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3.2 PROCEDIMENTOS DE GERAÇÃO DE DADOS

3.2.1 Caderno de atividades de Intercompreensão de Línguas Românicas

O caderno de Intercompreensão de Línguas Românicas, principal fonte da geração de dados, não foi concebido de forma aleatória. A nossa primeira intenção foi a de proporcionar identidade própria à nova disciplina com o seu próprio caderno de atividades plurilíngues. Embora o uso do livro didático ou do manual de instrução seja alvo de forte conflito entre pesquisadores, seja em Educação seja em Letras, acreditamos que pode ser grande auxiliador para o professor quando não utilizado enquanto única ferramenta de trabalho.

Na etapa de investigação preliminar, procuramos entender as principais necessidades dos alunos quanto ao aprendizado de língua portuguesa. Foi possível verificar, por meio de anotações dos próprios alunos, os temas que gostariam de estudar e suas maiores aspirações para essa disciplina. As necessidades partiram também de um interesse maior pela leitura (compreensão de textos escritos) e pela escrita (redação). Alguns assuntos apontados pelos alunos nortearam os tipos e gêneros textuais previamente delimitados pelo livro de língua portuguesa da turma.

No geral, não foi possível fugir dos tipos textuais para que o grupo de controle acompanhasse o que as turmas experimentais estariam estudando no mesmo período, o que poderia colocar em dúvida a equiparação do grau de dificuldade do conteúdo de português ministrado para as três turmas. Com uma aula a menos de português por semana, as turmas experimentais estudavam apenas a compreensão de textos escritos em francês, em espanhol e/ou em italiano, enquanto o grupo de controle dispunha de cinco aulas semanais com todas as nuances exigidas para a compreensão de textos apenas em português, observando inclusive normas gramaticais próprias desse idioma e produção textual em língua materna.

Embora o caderno de ILR estivesse pronto, como em qualquer disciplina, outros textos e tipos de materiais foram utilizados em sala de aula de acordo com as necessidades que foram surgindo. A confecção do caderno de atividades foi então ganhando forma e conteúdo, além de semelhança estrutural com o livro didático de língua portuguesa de Marchetti et al (2009).

Na tentativa de compreender o desenvolvimento de material didático ideal, Vian Jr (1999) sugere algumas possibilidades, uma vez que o desenvolvimento de apenas uma habilidade leva ao desenvolvimento de material que atenda principalmente a essa necessidade do aprendiz, considerando seus objetivos específicos e procurando definir as áreas conforme essas metas. Nesse caso, três referências foram de significativa importância para este trabalho: Hutchinson e Waters (1987), Cunningsworth (1995) e Jordan (1997), com base nos quais procuramos adequar a disciplina dentro das limitações impostas por razões do próprio sistema educacional, da escola, e até mesmo do livro didático de português, sendo este escolhido pelos próprios professores da disciplina e adotado na escola. Esses autores discorrem sobre a escolha dos materiais e a sua avaliação.

Jordan (1997), por exemplo, apresenta um tipo de checklist para avaliarmos um bom material. Fatores como a razão pela qual foi elaborado, quem vai utilizá-lo, a atenção à sua parte gráfica, o material utilizado na sua confecção, a autenticidade, vieses culturais e custos são aspectos levantados pelo autor para adotarmos um livro.

Tentando seguir essa linha de raciocínio, esboçamos o nosso material com designer gráfico similar ao de português, para aproximá-los num impacto visual inicial. Além disso, escolhemos material para a sua confecção com qualidade superior ao do próprio manual de LM para valorizarmos o material didático dos alunos e facilidade em seu manuseio. Quanto aos textos, escolhemos aqueles que remetiam um pouco à cultura, identidade histórica e geográfica local, além do fator determinante que foi a semelhança de conteúdos entre os dois manuais das turmas – ILR e LM.

Hutchinson e Waters (1987) apresentam um processo complexo, mas simplificado e de fácil entendimento, de como avaliarmos bons materiais para o uso com fins específicos. Por meio desse entendimento, definimos critérios como o que seria mais importante no livro, passando por análises subjetivas e objetivas: (i) quem utilizaria o material (idade, sexo, ano escolar etc.); (ii) qual o objetivo (compreensão de textos escritos em línguas românicas, no caso do nosso caderno de atividades); (iii) conteúdos (linguagem, estrutura, áreas, tarefas, textos com imagens, cartas, diálogos, diagramas, desenhos etc.) e como eles estariam organizados no curso; e (iv) a metodologia (em nosso caso, a abordagem plurilíngue, especificamente com a intercompreensão, tarefas e exercícios e as atitudes, técnicas e avaliação do uso do material por pesquisador e alunos, além da necessidade de flexibilidade do material). Quanto a esse último aspecto, procuramos avaliar alguns manuais existentes para o uso da IC na direção LM → LE a fim de fazermos o percurso inverso. “Se eventualmente decidir escrever o próprio material, a avaliação de materiais existentes pode prover boa fonte de ideias [...] e técnicas.” 31 (HUTCHINSON; WATERS, 1987, p. 105, tradução nossa).

Com o suporte de outra pequena checklist apresentada/baseada em Cunningsworth (1995), decidimos avaliar o nosso próprio material observando rapidamente os objetivos, o design e a organização, a linguagem dos conteúdos, as tarefas, os tópicos e teorias e a comparação desse material com o livro didático de português da escola, tentando seguir os critérios apontados pelos quatro autores citados, complementado pelos elementos advindos das aulas no curso de pós-graduação.

Quanto ao caderno de atividades, é composto por 41 páginas ilustradas contendo questionário biográfico para a análise prévia da tipologia da pesquisa adotada, conteúdo didático de compreensão de textos idêntico ao dos dois últimos bimestres selecionados para o ano letivo de 2011, no manual de português, adaptados às necessidades específicas do projeto

31“Even if you eventually decide to write your own materials, the evaluation of existing materials can provide a

de pesquisa sob uma abordagem plurilíngue com técnicas de intercompreensão em três línguas românicas: espanhol, italiano e francês, além de carta de apresentação e responsabilidade. Esse caderno de atividades de ILR (GOMES-SOUZA, ALAS-MARTINS, 2011) encontra-se catalogado na Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA), da UFRN, datado de 2011.