• Nenhum resultado encontrado

Reconstituição do ms L fols 113c – 322b

CAPÍTULO CD

Acabasse o senhorio do conde dom Garcia Fernandez. E começasse o do conde dõ Sancho, seu filho, o qual foy senhor de Castella, como seu padre. E este foy o que pos bõos foros

[161c] Contam as estoryas de Castella que, depois da morte do conde dom Garcia Fernandez,

ficou em seu logar seu filho, o conde dom Sancho, pella guisa que o fora seu padre. E, segundo contam as estorias deste conde, dizem que foy muy piadoso e sisudo e ardido e atrevudo e mui dereito, em tal guisa que aos nobres pojou ẽ mayor nobreza e aos meores mingou da sua grande servidom em que era, segundo o que ora diremos.

Este conde dom Sancho per amor ouve seus poboos e defendeu muy bem sua terra. Este conde guaanhou dos mouros Penafiel e Sepulvega e ao Madeipollo e Montejo e Gormaz e Osma e Sant’Estevã, que forom perdidos enna prisom do conde seu padre, e fez muito mal aos mouros.

Este conde dõ Sancho deu os foros antigos a Sepulvega. E deu franqueza aos cavalleiros castellãaos que nom peitassem nẽ fossem em hoste sem 201 soldadas, ca, ante do conde dom Sancho, peytavã os cavalleiros e avyam de hyr com o senhor onde os ouvesse mester e o senhor governavaos.

Este conde dom Sancho ouve hũu filho que ouve nome o iffante Garcia; e este foy o que matarom a traiçom em Leon, assy como adyante ouviredes. E ouve hũa filha que ouve nome dona Elvira; e casou com dom Sancho, ho Meor, que era rey d’Aragom e de Navarra, de que diremos adyante em seu logar.

E aveo assy que a madre deste conde dõ Sancho, cobiiçando de casar com hũu rey dos mouros, cuydou ẽ como mataria / [161d] seu filho, por tal que se alçasse cõ os castellos e com as outras fortellezas e que desta guisa casaria com aquelle rey mouro mais seguramente e sem ẽbargo. E, ella querendo poer em obra esta maldade e destemperamento hũa noite as hervas que lhe desse a bever, com que morresse, foy hũa sua covilheira e vyo aquello que a condessa fazia e entendeo bem o que era. Esta covilheira fazia mal de sua fazenda com hũu scudeiro do cõde e descobriolhe este feito, dizendolhe em como a condessa querya matar seu filho com bever de peçonha. E o escudeiro foi logo dizer ao conde e disselhe a maneira como se guardasse.

E esto lhe disse ella cõ muy grande medo, por que lhe foy necesario de lhe descobryr o seu feito e da covylheira. E aquelle scudeiro e a covilheira casou despois o conde; e dally vẽe os monteiros d’Espinhosa que guardam os reis de Castella; e esta guarda lhes foy dada por aquello que assy aconteceu.

E, quando a madre quis dar aquelle bever a seu filho, o conde, elle nõ o quis tomar, mas rogou a ella que bevesse primeiro. E ella disse que o nõ faria, ca lhe nõ era mester. E o conde lho rogou muitas vezes. E ella o nõ quis fazer em nẽ hũa guisa. E elle, quando vyo que o ella nõ querya fazer por rogo que lhe elle fezesse, entendeo que era verdade o que lhe 202 disserom e fezlho bever per força. E dizem algũus que tirou a espada da baynha e disselhe que, se o nõ bevesse, que lhe cortarya a cabeça. E ella, com aquelle medo, beveo o vynho. E, como ho ouve bevudo, cayo logo morta em terra.

Entom o conde ouve desto grande pesar e quebranto, por que assi fora morta sua madre, por a qual cousa / [162a] elle despois fez hũu moesteyro muy nobre e poselhe nome Onha, polla senhora. E, por que a condessa dona Sancha era theuda por senhora em todo o condado de Castella, mandou o conde tolher daquelle nome Myonha aquelle «my» que vem primeiro ẽno nome de Myonha.

Mas agora leixaremos aquy esta razom e tornaremos de como foy o conde dom Sancho lidar cõ os mouros.

