• Nenhum resultado encontrado

Técnicas disponíveis: o risco, a mão-de-obra, a matéria-prima 1 O forte holandês

5 ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA ARQUEOLÓGICA

5.1 Técnicas disponíveis: o risco, a mão-de-obra, a matéria-prima 1 O forte holandês

O projeto do forte Orange foi feito pelo engenheiro holandês Pieter Van Bueren, responsável por várias fortificações do Recife, estando no Brasil desde 1630. Segundo os dados da pesquisa arqueológica, de que existiriam três versões do forte Orange, a versão deste engenheiro deveria ser a terceira e definitiva. Era uma construção erudita, feita por um profissional competente, que prestava serviços à Companhia das Índias Ocidentais. Mello define o forte Orange como “notável forte holandês” (1976, p. 11). Foi demarcado em maio de 1631. O hornaveque foi acrescentado em junho e em julho já se encontrava pronto, o que demonstra a rapidez da execução das obras em terra. Outros fortes construídos em terra pelos luso-brasileiros também foram levantados com esta rapidez, tendo o forte do Bom Jesus sido construído em apenas um mês, segundo os relatos e o forte do Arraial Novo do Bom Jesus em três meses (CALADO, 2004, p. 137).

Outros engenheiros holandeses eram Tobias Commersteijn, que se encontrava no Brasil desde a ocupação em 1630, e que arrematou as obras de reforma do forte Orange em 1638, Andréas Drewish, que estava no Brasil desde 1631 e Sems, cujo primeiro nome é desconhecido (MELLO,1976, p. 11). Também Egbert Vaer, mestre construtor e cordeador, citado em documentos, mas já em 1639 (MELLO, 1976, p. 24). Mello informa que os engenheiros construíram preferencialmente fortificações e fizeram levantamentos cartográficos em sua estadia no Brasil. Não se deve esquecer que o engenheiro português Cristóvão Álvares fez várias obras para os holandeses, como a fiscalização da ponte do Recife. Poderia ter trabalhado em algum momento no forte Orange, ou na sua construção ou em alguma reforma.

Em carta datada de 7 de Setembro de 1630, do Conselho dos XIX para o Conselho Político de Pernambuco (apud MELLO, 1976, p. 11) informa-se que vieram para o Brasil os seguintes profissionais, embarcados na Câmara de Amsterdã:

- um mestre pedreiro com doze ajudantes. - um mestre carpinteiro com seis auxiliares. - um oficial de ferreiro e fabricante de fechaduras. - dois bons mestres de obras.

- um mestre fortificador, também mestre de obras. Informa-se sobre Sicke de Groot, que foi empregado como mestre construtor.

147

Pode-se supor a presença de alguns destes profissionais na construção do forte Orange, considerado importante pela sua localização. Os soldados devem ter trabalhado também e os holandeses devem ter usado a mão de obra indígena, das tribos que eram suas aliadas, como os tapuias e os tupis, chamados por eles de brasilianos, bem como escravos africanos.

Os edifícios dos quartéis foram construídos em alvenaria de tijolos, com as bases em pedra, encontradas na escavação. O perímetro do forte era quadrado, regular, com quatro baluartes e obras de defesa externa, como fosso, hornaveque e paliçada. Era um exemplar típico da Escola Holandesa de Fortificações, semelhante a outros fortes, como por exemplo o forte Maurício em Alagoas, atual cidade de Penedo. No centro da Praça de Armas, localizava-se o poço.

Em relação à técnica empregada e aos materiais de construção, as muralhas do forte eram em terra, na variação da taipa conhecida como torrão. Para a sua confecção, foram utilizados argila e materiais para dar estabilidade, como cal e uma armação de troncos de arbustos. A cal poderia ser a que vinha dos Países Baixos ou a que era fabricada na ilha de Itamaracá, segundo Mello (J.A.G. 1987, p. 49). As tábuas de madeira que davam sustentação a este tipo de taipa vinham dos Países Baixos e deveriam ser de pinho. Eram conhecidas no Brasil como “pranchas do Norte”, com as quais se faziam também casas pré-fabricadas, que eram montadas no Recife. Vinham várias espécies de madeira dos Países Baixos, para caibros e traves. Na pesquisa arqueológica, restos destas tábuas de madeira foram encontrados, ainda com os pregos, na muralha de terra. A argila deve ter sido retirada de localidade próxima, pois é comum na ilha de Itamaracá, mas não no terreno onde se localiza o forte, que é um terraço marinho e área de ocorrência de dunas.

A base do forte, o chamado baldrame, foi feito também com uma armação de madeira, sobre a qual se colocou a muralha em terra. Nesta base, foram empregados seixos. Conforme ficou comprovado na pesquisa arqueológica, em algumas partes do forte, como na entrada, que era feita de alvenaria de pedra, havia um muro de tijolos circundando a mesma. A pedra foi empregada na berma. Foram utilizados blocos de calcário e de arenito, alguns com incrustações de óxido de ferro, encontrados também nas proximidades.

Em relação ao material de construção encontrado, a variedade é grande. Os tijolos holandeses são de dois tipos: os amarelos e pequenos, com dimensões aproximadas de 8,00 cm x 17,00 cm, com aproximadamente 3,50 cm de largura, eram refratários à água. Vinham da região da Frísia. Segundo Mello (2000, p. 36) estes tijolos são também encontrados no Forte das Cinco Pontas e em fortificações no Cabo de Santo Agostinho. Os tijolos vermelhos, vindos de Leiden, eram empregados também como lastros de navio, cujas dimensões aproximadas são de 8,00 cm x 23,00 cm. Mello informa que os tijolos encontrados no Brasil eram raros e não havia como fabricá-los no início da ocupação e foram muitos os pedidos enviados ao Conselho dos XIX (1987, p. 49). Mas depois de algum tempo, o governo holandês incentivou o surgimento de olarias. O autor sustenta que os holandeses empregaram o tijolo mais do que os luso-brasileiros na construção civil. Estes usavam nas suas casas a pedra e a taipa. A preferência de construção das moradias holandesas era pelo tijolo.