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Cafés da Avenida e suas imediações

Capítulo II – Cafés do Porto: estabelecimentos que se identificam

3. Cafés do Porto que respondem a pelo menos um dos

3.3. Abordagem histórica e análise formal e plástica dos Cafés

3.3.4. Cafés da Avenida e suas imediações

Com a abertura da Avenida dos Aliados, em 1916, notabilizaram-se, a partir da segunda e terceira décadas do século XX, neste núcleo urbano de cafés da Avenida e suas imediações, os seguintes cafés: Avenida, Sport, Monumental e Central (o da Avenida - não confundir com o Café Central da Praça de D. Pedro) [Tabelas 21-24].

353

PACHECO, Helder – Ver o Porto: 25 Anos de Escrita Sobre a Cidade. Porto: Edições Afrontamento, 2008, p. 100.

354

DIAS, Marina Tavares; MARQUES, Mário Morais – Porto Desaparecido, p. 161.

144 CAFÉ AVENIDA [Fig. 77-78]

Figura 77: Perspetiva oriental da Avenida dos Aliados onde se pode visualizar o Café Avenida à esquerda. Imagem de meados do século XX. Fonte: DIAS, Marina Tavares; MARQUES, Mário Morais – Porto Desaparecido, p. 160.

Figura 78: Boletim publicitário do Café Avenida. Fonte: DIAS, Marina Tavares; MARQUES, Mário Morais – Porto Desaparecido, p. 160.

Fundação e Localização Geográfica

Fundado em finais da década de vinte da centúria de novecentos, a nascente da Avenida dos Aliados, no quarteirão delimitado pelas ruas Sampaio Bruno e Elísio de Melo.

Proprietários Desconhecidos. Artistas que

laboraram no Café Desconhecidos. Estrutura Formal do

Estabelecimento

Ajustado à tipologia de café-concerto, foi um elegante e requintado estabelecimento de café ao nível do piso térreo, com espaço de mesas para o consumo de café e outras bebidas, salão de bilhares e local onde se localizava a orquestra. Em 1940 foi remodelado e reabre com a nova designação de

Vitória-Café-Restaurante-Cervejaria356 (desconhecendo-se a razão). Curiosidades

Históricas

Este estabelecimento foi um dos mais antigos cafés desta nova artéria urbana, publicitando exaustivamente o seu salão de bilhares e a qualidade do seu café. Durante os anos trinta do século XX, eram aqui organizados espetáculos com orquestra357. Aqui atuaram os “guitarristas António Antunes e Marcírio Ferreira que, quando atuavam, […] faziam a assistência encharcar os lenços com lágrimas de vibração”358.

Frequentadores Habituais

Frequentado por uma clientela heterogénea. Após as obras de remodelação, os irmãos Cortez foram frequentadores deste café.

Encerramento/Estado Atual

Encerrou as suas portas na passagem da primeira para a segunda metade do século XX.

Valor para a História Não Corresponde.

Valor Artístico Corresponde. Os testemunhos de documentação escrita analisados aludem-nos para o facto de este café ter sido reconhecido, na época, pelo seu valor de elegância e requinte decorativos, tal como, qualidade arquitetónica.

Valor de Memória Corresponde. Os espetáculos musicais, com uma grande orquestra recheada de célebres músicos, que aqui se realizaram, fornecem-nos informação sobre músicos exímios que aqui atuaram, e por vezes se encontram desconhecidos na

356

Cf. DIAS, Marina Tavares; MARQUES, Mário Morais – Porto Desaparecido, pp. 161-163.

357

Cf. Ibidem, p. 161.

358

145 atualidade.

Tabela 21: Conteúdos informativos sobre o Café Avenida.

CAFÉ SPORT [Fig. 79-81]

Figura 79: Perspetiva oriental da Avenida dos Aliados, onde se pode visualizar o Café Sport à esquerda. Imagem de meados do século XX.

Fonte: DIAS, Marina Tavares; MARQUES, Mário Morais –

Porto Desaparecido, p. 160.

Figura 80: Interior do Café

Sport, após as obras de remodelação, concluídas em 1943.

Fonte: DIAS, Marina Tavares; MARQUES, Mário Morais –

Porto Desaparecido, p. 161.

Figura 81: Interior do Café

Sport, em altura de grande

movimento, após as obras de remodelação.

Fonte: DIAS, Marina Tavares; MARQUES, Mário Morais –

Porto Desaparecido, p. 161.

