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II – VALORAÇÃO ADUANEIRA NO BRASIL

Em nosso País, toda mercadoria submetida a despacho de impor-tação está sujeita ao controle do correspondente valor aduaneiro, que consiste na verificação da conformidade do valor aduaneiro declarado pelo importador com as regras estabelecidas no Acordo de Valoração Aduaneira, conforme supra.

No Brasil, integram o valor aduaneiro, independentemente do mé-todo de valoração aduaneira utilizado:

– O custo de transporte das mercadorias importadas até o porto ou o aeroporto alfandegado de descarga ou o ponto de fron-teira alfandegado onde devam ser cumpridas as formalidades de entrada no território aduaneiro;

– Os gastos relativos a carga, descarga e manuseio, associados ao transporte das mercadorias importadas, até a chegada aos locais referidos no item a); e

– O custo do seguro das mercadorias durante essas operações.

Quando a declaração de importação se referir a mercadorias clas-sificadas em mais de um código da Nomenclatura Comum do Mercosul, o custo do transporte de cada mercadoria é obtido mediante a divisão do valor total do transporte proporcionalmente aos pesos líquidos das mercadorias, e o custo do seguro de cada mercadoria é obtido mediante a divisão do valor total do seguro, proporcionalmente aos valores das mercadorias carregadas no local de embarque.

As normas e os procedimentos para a declaração e o controle do valor aduaneiro estão estabelecidos na Instrução Normativa SRF nº 327, de 9 de maio de 2003, que define a forma e os elementos que devem ser apresentados pelo importador para comprovar o valor declarado, bem como os procedimentos a serem observados na seleção para o controle do valor e na execução da valoração aduaneira.

A mercadoria selecionada para controle do valor aduaneiro no curso do despacho de importação é obrigatoriamente objeto da verifi-cação documental e física, sendo o exame preliminar e conclusivo do valor realizado após essas verificações.

Controle esse que se fará, na letra da norma, qual seja, parágrafo único do art. 76 do RA. Dispõe o art. 76 do Regulamento Aduaneiro:

Art. 76. Toda mercadoria submetida a despacho de importação está su-jeita ao controle do correspondente valor aduaneiro.

Parágrafo único. O controle a que se refere o caput consiste na verifica-ção da conformidade do valor aduaneiro declarado pelo importador com as regras estabelecidas no Acordo de Valoração Aduaneira.

Em cumprimento ao disposto no Regulamento Aduaneiro (Decreto nº 6.759, art. 76, parágrafo único), a Secretaria da Receita Federal do Brasil, por meio da Instrução Normativa SRF nº 327, de 9 de maio de 2003, estabeleceu normas e procedimentos, com observância obrigató-ria, por parte da Autoridade Aduaneira, em relação à declaração e ao controle do valor aduaneiro de mercadoria importada (art. 1º).

E mais, ao exercer sua atividade vinculada, de controle do valor aduaneiro, não poderá a Autoridade Aduaneira eximir-se de proceder aos ajustes necessários e estabelecidos nos métodos subsequentes do Acordo, quando impossibilitada a aplicação do valor de transação pre-ceituado no art. 1º.

Para a hipótese aventada – subfaturamento na importação – é co-minada penalidade pecuniária consistente em multa de cem por cento sobre a diferença entre o preço declarado e o preço arbitrado. É o que dispõe o Regulamento Aduaneiro no art. 703:

Art. 703. Nas hipóteses em que o preço declarado for diferente do arbi-trado na forma do art. 86 ou do efetivamente praticado, aplica-se a multa de cem por cento sobre a diferença, sem prejuízo da exigência dos tribu-tos, da multa de ofício referida no art. 725 e dos acréscimos legais cabí-veis (Medida Provisória nº 2.158-35, de 2001, art. 88, parágrafo único).

§ 1º A multa de cem por cento referida no caput aplica-se inclusive na hipótese de ausência de apresentação da fatura comercial, sem prejuízo da aplicação de outras penalidades cabíveis (Lei nº 10.833, de 2003, art. 70, inciso II, alínea b, item 2, e § 6º).

