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1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

MAPA 5 – CAPITANIAS DO BRASIL HOLANDÊS, VINGBOONS, 1660.

Fonte: GALINDO; MENEZES, 2003, pág. 22.

No período final da guerra, quando os territórios ocupados iam aos poucos sendo recuperados pelos luso-brasileiros, com os holandeses reduzidos ao litoral de algumas localidades, a capitania de Itamaracá foi uma das últimas a ser reconquistada, porque o forte Orange resistiu, embora a Vila de Nossa Senhora da Conceição tenha voltado às mãos dos luso-brasileiros em 1646. Depois de 1654, as capitanias voltaram para a Coroa Portuguesa, que resolveu intensificar o processo de ocupação das mesmas, doando terras aos Capitães-Mores.

Uma das pessoas favorecidas com a concessão de sesmarias foi André Vidal de Negreiros, nome importante dentro do movimento da Restauração Pernambucana. Suas

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- GALINDO, M. & MENEZES, José Luís M. - Desenhos da Terra - Atlas Vingboons, Recife, BANDEPE, 2003.

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terras na capitania de Itamaracá, em Goiana e Itambé serviram para a implantação de engenhos e para criar gado (ANDRADE, 1999, p. 93).

Itamaracá tinha donatário, Dom Álvaro Paes de Castro e Souza, marquês de Cascais e Conde de Monsanto, mas o rei alegou que este não havia se empenhado na sua defesa, cabendo à Coroa as despesas necessárias para isto. Depois de trinta e oito anos de posse da Coroa, a capitania voltou para o filho do donatário, Luís Álvaro de Castro Ataíde e Souza, também marquês de Cascais, que assumiu o cargo em 13 de Janeiro de 1692.

O fato de permanecer como capitania hereditária, quando a maioria das capitanias pertencia à Coroa Portuguesa, não facilitou as coisas em termos econômicos e Itamaracá foi perdendo importância. A Vila de Nossa Senhora da Conceição ficou decadente, enquanto que Goiana se desenvolveu muito. A sede da capitania foi então transferida para lá em 1685. Quando o povoamento da ilha se intensificou no século XVIII e se concentrou na parte norte, a decadência da antiga capital da capitania se acentuou. Em 1763, Itamaracá foi anexada à capitania de Pernambuco.

1.4 Antecedentes históricos: A ilha de Itamaracá

A ilha de Itamaracá, que fazia parte da capitania do mesmo nome, era citada em documentos antigos como a “ilha de Ascensão” (ALBUQUERQUE, LUCENA; WALMSLEY, 1999, p. 109). Mas já aparece na Carta de Doação da Capitania como Itamaracá. A Vila de Nossa Senhora da Conceição foi um dos primeiros focos de colonização do país. Era conhecida por Marial quando era apenas uma povoação, segundo informa Costa.

Para Mello (1985, p. 01), foi fundada por João Gonçalves, encarregado pelo donatário de tomar posse da capitania. Outros autores, entre eles Andrade (1999, p. 58) falam que ela foi fundada em 1526 por Francisco de Braga, que depois ficou encarregado da sua administração, quando esta foi criada, por ordens do donatário. João Gonçalves teria sido o responsável por elevar à categoria de vila a povoação existente. No lado norte do braço de mar, chamado de “Barra de Catuama”, existiu um fortim luso-brasileiro, cujos vestígios em alvenaria de pedra e cal ainda estão aparentes. Esta fortificação fechava o acesso ao Canal de Santa Cruz, junto com o forte de Santa Cruz, localizado na outra entrada, que antes da época do conflito, era também comandado por Salvador Pinheiro. Parece que este fortim estava já em ruínas quando os holandeses chegaram à ilha. Ambas as passagens davam acesso ao Rio Igarassu, que margeava a vila de mesmo nome. Dominar o canal assegurava a exportação dos que era produzido ali, principalmente o açúcar. Dom João III mudou o nome indígena – Jussará – para Canal de Santa Cruz na Carta de Doação.

