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Cafés da Batalha e suas imediações

Capítulo II – Cafés do Porto: estabelecimentos que se identificam

3. Cafés do Porto que respondem a pelo menos um dos

3.3. Abordagem histórica e análise formal e plástica dos Cafés

3.3.2. Cafés da Batalha e suas imediações

Por ordem cronológica de fundação, no núcleo urbano de cafés da Batalha e suas Imediações, notabilizaram-se, ao longo dos séculos XIX e XX, os cafés: Leão d’Ouro (anterior Comuna) e Chave d’Ouro [Tabelas 12-13].

CAFÉ LEÃO D’OURO (ANTERIOR COMUNA) [Fig. 56-57]

Figura 56: Lado ocidental da Praça da Batalha, com a fachada do Café Leão d’Ouro, por volta do ano de 1915.

Fonte: DIAS, Marina Tavares; MARQUES, Mário Morais – Porto Desaparecido, p. 154.

Figura 57: Lado ocidental da Praça da Batalha com a fachada do Café Leão d’Ouro, após as remodelações da década de 1930.

Fonte: DIAS, Marina Tavares; MARQUES, Mário Morais – Porto Desaparecido, p. 154.

Fundação e Localização Geográfica

Fundado por meados do ano de 1857 no lado ocidental da Praça da Batalha, ostentando o nome de Café da Comuna. Em 1889, após um encerramento forçado pela polícia, reabre, nesse mesmo ano, mas já com o nome de Café

Leão d’Ouro. Em 1926 volta a encerrar para obras de remodelação e reabre

novamente em 1934.

Proprietários

Entre o período de fundação e primeiro encerramento (1857-1889), desconhecem-se os proprietários do estabelecimento. Quando reabre em 1889, já com o nome de Café Leão d’Ouro, pertenceu a um tal Alberto Joaquim e depois à firma Mesquita & Fonseca. Mais tarde, durante o período de encerramento para remodelações (1926-1934), e mesmo após a segunda reabertura em 1934, passa a pertencer a um tal Francisco Figueiredo Lima.

131 Artistas que

laboraram no Café Desconhecem-se os artistas que laboraram no estabelecimento.

Estrutura Formal do Estabelecimento

Entre o período de fundação e o primeiro encerramento em 1889 (período em que se denominava por Café da Comuna), possuía “um interior muito modesto, pequeno, acanhado, inestético”316. Após as obras de remodelação (1926-1934), reabriu neste último ano, com “duas salas, e uma decoração do princípio do século, com muitos espelhos, mármores brancos e metais dourados, cadeiras muito pequenas e mesas com tampo de vidro”317. Possuía, inclusivamente, uma pequena gruta de água que embelezava o interior.

Curiosidades Históricas

Entre 1857 e 1889, este estabelecimento chamava-se Café da Comuna, pelo facto de ali se reunirem os liberais da época que, em conversas despreocupadas, discutiam e preparavam afincadas conspirações. Esta realidade levava a que a polícia, por ali deambulasse, quase diariamente. E foi mesmo a polícia que obrigou o café a encerrar em 1889, tendo os seus proprietários sido obrigados a fugir. No sentido de camuflar os idealismos revolucionários que proliferavam neste estabelecimento, o mesmo foi obrigado a alterar o seu nome para Leão d’Ouro, aquando da sua reabertura, ainda no mesmo ano de 1889. A partir deste segundo período passa a ser frequentado por figuras do Teatro e das Artes Plásticas. Após a segunda interrupção, ocorrida entre 1926 e 1934 para remodelações, passará a ser frequentado por personalidades de índole social e profissional diversificada. Neste período de meados da primeira metade do século XX as tertúlias estético-plásticas, realizadas naquele café, serviram de ponto de partida para a publicação de diversos artigos em revistas literárias e artísticas que naquela época proliferavam pela cidade318. Foi nas mesas deste café que se desenhou a iniciativa “da formação dum Teatro Experimental, iniciativa que frutificou no TEP e deu novos rumos ao nosso Teatro”319.

Frequentadores Habituais

Entre 1857 e 1889 (período em que o estabelecimento se denominava por Café

da Comuna), este foi o local de encontro de liberais, republicanos e socialistas.

Entre o fim do século XIX e o princípio do século XX (já com o nome de Café

Leão d’Ouro), este café “foi frequentado por figuras do Teatro – Eduardo

Brasão, Vale e Emília Eduarda; das Letras – Sampaio Bruno, António Claro, Lima Júnior e Arnaldo Leite; e das Artes Plásticas – Soares Lopes, Manuel Martins e António de Azevedo”320. Já nos anos 30 e 40 por lá deambularam o pintor Domingos Alvarez, o caricaturista e realizador de cinema Manuel Guimarães, o advogado Ângelo César e os médicos Cardoso do Carmo, Espregueira Mendes, Castro Henriques e Urgel Horta. Atores das companhias de Lisboa que vinham atuar ao Porto, também não deixavam de passar por aquele café, tais como: Amélia Rey Colaço, Beatriz Costa, João Villaret e Ribeirinho. Já em plenos anos 50 e 60, reuniam-se no café Jaime Valverde e os fundadores do TEP – Teatro Experimental do Porto321.

