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Trabalho Marítimo no Offshore em Águas Jurisdicionais Brasileiras – Resolução Normativa nº 72/2006 – Aspectos e Interpretação

PEDRO CALMON NETO

Advogado, Graduado pela Universidade Candido Mendes – Rio de Janeiro, Pós-Graduado em Direito Ambiental Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Pós-Graduado em Direito Empresarial com Especialização em Direito Marítimo e Contratos pela Fundação Getúlio Vargas – Rio de Janeiro (FGV-RJ), Sócio do Escritório Pedro Calmon Filho & Asso-ciados, Membro da Associação Brasileira de Direito Marítimo – ABDM e do Instituto Ibero--americano de Direito Marítimo.

RESUMO: Este trabalho faz um estudo interpretativo da Resolução Normativa nº 72, de 10 de outubro de 2006, do Ministério do Trabalho e Emprego – Conselho Nacional de Imigração – quanto à aplica-ção da proporcionalidade de trabalhadores brasileiros a bordo de embarcações estrangeiras de apoio marítimo que operem em águas jurisdicionais brasileiras por prazo superior a noventa dias. Passando--se pelo aspecto histórico, e aspectos mercadológicos, a interpretação da norma administrativa visa, entre outros aspectos, a dirimir, de forma lógica e legal, a correta interpretação quanto à aplicação da proporcionalidade a partir do estudo da hermenêutica, da legislação vigente e de aspectos fáticos, para, ao final, concluir a forma correta de aplicação considerando-se a totalidade de embarcados.

PALAVRAS-CHAVE: Direito marítimo; direito administrativo; direito do trabalho; resolução normativa;

RN 72/2006; proporcionalidade a bordo; apoio marítimo; oficiais de marinha mercante; aquaviários;

navegação de offshore; trabalho marítimo no offshore.

ABSTRACT: This article is an interpretive study of Normative Resolution nº 72 of October 10th, 2006, from the Ministry of Labour and Employment – National Immigration Council – regarding the applica-tion of the proporapplica-tionality of Brazilian workers onboard of foreign vessels to support operating (Offsho-re Support Vessels) in Brazilian Jurisdictional Waters for mo(Offsho-re than ninety days period. Moving on the historical aspect, and marketing aspects, the interpretation of administrative rule aims, among other things, settling, logically and legally, the correct interpretation regarding the application of proportio-nality onboard, from the study of hermeneutics, the legislation standards to create laws and factual aspects, therefore apply the correct way to count the proportionality considering the total onboard.

KEYWORDS: Maritime law; administrative law; labour law; normative resolution; RN 72/2006; pro-portionality onboard; supply vessel; officers; seafarers; offshore navigation; seafarers in the offshore market.

SUMÁRIO: Introdução; 1 Normatização do trabalho a bordo – Proporcionalidade a bordo e obrigação de contratação de tripulantes brasileiros; 2 Interpretação da RN 72/2006; 3 Embarcações do tipo exploração ou prospecção e plataformas (inciso II do artigo 3º da RN 72/2006); 4 Embarcações de cabotagem (inciso III do artigo 3º da RN 72/2006); 5 Embarcações de apoio marítimo (inciso I do artigo 3º da RN 72/2006); Conclusão; Referências.

INTRODUÇÃO

A descoberta da primeira jazida de petróleo do País data do fim dos anos 30, no bairro de Lobato, na periferia de Salvador (BA), ain-da que a procura tenha se iniciado no período colonial. Curiosamente, Monteiro Lobato era defensor do potencial nacional de produção do Petróleo, e a ele se atribui o mote: “O petróleo é nosso!”1

Em 1968 ocorreu a primeira descoberta de petróleo no mar, no Campo de Garicema, em Sergipe, e em 1974 foi descoberto petróleo na Bacia de Campos, no Estado do Rio de Janeiro. A partir do início da exploração de petróleo no mar, antes mesmo da descoberta em si, entra em cena a navegação de apoio marítimo, também denominada na in-dústria por “navegação offshore”.

A navegação de apoio marítimo é aquela desempenhada por em-barcações, para suprir, apoiar, as plataformas de perfuração, unidades de produção, floteis (hotéis flutuantes), enfim, embarcações e estruturas destinadas à pesquisa ou exploração, à lavra ou produção de petróleo e gás.

Como definido na Lei nº 9.432/19972, em seu art. 2º, inciso VIII, navegação de apoio marítimo é “a realizada para o apoio logístico a embarcações e instalações em águas territoriais nacionais e na Zona Econômica, que atuem nas atividades de pesquisa e lavra de minerais e hidrocarbonetos”.

