• Nenhum resultado encontrado

Competências e habilidades para o exercício da docência

3. O ASSISTENTE SOCIAL DOCENTE E O PEDAGÓGICO NA

3.2 Política de educação superior

3.3.5 Competências e habilidades para o exercício da docência

Inicialmente, quando questionadas sobre esse aspecto da docência, as entrevistadas levantaram um ponto de reflexão interessante ao demarcarem que, apesar de todo assistente social poder ser docente, isso dependerá, de acordo com as depoentes 1, 2, 3, 5 e 6, de certa aptidão, da construção de certas competências e habilidades e de um acúmulo de conhecimento, além de uma identificação pessoal com o exercício da docência. A entrevistada 4 pontuou o aspecto pedagógico inerente à formação do assistente social, que também deve ser levado em consideração nesse processo.

“Não é por ser assistente social, qualquer profissional de qualquer área, nem todo profissional pode ser professor. Professor tem que ter vocação específica. É uma aptidão. Então não é por que você tem aptidão para ser assistente social, que você automaticamente tem aptidão para ser professor”. Entrevistada 1

“Olha, potencialmente pode, mas não pode porque precisa ter algumas características... eu não sei muito te dizer... Para ser professor acho que tem que ter um pensamento articulado, tem que ter paixão, certa organização (...) eu acho que a gente precisa gostar um pouco da profissão”. Entrevistada 2 “qualquer profissional que se capacita pode... mas eu acho que tem que...eu acho que tem profissionais que estão só no exercício profissional que as vezes tem uma qualificação maior do que doutores, então não é título que eu to falando, eu to falando de um acúmulo de conhecimento necessário a esse exercício docente, como tem que ter, por exemplo se você vai trabalhar na

área da saúde, você tem que conhecer a legislação da área da saúde, tem que conhecer o debate da área da saúde, a mesma coisa na docência”. Entrevistada 3

“eu sei que a formação ela é generalista, mas não acho que todo assistente social tem que ter todas as práticas”. Entrevistada 5

“depende da afinidade que ele tem com esse assunto. Mas tem uma diferença disso para a docência, porque é outra dinâmica de trabalho. É outro processo de trabalho diferente, que é o do assistente social, mas em principio qualquer pessoa pode se habilitar para ser docente”. Entrevistada 6

“Eu vejo que se a gente entender que o professor, que todo profissional que atua com seres humanos numa dimensão educativa, aí está a excelência de ser professor, eu não vejo professor como aquele que está em sala de aula somente quando eu estou num grupo com as famílias, quando eu estou com uma criança num grupo de crianças e eu estou desenvolvendo uma reflexão crítica eu estou sendo professora, então eu vejo que a nossa profissão ela tem uma excelência na educação e se ela tem uma excelência na educação essa ideia de construir com as pessoas, de indicar possibilidades e ela escolher o caminho que ela vai trilhar na sua vida. (...) então tem isso não é só eu querer ser é saber se eu estou desenvolvendo essa prática”. Entrevistada 4

Tal questão merece ser destacada nessa reflexão, pois leva-nos a pensar que para o exercício da docência exige-se um determinado perfil de profissional, que perpassa pelo perfil do assistente social, mas demanda outras habilidades e competências, que, por não constituírem conteúdos da formação profissional em Serviço Social, necessitam ter espaços onde as mesmas possam ser discutidas e elaboradas, seja nos programas de pós-graduação seja em espaços de discussão, como vem se constituindo historicamente a ABEPSS.

No que se refere a essas habilidades e competências específicas da docência, a entrevistada 1 destaca a importância do saber ouvir, respeitar o aluno, do gosto pelo processo de aprendizagem e pelo processo de amadurecimento dos discentes, elementos que, para ela, constituem o que chama de aptidão para a docência, aspecto este reforçado pela respondente 2 quando aponta a necessidade de uma maturidade intelectual para que consiga estimular e incentivar esse processo nos estudantes sob os princípios da autonomia e da liberdade.