Na primeira tentativa de tomada da Vila de Nossa Senhora da Conceição, os holandeses não tiveram êxito. O forte Orange foi construído nesta data, como um ponto de apoio para futuras investidas, em local próximo ao forte de Santa Cruz, que parece

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ter sido destruído nesta ocasião. No entanto, em Junho de 1633, a segunda tentativa foi bem sucedida. A expedição para a tomada da ilha tinha dezesseis navios e cerca de setecentos homens, entre os quais se encontravam o comandante Schkoppe, o coronel Bijma, Ceulen e Carpentier. Com o apoio do forte Orange, a Vila de Nossa Senhora da Conceição foi conquistada e o Capitão-Mor Salvador Pinheiro rendeu-se sem disparar um único tiro (PUDSEY, 2000, p. 171 - nota do tradutor).

A ilha de Itamaracá despertou o interesse dos holandeses assim que estes chegaram, pois significava acesso aos gêneros alimentícios, coisa bastante difícil através do Recife sitiado. Além disso, havia oferta abundante de madeira e a presença de muitos engenhos de açúcar, sal, que era fabricado desde a época dos primeiros donatários (COSTA, 1952, p. 315) e ainda pau-brasil e a cal, que era fabricada pelos monges beneditinos. Existe uma praia na ilha com o nome de Forno da Cal. No documento intitulado “Condições que se concedem aos que quiserem cultivar as terras da ilha de Itamaracá”, datado de 1648 14, feito pela Companhia das Índias Ocidentais, permitia-se que lotes fossem ocupados com plantações diversas, como mandioca, tabaco, algodão, uvas, hortaliças etc. Antes disto, em 1634, já se havia tentado um projeto de policultura, com agricultores de várias nacionalidades, mas que havia sido abandonado. Segundo Barlaeus, para Nassau, a ilha parecia despovoada e selvagem e tinha alguns inconvenientes, apesar da abundância de água doce e de frutas, como melões e uvas. Estas aparecem no brasão da capitania, concedido por ele. Tudo teria que ser feito e isto demandaria grandes gastos 15, por isto a decisão de colocar a sede do Brasil Holandês não na ilha, mas no Recife.

O relatório do Conselheiro Van der Dussen informava que as formigas tornavam as terras estéreis, embora em outra porção da ilha os engenhos estivessem produzindo. Mello diz que o cultivo de índigo, o único vegetal trazido pelos holandeses para o Brasil, teve que ser abandonado por causa das formigas (1987, p. 149).

O relato do viajante alemão Schmalkalden 16, que esteve no Brasil na época da ocupação holandesa, chegando em dezembro de 1644 e retornando aos Países Baixos em outubro de 1645, fala também a respeito das formigas (1998, p.98) e do fortim que existia na vila Schkoppe, chamando a atenção para o fato de que era “muito sólido e quase inexpugnável, construído sobre um alto penhasco” (1998, p. 94) e que havia sido difícil para os holandeses a sua conquista.

Em mapa publicado por Barlaeus, está registrada esta fortificação, que na verdade era o “Oppidum Schoppij”, ou seja, a vila de Nossa Senhora da Conceição fortificada. O nome foi trocado para homenagear o comandante holandês Schkoppe, que comandou a ofensiva em 1633. Havia uma cerca, uma paliçada de madeira sobre uma muralha provavelmente construída em terra e fossos voltados para o interior da ilha 17.

14

- Citado por CARVALHO, Cynthia et al. – Plano de Intervenção para o Município de Itamaracá, Recife, FAUPE. Novembro de 2003, pág. 8, trabalho disciplinar de Planejamento Urbano.

15

- BARLAEUS, Gaspar, obra citada, pág. 54. 16

- A Viagem de Caspar Schmalkalden de Amsterdã para Pernambuco no Brasil, obra citada. Este

viajante era mercenário e foi enviado ao Brasil pela Companhia das Índias Ocidentais. 17

- MENEZES, José Luis Mota. Apresentação in ANDRADE, Manuel Correia de - Itamaracá, uma