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4 A PESQUISA ARQUEOLÓGICA

MAPA 21 SITUAÇÃO ATUAL.

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Fonte: LEÃO, Soraya Carneiro.

O Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco já havia realizado em 1971 uma prospecção da fortaleza de Santa Cruz, no sentido de colher subsídios para que mais tarde fosse realizada uma restauração parcial da mesma. Em 2000, uma parceria com a MOWIC Foundation, possibilitou a elaboração do “Projeto Orange”, com o intuito de resgatar uma herança comum entre os Países Baixos e o Brasil: os monumentos históricos que pertenceram à Companhia das Índias Ocidentais. O trabalho foi dividido em duas campanhas, coordenadas pelos Professores Marcos Albuquerque e Veleda Lucena, do Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE - entre os anos de 2002 e 2003 e contemplou áreas externas e internas da fortificação. A historiadora Hannadea Van Nederveen Meerkerk, uma das criadoras da MOWIC Foundation, participou dos trabalhos de pesquisa arqueológica, junto com outros pesquisadores dos Países Baixos, como o professor da Universidade de Amsterdã, o arqueólogo Oscar Hefting, também integrante da mesma organização. Em relação aos vestígios do antigo forte holandês, com base na iconografia holandesa do século XVII, foi possível encontrar os alicerces dos antigos quartéis e o poço, a Casa de Pólvora, restos de pisos, a porta de entrada e parte da muralha em terra. Na área externa, foram encontrados parte da berma, da contra-escarpa do fosso e o próprio fosso.

As peças resgatadas ajudam a entender o cotidiano da fortificação em seus distintos momentos. São artefatos de uso diário, como fragmentos de louça, de grés, de cerâmica, de vidro, restos orgânicos, materiais de construção, materiais bélicos,

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materiais de fumo, materiais lúdicos, objetos de uso pessoal, além das estruturas arquitetônicas.

Ao todo, noventa pessoas foram envolvidas no processo da pesquisa arqueológica. Cerca de cinqüenta trabalhadores de campo, contratados entre a população da ilha de Itamaracá e áreas vizinhas, como Itapissuma, arqueólogos brasileiros e holandeses, estagiários e estudantes da UFPE.

Uma missão dos Países Baixos esteve no Nordeste no final de Março de 2007, em visita a esta fortificação e ao forte do Brum, na cidade do Recife e à fortaleza Santa Catarina, em Cabedelo, na Paraíba. Todos eles pertenceram à Companhia das Índias Ocidentais. Neste momento, está em andamento um projeto que envolve a empresa GEOSISTEMAS, o Banco do Nordeste e o IPADE – Instituto de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico e Científico - para a restauração e revitalização desta fortificação. O projeto consta de três fases: a pesquisa arqueológica, a contenção das águas do Canal de Santa Cruz junto à muralha e a restauração dos antigos quartéis luso- brasileiros, para que ali sejam instaladas as dependências de um centro cultural de referência da presença holandesa no Nordeste do Brasil. Os vestígios do antigo forte holandês, encontrados na escavação, deverão ser expostos.

O Laboratório de Arqueologia da UFPE trabalhou com o sistema de escavação em múltiplos estágios, o que permitiu que as hipóteses fossem revistas e que as informações fossem utilizadas ou descartadas. Não existiram hipóteses fechadas. Uma das hipóteses da pesquisa arqueológica foi a respeito da porta encontrada do antigo forte holandês. Pelas dimensões do forte, as medidas desta porta não se adequariam a uma entrada principal, sendo talvez a poterna, ou seja, a porta de serviço, que servia também como saída de emergência em caso de fuga e que geralmente dava para o fosso. Isto não foi ainda confirmado. A figura inserida no relato do viajante Schmalkalden, mostra esta porta feita em arco, conforme foi encontrada na pesquisa arqueológica. A porta principal do forte deveria permitir a passagem de carros de boi, de material pesado de artilharia e esta porta se revelou estreita para isto. Entretanto, é a única porta holandesa de fortificação do século XVII que ainda existe no mundo, o que aumenta a sua importância em termos de achados arqueológicos. Nos Países Baixos, onde existem ainda vestígios relativamente bem conservados de fortificações em terra, foram feitas reconstituições de portas de fortificações, usando-se esta como modelo.

