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3. O ASSISTENTE SOCIAL DOCENTE E O PEDAGÓGICO NA

3.2 Política de educação superior

3.3.4 Construção da prática pedagógica

As entrevistadas 2, 3, 4 e 6 destacam a importância de considerar a prática pedagógica como um permanente processo de construção, permeado por diversos elementos. Ser docente é entender que a construção da prática pedagógica exige um contínuo processo de reflexão, maturado no próprio cotidiano, uma vez que não existe uma “fórmula ideal” para o exercício da docência.

“e quando eu vejo a história acho que eu sou uma protagonista também desta historia. (...) eu acredito que é difícil você se formar professor a gente leva muitos anos acho que para ficar uma professora mais madura, porque houve uma vez um professor que me disse uma coisa que eu acho que é verdade: que quando a gente começa a dar aula, a gente ensina mais do que sabe, quer aparecer um pouco, depois chega numa época que você ensina tanto quanto você sabe e depois chega uma época, acho que é meu caso que agente ensina menos do que agente sabe porque o lastro é muito maior”. Entrevistada 2 “não é uma coisa que a gente já começa a docência sabendo, no começo eu sabia qual era o projeto que eu tinha que defender, mas qual a forma de defender esse projeto e dar em sala de aula, isso eu não sabia, vinte anos de profissão na docência eu posso dizer que eu acho que eu estou no ápice da maturidade profissional, não se ápice é quando não tem jeito de ir mais, se for eu não estou no ápice não porque eu quero ir muito mais ainda, mais estou num momento privilegiado.(...) aliás eu acho que o exercício da docência é o exercício dessa contínua busca dessa perspectiva teórico- metodológica, por isso que eu te falei, hoje eu acho que estou num momento muito bom, mas se for ápice eu não estou, eu ainda preciso estudar muito mais”. Entrevistada 3

“eu defino a minha prática como a prática docente em construção que bom se tivesse pronta e acabada eu já podia morrer, porque não tenho síndrome de Gabriela, não nasci assim, não foi sempre assim, que bom que eu estou

sempre mudando, mais eu defino que é uma prática comprometida, é uma prática investigativa, é uma prática que sistematiza, então eu me preocupo muito com as respostas que os discentes emitem seja pelas posições, seja nos trabalhos, então eu sou uma docente que fico em permanente revisão do componente curricular que eu ministro, porque eu penso que cada turma nos oferece aprendizados e desafios e que a gente tem que olhar atentamente para isso para não se tornar uma prática técnico reprodutivista de planos só muda ano, semestre e que a gente fica falando aquilo há dez anos e que a gente não vê mais sentido então. (...) é eu construo junto com meus pares, eu trabalho num lugar que me possibilita isso, o que é mais rico nessa construção é a socialização do conhecimento, a gente não trabalha isolado isso nos dá uma certa segurança docente porque você reflete o tempo todo com seus pares dificuldades tanto de ordem teórica quanto de ordem metodológica e nessas discussões que são, não são espontâneas elas são pensadas, planejadas mensalmente a gente pode redimensionar nossa prática, então cotidianamente nesse espaço docente a gente tem feito isso, então essa prática ela é construída tanto em sala de aula com os estudantes que avaliam com muita seriedade, com muita coragem avaliam e a gente vai revisando vai se ressignificando essa prática pedagógica”. Entrevistada 4

“eu avalio que ela está só começando. Então como tudo, ganha muito com a experiência, como qualquer outra atividade que a gente faça na vida, e assim então eu sei que eu ainda tenho muitas coisas para aprender, mas é como eu esperava, é tão bom como eu esperava que fosse. Eu gosto tanto disso quanto eu esperava que eu gostaria”. Entrevistada 6

O entendimento da prática pedagógica como um processo em permanente construção está em consonância com as diretrizes curriculares do curso, assim como os princípios do projeto ético-político da profissão, uma vez que demonstra clareza quanto a sua incompletude e admite que tal prática não se paute por modelos rígidos e apriorísticos a serem seguidos. Tal sentido dado à prática pedagógica é visualizado em Freire (2011), que aponta a prática educativa como inacabada e inconclusa.

A respondente 2 enfatiza a importância do educador e da processualidade de suas ações, recusando o reducionismo das “estratégias pedagógicas”.

“eu nunca tive teoria da docência sabe... mas eu tenho uma teoria assim como é que aprende, quais as possibilidades da educação, como é que você faz uma aula e como você educa os seus alunos porque nós somos educadores, embora seja uma atribuição profissional que está na lei que regulamenta a profissão , a gente não tem uma formação especifica para dizer assim: eu sou...eu vou me preparar para a docência. (...)agora eu acho que formar professores não é só você pensar estratégias pedagógicas que isso é um engodo eu acho que na nossa profissão e no geral e tem uma coisa muito séria que eu não tenho muito respeito que é assim que vira uma coisa tarefeira”. Entrevistada 2

Tal fala denota a preocupação com o processo de construção e elaboração da prática pedagógica de forma a qualificar o assistente social para exercer a docência no curso, uma vez que não temos uma formação específica para isso.