CAPÍTULO CDI

Como o conde dom Sancho foy correr e roubar o reyno de Tolledo e de Cordova

Andados treze annos do reynado del rey dom Afomso de Leom – e esto foy na era de mil e vĩite e cinquo annos e o anno da encarnaçom de Nosso Senhor Jhesu Cristo em oyteenta e sete annos – o conde

dom Sancho, nõ podendo sofrer o torto que os mouros lhe fezerom e lhe matarã seu padre, chamou os Leoneses e os Navarros; e esto polla postura que ouverom com seu padre de se ajuntarem hũus com os outros quando lhes tosse mester. E tirou logo sua hoste muy grande e foisse pera 203 o reyno de Tolledo. E correo e estragou toda a terra e levou della grandes roubos; e, o que ficava, queymou todo. E tanto mal fez aos mouros daquella vez que bem ataa Cordova chegou entom, queymando e estragando as terras. E nõ quedou de lhes fazer mal em quanto podia nẽ querya quedar d’hyr por diante, ou lhe dessem batalha el rey de Tolledo e el rey de Cordova. E elles, veendo o mal que fazia na terra, deronlhe ambos grãde aver e muytas doas por averem com elle paz.

Mas agora leixare/mos [162b] esto e diremos dos mouros e dos cristãaos.

CAPÍTULO CDII

Como Çolleima, rey de Cordova, matou todos aquelles que se lhe queriam alçar. E de como lidarom o conde dõ Sancho e Çolleima cõ Mahomat Almohadi e como o vencerom

Andados quatorze ãnos do reynado del rei dom Afonsso de Leon – que foi na era de mil e viinte e seis annos – em este anno os de cordova, veendosse assy mal treytos de Mahomat Almohadi que lhes assy avya mortos muytos dos seus, alçarom entõ por principe hũu mouro de terra de Berberya que avya nome Çoleima e era sobrinho daquelle Yssem Arasit que Mahomat descabeçara.

204 E, elles andando assy pella terra, aconteçeo que hũa partida daquelles Barbaros quiseron

outrossy alçar por caudel hũu mouro, seu cuyrmãao, que avya nome Murinham. E deronlhe hũu cavallo e hũa espada e disseronlhe que, se elle podesse matar Çoleyma, que logo o alçariam por rey. Mas esto soube logo Çoleyma per hũu seu amigo que lho descobryo e lhe consselhou que os prendesse. E elle fez logo prender aquelles Barbaros e fez outrossi prender aquelle seu cuirmãao, Murynham, e deitouho ẽ grandes prisõoes.

E, desque esto ouve feito, pos suas tregoas muy firmes e boas com dom Sancho, conde de Castella, e ẽvyoulhe logo grande aver pera elle e pera suas gentes, pera o averem de ajudar cõtra aquelle Mahomat Almohadi. E o conde tirou logo sua hoste muy grande e guysousse muy ben e foy ẽ sua ajuda.

Aquelle Mahomat Almohadi, quando soube em como viinha o conde dom Sancho em ajuda de Çoleyma / [162c] sobre elle, ẽviou logo seu recado a Medinaçalle e a outros muytos logares que lhe vehessem acorrer. E elles veheron logo e veheo hy com elle de Medynaçale hũu mouro Alhabibi, que avya nome Albahadi Alhemery.

E os que eram dentro ẽna cidade, avendo coraçom de lidar con a hoste do conde dom Sancho, mandarõ achaar as carcovas e todollos logares embargados d’arredor, per que podessem a elles sayr mais sem embargo.

E, pero que lhes defendeu Mahomat que nom saissem a elles, nõ o leixarom elles porem de fazer. E, depois que se ajuntarom as hostes hũas com as outras, ouverõ muy grande batalha. Mas, aacima, venceu Çoleyma cõ ajuda do conde dom Sancho, ca os cristãaos lidavã muy fortemente e muy esforçadamẽte. E morrerõ em aquella batalha, dos de Mahomat Almohadi, trinta mil mouros. E entrarom os cristãaos o arravalde de Cordova e matarom hy e cativarõ muytos mouros e levarom ende grandes roubos e destroirom todo o al.

205

E, quando aquelle mouro Albahadi Alhemeri vyo tam grandes mortĩidade em sua cõpanha, tevesse com aquelles que lhe ficarom que veherom de Medinaçalle e fogio. E Mahomat Almohadi, quando aquello vyo, tirou da prisom rey Issem, o que dissemos ante desto que fezera creer ao poboo que era morto, e mostrouho a todos que o vissẽ e consselhavaos que tomassem ante elle por rey que Çoleima. Mas tanto foy grande o medo que ouverom todos aquelles que esto ouvyrom que por nẽ hũa cousa que elle dissesse nõ lho pode fazer creer que aquelle era Issem. E Mahomat, quando esto vyo, foisse esconder

ẽ casa de hũu Allarve que avya nome Mahomed, o Tolledãao; e, estando todo como desemparado, fugio de noite cõ aquelle mouro To/lledãao. [162d]

Çoleyma, quando esto soube, tomou a cidade de Cordova per força e asenhorousse do alcacer e apoderousse do reyno sete meses. E esta batalha foy muyto nomeada antre os Allarves e dizem que a batalha Cantiza.

