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Relação entre a prática profissional do assistente social e a

3. O ASSISTENTE SOCIAL DOCENTE E O PEDAGÓGICO NA

3.2 Política de educação superior

3.3.7 Relação entre a prática profissional do assistente social e a

Um primeiro aspecto da relação entre o exercício da prática profissional e o exercício da docência apontado pela entrevistada 1 foi a questão de ambas as práticas se constituírem em trabalho assalariado, que sofre os rebatimentos e imposições do mercado.

“ambos tem rebatimentos das necessidades e imposições do mercado de trabalho. Porém sabemos que na docência esses rebatimentos são mais do campo privado e da prática profissional são mais do campo público. Mas ambos esses rebatimentos são guiados pelo mercado”. Entrevistada 1

Tal aspecto deve-se à inserção dos assistentes sociais no mercado de trabalho como mão de obra assalariada que cotidianamente sofre os impactos das transformações desse mercado, tendo que pensar/ criar as mediações necessárias para possibilitar a efetivação de sua ação profissional ao mesmo tempo em que garante sua reprodução como “classe que vive do trabalho”, na expressão de Antunes (2009, p. 101-117).

A respondente 2 pontua que ambas as práticas são constitutivas da identidade de um profissional – assistente social e professor – e, somadas, vão compor a totalidade deste ser. O que as difere são as dimensões que ganham maior ou menor relevância no exercício de cada uma.

“se eu sou assistente social e sou professora, eu não sou dez pessoas, eu sou uma única pessoa que tenho dimensões em mim que são aguçadas, então a mesma postura que eu tenho quando eu atendo um individuo quando eu sou assistente social lá na pratica das organizações que me contratam para fazer um trabalho são as mesmas dimensões que eu tenho com meus alunos só que numa outra dimensão”. Entrevistada 2

Apesar de tais práticas aguçarem dimensões distintas do mesmo ser, para o seu exercício os sujeitos da pesquisa 2, 3, 4, 5, e 6 enfatizam o fato de uma alimentar o exercício da outra, colocando claramente que para a execução de uma se faz necessária a outra, mesmo que aquele profissional não esteja atuando em ambas as frentes. Fica evidente que o exercício da docência tem que ser construído com um olhar no exercício da prática profissional, uma vez que estamos formando novos profissionais. Aqui se justifica a necessidade de não dissociar os debates sobre formação e prática profissional nos diversos espaços da categoria profissional do Serviço Social.

“então a prática é uma prática refletida, comprometida, agora a relação ela é muito direta com a universidade, se ele é professor tem que estar antenado com o que está acontecendo na profissão para resolver as lacunas, um professor só consegue fazer isso se ele tiver um braço na pesquisa (...) a relação entre academia eu preferia colocar a questão assim, a relação entre academia e prática profissional é quem tem papéis diferenciados, academia tem que dar respostas e estar pensando nas demandas que a sociedade está posta (...) agora o serviço social tem que responder a essas demandas se responder a essa demanda amplia, melhora, se não responde fecha restringe. (...) Eu sempre tive um diálogo entre ser professora e ser uma assistente social que está na prática e isso me enriqueceu e me fez ser uma professora inquieta e muito preocupada como você ensinar e como você dar respostas para a prática ao mesmo tempo procurando um avanço teórico da profissão”. Entrevistada 2

“Eu vou falar a verdade, eu sou docente porque eu sou assistente social, eu me considero assistente social, porque eu sou formada em serviço social e por isso dou aula para o Serviço Social sobre o exercício profissional inclusive, então eu tenho que pensar como assistente social. Eu acho que a prática profissional é fundamental, eu acho que eu até já abordei um pouco esse assunto lá trás, eu diria assim eu não me distancio do exercício profissional para em sala de aula conseguir evidenciar os limites institucionais e poder dizer para o aluno olha o projeto institucional é uma coisa, o projeto profissional é outro”. Entrevistada 3

“até porque a gente tem que sistematizar a prática seja no campo socio- ocupacional ou seja na sala de aula nós temos que planejar nosso trabalho, nós temos que ir aos grupos de atendimento de forma muito organizada, nós temos que fazer leituras teóricas em cada campo de atuação, então se a gente olhar pra esse lado nós vamos verificar que há muitas semelhanças com a atuação do assistente social e a atuação do professor”. Entrevistada 4

“Eu acho que há sim uma relação, exatamente com coisas diferentes que se complementam a experiência de quem tá no exercício profissional ela enriquece extremamente quem tá na docência, e também eu acho que essa liga que traz as diretrizes curriculares no sentido de que a formação ela só tem sentido de ser formação se ela estiver voltada para o exercício profissional”. Entrevistada 5