Esse aspecto deve ser pensado ao longo do processo de formação, por meio de ações que mobilizem a reflexão e construção da prática pedagógica, como se depreende da fala da entrevistada 1, que destaca um curso de metodologia do ensino superior que a ajudou nesse processo, reforçando também a ideia de que a técnica em si não resolve os problemas da prática pedagógica, pois esta deve estar associada a uma concepção de educação.

“Olha, a visão da Nobuko em 1979, ela promoveu para os professores do curso de serviço social, um curso de metodologia no ensino superior, de prática pedagógica no curso superior. (...) Então a gente teve esse preparo, mas eu acho que teve outro aspecto que teve também a visão do que era o processo de ensino-aprendizagem. Então era uma maneira de ver esse processo que tinha muito menos a ver com técnicas de ensino do que com a concepção de saber e de como que se aprende de respeito ao saber do outro”. Entrevistada 1

A prática pedagógica, numa perspectiva crítica, que recusa o tecnicismo, denota a forte influência de Paulo Freire no Serviço Social, no que se refere a pensar inicialmente a prática pedagógica e o processo de ensino-aprendizagem, visto que podemos encontrar em sua obra, principalmente em Pedagogia do oprimido, elementos que apontam para esses referenciais.

Uma vez que a prática pedagógica está em permanente construção, identificamos diversos elementos considerados importantes nesse processo.

A respondente 1 relata um processo de avaliação que ocorria com a presença de discentes e docentes e que se mostrava extremamente fértil para o repensar da prática pedagógica.

“Veja, eu acho que eu tenho vocação para docência. Eu me lembro lá em Lins a gente fazia uma prática que teve muita influência na formação pedagógica nossa, que era a prática de avaliação. A avaliação das nossas disciplinas era feita da seguinte maneira: o nosso trabalho na faculdade de serviço social de Lins tinha a renovação, a mudança da postura teórica, da postura metodológica e pedagógica, e a democratização da faculdade. Então, a participação dos alunos era muito forte. Todo final de semestre o que nós fazíamos, os alunos se reuniam e avaliavam cada disciplina e nós professores íamos todos juntos para aquela sala, todos os professores que davam aula para aquela sala e nós sentávamos, nos fazíamos um semicírculo em frente da lousa e os alunos faziam um semicírculo do outro lado. E os alunos iam falando para cada professor a avaliação da sua disciplina na frente de todos os outros professores e de todo os alunos. Era assim que era feita a

avaliação. Eu me lembro que eu era muito bem avaliada, e um colega meu, rapaz inteligentíssimo, e ele era mau avaliado pelos alunos, não era o problema da competência intelectual, mas da maneira de se relacionar, da maneira de ensinar”. Entrevistada 1

Já a entrevistada 2 pontua a sua preocupação com a organização do pensamento e em conseguir que se efetive um processo de ensino-aprendizagem no qual o aluno consiga apropriar os conhecimentos, enfatizando a importância da relação entre docente e discente nesse processo, que precisa estar pautada em princípios como: respeito, confiança e autonomia. Freire (2011) coloca esses aspectos como elementos centrais da prática pedagógica e de extrema importância para a construção de uma educação libertária e de uma formação que associe fazer e pensar.

“eu acho que os recursos a gente se prepara é assim como é que você dá uma aula e você organiza o pensamento, como é que você trabalha essa questão do conhecimento que precisa ser apreendido e como é que você cria uma relação de confiança para poder descobrir, não é. Eu falo para eles assim: olha, então vocês estudam tudo isso aqui.. nós, vocês, eu trabalhamos com gente que não sabe ler e escrever, o que vocês vão fazer desse conhecimento... ai você vai trabalhando, usa metáforas você pode ter uma adequação de linguagem, discutir os conceitos, as ideias mais complexas se você conseguir dar exemplos, colocar de uma forma clara então eu acho que essa paciência... ser educador você tem que ter essa paciência, você tem que dar o tempo do aluno. (...) Então tem professores que você se encanta, eu acho que um professor... você tem que cuidar... sabe antes eu não punha muita coisa na lousa, agora eu ponho porque o aluno acompanha, você tem que ter esquemas para ele poder te acompanhar enquanto você está falando...eu acho que você tem que dar aulas teóricas, não pode também aula de sínteses”. Entrevistada 2

A depoente 3 também destaca a sua preocupação com a efetivação e compreensão por parte dos discentes do processo de ensino-aprendizagem, demonstrando a necessidade de se pensar sobre a construção e execução da aula, de tal forma que esta atinja os seus objetivos, porém a preocupação com a parte técnica está subordinada à sua concepção de educação.

