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5 ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA ARQUEOLÓGICA

FIGURA 46 – FAXINA.

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Fonte: ALBERNAZ; LIMA, 2003, pág. 250.

FOTO 96 – FAXINA USADA COMO CERCA EM PICOS, PIAUÍ.

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Para o armamento da época, as muralhas exteriores em taipa e na variação conhecida como em torrão, indicam o acerto da escolha, pois a terra era o material que melhor respondia aos impactos das balas de canhão, tanto que o forte foi atacado algumas vezes e nunca foi tomado ou destruído.

Na fase luso-brasileira, houve o reaproveitamento do material de construção que sobrou do que foi demolido do forte holandês, como os tijolos e pedras e possivelmente telhas e ferragens. Existe pedra de Lioz, vinda de Portugal como lastro de navios, material fabricado pelas olarias próximas, como tijolos e telhas e ainda material conseguido próximo, como arenito e pedra calcária. Quanto à técnica construtiva, optou-se por trocar o torrão pela alvenaria de pedra e cal, porque a área sofria muito com a ação da água do mar e eram constantes os desabamentos de parte da muralha e a manutenção se tornava difícil e cara. Era essa a indicação para a época, quando os armamentos se sofisticaram e os preceitos da Escola Holandesa de Fortificação deixaram de ser seguidos, para a substituição pelos preceitos elaborados pelo marechal francês Vauban.

5.2.4 Distribuição das áreas funcionais

Um dos desenhos utilizados neste trabalho, o do viajante Schmalkalden, informa que os quartéis holandeses eram em número de cinco, sendo três sobrados, um edifício térreo do lado esquerdo, no local onde se encontrou a Casa de Pólvora e um edifício localizado no baluarte Noroeste, que dá para o mangue. Embaixo deste edifício, existe uma espécie de porta, que poderia ser a poterna, dando para o mangue. Quatro quartéis, além da Casa de Pólvora, foram encontrados na pesquisa arqueológica, na Praça de Armas. Outro edifício, do qual foram encontradas duas paredes em L, não se encontra assinalado neste desenho, podendo ser talvez de época posterior. Mas a posição dos quartéis se confirma. Estavam distribuídos em todos os lados das contra-muralhas, inclusive um que não se encontra assinalado, do lado direito da entrada do forte holandês. Pode-se supor que este edifício da direita seria o Corpo da Guarda, que geralmente se localizava próximo da entrada da maioria das fortificações. O poço holandês não está assinalado no desenho em questão, mas se encontra mais ou menos centralizado em relação aos quartéis encontrados.

Outro desenho utilizado, o do Castrum Auriacum, na verdade parte de um mapa sobre a ilha de Itamaracá, publicado em Barlaeus em 1647, confirma que eram cinco os quartéis. Apenas o desenho, que na verdade foi o utilizado para a pesquisa arqueológica, informa que os quartéis eram seis, existindo um deles, que não aparece nos dois citados desenhos, que fica do lado oposto à Casa de Pólvora.

Em relação à fortaleza luso-brasileira, os quartéis ocuparam por um tempo os lados das contra-muralhas e hoje estão apenas em dois lados. A capela inicialmente poderia ter sido construída em local diferente do que está hoje, porque aparece assinalada em planta, tanto com fachada diferente, como se estivesse logo após a entrada, que foi modificada para o outro lado. Junto a esta entrada, estão o Corpo da Guarda, alojamentos e o provável calabouço. Os edifícios holandeses foram demolidos

para que a Praça de Armas pudesse ser alargada e o poço holandês foi aterrado, construindo-se novo poço no centro geométrico da Praça de Armas. O material arqueológico encontrado dentro deste poço era todo holandês. Provavelmente os restos da antiga muralha de terra se encontram sob os terraplenos da fortaleza luso-brasileira. Não foram escavados os outros três terraplenos, apenas se fez uma amostragem. Só o terrapleno Sul, que dá para o Canal de Santa Cruz, por isso pode se supor a existência de mais partes da muralha, o que poderá ser feito em outras campanhas arqueológicas. A parte da muralha encontrada estava sob a areia que enchia este terrapleno.

5.3 Condições de vida no forte e na fortaleza

Não havia população civil nas proximidades da fortificação na época holandesa, embora os mapas da época apontem um pequeno vilarejo de pescadores. A Vila de Nossa Senhora da Conceição, depois Vila Schkoppe, ficava a cerca de 3,00 km. Por isto, os achados de artefatos holandeses se resumem à vida militar, com presença de objetos do cotidiano. Na época da construção da fortaleza luso-brasileira, a área em volta da fortificação não era habitada e as condições são praticamente as mesmas da época holandesa. O material encontrado na pesquisa arqueológica foi separado por categoria:

A – Material cerâmico: foram encontrados restos de vasilhames de uso diário em copa e cozinha, bem como recipientes em grés. Restos de utensílios para a fabricação e o consumo de alimentos. Podem ser reconstituídos através de fragmentos como o bojo, as alças, as bordas e as bases. Através do programa de software AUTOCAD (a sigla CAD refere-se à expressão na língua inglesa “computer aided design”, ou seja, projeto assistido por computador) pode-se pesquisar que tipo de vasilhame era e qual o seu uso. O programa permite a criação de modelos tridimensionais. Pelos achados de cerâmica mais simples, infere-se que a dependência de número 12, que foi totalmente escavada, deveria ter servido de refeitório para os soldados da fortaleza luso-brasileira, que eram em número maior que os oficiais. O refeitório dos oficiais deveria se localizar próximo, mas em outra dependência. Foram encontrados diversos restos de louça, de época variada.

FOTO 97 – MATERIAL CERÂMICO. FOTO 98 – MATERIAL CERÂMICO.

Fonte: BARTHEL, Stela. Maio, 2007. Fonte: BARTHEL, Stela, Junho, 2007.

B – Material bélico: vários tipos de armas, tanto brancas quanto de fogo, dos vários momentos da fortificação, bem como material para o seu preparo e para o seu uso. Punhais, adagas, espadas, lanças, facas, uma alabarda. Revólveres, canhões, projéteis, chumbo de diferentes calibres. Também objetos ligados ao combate, como capacetes, escudos, malhas, luvas, adornos. Objetos para o preparo da pólvora e seu armazenamento.

FOTO 99 – PONTAS DE LANÇAS. FOTO 100 – ARMAS BRANCAS.

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Fonte: GALINDO; MENEZES, 2003, pág. 20. Fonte: BARTHEL, Stela, Junho, 2007.

C- Material vítreo: várias garrafas, copos, restos de xícaras, frascos de remédio.