Entende-se por pesquisa ou exploração o conjunto de atividades, incluídas as de perfuração, destinadas a avaliar áreas, objetivando a des-coberta e a identificação de jazidas de petróleo e gás natural e por la-vra ou produção o conjunto de operações coordenadas de extração de petróleo ou gás natural de uma jazida e de preparo para sua movimen-tação3. Ressalta-se que, embora a instrução normativa que trouxe estas definições (IN RFB 844/2008) tenha sido revogada, entendo que a cor-reção e o acerto nas definições a torna fonte confiável de conceituação.

1 Disponível em: <http://blog.planalto.gov.br/o-petroleo-no-brasil/>. Acesso em: 6 mar. 2014.

2 Brasil. Lei nº 9.432, de 8 de janeiro de 1997. Dispões sobre a ordenação do transporte aquaviário e dá outras providências.

3 Brasil. Instrução Normativa RFB nº 844, de 9 de maio de 2008, artigo 1º, incisos I e II. Dispõe sobre a apli-cação do regime aduaneiro especial de exportação e importação de bens destinados às atividades de pesquisa e lavra das jazidas de petróleo e gás natural (Repetro).

Ainda, cabe explicar que águas territoriais e na Zona Econômica Exclusiva são denominadas “águas jurisdicionais brasileiras” (AJB).

A Normam 4/DPC4 definiu o conceito de AJB, como transcrito a seguir:

ÁGUAS JURISDICIONAIS BRASILEIRAS (AJB) – Compreendem as águas interiores e os espaços marítimos, nos quais o Brasil exerce jurisdição, em algum grau, sobre atividades, pessoas, instalações, embarcações e recursos naturais vivos ou não vivos, encontrados em massa líquida, no leito, ou no subsolo marinho, para os fins de controle e fiscalização, dentro dos limites da legislação internacional e nacional. Esses espaços marítimos compreendem a faixa de duzentas milhas marítimas contadas a partir das linhas de base, acrescida das águas sobrejacentes à extensão da Plataforma Continental além das duzentas milhas marítimas, onde ela ocorrer.

Existem diversos tipos de embarcações de apoio marítimo, sendo que destacaremos aqui, por sua representatividade no mercado nacio-nal, os PSVs (Platform Supply Vessels – Embarcação Supridora de Plata-formas) e AHTSs (Anchor Handling Tug and Supply Vessels – Embarca-ção de manuseio de âncora, reboque e suprimento).

Em termos práticos, os PSVs equiparam-se a verdadeiros cami-nhões do mar, onde, em seus conveses, levam cargas, mantimentos, ferramentas e equipamentos às plataformas (e demais embarcações utili-zadas na exploração ou produção), e alguns, em tanques, combustíveis, água e lama e fluidos empregados na perfuração de poços, tudo para garantir a continuidade das operações, com segurança e custos adequa-dos a tais transportes.

Estas cargas normalmente têm peso e dimensões inadequados para o transporte por helicópteros. Os PSVs representam, hoje, aproximada-mente 40% das embarcações de apoio marítimo em operação no Brasil, sendo as de bandeira estrangeiras aproximadamente 52% deste total (99 PSVs de bandeira estrangeira e 91 de bandeira brasileira, totalizando 190 embarcações)5.

4 Brasil. Normas da Autoridade Marítima para Operação de Embarcações Estrangeiras em Águas Jurisdicionais Brasileiras – Normam 04/DPC, 2013.

5 ABEAM – Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo. Frota de Embarcações de Apoio Marítimo em Operação no Brasil. Rio de Janeiro, dez. 2013. 28 p.

Os AHTSs são embarcações de elevada potência, tecnologia e de-sempenho, utilizadas para o manuseio (lançamento, manuseio e remo-ção) de ancoras para as plataformas e FPSOs (ou demais embarcações ou estruturas utilizadas na exploração e produção), além de poderem ser empregadas como rebocadores, bem como para o transporte de supri-mentos, como os PSVs.

Os AHTSs representam, hoje6, 22% das embarcações de apoio marítimo em operação no Brasil, sendo as de bandeira estrangeiras apro-ximadamente 80% deste total (74 AHTSs de bandeira estrangeira e 19 de bandeira brasileira, totalizando 93 embarcações).

O cenário brasileiro, em dezembro de 20137, em sua totalidade, incluindo todos os tipos de embarcações de apoio marítimo, apresenta-va um panorama total de 474 embarcações, sendo 52% (248) de ban-deira estrangeira e 48% (226) de banban-deira brasileira, segundo estudo detalhado realizado pela ABEAM – Associação Brasileira de Empresas de Apoio Marítimo.

Neste diapasão, podemos afirmar que a navegação de apoio marí-timo é um dos alicerces da exploração e produção de petróleo no Brasil.

1 NORMATIZAÇÃO DO TRABALHO A BORDO – PROPORCIONALIDADE A BORDO E OBRIGAÇÃO DE