“há uma total relação, assim, porque eu não sou professora de outro curso, eu não sou professora de sociologia, eu não sou professora de filosofia, eu sou professora do curso de Serviço Social, porque eu sou assistente social, não é porque eu sou outra coisa. Eu só estou aqui porque eu sou assistente social, não tem outro motivo no meu caso específico, se fosse para falar de outra profissão, se fosse para formar outro profissional, eu nem sei se eu estaria na sala de aula, eu só estou aqui, porque eu sou assistente social mesmo”. Entrevistada 6

A relação intrínseca entre exercício da prática profissional e exercício da docência coloca-os como dimensões distintas de uma mesma prática profissional, que é a prática profissional do assistente social, traçando diferenças e semelhanças entre as mesmas.

Uma das semelhanças atribuídas a ambas as práticas é a dimensão pedagógica que as constitui, conforme indicado pelas respondentes 4 e 5.

“há uma relação de exercício na docência e na prática profissional quando eu percebo a dimensão educativa do meu trabalho na assistência, na habitação, na educação com política, na dimensão da política, na modalidade da política do ensino fundamental, na creche. Agora a gente está lutando como que os assistentes sociais vão intervir nessa política pública da educação. Então a minha compreensão é que há uma relação de docente quando eu assistente social percebo na minha prática, uma prática que imprime um traço de transformação, quando imprime na minha prática um rigoroso planejamento junto com a população que eu vou atender. Quando eu sistematizo aquilo que eu faço, quando eu registro e quando eu produzo conhecimento com a minha prática. Então se eu consigo... evidentemente tanto a docência quanto os espaços sócios ocupacionais estão precarizados. Ah, mas eu não tenho tempo de escrever porque eu atendo vinte pessoas por dia, bom do mesmo modo, na docência também a gente tem desafios... são alunos que vem com demandas diversas, são dificuldades talvez em níveis diferentes, mas tão difíceis tanto em um espaço quanto no outro. Então há uma representação social que o docente é um trabalho que não dá trabalho”. Entrevistada 4 “são diretamente ligadas o exercício profissional o trabalho mais técnico voltado para a defesa dos direitos tal, a docência.. a gente viu que tem um documento que fala que a prática da docência ela é uma prática profissional também.. e não sei se é na regulamentação, na lei de regulamentação tem todo esse debate pelo menos por isso também as pessoas tem que pagar o CRESS, os docentes também tem que pagar o CRESS porque a docência ela é uma regulamentação também (...) então eu acho que a liga exatamente é essa, o perfil pedagógico porque essa habilidade em saber trabalhar com as relações sociais de saber trabalhar e a docência ela te exige muito isso mas eu acho que a liga fundamental eu acho que ambos desenvolvem esse perfil essa coisa pedagógica muito do conhecer, do fazer de tá muito presente na defesa dos direitos, de tá voltado pra essa intervenção social”. Entrevistada 5

Para tratar desse aspecto, cabe recorrer ao trabalho de Abreu (2001), que discute a dimensão educativa da prática profissional, identificando que o elemento educativo está presente na profissão desde sua gênese, porém o mesmo foi se alterando de acordo com a direção político-ideológica e teórico-metodólogica assumida pela profissão ao longo do processo histórico. Em seu trabalho, a autora evidencia três perfis pedagógicos no interior da profissão: a pedagogia da ajuda, a pedagogia da participação e a pedagogia emancipatória, sendo este último o que está associado à direção hegemônica da profissão.

Na perspectiva das entrevistadas 5 e 6, ambas as práticas também se relacionam através do projeto ético-político da profissão, que, em qualquer campo sócio-ocupacional do assistente social, deve servir de direção para a prática profissional.

“outro ponto comum também que eu vejo é a questão do projeto ético- político que ambos tanto a prática pedagógica quanto a prática profissional quanto a prática da docência e aí entendendo a prática da docência como um dos braços da prática profissional... é o nosso projeto ético-político da profissão... a docência é tem um perfil pedagógico e o perfil pedagógico está alinhado com essa prática profissional, com esse exercício profissional porque ele também é um exercício profissional e está alinhado na perspectiva do projeto ético-político do serviço social”. Entrevistada 5 “Quando a gente está na sala de aula, por exemplo, a gente tem que defender os valores do projeto ético-político, porque isso faz parte da minha formação, se eu estou formando novos profissionais, é necessário que seja também dentro desse projeto. Além disso, as coisas que estão no projeto ético-político mesmo, então a defesa da democracia, da autonomia do usuário, então vamos pensar, o aluno tem autonomia também, eu não preciso tutelá-lo, tem coisa que ele tem autonomia. Tem várias coisas, vários elementos, que vem da prática profissional e podem fazer parte também da prática docente, essa que é a riqueza de ter assistentes sociais dando aula”. Entrevistada 6

Tal aspecto reafirma a ideia de que o exercício da prática profissional do assistente social e o exercício da docência fazem parte de uma mesma identidade profissional, visto que os princípios que norteiam esse projeto direcionam tanto os elementos da formação quanto da prática profissional.