“quando eu vim para docência eu vim já com uma preocupação que eu conseguisse tecnicamente também começar uma aula com começo, ter desenvolvimento e finalização, não parar no meio sem o aluno entender. O que era a aula de hoje mesmo? Começou falar uns negócios interessantes, cadê o resto, o que isso tem a ver com essa disciplina essa discussão, então a leitura de educação referência para mim sempre foi o Paulo Freire, entenda bem, conheço a crítica que se faz ao Paulo Freire, reconheço inclusive nas

suas perspectivas um ecletismo teórico e uma fonte fenomenológica iluminando alguns de seus textos, porém eu entendo que o Paulo Freire viveu numa época de um marxismo muito dogmático e que o caminho que ele encontrou, não era um cara preocupado em discutir método, então o caminho encontrado por ele foi um caminho que eu acho que deve estar muito próximo do marxismo de hoje”. Entrevistada 3

O sujeito da pesquisa 2 aponta a importância da identificação com as disciplinas lecionadas como um elemento motivador e enriquecedor da prática pedagógica, uma vez que tal identificação pode potencializar o processo de busca, inovação e criação, necessário ao exercício da docência.

“eu acho que dependendo da disciplina que você trabalha você fica mais estimulada a buscar respostas e perguntas e fazer perguntas enquanto educadora e em outras menos, eu falei para você eu comecei na disciplina de serviço social de grupo e naquela época o Serviço Social de grupo e a Arcelina no Serviço Social de caso, ela trabalhava muito com a proposta de um autor que se chamava Lauro de Oliveira Lima, então era muito fazer uma prática do aluno, aprender a trabalhar em grupos, mas tem uma coisa que eu fui formando uma critica, eu não gosto muito dessa proposta de dinâmica de grupo que é você infantilizar pessoas sabe, você fazer joguinhos para tirar lições morais sabe, sem discussão você troca um valor moral por outro, sem a pessoa participar de uma forma reflexiva eu não gosto disso na profissão, mas como a gente viu que esta proposta era reduzida... nós aqui na PUC nós começamos uma experiência de juntar caso, grupo e comunidade e trabalhar a disciplina metodologia do serviço social, que hoje ela é um pouco aquilo que se fala de oficina do trabalho profissional, ela ficou ampliada... eu venho construindo um pensamento aqui na PUC e participando desse projeto onde o trabalho básico que eu faço e tem uma característica e eu acho que sou boa nisso modestamente falando que é o de fazer a relação teoria e prática... depois de um tempo fui para área de fundamentos do Serviço Social, fiz parte da FHTM aqui, e talvez de uns 10 anos para cá eu estou em Ética Profissional, eu faço uma dobradinha com a Professora Lucia Barroco, sou uma pesquisadora lá do Núcleo de Ética e Direitos Humanos”. Entrevistada 2

As falas demonstram que a prática pedagógica é construída por uma complexidade de elementos que, associados, potencializam sua efetivação.

Nesse conjunto de elementos, as entrevistadas 2, 3 e 5 destacam a importância de que a prática pedagógica traduza a defesa do projeto profissional do Serviço Social. Percebe-se que a defesa de tal projeto vai ao encontro da concepção crítica de educação defendida pelas depoentes, o que denota complementaridade entre esses projetos.

“Então eu acho que a especificidade é a gente agir de acordo em sala de aula com o projeto que a gente defende, com aquilo que está nas matrizes curriculares que você tenta fazer com a articulação entre a teoria e prática na sala de aula, para que todo mundo possa exercitar”. Entrevistada 2

“Tem uma coisa que é absolutamente ontológica, quando você vai para sala de aula você vai fazer a discussão da realidade a partir de um olhar que você tem para a realidade, subsidiado por autores que te dão uma determinada leitura dessa realidade, o docente no exercício profissional da docência está ali difundindo um projeto de sociedade, um projeto de profissão até quando ele não menciona isso ele está evidentemente negando ou reafirmando um ou outro, então eu vejo o exercício profissional como um espaço privilegiado para você discutir a relação do homem com o mundo, que, dependendo do seu referencial teórico vai te dar uma perspectiva no sentido de reproduzir as relações existentes ou no sentido de questiona-las com diferentes níveis de radicalidade”. Entrevistada 3

“Será que nos nossos currículos, as nossas matrizes curriculares, os nossos projetos curriculares também estão em sintonia com o que é o projeto ético- político do serviço social, com o que realmente demanda os usuários enfim”. Entrevistada 5

Pensando que a prática pedagógica está em contínua construção e denota a defesa de um projeto societário associada a um projeto de profissão, faz-se pertinente uma formação permanente deste docente, mantendo sua coesão teórica, política e ética. Tal formação pode ocorrer através de permanentes estudos no campo teórico, participações em congressos e eventos ou no exercício da militância nas entidades organizativas da categoria profissional, como demonstrado no discurso dos sujeitos 2 e 4.