E, depois desto, Çoleima, nõ se fiando nos de Cordova, sayusse da cidade e andava pellas terras e logares d’arredor que eram apreto da villa com todos esses cristãaos que eram com elle. Mas os mouros de Cordova ouverõ hũu dya seu acordo que fossem a Çolleyma e que lhe dissessem que entrasse enna cidade e que se nõ temesse de nem hũu. E elles forõ a elle e disseronlhe aquello por que hyã. E disselhes entom o conde dom Sancho:

– Como fostes ousados de vĩir aco? Ca tres synaaes de loucura mostrastes ẽ vossa viinda. A primeira, quando fostes medrosos e cometestes connosco a batalha, seendo vos muytos e demais nos poucos e vos vencestes e fogistes, o que he ainda mais vylanya que loucura. A segunda, por que vehestes

aca, nõ vos segurando nos. A terceira, errastes e pecastes malamẽte contra Deus e contra natura, quando nõ quisestes comprar vossas molheres e vossos filhos e os outros homẽes da vossa ley, estes que ora nós cativamos em esta batalha.

E forom spãtados daquellas pallavras que o conde dizia. Mas, despois que Çoleyma ouve assessegadas as razõoes da cidade com pallavras manssas e grandes averes que lhes deu a todos e seendo elle ja seguro 206 dentro ẽna cidade, veolhe a dizer hũu mouro daquelles de Berberya em esta guisa:

– Senhor, se te a ty prouguesse e o por bem tevesses, matariamos nos estes cristãaos que sõ aquy contigo, ca muyto asynha o pode/remos [164a] fazer. Ca, assy como agora servẽ a ti, bem assy podem servyr a outro que seja contra ti e desto te poderia vĩir grande dampno.

Respondeo Çoleima:

– Elles ham segurança de mỹ e per ella som viindos a me servyr e porem nom faria nem consenterya tal maldade como esta.

E, por que Çoleima ouve medo que poderia vĩir aos cristãaos algũu perigoo de tal feito como aquelle mouro dissera, deulhe muy grande aver e mandoulhes que se fossem. E elles tomaron aquello e tornaronsse pera Castella muy ricos e honrrados.

Em este anno morreo o papa Gregorio e foy posto em seu logar Johanne, o XIIIIº, e forom com elle cento e quareenta e tres apostolligos. E morreo logo a cabo de tres meses e poseron logo em seu logar Silvestre, o XIII, e foron com elle cento e quareenta e quatro apostolligos.

CAPÍTULOCDIII

Da batalha que ouverom antre sy Mahomat Almohadi e Çolleyma e foy vencido Çolleyma Andados quinze annos do reynado deste rey dõ Afomso – que foy na era de myl e XXVII annos e o anno da encarnaçom de Nosso Senhor Jhesu Cristo em novecentos e oiteenta e nove annos – aaquelle mouro Alhabibi 207 Alhemeri, de que avemos dicto ẽ esta estorya, chegarom muytas companhas de todas partes, assy de mouros come de cristãaos, antre os quaaes cristãaos viinhã dous altos homeens – e hũu delles avya nome Armẽgando e outro Vermudo. E, depois que ouve ajuntada grande hoste, veosse com ell pera Mahomat Almohadi, o que dissemos que entom era em Tolledo. E Mahomat outrossy chegou com muy grande companha. E foronsse ambos pera Cordova.

[164b] E Çolleyma, logo que o soube, fallou cõ os de Cordova que saissem com elle pera o

ajudarem contra aquelles que assy viinhã sobre Cordova. E elles, nõ avendo ainda perdido seu maao custume de trayçom, escusaronsse com hũas feas razõoes que nõ vallyam nada. Entom, veendo aquello, os Barboros disseronlhe:

– Senhor, pois os de Cordova nom querem hyr contigo nõ des porem nẽ ajas medo, ca nos iremos contigo e te ajudaremos de coraçom e muy bem ataa morte.