De acordo com as entrevistadas, é possível perceber na prática pedagógica do assistente social docente tanto elementos da formação quanto da prática profissional.

No que diz respeito à prática profissional, aparece a relação com a realidade social que lhe é própria e necessária, relação esta que deve ajudar na construção de mediações que deem respostas às demandas sociais. Tal elemento se faz fundamental na construção da prática pedagógica, para que o processo de ensino-aprendizagem não esteja desvinculado da realidade social. Esse aspecto foi enfatizado pelas entrevistadas 1, 2, 3 e 6.

“A luz da realidade que na docência nos falta, antes não aceitava a crítica de que o professor estava distante da realidade, hoje acho que essa crítica é procedente, pois o professor vai muito longe na sala de aula, faz muitas reflexões, mas precisa se manter antenado a realidade, acho que todo docente teria que ter uma experiência da prática profissional para depois ser docente”. Entrevistada 1

“agora eu acho que o grande desafio é como você vê as coisas na totalidade como você está atendendo um indivíduo como é que você não se perde... essa questão é muito complexa como se poder pensar algumas coisas, a nossa profissão tem um caráter eminentemente político, eu acho que esse eminente político ele está em constante análise o tempo inteiro, os fundamentos para poder entender a realidade para a gente encontrar caminhos e abrir possibilidades, porque tem possibilidades e limites

dependendo da correlação de forças presente as possibilidades se ampliam ou se restringem”. Entrevistada 2

“acho que um elemento fundamental foi, aí que eu te falei que não foi só da assistente social mas foi da minha própria trajetória, foi conhecer melhor a realidade do povo, conhecer não a partir da ciência mas a partir do próprio povo, conviver com o povo, por exemplo, eu sei que um trabalhador rural se você falar, falar, falar e ele só te responder aquilo que você perguntou provavelmente ele não concordou com nada que você falou. (...) outra coisa que eu aprendi no exercício profissional além de entender melhor a vida do povo, isso porque eu também sempre fui de uma classe social economicamente muito desfavorecida... eu sei o que é a discriminação por conta da origem de classe, foi depois no exercício profissional que eu fui me dando conta da discriminação advinda de outros mecanismos de opressão”. Entrevistada 3

“entender a realidade mesmo para depois conseguir intervir nela, isso é da prática profissional e isso está na prática docente também”. Entrevistada 6

O aspecto abordado pelas entrevistadas deixa clara a defesa da direção da profissão, que, apostando numa perspectiva crítica como alicerce para análise da realidade, justifica a necessidade de manter a articulação do singular com o universal no que diz respeito às determinações da questão social, de forma a colaborar para uma leitura da totalidade da vida social, mas sem perder de vista a dimensão particular.

A entrevistada 4 aponta que os elementos que trouxe da prática profissional estão relacionados ao compromisso ético, à defesa dos direitos sociais e à distinção entre os limites institucionais e os limites profissionais.

“A rigorosidade metódica do planejamento, o compromisso com a população atendida (...) então são elementos desse compromisso ético, dessa defesa intransigente dos direitos humanos, desse não deixar as pessoas sem resposta, é saber o que é possível que a instituição tem que oferecer e o que é possível que o profissional pode oferecer. Então eu sempre tive, sempre fiquei muito atenta quais são os limites da instituição e os meus limites e dentro deles trabalhar com máximas possibilidades que o campo me oferecia para atuar”. Entrevistada 4

Nesse sentido, a depoente 6 aponta a relação entre os elementos constitutivos da prática profissional com elementos da prática pedagógica, dando destaque para a autonomia dos usuários, a defesa dos direitos e os valores democráticos.

“mesmo que o assistente social seja só professor, tenha escolhido como eu ser só professor, não tenha uma prática profissional ativa, a gente sempre

