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2 REFERENCIAL TEÓRICO

FOTO 22 CANHÕES HOLANDESES DE 1629.

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2.2.1 Fortificações em terra

A taipa de pilão era muito utilizada, com variações regionais, nas fortificações

do século XVII. A terra vermelha e argilosa, úmida ou molhada, chamada de Massapê, era a mais apropriada. Com ela eram feitos blocos de argila compactada, apiloada, aos quais poderiam ser adicionados outros materiais, como cal, areia, cascalho e estrume, para aumentar sua resistência. Eram comuns paredes feitas com taipa apiloada e nas muralhas externas, o pau-a-pique.Este é um sistema construtivo que usa uma espécie de grade, feita com varas de madeira organizadas em sebe, preenchidas com terra ou barro. É conhecido também como taipa de mão. Em Portugal, chama-se tabique, sendo utilizado ainda nos dias atuais. Usava-se a alvenaria de pedra, com altura mínina de 1,50 m, para afastar a umidade do solo.

FIGURA 14 - PAU-A-PIQUE. FOTO 23 – CASA DE PAU-A-PIQUE, ITAMARACÀ.

Fonte: ALBERNAZ; LIMA, 2003, pág. 444. Fonte: BARTHEL, Stela. Novembro, 2006.

Segundo o livro “Arquitectura de Terra em Portugal” (2005), para a confecção da taipa, qualquer solo poderia ser empregado, a princípio, bastando para isto se desprezar a camada que encobre o terreno, chamada de “capa vegetal”, por conter matéria orgânica em abundância, o que prejudicaria o seu desempenho e poderia causar fissuras. Os melhores solos encontravam-se no subsolo e o ideal era utilizar-se a terra do próprio local onde seria feita a construção. Existiram casos em que foi necessário se misturar a terra do local com outras terras.

Era necessária uma equipe mínima para fabricar a taipa de pilão. Uma pessoa para preparar a terra: os torrões de argila eram desfeitos, colocava-se água e misturava-se com a enxada. Esta argamassa sólida era geralmente composta de uma parte de cal, duas de terra, cascalho e pedrisco. Depois, era compactada com pilões de madeira e poderia ser deixada em repouso por até uma semana antes de ser empregada. Outra pessoa transportava a terra. E outras duas pessoas montavam os taipais, que eram feitos com pranchas de madeira. A terra compactada era então espalhada com os pés dentro dos taipais, que eram fechados lateralmente com pequenas pranchas de madeira. As paredes nunca tinham espessura inferior a 0,50 m, sendo que a medida mais usada era a de 0,50

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m de altura por 2,00 m de comprimento. Em cerca de oito horas de trabalho, eram feitos por esta equipe mínima, oito blocos. Para a taipa militar, usava-se a medida dupla de parede.

Montava-se uma fiada sobre a outra desencontrada, como na alvenaria de pedra ou de tijolos, quando a primeira fiada já endureceu. Entre uma fiada e outra, aplicava-se uma cinta de cal e areia ou ainda de pedras para vedar as juntas. Tijoleiras eram usadas para reforçar os cunhais e as paredes eram reforçadas por travas de madeira nos ângulos retos. Cunhal é uma faixa saliente nos cantos das paredes ou de muros externos, indo da base ao coroamento da construção.

Os vãos das janelas e portas poderiam ser feitos durante a execução dos taipais ou então depois, demolindo-se os espaços. Os pormenores eram executados de acordo com as determinações especificadas. O sistema de drenagem, como o escoamento das águas da chuva e os esgotos eram feitos abrindo-se brechas nas muralhas. Mas estavam ligados a um sistema de canalização, que corria sob os pavimentos do edifício e que convergia para canalizações secundárias, que saíam dos pátios ou das latrinas.

O principal problema das construções em taipa era a água. Por isso, só quando passavam as primeiras chuvas eram feitos os revestimentos do exterior. Existiam procedimentos que evitavam a rápida deterioração e conservavam o bom funcionamento das paredes. Rebocava-se com argamassa de cal aérea e depois usava-se a cal como tinta, para dar acabamento e evitar a umidade. Uma obra em taipa tinha a estimativa de durabilidade entre quatro a dez anos, necessitando de manutenção constante (MIRANDA, 2006, p. 43).

Ao se escavar o fosso para a fortificação, a terra retirada servia para fazer o reparo, que é onde ficam assentados o parapeito e as plataformas de artilharia, cuja altura deveria cobrir os soldados e os canhões que se encontravam por detrás. Esta altura variava entre 1,80 m e 2,00 m, conforme houvesse ou não a banqueta, onde subiam os soldados para atirar melhor. Estes deveriam ter a possibilidade de alcançar com os tiros o fundo do fosso. Com relação à espessura dos parapeitos, os autores variam. A obra deveria ser sólida o bastante para suportar os tiros de canhão (MELLO NETO, 1975, p. 174).

O fosso tinha três funções nas fortificações de terra. Uma delas era fornecer o material para os reparos, com a terra retirada da escavação, por isso há uma estreita relação entre suas dimensões e aquelas dos reparos. Sua presença dificultava o acesso à fortificação. Isto perdeu a importância pela técnica de sitiar e de cercar as fortificações, cortando as possibilidades de acesso à alimentação, o que foi empregado pelos holandeses em relação a alguns fortes luso-brasileiros, entre eles o do Bom Jesus. A terceira função era proteger as muralhas. Era indispensável nas construções de taipa a presença da berma. Ficava entre o parapeito e o fosso e recebia a terra deste. De lá, esta terra era levada ao reparo. Auxiliava a defesa do fosso, servindo para receber as ruínas que os tiros causassem aos reparos. Sustentava o talude e impedia que a escarpa desabasse sob o peso das terras do parapeito.

No caso do forte Orange, parece ter sido utilizada a variante da taipa de pilão conhecida como torrão e a terra empregada na confecção das muralhas não foi retirada do local, que é um terraço marinho, mas possivelmente das proximidades, onde ocorre a

formação Barreiras. A pedra empregada foi retirada dos arrecifes. O torrão é utilizado tanto em obras civis quanto militares. É um tipo de estuque feito com barro. Removia-se terra com boa qualidade e boa estabilidade, para levantar paredes e muralhas. Na área rural dos Países Baixos, colocava-se entre uma camada e outra de barro, palha e troncos trançados no sentido horizontal.

Outra variação da taipa de pilão é a taipa de solo estabilizado, que consiste em compactar grandes porções de terra com estabilizadores, como a cal, que não são colocadas em formas de taipais. Segundo os tratados de fortificações, elaborados a partir do advento do canhão, isto evitaria o ricochete dos projéteis, cujo impacto seria absorvido pelas muralhas de forma mais eficiente. Também a chamada taipa de formigão, que é uma variação da técnica de taipa de solo estabilizado e que consiste em adicionar pedregulhos à mistura de terra compactada e cal. A taipa militar provavelmente teve origem assim (MENDONÇA, 2005, p. 89).