• Nenhum resultado encontrado

Campo semântico das representações sociais sobre a formação

5. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA NO

6.3. Identificação do campo semântico das representações sociais sobre a

6.4.2. Campo semântico das representações sociais sobre a formação

Para a expressão-estímulo formação do professor de Matemática, foram associadas 1.410 palavras, das quais 14123 diferentes; as mais evocadas tiveram freqüência igual ou superior a 10.

23

Quadro 15 – Palavras associadas pelos alunos dos últimos períodos à expressão “formação do professor de Matemática” com freqüência igual ou superior a 10 (n=51)

Palavras Associadas

F Palavras Associadas F Palavras Associadas F

Dedicação 74 Cálculo 23 Pesquisa 13

Responsabilidade 48 Didática 22 Matemática 13 Perseverança 46 Disciplina 22 Problematização 13

Conhecimento 43 Capacitação 19 Números 13

Educação 42 Trabalho 19 Aluno 12

Compromisso 38 Segurança 19 Experiência 12

Ensino 38 Conteúdos matemáticos 18 Ética 11

Lógica 36 Saber 18 Prática 11

Aprendizagem 35 Desafio 18 Teoria 11

Compreensão 33 Dificuldade 16 Desempenho 10

Raciocínio 30 Respeito 16 Interação 10

Paciência 31 Profissão 15 Desenvolvimento 10

Amor 26 Identidade 15 Metodologia 10

Empenho 25 Conteúdo 15 Atualização 10

Motivação 24 Planejamento 14 Competência 10

Estudo 24 Dinâmica 13 Inteligência 10

Capacidade 24 Coragem 13 Vocação 10

Categorias: cognitiva, pedagógica, socioafetiva, profissional.

As representações dos alunos dos últimos períodos apresentam também o percentual mais elevado (34%) na dimensão socioafetiva, contudo evidencia-se certo equilíbrio entre as demais dimensões: 29% de termos que fazem parte da dimensão pedagógica e 25%, da dimensão cognitiva. Já a categoria da dimensão profissional, como vem ocorrendo nos outros campos, aparece com o percentual mais baixo: 12% de palavras. Quanto à distribuição do número de palavras por categoria, apresenta-se de forma eqüitativa: 17 na dimensão pedagógica, 12 na categoria cognitiva e 11 nas socioafetiva e profissional. Observa-se que, mesmo tendo a maior diversidade de palavras, a categoria pedagógica não representa o maior percentual de freqüência no campo, dado que nos dá indício de que essa dimensão é muito evocada pelos alunos concluintes.

Vejamos o que cada categoria nos revela sobre as representações dos alunos. A categoria pedagógica mostra diversidade de palavras em relação ao campo dos alunos dos primeiros períodos. As palavras que a ilustram são por ordem da contribuição no campo: saber, planejamento, dinâmica, pesquisa, problematização,

campo dos alunos dos primeiros períodos. Observa-se aqui significativa diferença entre as representações dos alunos do primeiro período e as do último. Em primeiro lugar, as dos alunos do último período deixam de ser hegemônicas e passam a ser emancipadas, que, segundo Moscovici (1988), se constroem mediante a circulação de conhecimentos e idéias pertencentes a subgrupos com contatos variáveis, ou seja, cada subgrupo vai criar a própria versão. Em segundo lugar, as palavras que compõem essa categoria vislumbram o que Tardif (2002) pontua como sendo os saberes curriculares. Para o referido autor, tais saberes correspondem aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos a partir dos quais a instituição educacional categoriza e apresenta como modelos de cultura erudita e de formação profissional. Apresentam-se, concretamente, sob a forma de programas escolares (objetivos, conteúdos, métodos) que os professores devem aprender a aplicar.

Na categoria cognitiva dos alunos dos últimos períodos, vislumbramos os termos: conteúdos matemáticos, dificuldade, conteúdo, matemática e números, além dos demais associados pelo grupo de alunos dos primeiros períodos. Uma característica da categoria em tela é que ela não mostra a diversidade da categoria pedagógica; ao contrário é mais concentrada e aqui aparece com significativa freqüência dos termos conteúdos matemáticos e conteúdos, os quais, juntos, formam 33 associações e não aparecem no campo dos alunos dos primeiros períodos. Nota-se que tais representações também são consideradas emancipadas, o que reforça a perspectiva de que conteúdos matemáticos constituem representação específica dessa formação. Esses elementos ilustram bem os saberes disciplinares discutidos por Tardif (2002), os quais, segundo ele, correspondem aos diversos campos do conhecimento hoje integrados nas universidades e nas instituições formadoras sob a forma de disciplinas (por exemplo, Matemática, História, Literatura etc.).

A categoria profissional, assim como nos demais campos, não apresenta percentual significativo, mas contribui na organização deste campo. Vejam-se as palavras que a formam: identidade, respeito, experiência, desempenho,

desenvolvimento e atualização, além das demais presentes na representação dos

alunos do primeiro período. Aqui, também se observa a evolução das representações hegemônicas para as emancipadas. Convém destacar agora a preocupação com a continuidade da formação e com o reconhecimento da profissão. A propósito, Pimenta (2000, p. 19) pontua que “uma identidade

profissional se constrói, a partir da significação social da profissão”. Nesse sentido, os dados mostram que tal construção se inicia no processo de formação.

Para concluir a análise, observamos diferenças significativas entre as representações dos alunos dos primeiros e as dos últimos período do curso de formação de professores. Quando chegam ao curso de formação inicial, já trazem alguns conhecimentos, saberes, valores e suas representações sobre o que é ser professor oriundos da vivência como alunos. Vivida tal experiência, eles avaliam os professores: os bons em conteúdo, mas não em didática; os bons nas duas ou apenas em uma delas; os que contribuíram para sua formação humanística. Também sabem sobre as representações e os estereótipos que a sociedade tem formulado a respeito dos professores, através dos meios de comunicação. O desafio, então, para os cursos de formação inicial é o de possibilitar o processo de mudança desses conhecimentos e representações, ou seja, o aluno passar a ver- se como professor, construir a sua identidade de professor (PIMENTA, 2000).

Na primeira aproximação com as representações sociais dos dois grupos de alunos investigados, constatamos uma mudança: enquanto os dos primeiros períodos expressaram uma representação mais hegemônica, construída de suas vivências e experiências como alunos da Educação Básica, os dos últimos períodos (têm mais tempo no processo de formação) demonstraram representações emancipadas.

Segundo Tardif, (2002), os professores ensinam muito mais do que pensam estar ensinando. No caso da formação docente, para além de seus conteúdos, eles formam nos alunos posturas e maneiras de enfrentar as questões cotidianas da docência. O aluno aprende muito mais pelo que vivencia do que por postulados teóricos. Assim, acreditamos que as representações dos alunos sofrem influência das dos professores.

Para compreender tal relação, onde as representações se aproximam e divergem, como se organizam e repercutem na prática dos cursos de formação de professores de Matemática, passaremos a analisar os campos semânticos das representações dos docentes dos cursos em análise.

6.5 Campo semântico das representações sociais dos professores sobre a