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5.1 ESTRATÉGIAS DE COMPREENSÃO DE TEXTOS ESCRITOS

5.1.3 Conhecimento prévio: conhecendo o assunto

Uma segunda estratégia identificada em nossa análise foi a tentativa de o aluno relacionar o assunto dos textos com experiências prévias ou conhecimento de mundo, validando uma associação que provavelmente possibilitou a ativação da memória e facilitou a interação entre esse leitor crítico e esses textos na busca da confirmação dos temas. Esse elemento facilitador está associado ao conhecimento do léxico internacional, uma vez que ativa o aparato perceptual do aluno, que age no conhecimento que ele tem sobre história, economia, geografia, artes, etc.

Observamos que os alunos, em nossa sala de aula de IC, partiam de elementos conhecidos na tentativa de descobrirem pontos de ancoragem com esse conhecimento prévio, mesmo que de conceitos mais gerais, para a organização apropriada na compreensão de conceitos mais particulares. Ausubel (1980) conceitua de teoria dos subsunçores essa estrutura cognitiva com organizadores prévios, capaz de ser fixada como um ponto de partida para facilitar na aprendizagem.

Gass e Selinker (1992) observam que uma das formas de transferência mais comuns é a ativação do conhecimento que o sujeito já possui para a compreensão de palavras, dados, processos de tipo referencial, gramatical, por meio de fontes de informações externas ou de conhecimento da própria índole do aprendiz. Por essa característica de referenciação, esses autores preferem o termo “referentes prévios”, em vez de “conhecimento prévio” ou

“conhecimento de mundo”. Essa categoria possui uma dimensão mais global e completa,

incluindo também ocorrências interlinguísticas e até mesmo uma forte interligação com a competência anterior.

Esse recurso, em nosso estudo, não foi identificado como o mais utilizado pelos alunos como abordagem prévia dos textos em LR. Talvez aponte para uma deficiência de prática constante de leitura que faz com que o indivíduo acumule conhecimento em diversas áreas de interesse particular ou geral. Mesmo assim, em comparação com a identificação de transparências baseada na transposição linear lexical à competência de conhecimento prévio, encontramos nas respostas dos alunos certa frequência dessa técnica de índole referencial ou gramatical, associada a outras fontes externas de informação, como aulas em outras disciplinas, livros, relação entre sujeitos, na tentativa do aluno em cobrir a falta de algum conhecimento mais aprofundado que o auxiliasse na compreensão de determinado texto. No quadro a seguir, apresentaremos algumas ocorrências prototípicas que dizem respeito ao conhecimento prévio dos alunos, quando da leitura dos textos.

Quadro 5: ocorrências prototípicas de conhecimento prévio quanto ao assunto dos textos

Aluno Respostas/comentários

A01 Já assisti o filme sobre o texto.

A03 Vende serviços da companhia aérea AirFrance.

A28 Viagem de avião [...] AirFrance que é uma empresa de aviação da França. A29 Estudamos sobre Picasso na aula de Artes.

A46 Conhecia antes (o assunto abordado).

Fonte: respostas dos participantes às questões contidas no caderno de atividades de ILR

No texto sobre uma tela de Picasso, a partir de respostas aleatórias dos alunos, como no exemplo em A29, percebemos que ele antecipou algumas ideias quando passou os olhos pelo texto e identificou o assunto que já havia estudado em outra disciplina. Essa leitura rápida do aluno sugere que, em primeiro lugar, o título, palavras-chave e as ideias principais são observadas rapidamente em cada parágrafo o que pode remeter à memória os quadros mentais que se encontram diretamente relacionados com o tema e que facilitarão a leitura de maneira mais efetiva após esse primeiro contato. Podemos definir esse quadro mental

enquanto uma ideia preliminar ou conclusiva que o indivíduo possui em seu léxico mental quanto ao tema investigado.

Souchon (1998) identifica em seus estudos que esse recurso, no tipo referencial de conhecimento de mundo, que evidentemente inclui a linguagem e eventuais traços do assunto abordado em um texto, é colocado a serviço da compreensão do aluno quando da inferência às palavras não transparentes, sendo o resultado de um tipo de projeção de mundo da própria visão que o aluno tem sobre a sua vivência.

Nessa estratégia, o aprendiz recorre também a várias facetas: tentativas de adequações de significados que apontam para o que ele julga como sendo o campo semântico do enunciado; ativação de conhecimentos sobre o assunto do texto; transferências de significados de outras áreas do saber de conhecimento do leitor; identificação de regras ou do funcionamento dessa nova língua por conhecimento adequado de sua LM e, mais uma vez, conectar-se-á com subcategorias como a própria inferência, contextualização e (re) construção do sentido.

Esse conhecimento prévio pode ser também ativado por esquemas mentais e cognitivos que já fazem parte de aprendizagens escolares ou são adquiridas por atividades anteriormente alertadas em busca de informações mais detalhadas sobre o tema exposto, o que pode levar à efetiva compreensão de um dado verbal, sendo mais forte quando da identificação de um significante romano, no caso de falantes nativos do português. Esses pressupostos promovem a ocorrência de comparações e transferências que auxiliam na identificação de vocábulos almejados ou solicitados.

No texto sobre publicidade, da AirFrance, destacamos o que foi dito por A28, uma vez que, embora essa palavra não seja totalmente transparente, ele recorreu, além da leitura geral da imagem, ao seu conhecimento prévio sobre o a companhia aérea francesa para identificar do que tratava o anúncio. Verifica-se, também, a ação verbal de viajar como primeiro argumento utilizado pelo aluno na tentativa de compreender o texto.

Casos como o surgimento de palavras estrangeiras como AirFrance, principalmente em inglês, que são geralmente mais conhecidas pelos alunos, sinalizam para a existência de vocabulário internacional familiar. Com o acesso às novas mídias, esse tipo de vocabulário vem sendo incorporado naturalmente e com certa velocidade ao repertório das pessoas em geral, o que independe do estudo de línguas estrangeiras na escola ou em cursos de idiomas.