“E eu acho que tem a ver mesmo com isso. Talvez um jeito de falar, um jeito de pensar, talvez essa formação muito precoce, de saber ouvir, de partir da onde o aluno está, de considerar o saber do aluno, talvez isso tenha me ajudado bastante também além de toda formação. (...) Tudo você tem que ter habilidades especificas, você tem que gostar de ensinar. Você tem de gostar de repetir todo ano coisas. Uma das artes de ser professor é conseguir não repetir sempre. Mas tem algumas coisas das quais você não foge. Então você tem que gostar disso. Não é gostar de repetir, é gostar de ver o processo de ensino-aprendizagem acontecendo. É ter paixão por ver uma pessoa que não

sabia ou sabia menos, na verdade não era que sabia menos era que não tinha tido o contato com esse conteúdo, com essa realidade. E gostar de ver o desabrochar das pessoas. E eu gosto até hoje (...)O que é aptidão? É a habilidade para, é essa habilidade que ela tem o aspecto adquirido, mas tem o aspecto também de qualidades pessoais que cada um tem para uma coisa, eu por exemplo não tenho para desenho de jeito nenhum”. Entrevistada 1 “você precisa ter maturidade intelectual para você não se esconder atrás de determinados conceitos ou jargões, você tem que ter o domínio por dentro do conceito para depois fazer um trabalho com ele, para que ele vá para além do que repetir palavras que ele entenda... se sinta mexido porque ninguém muda a cabeça de ninguém sem mexer e desestruturar o que está posto. (...) o aluno que ele tem a competência teórico-metodológica para poder fazer análises, estudar processos, não se contentar com aquilo que tem na aparência sabe...saber ir para além da aparência, você tem que desenvolver essa capacidade ético política”. Entrevistada 2

Além disso, as respondentes 2 e 5 relacionam a essas competências específicas para o exercício da docência uma capacidade de “seduzir” o estudante, no sentido de envolvê-lo nesse processo, assim como a necessidade de saber acompanhar o tempo desse estudante, o que a entrevistada 5 chama de “paciência pedagógica”, associada a uma perspectiva crítica de educação que contribui para a transformação do ser humano.

“acho que um professor ele tem que ser um pouco entusiasta, ele tem que ter um pouco de sedução, isso eu aprendi com um professor da época da Escola de Comunicação e Arte lá da USP, professor Ademir Perroti, ele dizia assim: diante do desafio de ensinar... diante da educação você tem dois jeitos de ser educador, ou você usa a dominação do seu poder ou você é um sedutor, você chama alguém para um mundo assim do prazer, uma coisa que é difícil”. Entrevistada 2

“Essa identidade... como é essa identidade de ser docente. Eu acho que tem que ter primeiro uma paciência pedagógica imensa que já falou Paulo Freire, então você tem que ter essa convicção de que você quer formar para transformar e nem todo mundo tem essa convicção essa paciência por que, por exemplo, eu não acho que eu tenho um dom digamos assim de ser docente, eu não acho que eu nasci com esse dom, mas eu acho que tem gente que tem, o Zé Paulo nossa ele é um educador de primeira, o Paulo Freire um orador super maravilhoso tudo aquilo que ele fala ele convence, mas eu acho que a gente pode desenvolver isso a partir desse compromisso, então eu me vejo nesse segundo momento desenvolvendo algumas habilidades para ser um educador ou para ter uma prática docente comprometida, porque você tem que ter essa identidade nessa perspectiva de querer formar alguém para poder investir na profissão, na formação e não é todo mundo que tem essa paciência pedagógica, que tem esse compromisso, que tem entre aspas essa vocação para poder trabalhar, para poder desenvolver porque é muito trabalho, é muito pesado a gente que tá na lida do dia a dia desse cotidiano pedagógico a gente sabe como é que é estressante porque às vezes tem pouco resultado daquilo que a gente faz, mas a gente tem muito investimento, então eu acho que é entender que tudo é muito processual, a formação ela é muito

processual e às vezes a gente vai conseguir perceber digamos assim o produto do nosso trabalho um ano depois que a gente saiu”. Entrevistada 5

Assim, vai se evidenciando que as competências e habilidades necessárias à docência de fato estão articuladas às competências e habilidades necessárias ao profissional de Serviço Social, ocorrendo nesse processo a adaptação e/ou adequação dessas para o exercício da docência, uma vez que as habilidades destacadas pelas entrevistadas são necessárias ao exercício de uma prática profissional vinculada ao atual projeto ético-político da profissão.

