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Dentre os municípios de Recife, Carpina, Itapissuma e Orobó, cujos materiais tivemos acesso, optamos por realizar entrevistas individuais com cerca de dez professoras da rede de ensino de Recife. A escolha por esse campo deveu-se justamente ao fato de ser Recife a

capital do Estado, e ter feito a aquisição de AEs na EI, quando não possuía em termos gerais, carências de ordem técnica-administrativa para gerenciar a educação do município.

Escolhido o campo de pesquisa, procedemos à entrega de ofício, juntamente com cópia do projeto no Centro Paulo Freire. Logo após nos encaminhamos à Gerência de Educação Infantil do Recife, para pedir a indicação de professoras que tivessem uma prática pedagógica exitosa.

Considerando a presença impositiva dos AEs nas salas de aula, concordamos com Dubet ao argumentar “que os atores mudam muito mais porque mudam as regras do jogo e as condições para atuar, do que porque mudam suas ideias” (DUBET p. 23, apud CAMPOS, 2009). Foi pensando nisso, que intencionamos também investigar o que pensavam as professoras sobre a presença desses materiais didáticos na Educação Infantil e como avaliavam suas atividades; a fim de conduzir a compreensão do problema também a partir do ponto de vista dos atores.

Situar-se em pensamento, a partir do lugar social que ocupa o entrevistado é fazer um esforço que caminha para a compreensão genérica e genética do que ele é, considerando também as condições sociais das quais ele é produto, que perpassa por dois condicionamentos: os exercidos sobre a sua categoria (professor) e, os psíquico-sociais associados à posição que ocupa e sua trajetória (BOURDIEU, 2003 p. 670).

Como instrumento, utilizamos a entrevista semi-estruturada (Apêndice IV) por acreditar que, dentre os três tipos de entrevistas apresentadas por Manzini (2004 apud BELEI et al., 2008), essa é a que mais se aproxima de um de nossos objetivos: Identificar a opinião das professoras sobre as atividades do AE SAB (Sistema de Ensino Aprende Brasil) para a Educação Infantil, em Recife, e como avaliam algumas atividades de apropriação da escrita alfabética presentes nos quatro volumes. A natureza da entrevista semi-estruturada permitiu incorporar ao roteiro de entrevistas, a flexibilidade para novas perguntas oportunas à ocasião relativa ao tema e o objetivo em foco.

Chegamos aos sujeitos por meio de indicação da Gerência de Educação Infantil de Recife, colegas professoras e até mesmo os próprios sujeitos das entrevistas. De acordo com Bourdieu (p. 697, 1997) tomar a liberdade de escolher os sujeitos, entre pessoas conhecidas ou por meio de alguém que possa apresentar os sujeitos ao pesquisador, ameniza muito a “violência simbólica” inerente a relação pesquisador-pesquisado como parte do próprio processo de pesquisa.

Percorremos as escolas de Recife nos meses de Agosto a Dezembro de 2017 para apresentar a direção ou coordenação o intuito de nossa pesquisa e para que nos indicassem a

presença de professoras que atendessem aos seguintes critérios: 1) ter sido professora da Educação Infantil, grupo V em 2014 e/ou 2015, na rede pública de ensino de Recife; 2) ter tempo de serviço na Educação Infantil, preferencialmente, superior a cinco anos; 3) ter utilizado os materiais sob análise, em 2014 e/ou 2015; 3) ter disponibilidade para a pesquisa; 4) assinar o TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (APÊNDICE B) para participação na pesquisa.

Percorremos 10 escolas da cidade de Recife onde havia EI e em apenas 6 delas encontramos as 10 professoras que atendiam aos critérios. Cinco professoras que atendiam a esses critérios foram achadas no mês de Agosto (início das nossas buscas), mas as outras cinco professoras só foram encontradas entre o final de Novembro e a primeira quinzena de Dezembro de 2017. Chegamos então ao total de dez (10) professoras. Por ocasião das entrevistas, aplicamos um questionário para levantarmos o perfil destes sujeitos e os mesmos assinavam o TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (APÊNDICE B) para participação na pesquisa.

Elas responderam 19 perguntas do ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA COM AS PROFESSORAS (APÊNDICE D) e avaliaram 11 atividades do AE SAB por nós selecionadas, para que pudessem apontar algumas estratégias por elas utilizadas ou elementos específicos da obra. O intuito era fazê-las rememorar as atividades, fazendo suas considerações, avaliações e possíveis ressalvas. Tentamos apreender os sentidos e significados que atribuíram ao material quanto a suas propostas de atividades, suas concepções teórico-metodológicas e sua adequação ou não para a etapa de ensino infantil. Nesse sentido, as categorias de análise levaram em conta aspectos relacionados ao uso de AEs na Educação Infantil e à qualidade das atividades propostas.

As entrevistas foram gravadas no celular, em dias e horários previamente agendados pelas próprias professoras, nas próprias escolas em que trabalhavam. A maioria delas optou pelo dia da aula-atividade, em que estavam um pouco mais livres para planejar e elaborar atividades para suas turmas, e no qual reservaram um tempo dessa aula-atividade para participarem da pesquisa.

Para registro, utilizamos a gravação em áudio e realizamos posteriormente a transcrição e a análise. Para garantir a qualidade da gravação e para evitar possíveis interferências, as entrevistas foram realizadas em local isolado, como a sala dos professores ou a biblioteca em dias destinados a aula-atividade.

Durante as entrevistas foram mostradas as professoras algumas atividades por nós selecionadas. A escolha das atividades tiveram como critérios: 1) ter apresentado textos

rimados (poemas, cantigas populares), que permitisse explorar a CF, além de perguntas de compreensão leitora; 2) ter sido uma atividade frequente no AE (colar-destacar adesivos, por exemplo); 3) oportunizasse as habilidades de escrita de modo divertido e reflexivo (através de caça-palavras e alfabeto móvel); 4) apresentasse textos exclusivamente do MP que orientasse o professor a transcrever para cartazes e/ou distribuísse cópias reduzidas para as crianças; 5) oferecesse a oportunidade de realização coletiva de produção textual. A seguir, apresentaremos os procedimentos de análise.

Segue a descrição da análise dos dados obtidos a partir dos materiais e das entrevistas com as professoras.