95/87, de 10 de Fevereiro, que estabelece a criação e organização dos cursos de educação de base de adultos; Despacho n.º 28-A/SERE/90, de 2 de Junho, que aprova o modelo do diploma de obtenção de aproveitamento nos cursos do 1º Ciclo do Ensino Básico Recorrente; e Decreto-Lei n.º 387/99, de 28 de Setembro, que cria a ANEFA.

Não menos importante foi o acesso às listagens da Direcção Regional de Educação do Algarve relativas a todo o processo de recrutamento de professores para o 1º Ciclo do Ensino Recorrente, no ano de 2003-2004.

6.1.2.ENTREVISTA

A entrevista, segundo Blanchet (1985, cit. por Gonçalves, 2000), permite estudar os fenómenos em que a palavra se constitui como vector principal, sendo indiscutível a sua importância como estratégia e instrumento heurístico de investigação, atendendo tanto ao contexto discursivo, que determina e dá sentido ao discurso do locutor, como ao quadro de interpretação que permite revelar os seus sentidos. Através dela, o investigador pode obter, na opinião de Quivy e Campenhoudt (1992: 192), “informações e elementos de reflexão muito ricos e matizados”. Ao possibilitar o acesso ao que está «dentro da cabeça de uma pessoa», esta técnica torna possível “medir o que uma pessoa sabe (informação ou conhecimento), o que gosta e não gosta (valores e preferências) e o que pensa (atitudes e crenças)” (Tuckman, 1994: 307). Permite ainda, segundo Bodgan e Biklen (1994: 134), “a recolha de dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo”.

Em investigação qualitativa, a entrevista pode ter uma dupla utilização: para além de principal estratégia de recolha de dados, pode configurar-se, também, para alguns autores, como uma técnica e/ou instrumento, em conjunto com outras estratégias (observação participante e análise de documentos, por exemplo). Contudo, há problemas com que o investigador se pode deparar ao utilizar esta técnica, porque ela

revela “não o que as pessoas acreditam, mas o que dizem acreditar, não o que gostam,

mas o que dizem gostar” (Tuckman, 1994: 308).

Para que se obtenha uma boa entrevista e se consiga uma substancial riqueza de dados, muito embora não existam regras que se possam aplicar a todas as situações de entrevista, há algumas considerações que importa ter em conta e que nos mereceram especial atenção. A mais importante, segundo Bodgan e Biklen (1994), é ouvir cuidadosamente o que o entrevistado diz, encarando cada palavra como se pudesse esclarecer-nos acerca de como cada sujeito encara a realidade.

Para que o sujeito não seja considerado e tratado como se fosse um estranho, para que entrevistador e entrevistado se conheçam e para que este se sinta desinibido e à vontade, torna-se indispensável o estabelecimento de uma relação de empatia entre ambos. Dizem Bodgan e Biklen (1994: 138) que “importa criar uma atmosfera onde os entrevistados se possam sentir à vontade para expressarem as suas opiniões”.

O entrevistador deve, também, evitar interromper e desviar a conversa, assim como não deve temer o silêncio do entrevistado, pois é através dele que este organiza os seus pensamentos. É lícito que o entrevistador solicite ao sujeito a clarificação de uma ideia que lhe pareça estranha, bem como que o estimule a especificar e a exemplificar situações, pois é comum que as pessoas, ao serem entrevistadas, ofereçam uma retrospectiva dos acontecimentos.

No que respeita ao grau de estruturação, as entrevistas podem ser de três tipos: estruturadas, não estruturadas e semi-estruturadas.

No que a este estudo respeita, considerados a sua natureza e objectivos, optámos pela entrevista semi-estruturada ou semi-directiva, que pressupõe a existência de um guião orientador, que facilita a recolha da informação, de acordo com os objectivos pretendidos, mas que, ao mesmo tempo, possibilita que os entrevistados falem abertamente, dizendo o que desejarem, pela ordem que lhes convém (Quivy e Campenhoudt, 1992) e durante o tempo que lhes aprouver.

Tendo presentes todos estes pressupostos, construímos e aplicámos dois guiões orientadores, a saber: guião da entrevista aos dez docentes que leccionam no 1º Ciclo do Ensino Recorrente e guião da entrevista à respectiva Coordenadora Concelhia.

A. - Guião da entrevista aos professores

O guião da entrevista aos dez docentes que desempenhavam funções no 1º Ciclo do Ensino Recorrente, no concelho de Olhão (Anexo I), é composto por seis blocos, organizados em função dos objectivos específicos da entrevista (Estrela, 1986).

Bloco A - o primeiro bloco destina-se a legitimar a entrevista e a motivar o

entrevistado. Ao legitimar a entrevista, procurámos definir a posição do entrevistador no processo de investigação, bem como as finalidades e características principais da investigação. Explicámos também qual seria a utilização dos dados recolhidos, garantindo-se o seu carácter confidencial. Com a motivação do entrevistado, procurámos fomentar a sua participação efectiva, bem como a sua colaboração produtiva no processo (Estrela, 1986).