Tal constatação convalida uma das hipóteses de nosso trabalho que, mesmo se tratando de práticas distintas, a docência em Serviço Social requer conhecimentos, habilidades e atitudes que são específicas do perfil e da prática profissional do assistente social.

A associação com o projeto ético-político evidencia-se também como uma dessas condições imprescindíveis ao exercício da docência, conforme relatado pelos sujeitos 3, 5 e 6.

“eu acho que para o exercício da docência deveria ter uma capacitação teórico-metodológica que permitisse ao docente em sala de aula trazer preceitos já fundamentais construídos e discutidos na profissão, amadurecidos na profissão que são fundamentais para a formação, de maneira que o aluno pudesse relacionar o referencial teórico com o exercícios da prática profissional, essa é a responsabilidade do docente em Serviço Social”. Entrevistada 3

“eu acho que essa prática docente ela expressa um projeto ético-político da profissão que tem a ver com a formação, que tem que expressar também um projeto de sociedade que nós queremos, que educação nós queremos, mas que essa prática docente ela na sua totalidade ela exige um conjunto articulado de questões como por exemplo o compromisso com a profissão, o projeto ético político que tá colocado um projeto de sociedade, a questão didática que didática é essa, as metodologias de ensino, o aluno como sujeito do seu próprio aprendizado (...) do planejamento pedagógico também eu acho que é fundamental enfim... então eu acho que tem realmente um conjunto da totalidade que faz com que a gente... a motivação em conhecer esse aluno. Quem é esse aluno? De onde vem esse aluno? A história e a trajetória desse aluno eu acho que também é importante, eu acho que é a questão do conteúdo também ela é importante nessa perspectiva aí do conhecimento”. Entrevistada 5

“entender o processo de formação do assistente social, as necessidades desse processo de formação. É ter um domínio mesmo de como apreender o conhecimento, ter um domínio sobre as disciplinas do Serviço Social, isto tudo é absolutamente necessário”. Entrevistada 6

Tais falas denotam a importância que tem para o exercício da docência a clareza por parte do docente sobre a direção teórica, política e ética do projeto profissional de Serviço Social. Tal clareza deve se materializar na prática pedagógica, cotidianamente, na defesa desse projeto profissional que hoje, está na contracorrente do projeto societário hegemônico na sociedade capitalista.

Por isso, a entrevistada 5 aponta a necessidade de articular a defesa desse projeto e dessa prática pedagógica a outro projeto societário na busca pela construção de uma hegemonia que esteja pautada e alicerçada numa concepção de educação crítica e transformadora.

“eu acho que o docente tá inserido numa prática maior de todos os docentes, que tem a ver com os projetos de profissão e tem a ver com a sociedade (...) esse compromisso de formar com a qualidade, com a transformação, de querer realmente alterar, de construir uma profissão, da defesa de uma profissão, da defesa de uma sociedade, então eu acho que isso deveria ser digamos assim comum na concepção de educação (...) eu acho que todas as profissões deveriam pactuar com esse projeto mais amplo de formação”. Entrevistada 5

Frente a essa contradição é que se coloca a necessidade de pensar estratégias que possibilitem a manutenção da direção ético-política deste projeto profissional em resistência ao projeto societário contrário aos seus princípios e diretrizes.

Assim, teremos constituídas as dificuldades da prática pedagógica que, ao mesmo tempo em que nos colocam limites, nos impulsionam a pensar as possibilidades.