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1 FORMAÇÃO DO PORTUGUÊS POPULAR DO BRASIL: SÓCIO-

2.5 OS CAMINHOS DA PESQUISA

2.5.3 Breve caracterização dos bairros

2.5.3.2 Cajazeiras

No Brasil, a partir da década de 40, começou a ocorrer o que Teixeira (1978) chamou de “fenômeno da ‘explosão’ urbana”. Nas décadas seguintes, houve uma acentuação ainda maior de tal fenômeno e, naturalmente, Salvador também foi afetada pelo crescimento das cidades. No caso específico de Salvador, alguns fatores contribuíram para a expansão urbana, como a presença da Petrobrás, nos anos 1950, a construção do Centro Comercial de Aratu (CIA), nos anos 1960, e a implantação do Complexo Petroquímico de Camaçari, na década de 1970 (TEIXEIRA, 1978).

Com o aumento populacional, a expansão da cidade tornou-se algo imperativo, já que ocorreu uma densificação de bairros tradicionais e, ainda, ocorreu o surgimento de “invasões”, fato que conduzia a uma superpopulação em determinadas áreas da cidade. Com o objetivo de ordenar tal crescimento, voltaram- se as atenções para a Região Metropolitana de Salvador e decidiu-se pela criação de projetos habitacionais, como Caji, Cajazeiras e Narandiba.

A área de Cajazeiras, de acordo com Teixeira (1978), era vista como fazendo parte da região metropolitana. Na região em que se pretendia implantar Cajazeiras, já se encontravam alguns conjuntos habitacionais construídos, além de residências

que surgiram de ocupação espontânea. Assim, o projeto vem para urbanizar as áreas ainda não ocupadas e para fazer a integração com esses conjuntos já existentes.

Cajazeiras se situa numa área de relevo ondulado e, por essa razão, os núcleos habitacionais foram localizados nas áreas de declives. Isso fez com que fossem criados sete bairros, cada um com um centro de comércio e equipamentos comunitários. Cajazeiras é considerado o primeiro bairro previamente planejado na cidade de Salvador.

O Governo do Estado iniciou em 1975 o processo de desapropriação das terras de três grandes fazendas: a Fazenda Jaguaripe de Cima, também conhecida como Fazenda Grande, a Fazenda Cajazeiras, a Fazenda Boa União e a Chácara Nogueira, num total de 16 milhões de m², absorvendo áreas na BR-324, na altura do Supermercado Makro, até o Km 5,5 da Estrada Velha do Aeroporto, cujos limites abrangiam os bairros de Castelo Branco e Nova Brasília e atravessando o Golfe Clube. Criada pelo Estado, através da URBIS (Empresa de Habitação e Urbanismo da Bahia), Cajazeiras foi planejada para receber cerca de 100.000 habitantes e, hoje, sua população estimada é de 700.000 habitantes. O bairro cresceu tanto, que tem dimensões de um município. Considera-se, atualmente, como parte do bairro de Cajazeiras o complexo que leva seu nome, além das quatro Fazenda Grande e da Boca da Mata.

A expansão significativa de Cajazeiras ocorreu a partir da década de 1990, e hoje o bairro caracteriza-se por reunir populações de diferentes origens, oriundas do interior do estado e também de outros bairros populares. Há, em Cajazeiras, um comércio local em constante expansão, que procura atender às necessidades da sua população, já que o bairro encontra-se distante geograficamente do centro da cidade.

O Governo baiano pretendia que houvesse mais 8.000 unidades habitacionais nas áreas remanescentes, porém os financiamentos para construção de casas populares foram suspensos por vários anos. Em consequência disso, ocorreu a invasão das encostas e vales nos arredores do conjunto, que hoje abrigam mais de 50.000 pessoas, indicando o agravamento de problemas sociais e considerável inchaço populacional e contribuindo para o desequilíbrio habitacional do bairro (FREIRE, JÚNIOR E GOMES, 2002). Muitas dessas invasões já são bairros oficializados pelas autoridades, como é o caso do Conjunto Jaguaripe I e II,

localizado próximo a Cajazeira VIII, e do Parque São José, com pouco mais de 500 casas.

Conforme Freire, Junior e Gomes (2002), “atualmente, o bairro de Cajazeiras apresenta características iguais a qualquer outro bairro de Salvador, apesar de ter sido ‘planejado’”. Contudo Cajazeiras passa a impressão de ser uma outra cidade dentro de Salvador, pois tem uma grande dimensão territorial e, nos seus quase trinta anos de existência, conheceu um grande e desordenado crescimento, necessitando de melhor infraestrutura para sua população.

Cajazeiras, apesar de possuir comércio próprio, tem uma estrutura de serviços inicialmente projetada ou praticada que se tornou insuficiente para atender à atual demanda populacional, que cresceu numa proporção inimaginável. Na questão da Educação, em Cajazeiras X funciona a Escola Básica e Profissional Fundação Bradesco, estabelecida desde 1985, que se destaca pelo método de aprendizado considerado bastante avançado. O bairro possui também diversas escolas particulares, públicas municipais e estaduais em todos os níveis educacionais, além de creches e de uma faculdade particular.

Na área de saúde, Cajazeiras possui dois postos de saúde, um em Cajazeira II e outro em Cajazeira VIII, este último oferecendo serviço de emergência. Além desses equipamentos, o bairro dispõe também da Maternidade Albert Sabin, do Hospital Geral de Cajazeiras, do Hospital Jaar Andrade e de várias clínicas particulares.

Um dos maiores problemas do bairro é o transporte público, o que faz com que diversas pessoas rejeitem a ideia de ir morar lá e que outros tantos se mudem. Atua na área das Cajazeiras um número insuficiente de veículos para atender à demanda de passageiros. O que alivia a situação é a presença do sistema de transporte suplementar de microônibus e vans, que fazem as linhas para a região de São Cristóvão, Itapuã e Brasilgás, na rodovia BR-324.

Os moradores se queixam da distância do bairro para o centro da cidade, mas muitos ressaltam que só ali tiveram acesso à condição de adquirir uma casa própria. Então, o que se nota, não é um desejo de sair do bairro, mas o anseio por melhores condições de vida, o que inclui um sistema de transporte que possa atender ao grande número de moradores e mais segurança no bairro.

Segundo Santos et alii (2010), em Cajazeiras IV, por exemplo, 20,15% dos pais de famílias têm renda entre 1 e 2 salários mínimos. De acordo com os dados,

tal situação se repete nas outras Cajazeiras, sendo um pouco diferente apenas em duas: na VIII, 24,37% dos chefes de família recebem entre meio e 1 salário mínimo; e na II, 28,85% recebem entre 3 e 5 salários. Vê-se que o que predomina é uma população de baixa renda familiar. Com relação ao tempo de estudo, nota-se uma relação direta com a renda familiar, pois, em Cajazeiras II, 51,92% dos chefes de família têm entre 11 e 14 anos de estudo. Esse mesmo tempo de estudo foi observado em mais quatro Cajazeiras, porém numa frequência menor, em torno de 30%. Em Cajazeiras X e VII, cerca de 30% dos pais de famílias estudaram entre 4 e 7 anos.