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3 SISTEMAS DE DEFESA NO BRASIL HOLANDÊS

MAPA 8 FORTIFICAÇÕES DE SALVADOR, 1648.

Fonte: modificado de SIQUEIRA, 1997, pág. 84.

Ao serem expulsos os holandeses, as tropas luso-brasileiras e espanholas se depararam com estas obras, que foram mantidas e incorporadas ao sistema de defesa, porque foram consideradas de boa qualidade. O Conde de Bagnuolo participou desta luta e também anos depois, quando o próprio Maurício de Nassau comandou uma ofensiva à Bahia, em 1638, que foi mal-sucedida. A ironia é que as fortificações serviram para a defesa da cidade contra seus construtores, segundo Mendonça (2005, p. 87). O próprio Conde de Bagnuolo tratou de destruir este sistema após a expulsão dos holandeses, demolindo algumas fortificações. O material foi reaproveitado pelos moradores da cidade. Uma parte destes vestígios foi descoberta no final do século XVIII, segundo Campos.

Nesta época, por ocasião de um plano para reforçar a fortificação da cidade de Salvador, por causa de novas ameaças de ataques, houve uma polêmica entre engenheiros militares, governadores e conselheiros, por causa da durabilidade das construções em terra. A questão era se elas deveriam permanecer, sendo restauradas ou se deveriam ser reconstruídas em alvenaria de pedra e cal, prevalecendo esta última alternativa (MENDONÇA, 2005, p. 88). O plano completo para a fortificação da cidade foi feito pelo engenheiro João Massé, já no século XVIII e previa a consolidação dos

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fortes e das baterias, com o acréscimo de novas fortificações e a inclusão do Dique do Tovó, que foi restaurado em 1716 (DIAS, s/data, p. 203).

A apreensão da população e dos governantes se justificava em relação à questão das fortificações. A conquista de Salvador foi tida pelos holandeses como “de pouco trabalho” (BARLAEUS, 1980, p. 16), embora tivesse um período curto, de maio de 1624 a maio de 1625. Havia nesta época trinta e seis engenhos em Salvador.

Houve um novo ataque à Bahia em 1627, comandado por Heyn e depois a ofensiva comandada por Maurício de Nassau em 1638, ambas sem resultados positivos. A esquadra holandesa contava então com cinco mil homens, distribuídos em vinte navios. O Conde de Bagnuolo participou dos combates que acabaram por expulsar os holandeses, que ao se retirar, deixaram parte de sua artilharia, que foi recuperada pelos luso-brasileiros (PUDSEY, 2000, p. 125). Durante este curto assédio, os holandeses construíram mais algumas obras, como trincheiras, dois redutos, uma bateria e até uma residência para o Conde Maurício de Nassau, todas fora do perímetro urbano (DIAS, s/data, p. 92).

A Bahia ainda foi atacada em 1647, quando Schkoppe se apossou da ilha de Itaparica, mas sem conseguir causar danos à Salvador. Foram construídos nesta ocasião um forte e quatro redutos holandeses (COSTA, 1952, p. 295, Vol. III). Em 1640, tropas holandesas promoveram vários incêndios nos engenhos da Bahia. Tudo isto deixava a população da capital em guarda.

Um mapa elaborado pelos luso-brasileiros, depois tomado pelos holandeses e hoje pertencente ao Algemeen Rijksarchief, dá uma idéia da capitania de Todos os Santos nesta época. A legenda encontra-se rasgada em alguns pontos, o autor não é identificado, mas a data é de 1636. A capital do Brasil esteve sempre nos planos dos holandeses e eram importantes todas as informações ao seu respeito. Segundo Reis Filho (2001, p. 320), a ilha de Itaparica, identificada com o número 3, aparece em local errado. Tem como título “[Desen]ho da Bahia de todos [os San]ctos cõ a costa do mar ate a barra do Cammamu, 1.6.3.6” . Os números 1 e 11 são ilegíveis.

Pela legenda, verifica-se que as informações importantes são relativas ao acesso de embarcações, falando inclusive do tipo delas, como pataxos, embarcações pequenas e “grosas”, ou seja, que pontos seriam favoráveis a um ataque e que, portanto, deveriam ser fortificados.

A legenda do mapa, com a grafia utilizada no documento, é a seguinte: 1- Ilegível.

2- Ponta de Santo Antônio. 3- Ilha de Taparica (Itaparica). 4- Barra de Jaguaripe.

5- Rio Jiquiriçá capaz ... embarcações pequenas. 6- Enseada de Jiquiriçá.

7- Baixos sobre aguados. 8- Barra do Morro Alto. 7 e 3b. 9- Morro de São Paulo.

11- Ilegível.

12- ...embarcações piquenas. 13- Baixa de Tabatinga.

14- Ilha de Boypeba onde está hua villa. 15- Ponta dos castelhanos.

16- Barra de Boypeba porq entrão pataxos e embarcações pequenas. 17- Barra do Camamu larga e alta pera toda embarcação.

18- Ilha de Quiepe.

MAPA 9 – BAÍA DE TODOS OS SANTOS, 1636.

Fonte: REIS FILHO, 2001, pág. 53.

3.2.2 A capitania de Pernambuco

Cartas de Matias de Albuquerque foram interceptadas durante a ocupação da Bahia. Os holandeses tinham então informações detalhadas sobre a situação da capitania de Pernambuco e do estado das fortificações, que se encontravam arruinadas. A apreensão da frota de prata da Espanha nas costas de Cuba, em 1628, forneceu os recursos necessários para que fosse elaborado um novo plano de ataque. A ação de Heyn em relação à Bahia havia forçado a dobrar os esforços na defesa do Brasil, segundo Rosário (1980, p. 90). Existiam as mesmas preocupações, com notícias e boatos de que ocorreria um ataque a qualquer momento.

Entre 1620 e 1626, o engenheiro português Cristóvão Álvares foi contratado por Matias de Albuquerque para fortificar a vila de Olinda, capital da capitania de Pernambuco. Foram feitos o forte de São Francisco, conhecido como o forte do Queijo

(embora relatos afirmem que a sua construção é anterior a este período) e a guarita de João Albuquerque, em alvenaria de pedra e cal. Eram ligados por uma paliçada ao morro onde se localiza o Convento de Nossa Senhora das Neves e a igreja de São Francisco e ao morro onde se localiza o Mosteiro de São Bento.

Quando voltou ao Brasil em 1629, Matias de Albuquerque contratou novamente os serviços de Cristóvão Álvares, para projetar e construir um forte, chamado de Forte Real. Não houve tempo de construí-lo, porque os holandeses chegaram em fevereiro de 1630. No livro de Reis Filho (2001, p. 328) é mostrada uma planta, que representa um corte da fortificação e que complementa o projeto. Em relação às fortificações holandesas desta época, existem muitos documentos. O mesmo não ocorre com os edifícios luso-brasileiros.