• Nenhum resultado encontrado

Caminho percorrido para chegar ao exercício da docência

3. O ASSISTENTE SOCIAL DOCENTE E O PEDAGÓGICO NA

3.2 Política de educação superior

3.3.2 Caminho percorrido para chegar ao exercício da docência

Percebe-se nos depoimentos que a chegada à docência não se deu de forma espontânea, todas as respondentes tiveram experiências anteriores que envolviam o processo de ensino-aprendizagem, vislumbrando o exercício da docência. As entrevistadas 1, 2 e 4 relatam experiências como educadoras em outros espaços como vivências significativas que colaboraram para um futuro direcionamento do exercício da docência em Serviço Social.

“Eu tinha 16 para 17 anos, eu e uma colega na igreja onde a gente frequentava abrimos um curso de admissão ao ginásio... Era um vestibular que havia para você passar da quarta série para a quinta série. (...) Então

havia os cursinhos preparatórios onde o pessoal fazia o exame de admissão ao ginásio. E daí eu e essa colega nos reunimos, mas ela era mais velha do que eu, era professora a mais tempo e eu era estudante. Eu dava aula de português e estudos sociais e ela dava aula de matemática e ciências. Foi a primeira vez que eu fui professora e eu achei que deu certo, eu gostava da atividade. Depois no ano seguinte eu dei aula, aí já formada, no outro ano eu terminei o curso normal e fiquei um ano sem estudar, para depois eu fazer a faculdade, aí eu dei aula no curso de admissão contratada pela prefeitura legalmente. Então a minha primeira experiência como professora deu certo. Eu gostava da atividade, o resultado era bom, enfim”. Entrevistada 1

“e é lógico que como quase todos os Assistentes Sociais fui despertada pela questão social, via igreja, via se preocupar com o outro, via ter um olhar que extrapola sua própria vida enfim, foi com esse olhar. E também participei, morava em um bairro onde tinha padres da Teologia da Libertação então eles abriram a minha cabeça, então antes de entrar no Serviço Social eu já tinha feito uma experiência a convite de um dos padres para fazer um trabalho no bairro onde eu morava que era a alfabetização de adultos na proposta do Paulo Freire, então eu já tinha esse laço e gostei muito da experiência de ensinar as pessoas a ler e escrever e tinha alguma leitura do Paulo Freire quando eu entrei na PUC”. Entrevistada 2

“eu iniciei como docente no curso de Serviço Social da faculdade Mauá em 2002, desde 96 eu trabalhava com formação de formadores, a formação de formadores no campo dos conselhos então, eu fiz parte de um primeiro grupo aqui em São Paulo no município numa cooperativa de profissionais, uma equipe interdisciplinar que atuava na assessoria de conselhos tutelares(...) e eu fiz parte desse momento que foi em 95 desse grupo e desde então eu nunca mais sai do campo da formação, então educação e direitos humanos que era a educação que a gente foi construindo ao longo desses 20 anos é a educação que vem permeando a minha prática, então desde 95 eu atuo na docência mas não em Serviço Social, com outros sujeitos e com o Serviço Social desde 2002 e era um desejo, então, eu sempre gostei de colocar a questão do conhecimento a serviço dos grupos com os quais eu estava trabalhando”. Entrevistada 4

As depoentes 2 e 5 destacam a experiência da monitoria como um fator que as direcionou e despertou o interesse para o exercício da docência.

“Eu tive o privilégio de ser convidada por vários professores para ser monitora e eu escolhi a monitoria em metodologia cientifica com uma professora muito querida a Téia ... eu participava de uma equipe também grande que a gente se reunia, então eu fiz isso acho que no segundo e no terceiro ano e no terceiro ano, não lembro muito bem, eu fui ser monitora da equipe de teoria do Serviço Social fui monitora da Professora Raquel Raycheles, então eu já tava um pouco.. então o que acontece você prepara a aula junto com o professor monitor e é um grande caminho para você se preparar, você estuda de forma especial porque tem uma atenção para você se preparar para entrar em aula, depois você acompanha o professor dando aula do planejamento a execução discute a relação, ajudava a discutição dos grupos, você faz um trabalho conjunto e ai quando eu me formei eu fui