está em contato com isso. E na própria formação a gente apreendeu coisas da prática profissional que pode sim fazer parte da prática docente. (...) Autonomia dos usuários que faz parte da prática profissional e é muito importante para o aluno e é uma ligação clara, direta. Essa defesa da prática profissional por direitos sociais, a defesa da ampliação do direito à educação, isso é uma coisa tem que vir para prática docente. Que os alunos entendam o que eles estão reivindicando aqui é um direito à educação. Educação de qualidade e não é porque eles pagam que eles têm direito a uma educação de qualidade. Eles têm direito a uma educação de qualidade porque eles vivem em um país democrático, que tem leis em que isso é assegurado (...). Assim, valores democráticos, o aprofundamento da democracia, a gente entender realmente o que é democracia e a participação que é uma questão necessária para o processo de aprendizagem mesmo. Então essa coisa de ouvir os alunos, tem alguém que fala: ouvir o que o usuário traz e devolver para ele de uma maneira organizada. Então isso tem a ver, também tem uma semelhança com a prática profissional. Agora o que eu acho que é central mesmo que é muito importante para mim é uma perspectiva crítica sobre o mundo que vem da prática profissional e que o Serviço Social tem que admitir que está... que hegemonicamente como profissão é uma das únicas profissões que ainda defendem uma perspectiva crítica do homem”. Entrevistada 6

Podemos perceber nesse depoimento que os elementos que a mesma destaca representam a defesa dos princípios do projeto ético-político da profissão que hoje é normatizado pelo Código de Ética, de 1993, pela Lei que regulamenta a profissão, de 1993, e pelas Diretrizes Curriculares, de 1996, o que evidencia que o elemento central que une tais práticas deve ser o projeto profissional coletivamente preconizado pelas organizações político-representativas dos assistentes sociais.

Tal eixo de ligação também aparece na fala da entrevistada 1, que o aponta como sendo um elemento trazido não só da prática profissional, mas também da formação.

“Na minha época para hoje a formação não era muito referência para a docência, acho que o único elemento que trouxe foi a ética. Da formação atual penso que é importante levar para a docência os elementos do projeto ético-político, projeto este que está em constante luta e disputa”. Entrevistada 1

Desta forma, temos hoje o projeto ético-político operando como o grande eixo articulador do exercício da prática profissional do assistente social e do exercício da prática pedagógica do docente, uma vez que ambas são dimensões constitutivas e indissociáveis da mesma área profissional.

Nesse sentido, todas as entrevistadas sentem-se assistentes sociais e docentes ao mesmo tempo, apesar de algumas reconhecerem que, de acordo com o momento profissional que vivenciam, uma ou outra dimensão passa ser enfatizada.

“As duas coisas, pois sou uma por causa da outra, não sou docente do curso de letras, história, geografia, dei aula no curso de Serviço Social”. Entrevistada 1

“Eu me enxergo como ambos, hoje predomina como eu não estou na prática profissional eu me enxergo mais como uma docente e como pesquisadora, esses dois lados eles estão mais aguçados, mas eles são inseparáveis é mais ou menos assim”. Entrevistada 2

“Eu vou falar a verdade eu sou docente porque eu sou assistente social”. Entrevistada 3

“Ai, sou os dois. Sou assistente social e docente. Assistente social porque é a formação que me oportunizou ser docente. Mas quando eu percebi que ser assistente social tinha algumas exigências para além do atendimento, eu percebi que a prática docente estava muito presente também no atendimento”. Entrevistada 4

“As duas coisas... porque a minha trajetória é um pouco disso de docente e assistente social, então eu acho que a minha prática profissional é que nutre a minha docência e vice versa”. Entrevistada 5

“Assistente social, sem dúvida. Eu acho mesmo que eu não seria professora de outra disciplina, eu não me vejo como professora de outra disciplina que não seja de Serviço Social, pensando em formar assistentes sociais. Porque eu sou assistente social, é a minha profissão, é a minha maneira de ver o mundo. Com esse projeto que eu me identifico, é dele que eu faço parte, não de outro”. Entrevistada 6

Isso denota que o assistente social tem que ter clareza sobre os direcionamentos dados tanto à prática profissional, como à formação. Cabe a esse profissional que está no exercício da docência promover uma prática pedagógica que articule a formação e a prática profissional de forma a não dicotomizar as questões pertinentes ao Serviço Social, o que só será possível através da defesa intransigente dos princípios do projeto ético-político e da permanente organização coletiva da categoria profissional, visto que tal projeto tem sofrido graves rebatimentos do projeto societário dominante.

Assim, ser assistente social docente possui uma particularidade que se concretiza exatamente na defesa do projeto ético-político, sob uma determinada direção teórica, política e ideológica para o Serviço Social, constituindo-se em um diferencial da profissão, que busca

constantemente articular a defesa de uma concepção crítica de educação a um outro projeto societário, articulado a um projeto hegemônico de profissão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização da pesquisa permitiu consolidar alguns aspectos já estudados no que se refere à prática pedagógica, assim como também agregar novos saberes e conhecimentos, confirmando o processo da pós-graduação como um momento de amadurecimento intelectual. Consegui com este trabalho reforçar alguns posicionamentos teóricos e rever outros que se faziam necessários, assim como aprofundar o debate sobre a prática pedagógica do