§ 2º O disposto neste artigo não prejudica a aplicação da penalidade referida no inciso VI do art. 689, na hipótese de ser encontrada, em mo-mento posterior à aplicação da multa, a correspondente fatura comercial falsificada ou adulterada.

Neste sentido há jurisprudência assentada nos eg. Tribunais Regio-nais Federais no mesmo sentido:

EMENTA: APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA – ADMINIS-TRATIVO – IMPORTAÇÃO – VALORAÇÃO ADUANEIRA – ART. 148 DO CTN – IN 16/1998 – TRATADO INTERNACIONAL DO GATT – VA-LOR DA TRANSAÇÃO

1. O art. 148 do Código Tributário Nacional estabelece que, para o cál-culo dos tributos incidentes sobre a importação que tenham por base o preço da mercadoria, a autoridade aduaneira poderá arbitrar valor ou preço sempre que as declarações ou esclarecimentos prestados, ou ainda os documentos apresentados pelo sujeito passivo, forem omissos ou não mereçam fé.

2. Nesse mesmo sentido, dispõe a Instrução Normativa nº 16/1998, em seu art. 16: “O importador deverá comprovar o valor declarado mediante a prestação das necessárias informações e a apresentação da respectiva documentação justificativa”.

3. A valoração aduaneira é critério para o cálculo dos impostos inciden-tes sobre a importação (art. 20, II, CTN), devendo a autoridade aduaneira exercer o controle sobre o valor declarado pelo importador, desde que observadas as regras do Acordo de Valoração Aduaneira dispostas no Tratado Internacional do GATT (grifo nosso).

4. O Acordo de Valoração Aduaneira promulgado pelo Decreto nº 1.355/1994 estabeleceu, em seu art. VII, os métodos possíveis para de-terminar o valor aduaneiro das mercadorias importadas, sendo o método prioritário aquele que tem por base o valor da transação.

5. Os critérios de valoração aduaneira devem ser aplicados de forma sucessiva e, somente com base em parecer fundamentado, poderá a autoridade administrativa decidir pela impossibilidade de aplicação do método de valor da transação, ao que se extrai do art. 82 do Decreto nº 4.543/2002 (grifo nosso).

6. No caso dos autos, a autoridade impetrada não apresentou preços de produtos similares ou documentos que pudessem retirar a plausibilidade do método de valoração aduaneira utilizado pela impetrante, tampouco foram apresentados indícios suficientes de subfaturamento das merca-dorias.

7. Apelação a que se dá provimento.

(TRF 3ª R., AMS 213236, 6ª T., Des. Fed. Lazarano Neto, DE 24.07.2008) EMENTA: TRIBUTÁRIO – EMBARGOS INFRINGENTES – MERCADO-RIAS IMPORTADAS – REGRAS DE VALORAÇÃO ADUANEIRA – OR-DEM SUCESSIVA DE APLICAÇÃO

1. Os métodos de valoração têm por objetivo determinar o valor de mer-cado, no país exportador, da mercadoria importada, nas mesmas condi-ções de venda em que se deu aquela em exame, devendo ser aplicados de forma sucessiva.

2. O art. 82 do Decreto nº 4.543/2002 prevê que somente com base em parecer fundamentado poderá a autoridade administrativa decidir pela impossibilidade de aplicação do método do valor da transação (grifo nosso).

3. Desde que observada a ordem de apuração do valor aduaneiro e haja detalhado procedimento de verificação física e documental das merca-dorias, é lícito à União fixar a base de cálculo do imposto de importação, com base em pautas de valores mínimos (grifo nosso).

(TRF 4ª R., EIAC 1999.72.05.008005-4, 1ª S., Rel. Eloy Bernst Justo, DE 16.04.2008)

Entendemos que as práticas muitas vezes adotadas pelas alfânde-gas brasileiras, quando da aplicação da pena de perdimento de bens, sem a obrigatória observância dos preceitos estatuídos no Acordo de Valoração Aduaneira e do Regulamento Aduaneiro em casos de subfatu-ramento, afrontam os princípios da legalidade, do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, cabendo aos contribuintes prejudi-cados buscar junto ao Poder Judiciário a garantia ao pleno exercício de suas atividades comerciais.