convidada pela professora Arcilina Ribeiro de Serviço Social de grupo, eu comecei aqui como professora de Serviço Social de grupo”. Entrevistada 2 “digamos assim se projetava profissionalmente nessas professoras então, isso eu acho que foi o primeiro gancho, o outro a continuidade disso no curso de pedagogia porque como o curso de serviço social ele era um curso... para mim muito jovem eu entrei no serviço social com 17/18 anos, então ainda faltava um pouco mais de amadurecimento pessoal e inclusive profissional e a pedagogia para mim acho veio selar isso porque o meu relacionamento com os professores da pedagogia já se deu num outro tom tanto que eu fui monitora no curso de pedagogia e não foi no curso de serviço social e aí também eu acho que a monitoria foi um dado importante para também a gente... tinha que fazer essa opção pela docência é eu era monitora de introdução a educação tinha três professoras super dez”. Entrevistada 5

A respondente 3 destaca que sua ida para a docência estava “condicionada” à questão de onde ela poderia exercer a militância de forma mais ampla, que tivesse um alcance de um público maior. Inicialmente, ela vislumbrou na docência a possibilidade de difundir suas ideias e defender outro projeto de sociedade, podendo atrair mais pessoas para compartilhar e defender tal projeto.

“e o que eu pensava – aqui eu estou restrita a um município, se eu for fazer um mestrado de repente eu posso atingir um numero maior de pessoas, por que eu via quando se desvela a situação de opressão ou de exploração às pessoas se mobilizam entendeu, foi por isso, eu vou fazer o mestrado não era pra dar aula, eu vou fazer o mestrado porque eu queria continuar estudando e eu fiquei sabendo que o governo pagava, eu descobri que com o mestrado eu dava aula depois de um ano fazendo mestrado, um ano e meio... Ai eu fui dar aula eu achava assim, quanto melhor eu me capacitasse mais meu discurso ia ser sedutor para... eu ia conseguir desvelar mais, portanto, eu ia trazer mais gente para causa, era uma coisa de militância mesmo e daí pensar que eu poderia fazer isso em sala de aula, nossa! Então eu vou estar falando com a assistente Social que vai fazer isso no município, se tiver cinco pessoas que comprem essa ideia vão estar em cinco municípios (...) acho que a minha trajetória foi uma trajetória de pensar onde dava para militar mais, então já venho com um perfil de que queria fazer do meu exercício profissional um exercício de defesa de um projeto de sociedade, não foi na formação que eu cheguei a esse, na formação eu me fortaleci para fazer essa defesa”. Entrevistada 3

O sujeito da pesquisa 6, além da experiência da monitoria, identificava em si própria habilidades para com o processo de aprendizagem que a faziam optar pelo exercício da docência.

“Eu fiz a monitoria, durante a graduação, eu fiz dois anos de monitoria, então era uma coisa que eu gostei muito. (...) Algumas disciplinas que as pessoas geralmente tinham muita dificuldade em entender na graduação, para mim não era uma coisa tão difícil assim. Então eu fui me aproximando mesmo do conteúdo dessas disciplinas e acho que é isso que me encanta em ser professora, o fato de que eu possa estar socializando conhecimentos que poderiam ser inexplicáveis, se as pessoas tivessem buscando sozinhas, mas que eu posso facilitar essa socialização do conhecimento”. Entrevistada 6

Assim, todas as entrevistadas indireta ou diretamente foram direcionadas para o exercício da docência, o que mostra que o início da prática pedagógica como docente não ocorreu sem intencionalidade, indicando um preparo e/ou disponibilidade para o exercício da docência e concomitantemente para a reflexão sobre sua prática pedagógica.

3.3.3 Inserção na docência

No que se refere à inserção na docência, percebe-se que as entrevistadas que se formaram nas décadas de 1970 e 1980 tem sua inserção na carreira docente muito próxima ao término da graduação sem terem feito ou iniciado a pós-graduação. Para a depoente 1, o início da docência está vinculado à participação em um projeto coletivo de um novo curso de Serviço Social que estava sendo construído na Faculdade de Lins, sendo que a depoente foi convidada a participar, devido a seus posicionamentos políticos que convergiam com o grupo em questão.