Bloco B – o segundo bloco tem como objectivo recolher elementos acerca da

Bloco C - com o terceiro bloco pretende-se recolher elementos relativos à

experiência do professor entrevistado no Ensino Recorrente.

Bloco D – o quarto bloco tem em vista recolher dados sobre as dificuldades sentidas

pelo entrevistado no desempenho das suas funções.

Bloco E – com o quinto bloco pretende-se recolher opiniões do docente sobre esta

modalidade de ensino, nomeadamente quanto aos métodos de trabalho; à organização dos cursos; aos conteúdos programáticos e à elaboração do programa de formação; às estratégias de trabalho utilizadas; aos recursos materiais; aos destinatários; às relações estabelecidas com os formandos e ao clima da sala de aula; à avaliação dos formandos; à importância da motivação dos formandos; à importância dos conhecimentos científicos; ao trabalho em equipa com os colegas; às principais diferenças entre o ensino regular e este subsistema de ensino; e às expectativas iniciais e actuais dos entrevistados.

Bloco F - o sexto e último bloco destina-se a conhecer a percepção dos entrevistados

quanto à sua continuidade neste nível de ensino.

B. - Guião da entrevista à Coordenadora Concelhia

O guião da entrevista à Coordenadora Concelhia do Ensino Recorrente do mesmo concelho (Anexo II) foi construído com base nos mesmos princípios do guião anterior. É composto, igualmente, por seis blocos, a saber:

Bloco A – o primeiro bloco destina-se a legitimar a entrevista e a motivar a

entrevistada. Ao legitimar a entrevista, procurámos definir a posição do entrevistador no processo de investigação, bem como as finalidades e características principais da investigação. Explicámos, também, qual seria a utilização dos dados recolhidos, garantindo-se o seu carácter confidencial.

Bloco B – este bloco tem como objectivo recolher elementos acerca da situação

profissional dos protagonistas do estudo.

Bloco C – com o terceiro bloco pretende-se recolher dados relativos à experiência

no Ensino Recorrente por parte dos docentes que protagonizam o estudo.

Bloco D – o quarto bloco destina-se a recolher informações sobre eventuais

dificuldades sentidas pelos docentes em estudo, no desempenho da sua actividade no Ensino Recorrente.

Bloco E – o quinto bloco tem em vista recolher opiniões da Coordenadora Concelhia

sobre esta modalidade de ensino, bem como sobre as práticas educativas dos professores em causa, incidindo, nomeadamente, nos métodos de trabalho; na organização dos cursos; nos conteúdos programáticos e na elaboração, pelos professores, do programa de formação; nas estratégias de trabalho utilizadas; nos recursos materiais; nos destinatários; nas relações estabelecidas entre os professores e os formandos e clima da sala de aula; na avaliação dos formandos; nas estratégias adoptadas pelos docentes para motivar os alunos; nos conhecimentos científicos revelados pelos professores; no trabalho em equipa entre os docentes; nas principais diferenças entre o ensino regular e este subsistema de ensino; e nas expectativas iniciais e actuais dos entrevistados.

Bloco F – o sexto e último bloco destina-se a conhecer a percepção da entrevistada

quanto ao desejo de continuidade neste nível de ensino, manifestado pelos professores.

A entrevista à Coordenadora Concelhia serviu, por assim dizer, de contraprova às representações e significações expressas pelos entrevistados.

Em termos gerais, através da formulação de questões que exigiam descrições com alguma minúcia, procurámos evitar as perguntas susceptíveis de serem respondidas com

sim e não, o que traduz, no dizer de Bodgan e Biklen (1994: 136), “a uma das

estratégias-chave do investigador qualitativo”.

Ambos os guiões têm perguntas de reforço (cujos tópicos estão inseridos nos respectivos guiões), pretendendo-se levar os entrevistados a esclarecer e a definir as situações por eles referidas, tendo como referente os objectivos da investigação.

Construídos os guiões, contactámos23 com cada um dos dez professores para, de acordo com a sua disponibilidade, procedermos à marcação da data, hora e local das entrevistas, outro tanto tendo acontecido com a Coordenadora Concelhia24.

Pensamos ser de realçar a grande receptividade demonstrada pelos professores, o que contribuiu, sem dúvida, para nos auxiliar na (nem sempre fácil) tarefa de recolha de dados. As entrevistas foram realizadas entre os meses de Junho e Dezembro de 2004, de acordo com a disponibilidade manifestada pelos entrevistados. Cada entrevista foi gravada na sua totalidade e, depois, transcrita, tendo todos os entrevistados autorizado o respectivo registo em áudio.25