Fundação e Localização Geográfica

Fundado em 23 de novembro de 1929, a nascente da Avenida dos Aliados, entre as ruas Sampaio Bruno e Elísio de Melo.

Proprietários Desconhecidos. Artistas que

laboraram no Café

O projeto do estabelecimento foi realizado pela dupla Rogério de Azevedo e Baltazar de Castro. António Costa foi o pintor decorador do café.

Estrutura Formal do Estabelecimento

O estabelecimento assumia estilo moderno, ao gosto da época, formalizado ao nível exclusivo do piso térreo, com um salão principal recheado de mesas e, em 1936, foi inaugurado um grande salão de bilhares. Em 1943, o salão principal será totalmente remodelado: “espelhos nas paredes e um vitral ao fundo dão-lhe um ar mais solene, mas o estilo arrojadamente modernista desaparece de vez”359. O pintor e decorador António Costa foi o autor de quatro painéis, que representavam as quatro modalidades desportivas: o futebol, a natação, o atletismo e o golfe, e que se encontravam dispersos pelas paredes do estabelecimento.

Curiosidades Históricas

Os jornais da época classificavam o Café Sport como sendo um estabelecimento modernista, estranho e bizarro. Os seus proprietários pretendiam, acima de tudo, atrair uma clientela nova, ligada ao desporto, que, a partir desta altura, começa a gerar uma importante classe de ídolos360. Frequentadores

Habituais

O estabelecimento era frequentado, sobretudo, por pessoas ligadas ao desporto. Todavia, também por aqui passaram, Leonardo Coimbra e o seu inseparável Teixeira Rego, os artistas do grupo + além (com especial relevo para Dominguez Alvarez e Adalberto Sampaio) e arquitetos e engenheiros que tinham escritórios próximos do café361.

359

DIAS, Marina Tavares; MARQUES, Mário Morais – Porto Desaparecido, p. 164.

360

Cf. Ibidem, p. 163.

361

146 Encerramento/Estado

Atual

O Sport encerra as suas portas em finais dos anos sessenta, dando lugar a uma dependência bancária.

Valor para a História

Corresponde. Esta correspondência deve-se, sobretudo, à frequência de personalidades ilustres da época, com especial relevo para Leonardo Coimbra, Teixeira Rego e os artistas do grupo + além. Também é relevante o facto de este ter sido o primeiro café com intenções manifestas de atrair clientela ligada ao desporto.

Valor Artístico

Corresponde. Pela documentação analisada e atrás exposta, percebe-se que este café tinha uma decoração interior primorosa e adequada ao gosto artístico da época – com belíssimos espelhos, mesas e cadeiras trabalhadas, pinturas murais de grande qualidade e uma arquitetura de primor qualitativo, projetada por dois arquitetos reconhecidos.

Valor de Memória Não Corresponde.

Tabela 22: Conteúdos informativos sobre o Café Sport.

CAFÉ MONUMENTAL [Fig. 82-83]

Figura 82: Café Monumental na década de trinta do século XX. Imagem recolhida em 30 de junho de 2012.

Fonte:

http://cafesemblematicos.blogspot.pt/p/cafes- emblematicos.html.

Figura 83: Estado atual do local onde se localizava o Café monumental. Fotografia tirada em 24 de maio de 2012.

Fonte: Imagem do autor. Fundação e

Localização Geográfica

Fundado no dia 10 de janeiro de 1930 a poente da Avenida dos Aliados.

Proprietários Desconhecidos. Artistas que

laboraram no Café O projeto do café é da autoria de João Queiroz. Estrutura Formal do

Estabelecimento

Estabelecimento da tipologia de café-concerto, conhecido pelas suas grandes dimensões de três pisos: bar na cave, café (com um palco para a orquestra) ao nível da rua e salão com vinte e quatro bilhares no primeiro andar. Em questões decorativas, proliferavam os espelhos e “florões que entornam, do alto, orgias de luz”362.

Curiosidades Históricas

Desenvolveu-se, neste estabelecimento, uma novidade técnica para a época, que foi o secador de mãos, que era anunciado: “mãos que se limpam sem toalhas “363. Este novo estabelecimento destacou-se também pelo facto de

362

Ibidem.