“Foi pela opção política... a faculdade na qual eu fiz o curso, de Lins era das Irmãs de Jesus Crucificado... veja a opção delas por escolas de serviço social elas só tinham escolas de serviço social... o curso de serviço social da PUC de Campinas era o curso delas por conta do movimento de renovação da Igreja Católica... de onde nasceu a Teologia da Libertação e que a prioridade era a opção pelos pobres, essas irmãs entraram nessa linha e fazendo a opção pelos pobres elas entenderam que a vocação delas não era mais a educação de nível superior e elas começaram a vender as faculdades de serviço social que elas tinham no estado de São Paulo inteiro, no caso da de Lins aconteceu o seguinte tinha um grupo de professores que não era da minha época... saí da faculdade em 73 como aluna e voltei em 78 como professora.... um colega meu de faculdade... eu fazia serviço social e ele fazia pedagogia, ele frequentava nossa casa porque ele também era ligado ao bispado, o Antônio Geraldo Aguiar, ele começou um movimento dentro da faculdade com mais uma professora que era a Teresinha D’Aquino é de tentar mudar o curso já com um olho na Reconceituação enfim ...isso já mais próximo.. também coincidindo com a abertura política no Brasil quer dizer tudo inserido nessa conjuntura 77/78/79 e ao mesmo tempo as irmãs com essa visão de opção pelos pobres querendo deixar, vender as faculdades... a única faculdade que elas não venderam foi a de Lins porque existia um grupo de professores que

queria fazer uma experiência diferente e esse grupo de professores eram dois professores, só que esses dois professores tinham ligação com a diocese, com o bispo tinham ligação com o Zé Oscar e com o Dom Pedro Paulo Koop que era o bispo, então começaram as negociações para ver as bases dessa transição não é (... ) então foi nessa conjuntura que esses dois professores com essa ligação com a diocese conseguiram que as irmãs começassem a passagem da administração financeira e pedagógica da faculdade para a congregação da faculdade, a congregação dos professores da faculdade e esse grupo contava comigo embora eu estivesse fora contavam comigo, tanto que eu comecei dar aula lá em 78, no primeiro semestre de 78 eu comecei dando aula de desenvolvimento de comunidade. (... ) Daí era a possibilidade de eu trabalhar com um grupo na mesma perspectiva teórica, metodológica e política que eu tinha”. Entrevistada 1

A respondente 2 demonstra que sua inserção na docência esteve vinculada a um processo que considera comum e saudável em seu período, que era a substituição de professores que estavam em período de se aposentar. Sendo assim, iniciavam a docência sob a supervisão desse professor para, após a sua aposentadoria, assumirem o seu posto. A entrevistada lamenta não ser possível vivenciar esse processo hoje.

Tal depoimento mostra que a possibilidade de acompanhar a inserção do novo docente na carreira acadêmica colabora para a construção qualificada de sua prática pedagógica, o que hoje não é possível, acirrando as dificuldades iniciais da prática pedagógica da docência.

“Me formei em 1975 e em 1976 comecei ser professora aqui na Faculdade de Serviço Social da PUC, junto com a PUC eu sempre tive... fui uma assistente social da área também.(...) E aí quando eu me formei eu fui convidada pela professora Arcilina Ribeiro de Serviço Social de grupo (...) ela pensava em se aposentar e era um pouco assim que funcionava, o curso estava se expandindo, novos professores estavam sendo contratados e ela pretendia deixar a docência e ela dizia: Eu quero te preparar para você ocupar o meu lugar, coisa que a gente pensa que é uma tristeza e a gente gostaria que acontecesse isso aqui na PUC, é poder preparar as novas gerações para ficar nos nossos lugares, mas isso não está sendo possível”. Entrevistada 2

A entrevistada 3 foi a única que não iniciou a docência no curso de Serviço Social, pois no momento de sua inserção estava começando o mestrado em Ciências Sociais, o que possibilitou que inicialmente ela pudesse dar aula em outras áreas. Sua fala evidencia que há similaridades e diferenças entre a universidade privada e pública no que concerne à autonomia e à liberdade de pensamento e expressão do professor.

