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1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

FIGURA 7 – FORTIFICAÇÃO EM ITAMARACÁ, 1631.

Fonte: REIS FILHO, 2001, pág. 107.

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1.5 Antecedentes históricos: o forte Orange

No prefácio do livro do professor Manuel Correia de Andrade sobre a capitania de Itamaracá 18, o professor José Luis Mota Menezes fala que antes dos holandeses construírem o forte Orange, havia num local próximo um forte luso-brasileiro, construído ao mesmo tempo em que o fortim de Catuama e que ficava na restinga, com o nome de forte de Santa Cruz. Um em cada entrada do braço de mar do Canal de Santa Cruz. Não há comentários sobre o material de construção empregado, mas provavelmente era de alvenaria de pedra e cal.

Este forte foi objeto de um pedido feito ao Rei de Portugal por Salvador Pinheiro, que comandava as forças luso-brasileiras na ilha de Itamaracá, em cartas datadas de Abril e Junho de 1631, em relação à necessidade de fortificação das capitanias brasileiras. Mello (1985, p. 02) fala que na ilha existia apenas um reduto, localizado na parte sudoeste, que deveria ser este. Havia a pretensão de se construir outro forte no exato local onde foi construído o forte Orange, o que se encontra documentado desde antes da ocupação holandesa, em 1623, em parecer do provedor-Mor da Fazenda Real.

Quando atacou a ilha pela primeira vez e não conseguiu tomar a Vila de Nossa Senhora da Conceição, o governador holandês Waerdenburch mandou construir um forte numa restinga, como uma fortificação provisória. Seria bem próximo a este forte luso-brasileiro, que deve ter sido tomado e destruído pelos holandeses na ocasião em que foi construído o forte Orange ou quando foi tomada a Vila de Nossa Senhora da Conceição.

No mapa desenhado por João Teixeira Albernaz entre 1631 e 1640 aparece esta fortificação, assinalada como “alojamento do inimigo que fez na pri.a (primeira?) entrada”, ou seja, antes da construção do forte Orange. O mapa dá informações sobre o entorno da fortificação. Assinala “o porto da Villa”, no canal de Santa Cruz, a vila de Nossa Senhora da Conceição, com o quartel de Santo Antônio e o de Santa Luzia, uma estrada, um sítio do “inimigo”, o Morro da Baliza “para o controle da barra”, um reduto “de que fez um alojamento o inimigo”, outro reduto do inimigo, o despenhadeiro da fonte, o Outeiro de Todos os Santos, “em que se aquartelou nossas gentes”, além de uma povoação de pescadores, assinalada como “redes de pescadores” e o próprio forte Orange, que não se encontra identificado, como os outros pontos importantes do mapa. Existe assinalada uma ponte, cujos vestígios estão ainda aparentes, que fazia a ligação entre a Vila de Nossa Senhora da Conceição e o Morro da Baliza.

Nota-se que a ilhota onde se localizava o forte Orange aparece ligada à porção maior da ilha de Itamaracá, como se fosse uma restinga e o desenho do hornaveque é diferente do desenho registrado no mapa publicado por Barlaeus, que é simétrico. No entanto, é semelhante ao desenho inserido no relato do viajante Schmalkalden, apresentando formato irregular. O hornaveque é um elemento de defesa externa das fortificações, em forma de língua projetada.

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MAPA 7 – JOÃO TEIXEIRA ALBERNAZ, 1631 – 1640.

Fonte: REIS FILHO, 2001, pág. 106.

Segundo as anotações de Johannes de Laet, o risco do forte Orange foi feito pelo

engenheiro Pieter Van Bueren, que se encontrava no Recife desde 1630. Este depois seria responsável pelo primeiro sistema de defesa elaborado para o Recife, junto com o engenheiro Andreas Drewish, quando Maurício de Nassau assumiu seu posto, em 1637. Mello informa que Van Bueren teria substituído o engenheiro holandês Commersteijn, responsável pelo projeto de várias fortificações na capitania de Pernambuco, que retornou aos Países Baixos por motivos de saúde (1976, p. 09). O forte Orange tinha formato regular, com quatro baluartes e o terreno foi demarcado no mês de Maio de 1631. O nome era uma homenagem à Casa de Orange, dos Países Baixos. Para os da terra, o forte era chamado de “Barra de Itamaracá”, segundo Duarte de Albuquerque Coelho (1981, p. 86).

O viajante Schmalkalden fala que o forte era quadrado, cercado por paliçada e com um hornaveque e por causa da sua localização, entre o mar e o Canal de Santa Cruz e aliado aos recifes, às marés altas e outras adversidades, dificilmente poderia ser sitiado ou tomado (1998, p. 98).

Vários relatos informam que o forte Orange era de taipa, que era então o sistema construtivo mais usado. Mello Neto (1975, p. 174) usa a expressão “massa cobridora” para a taipa de pilão. A construção foi rápida, pois em julho, segundo os relatos holandeses, já se encontrava pronto. Quando foi construído, era uma fortificação de campanha, feita às pressas, pela urgência dos holandeses em se estabelecer na ilha. O que foi encontrado na escavação não é taipa de pilão, segundo informação dos

Professores Veleda Cristina Lucena Albuquerque e Marcos Antônio Gomes de Matos Albuquerque, mas, provavelmente, uma variação conhecida como torrão, que usou armações de galhos de madeira e palha para estabilização, como se fosse um tipo de estuque.

Uma placa colocada ao término das escavações, em 2003, informa aos visitantes que teriam existido pelo menos três versões do edifício durante a ocupação holandesa. Estima-se que a tropa inicial fosse em torno de trezentos soldados, sob o comando do oficial polonês Artischowsky 19. Segundo o relato do soldado Rischhoffer (1977, p. 107), ao término da sua construção, o tenente-coronel Steyn-Callenfels relatou ao governador que o forte Orange não poderia proteger o “Porto de Pernambuco” da forma como se encontrava, sendo necessária a construção de trincheiras dos lados e de um hornaveque, o que foi realizado imediatamente. A segunda versão do forte Orange deve ter sido executada já por engenheiros militares, mas parece não ter ficado a contento. Existe uma gravura em cobre, feita por Arnoldus Montanus, que deve ser uma destas versões do forte Orange, provavelmente a primeira, já que não está assinalado o hornaveque, feita a partir de informações de terceiros. Montanus fez cópias das gravuras publicadas em Barlaeus, com desenhos de Frans Post, em sua obra intitulada “América”, publicada em Amsterdam, em 1674. A fortificação parece ser de madeira e paliçada de madeira sobre uma muralha, que pode ser em terra. Dias informa erroneamente que este desenho está no livro de Barlaeus, da edição de 1647. Existe uma versão colorida. Mas não é uma cópia da realidade, do que deveria ser o forte Orange e sim uma interpretação fantasiosa. Na fortaleza Santa Catarina em Cabedelo, existe uma cópia desta gravura, identificada como forte Orange.