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1 FORMAÇÃO DO PORTUGUÊS POPULAR DO BRASIL: SÓCIO-

2.5 OS CAMINHOS DA PESQUISA

2.5.3 Breve caracterização dos bairros

2.5.3.3 Itapuã

Itapuã é um bairro da cidade de Salvador que se localiza na região da orla. Seu nome tem origem na língua tupi e alguns dizem significar “pedra que ronca”, em virtude do fato de ter existido lá uma pedra que, antes de se partir, roncava durante a maré vazante. Outros afirmam que o real significado é “pedra de ponta” ou “ponta de pedra”.

De acordo com Vasconcelos (2001), o mapa do exército de 1942 mostrava uma fraca ocupação nas regiões do Rio Vermelho e Amaralina, situadas na orla de Salvador, e a ocupação urbana acabava na Pituba, que tinha apenas duas ruas. A partir da Pituba, não havia mais estrada que seguisse pelo litoral. Isto indica que, até esta época, Itapuã estava situada distante dos limites urbanos, assemelhando-se a uma região de veraneio. Nessa época, o bairro era uma colônia de pescadores um tanto afastada do centro da cidade de Salvador.

Ainda segundo Vasconcelos (2010), no início do século XX, a orla de Itapuã começou a se desenvolver. Em 1920, segundo dados do IBGE encontrados na obra de Vasconcelos, havia em Itapuã 3.446 habitantes. Em 1942, teve início a construção da estrada Amaralina-Itapuã, que foi concluída sete anos depois, interligando o bairro à orla de Salvador e tornando ainda mais viável a construção de loteamentos. Com a inauguração do aeroporto, em 1949, a estrada que liga Amaralina ao Aeroporto, e passa por Itapuã, passou a ser quase toda ocupada por loteamentos residenciais de baixa densidade e, em 1996, segundo dados do IBGE, a população de Itapuã já passava dos 100.000 habitantes.

Itapuã está situada após o bairro de Piatã e faz limite com o município de Lauro de Freitas. Sua parte mais antiga é onde se localiza a estátua da Sereia de Itapuã, monumento construído pelo artista plástico Mário Cravo. Há ainda, em Itapuã, o Parque Metropolitano do Abaeté, inaugurado em 03 de setembro de 1993, situado dentro de uma área de proteção ambiental, com cerca de 12 mil metros quadrados, e onde se encontra a mais famosa lagoa de águas escuras da cidade: a Lagoa do Abaeté ou “lagoa tenebrosa”. A conhecida lagoa, que antigamente servia apenas à pesca e à lavagem de roupas, atualmente serve ao turismo da região, além de também servir aos praticantes de candomblé em seus cultos religiosos.

Uma das festas mais comentadas pelos moradores do bairro é a Lavagem de Itapuã, que ocorre em frente à Igreja da Nossa Senhora da Conceição. Em frente a suas portas, que se mantêm fechadas, os adeptos do sincretismo religioso fazem suas orações e manifestações, enquanto, nos últimos anos, a grande parte da população segue atrás de trios elétricos, o que tem dado um ar mais atual a esta festa.

Com a modernidade, veio o aumento da violência e da venda de drogas ilícitas. Os noticiários mostram constantemente agressões e mortes entre policiais e bandidos, e, inevitavelmente, os moradores do bairro acabam sendo quase sempre as maiores vítimas. Vale ressaltar que a maioria da população residente em Itapuã pode ser caracterizada como de baixa renda e afro-descendente:

Itapoã é um bairro que chama atenção pela representatividade da cultura negra e pelas praias encantadoras, mas “passar uma tarde em Itapuã” já não é a mesma coisa. A Itapuã de Vinícius e Toquinho, famosa pelo seu romantismo e serenidade, apresenta hoje um cenário bastante diferente daquele que inspirou os compositores. O cenário marcado pela presença de pescadores embriagados pelo mar e pelo doce embalo dos coqueirais encontra-se um tanto quanto modificado. O bairro transita entre a tradição e a modernidade. De um lado, ruas inteiras de moradores que nasceram e cresceram no local, e que lembram, com saudade, os velhos tempos, com seus banhos na Lagoa do Abaeté e a tranquilidade das portas abertas; de outro, conjuntos de habitações que cresceram desordenamente no local: são invasões e baixas que em nada lembram as inspiradas canções de Caymmi. De bairro tradicional e pacato, Itapuã passou a ser um dos bairros mais populosos de Salvador. Os registros de crimes e atos brutais de violência estampam as páginas dos jornais diariamente. A mudança do cenário é registrada por diversos informantes durante as entrevistas. (LIMA e ALMEIDA, 2010).

As entrevistas realizadas buscaram cobrir os eixos centrais da população de Itapuã, desde a colônia de pescadores até áreas periféricas consideradas, pelos próprios moradores, como de alto risco. A colônia de pescadores, que conta com mais de 700 profissionais cadastrados, trabalhando em sistema cooperativo, busca organizar e viabilizar a pesca no local, que, segundo os próprios pescadores, tem sido cada vez mais difícil. Naturalmente, na colônia, encontraram-se mais facilmente homens de faixa II e III, visto que o ofício já não tem interessado aos mais jovens, que têm buscado alternativas no centro urbano.

Conforme Santos et alii (2010), 18,54% dos chefes de família do bairro têm renda mensal entre 1 e 2 salários mínimos e 30,79% desses chefes estudaram entre 11 e 14 anos. Na parte mais central do bairro, Rua Alto da Bela Vista, Guararapes e Ladeira do Abaeté, foram registradas histórias de moradores tradicionais, que presenciaram passo a passo as mudanças pelas quais o bairro passou e que contam, com ar de saudade, as boas histórias de uma Itapuã com cara de interior, marcada pela tranquilidade. Das áreas periféricas, Baixa do Soronha e Nova Brasília, foram colhidos os depoimentos de moradores cercados pela dura realidade do tráfico, que vivem num cenário bem distante da Itapuã dos cartões postais. Numa dura realidade, os moradores dessas áreas vivem sob o terror da possibilidade frequente de tiroteios, tendo bocas de fumo como vizinhos e sendo controlados pelas ordens do tráfico. Enfim, os moradores dessas regiões de Itapuã vivem em condições precárias de segurança e infraestrutura.