“Em 1991, na universidade privada, como eu fiz o mestrado em Sociologia, eu comecei dando aula num curso de Serviço Social de Rio Preto e num curso de pedagogia em Votuporanga (...), lecionei de 1991 a 1994 nessa faculdade e por conta de problemas políticos eu fui mandada embora e nesse ínterim eu já tinha acabado o mestrado já estava iniciando o doutorado, aliás eu comecei o doutorado exatamente quando fui mandada embora.(...) Então, mas em 1994 quando eu fui mandada embora eu tomei a decisão que eu de fato iria lutar para entrar na universidade pública para poder ter a liberdade de pensar e de falar sobre aquilo que eu pensava, e foi por isso que eu vim para a universidade pública, hoje tenho certeza que aqui dentro a gente não pode falar o que quer porque a gente é punido inclusive do ponto de vista salarial do ponto de vista político, mas ainda aqui ninguém me demite por enquanto não chegamos nesse nível né”. Entrevistada 3

O sujeito da pesquisa 5 relata que sua inserção na docência também ocorreu muito próxima ao término da graduação e, a partir disso, demonstra como se deu sua trajetória de modo a consolidar sua vida acadêmica.

Eu comecei em 1990, eu fiz concurso para ser professora substituta da Universidade Federal do Pará, então eu fiquei dois anos como substituta, em 1992 eu fiz como efetiva e aí eu passei(...) Eu fiquei na Universidade do Pará de 1990 até 1996 que foi quando eu pedi para vir para PUC/SP para fazer o mestrado(...) aí eu começo aqui em SP a participar das reuniões da ABEPSS, eu acho que em 2000 por aí, não minto, acho que 2002 por aí ou 2005, em 2004 só sei que em 2005 eu defendi a tese aí eu começo a me aproximar da ABEPSS começo a fazer essa discussão mais da formação porque então eu também já tava numa faculdade particular daqui que foi primeiro a faculdade Mauá, depois para São Francisco depois a para própria PUC fiquei como substituta na PUC e essa coisa assim foi crescendo digamos assim, voltada para formação profissional e aí a gente começou a estudar mais, reestudar as diretrizes curriculares, ver essa relação com a formação, essa coisa do contexto que a gente tá vivendo hoje, do projeto ético-político que tá na contramão desse processo de reestruturação produtiva da crise do capital e aí vieram já outras contradições e digamos assim eu fui me afastando um pouco mais da questão da criança e mergulhando... aí participei da avaliação dos dez anos das diretrizes curriculares e assumi um eixo da avaliação das diretrizes da ABEPSS, então era muito trabalho na época, a Bia que era a vice presidente da ABEPSS depois ficou a Elisa, quando a Elisa assume essa vice presidência eu já fico na coordenação de graduação só que a gente também já vinha por conta dessa coisa que eu te falei de ter sido de uma universidade pública, já vinha muito aquele desejo de aqui em SP precisa de uma universidade pública”. Entrevistada 5

As falas revelam que as entrevistadas tiveram uma rápida inserção na docência após a graduação, o que demonstra um movimento diferente do vivenciado hoje, quando a inserção na docência está vinculada à conclusão ou minimamente à inserção no mestrado. Acredito que tal aspecto tenha se alterado devido às transformações ocorridas no mundo do trabalho e no

interior da própria profissão. Nas décadas de 1980 e 1990, não tínhamos a expansão dos cursos como se observa no período recente, nem tampouco um número suficiente de trabalhadores disponíveis para o exercício da docência no curso de Serviço Social, pois, cabe lembrar, de acordo com Netto (2009), que os primeiros cursos de pós-graduação em Serviço Social no Brasil datam da década de 1970. Hoje visualizamos uma expansão desenfreada dos cursos, um número exorbitante de profissionais de Serviço Social sendo formados semestralmente e um maior acesso aos programas de pós-graduação.