Encerramento/Estado Atual

Após um longo período de duração atribulada, que se estendeu para mais de um século, acabou por encerrar definitivamente nos princípios da segunda metade do século XX.

Valor para a História

Corresponde. Esta correspondência deve-se ao facto deste café ter sido frequentado, ao longo dos seus longos anos de duração, por inúmeras personalidades ilustres, de escalões sociais e profissionais muito diversificados: política, teatro, artes, direito, medicina, entre outros. Também é importante o facto de ter sido aqui desenhada a ideia de criação do TEP – Teatro Experimental do Porto.

316

GUIMARÃES, Cláudio Corrêa D’Oliveira – Breve história de um «café» citadino. Porto, O Tripeiro, série V, n.º12, ano VIII, abril de 1953, p. 365.

317

TAVARES, Jorge Campos – Boémia e Tertúlias do meu tempo. Porto. O Tripeiro, série nova, n.º2, ano IX, 1990, pp. 59-60.

318

Cf. GUIMARÃES, Cláudio Corrêa D’Oliveira – Breve história de um «café» citadino, p. 366.

319

TAVARES, Jorge Campos – Boémia e Tertúlias do meu tempo, p. 60.

320

COSTA, Maria Teresa Castro – Os Cafés do Porto, p. 8.

321

132 Valor Artístico

Não Corresponde. Apesar de este café ter passado, entre 1926 e 1934, por remodelações de adaptação formal aos gostos estéticos daquela época, não nos parece, após análise da informação obtida e tendo em conta a definição concreta do valor artístico por nós proposta nesta dissertação, que este café responda, integralmente, aos princípios definidores deste critério.

Valor de Memória

Corresponde. Entre outros aspetos, ficamos a saber que este café foi, no último quartel do século XIX, um dos locais privilegiados dos liberais revolucionários portuenses, que estiveram na origem das grandes revoluções liberais oitocentistas, e que fizeram deste café, um dos locais de eleição para o desenhar das conspirações revolucionárias, tão ambicionadas nos finais daquela centúria. Também nos permite ter conhecimento de algumas das mais relevantes personalidades do Teatro e das Artes Plásticas do primeiro quartel do século XX, que escolhiam o Café Leão d’Ouro, como local de eleição para as suas tertúlias diárias.

Tabela 12: Conteúdos informativos sobre o Café Leão d’Ouro (anterior Comuna).

CAFÉ CHAVE D’OURO [Fig. 58-59]

Figura 58: Fachada original do Café Chave

d’Ouro, com os vidros estilhaçados, após a Revolução de fevereiro de 1927.

Fonte: DIAS, Marina Tavares; MARQUES, Mário Morais – Porto Desaparecido, p. 155.

Figura 59: Fachada atual do Café Chave d’Ouro, após as reformas de remodelação da fachada na década de trinta do século XX. Fotografia tirada em 24 de abril de 2012.

Fonte: Imagem do autor. Fundação e Localização Geográfica Fundado em 1920. Proprietários Desconhecidos. Artistas que

laboraram no Café Desconhecidos. Estrutura Formal do

Estabelecimento

Estabelecimento de dois pisos: piso térreo onde se localizava o café propriamente dito e primeiro piso com salão de bilhares. Na década de trinta foram realizadas ações de remodelação da fachada. Atualmente já só o piso térreo é que se mantem em atividade.

Curiosidades Históricas

Na imagem da fachada do café da figura 58 são percetíveis os vidros estilhaçados deste estabelecimento, após a Revolução de fevereiro de 1927322. Este café era conhecido, na primeira metade do século XX, como o estabelecimento “onde se apresentavam os melhores tacos portuenses”323.

322

Rebelião militar, que ocorreu entre 3 e 9 de Fevereiro de 1927, ficando conhecida como a primeira tentativa, consequente, de derrube da Ditadura Nacional, que então se consolidava em Portugal.

323

133 Frequentadores

Habituais

Este café sempre foi frequentado por empregados do comércio portuense daquela área geográfica da cidade. Em 10 de maio de 1958, procedeu-se, aqui, à “reunião de Humberto Delgado com jornalistas nacionais e estrangeiros”324. Encerramento/Estado

Atual

Ainda continua ativo na atualidade, apesar de extremamente adulterado quanto à sua estrutura formal original.

Valor para a História Corresponde. Pelo documento que nos testemunha a presença de Humberto Delgado neste estabelecimento, podemos depreender que, outras personalidades ilustres poderão ter frequentado este café.

Valor Artístico Não Corresponde.

Valor de Memória

Corresponde. Pela perceção que a imagem da figura 58 nos dá sobre os vidros estilhaçados do café, face à Revolução de fevereiro de 1927, podemos perceber o grau de gravidade material que esta efeméride originou em alguns estabelecimentos da cidade.

Tabela 13: Conteúdos informativos sobre o Café Chave d’Ouro.