“professor tem que estudar sempre, há quantos anos que eu dou a mesma matéria, mas todo ano eu preparo aquele assunto porque eu pego as anotações que eu tenho do ano anterior, mas você sempre tem uma coisa nova que você aprende, é a pergunta de um aluno que ele te faz que eu nunca tinha pensado e que começa a fazer parte de seu acervo, então acho que você tem que se preparar porque todas essas vivências que você teve (...)se você não estuda você é pobre, e professor pobre ,ele dá aula pobre, vale isso para profissão e vale para nós entendeu...eu só consigo escrever quando eu estou saturada... então eu acho que é assim que tem que ser as aulas... e ser professor é saber que tem papeis diferenciados, tem que ter um contrato de trabalho claro, por isso eu cuido muito desse contrato de trabalho, que horas que a gente vai começar e terminar quais as exigências que eu vou fazer para eles poderem me controlar, eu dou um programa eu falo nós vamos estudar isso, isso e isso”. Entrevistada 2

“também eu construo minha prática pedagógica, eu na minha vida privada (...) esse semestre eu já fui a três congressos sem exagero, mas três diferentes congressos, fora a nossa formação, a nossa atuação seja na ABEPSS seja nas atividades do CRESS SP, elas nos fortalecem, elas nos acrescentam e elas reforçam”. Entrevistada 4

Outro aspecto que pode ser considerado fundamental na construção da prática pedagógica é a influência que outros docentes tiveram ao longo da trajetória dos sujeitos dessa pesquisa. Percebemos que todas as entrevistadas relataram uma influência, negativa ou positiva, de professores presentes em seu percurso escolar. As respondentes 1, 2, 5 e 6 enfatizaram essa influência no período da graduação em Serviço Social, apontando de que forma essa influência contribuiu para a prática pedagógica delas enquanto docentes.

“Claro, mas não aqueles que foram os meus professores na faculdade, nenhum daqueles foi referência para mim, com exceção de um padre que foi professor de ética. (...) Agora a minha referência fundamental no Serviço Social foi a Nobuko. (...) Então ela era a nossa referência de todos nós na faculdade. E também depois ela se tornou referência nacional. Então ela foi a minha grande referência no Serviço Social”. Entrevistada 1

“Elas influenciaram como a gente influencia, a gente no cotidiano aprende por imitação e por modelo, nenhum ser humano foge disso, ninguém e a gente tem modelos positivos e negativos quando eu era estudante eu falava assim eu nunca quero ser como essa professora ou como essa profissional eu me encantava e quando eu crescer quero ser igual a ela”. Entrevistada 2 “Então, assim, quando eu fazia já a graduação a gente já tinha alguns professores digamos assim de referência acho que isso é muito importante, em qualquer carreira em qualquer área ter alguém que não que seja um ídolo, mas alguém com quem a gente tenha uma identidade com quem... alguém que a gente se aproxime e que influencie isso positivamente na formação da gente e a gente tinha na realidade duas professoras: uma era Joaquina Barata que foi do CFESS da última gestão e a professora Maria Elvira que era muito ligada aos movimentos populares.(...) eu acho também que a gente constrói as nossas referências, que não dá pra chamar de ídolos mas eu acho que é uma referência profissional, eu pelo menos eu gosto disso, por exemplo para mim o Zé Paulo, a Marilda, a própria Joaquina Barata, outras pessoas do cotidiano.... a Carmelita, eu acho super legal a gente poder tentar buscar o que tem de melhor no outro para a gente, eu acho que é uma referência acadêmica positiva, então para mim me anima, me dá alma, me alimenta eu saber que tem alguém com perfil digamos assim de uma prática pedagógica, de uma prática política, de uma prática acadêmica que eu possa me mirar que eu possa me espelhar e me dar elementos para eu poder construir, então quero com certeza tá perto dessa pessoa. Minha formação sempre foi assim, sempre alguém como minha referência no cotidiano, como também eu acho que a gente também de uma forma ou de outra é referência para outras pessoas”. Entrevistada 5

“Eu acho que a referência que a gente tem com os nossos professores é um dos principais elementos para construir a minha prática pedagógica, você aprende como se faz isso, eu me miro nas pessoas que fizeram isso antes de