363

147 possuir um “sistema sonoro com um aparelho Klingsor e altifalantes, que permitiam a audição da música nos três pisos”364. Mas a música ao vivo também foi, aqui, uma constante: duas orquestras de jazz e música clássica animavam o café durante a tarde e também à noite. Diversos anúncios eram expostos no estabelecimento e espalhados pela cidade, publicitando os quintetos de música jazz e clássica que ali atuavam permanentemente365. António Soares Correia, exímio executante de violino e o quarteto Vieira Pinto (um violoncelista de seu nome Antunes e pianista D. Olímpia) por diversas vezes proporcionaram espetáculos de música de salão ao agrado da época366. Frequentadores

Habituais

Não foi encontrada documentação que nos aluda quanto ao tipo de frequentadores habituais neste estabelecimento e se o mesmo terá sido frequentado por alguma personalidade de relevo da cidade desta época. Mas acreditamos que a clientela era muito heterogénea.

Encerramento/Estado Atual

Apesar da sua monumentalidade – como o próprio nome o indica – não chegou a passar da primeira metade do século XX, encerrando por essa altura. Valor para a História Não Corresponde.

Valor Artístico

Corresponde. Além de monumental, este estabelecimento era guarnecido com uma decoração exuberante, de espelhos e madeiras trabalhadas, tal como, a própria estrutura arquitetónica do estabelecimento, que foi projetada por João Queiroz e se manifestava de grande interesse artístico.

Valor de Memória

Corresponde. A correspondência deve-se, fundamentalmente, às inovações técnicas de higiene e conforto musical de que este café foi pioneiro. As orquestras de músicos exímios – por vezes desconhecidos na atualidade – que aqui atuaram permitem-nos ficar a conhecer alguns destes célebres artistas, que alcançaram grande prestígio, no seio da sociedade portuense daquela época.

Tabela 23: Conteúdos informativos sobre o Café Monumental.

CAFÉ CENTRAL [Fig. 84-85] (o da Avenida – não confundir com o da Praça de D. Pedro)

Figura 84: Perspetiva oriental da Avenida dos Aliados onde se pode visualizar o Café Central. Imagem de meados do século XX.

Fonte: DIAS, Marina Tavares; MARQUES, Mário Morais – Porto Desaparecido, p. 160.

Figura 85: Fachada do Café Central em meados do século XX.

Fonte: TAIPA, Orlando – Memória de José Régio: um episódio do Jogo da Cabra Cega. Porto, O

Tripeiro, série VII, n.º6, ano XXI, junho de 2002,

p. 177. Fundação e

Localização Geográfica

Após o encerramento do Café Central da Praça de D. Pedro, em 1933, foi inaugurado, nesse mesmo ano, mais para norte, na parte oriental da Avenida, entre as ruas de Sampaio Bruno e Elísio de Melo, um novo Café Central. 364 Ibidem. 365 Cf. Ibidem. 366

148 Proprietários Desconhecidos.

Artistas que

laboraram no Café Desconhecidos. Estrutura Formal do

Estabelecimento

Era um café estreito, comprido e muito escuro. Possuía um quiosque na entrada, ao lado esquerdo, e um balcão ao fundo367.

Curiosidades Históricas

No quiosque do estabelecimento, para além de se vender tabaco e jornais, o mesmo também servia de caixa de correio e ponto de recados. Deste quiosque, os empregados comunicavam com o balcão recorrendo à mímica, através da associação de cada produto solicitado com o gesto correspondente368. Segundo nos informa Marina Dias, Manoel de Oliveira, no seu filme Porto da Minha

Infância (2001), evoca este café como local onde costumava encontrar-se com

Adolfo Casais Monteiro369. Frequentadores

Habituais

Eram frequentadores assíduos deste café, Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, José Régio, Adolfo Casais Monteiro, entre muitos outros370. Muitos bancários e funcionários públicos faziam, inclusivamente, deste espaço seu paradeiro habitual.

Encerramento/Estado

Atual Encerrou em finais dos anos sessenta, pouco depois do Café Sport.

Valor para a História Corresponde. A correspondência deve-se ao facto de este café ter sido frequentado por ilustres intelectuais daquela época, tais como, Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, José Régio, entre outros.

Valor Artístico Não Corresponde.

Valor de Memória

Corresponde. Com a descrição, atrás referenciada, da forma como os empregados se comunicavam entre si, do quiosque para o balcão, ficamos elucidados quanto às técnicas de trabalho que eram utilizadas, em tempos onde as tecnologias atuais de contato interno dos empregados de café, ainda não existiam.

Tabela 24: Conteúdos informativos sobre o Café Central.

3.3.5. Cafés nas imediações das ruas de Sá da Bandeira e Santa Catarina