A fortificação apresenta vários processos de estratigrafia. Enquanto unidade do sistema de defesa holandês:

1 - A sua construção, que envolve três versões.

2 - Algumas reformas. O engenheiro Commersteijn, quando retornou ao Brasil, em 1638, arrematou a obra de conservação do forte pelo prazo de um ano, segundo informa Mello (1976, p. 23). Em 1639, Maurício de Nassau havia mandado colocar uma estacada para reforço do fosso, que se encontrava sem água. Em 1646 e em 1649, precisou de reformas, porque foi atacado pelos luso-brasileiros.

Enquanto unidade do sistema de defesa luso-brasileiro:

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2 – Reformas.

3 – Demolição e aterro das antigas estruturas do forte holandês, inclusive aproveitando- se material de construção.

4 – Construção da fortaleza de Santa Cruz em alvenaria de pedra e cal, 1696. 5 – Reformas nos anos de 1777, 1800 e 1817.

Em períodos mais recentes, houve desmoronamento e avanço das areias e do mar sobre a fortaleza. Em 1966, quando passou por um processo de consolidação, assim como em 1973, sendo reformada. No ano de 1989 foi realizado um trabalho de proteção costeira, com a responsabilidade do engenheiro José Antônio Moreira Lima, para o então SPHAN – Fundação Pró- Memória.

Uma pré-escavação antecedeu a pesquisa arqueológica. Ela consistiu no estudo da documentação existente, mapas, iconografia, fotos, cartões postais, quadros, relatórios, plantas, planos, documentos fotográficos e topográficos e relatos. Também entrevistas junto à população local. Algumas hipóteses surgiram e foram empregadas algumas premissas teóricas como ponto de partida. A Teoria Geral dos Sistemas foi a orientadora dessas premissas. No caso, a fortificação foi documentada desde a época da sua construção e diversas plantas, tanto holandesas quanto luso-brasileiras da época da ocupação holandesa e plantas de datas posteriores, foram consultadas. Todas as etapas foram documentadas através de fotos, vídeos, desenhos e plotagens. Fizeram-se panorâmicas da área antes da pesquisa arqueológica ser iniciada.

O objetivo da pesquisa era o entendimento da fortificação holandesa até se transformar na fortificação luso-brasileira. No início dos trabalhos, buscou-se a identificação dos elementos do primitivo forte holandês e as estruturas dos quartéis da fortaleza luso-brasileira e a Casa do Cabo, assinalada em plantas a partir de 1763. Existia uma expectativa do que poderia ser encontrado em termos de estratigrafia e de artefatos. Mas como a área foi bastante revolvida, poderiam ser encontrados artefatos fora dos seus devidos lugares, o que se confirmou. A topografia encontrada foi predominantemente antrópica, mas a área apresenta dunas e sofre com os avanços da água do mar, o que foi necessário ser levado em conta. Foi montado um laboratório de campo dentro das dependências da fortificação, onde eram lavados, etiquetados e armazenados os artefatos encontrados.

A planta da primeira campanha informa a divisão das áreas envolvidas na pesquisa arqueológica. Nela estão assinalados os cortes e as trincheiras realizadas na área externa, entre os dois baluartes voltados para o Canal de Santa Cruz, na cor verde, feitos para a localização do hornaveque e da paliçada e as quadrículas na Praça de Armas, em amarelo. Praticamente a metade desta foi escavada. As dependências que não foram escavadas foram o museu, a Fundação Forte Orange, a loja de artesanato e os banheiros públicos. Foram feitos cortes no Terrapleno Sul, em busca das dependências da Casa do Cabo, que se encontravam em mapa de 1763. Estão assinalados ainda os cortes e as sondagens feitas nas bases dos canhões. Não estão assinalados os cortes externos realizados na área do Parque Centro Mamíferos Aquáticos, que foram quatro.