E Çoleyma fiousse em aquella pallavra e sayu cõ elles muy esforçadamente contra aquelles seus inmiigos. E ficou suas tendas em hũu logar a que dizem em aravigo Atanat Albatar, que he a nove legoas de Cordova. E, ante que chegasse a hoste de Mahomat Almohadi a pousar, foy Çolleyma feryr em elles e matou muytos delles, em tal guisa que muytos cuydarõ que morto avyam hy aquelle Mahomat Almohadi.

Entom os de Mahomat cobrarõ corações fortes e tornarom aa batalha e começarõna de cabo. E, por que os cristãaos que viinhã com elles erã muy fortes e lidavã muy de ryjo, ouveronsse de vencer per força os da parte de Çoleima. E matarom muytos delles sem conta, assy que nõ escaparom entom se nõ muy poucos. E Çolleyma, quando vyo os mais dos seus assy mortos, fugio 208 com aquelles que lhe scaparõ e foysse pera hũu logar que chamã Azafram. E esteve hũus dias. E depois tomou dessas cousas que lhe eram compridoiras e foisse dally pera Citava. E os de Cordova veherõ entom sobre elle em Azafram e ouverõ hũu tal logar que poderom entrar. E, como forom dentro, quantos poderõ achar da parte de Çolleima, todos os matarom e tomaronlhes quanto lhes acharom. E, desque esto ouverom feito, tornarõsse pera Cordova e tomaron outrossy quan/to [164c] hy acharõ dos Barboros e todallas nobrezas que elles hy leixarõ de que se honrravã em suas festas e sollempnidades, assy como lampadas d’ouro e candeas e coraaes de prata e panos e livros e todallas outras cousas preçadas e levarom todo pera a mizquita mayor da cidade. E esta batalha foy muyto nomeada e gabada antre os mouros e foy feita quando andava ho ãno dos Allarves em trezentos e seis ãnos. E dizem que teve Mahomat Almohadi em esta batalha trinta mil cavalleiros de mouros e de cristãaos nove mil.

Feito esto, veheosse Mahomat pera Cordova e foy recebido de todos por rey. Outrossi obedeceolhe Yssem que fora rey em outro tempo. E, por que esta boa andança que veo a Mahomat Almohadi, foy esse Alhagib tornado ẽ seu oficio e elle ordenava todallas cousas do reyno, de guisa que Mahomat nõ avya hy de veer se nõ a nomeada que avya de rey.

209 CAPÍTULO CDIV

Em como os de Cordova prenderõ Mahomat Almohadi e fezerom a segunda vez rey aquelle Yssem, de que ja avemos dicto

Quando forom andados quinze ãnos do reynado del rey dõ Afonsso, ẽvyarom os Allarves e os outros honrrados oficiaaes a Mahomat Almohadi per seus messejeyros que, se o elle por bem tevesse, que elles lhe perdoariam todollos erros e tortos e mal feitoryas que lhes elle fezera, e que soltasse aquelles que tiinha presos. Quando esto ouvyo Mahomat, outorgouho e prouguelhe muyto e mandouhos logo soltar todos e deulhes grande algo do seu a cada hũu e ẽvyouhos todos. Mas, despois a poucos dias, veheronsse elles pera Cordova e começarõ a meter boliço antre os mouros / [164d] do logar.

Em aquella sazon era hy com aquelle Mahomat Almohadi o conde dom Reymõ, nõ aquelle que foy padre do emperador mas outro, e outros muytos cristãaos com elle. Este conde, entendendo o mal e o escandallo que poderya vĩir depois por taaes cousas como el rey mandava fazer ẽ mandar tomar aos Barboros quanto avyã enna cidade, e outrossy por que elle era muy esquyvo e errador aos da cidade, e demais que elle ouvyra dizer aos mouros que, assy como os de Cordova matarom e destroyrom aos Barboros, bem assy se trabalharã de matar elle e os cristãaos que com elle eram, entom, veendo o conde estas cousas, disse a el rey que se queria hyr pera sua terra, pois que avya servido o tempo que cõ elle posera. E el rey lho outorgou. E o conde foisse entom pera sua terra com todolos outros cristãaos que hy eram com elle.

210 El rei, depois desto, mandou fazer a carcova em redor da cidade quando sayrom aa batalha

que ouverom cõ Çolleima, assy como ja avemos dito. Desy pos sua postura com os da cidade que faria a terça parte e que fezessem elles o mais.

En todo esto, os Barboros que scaparõ da batalha andavapell a terra destroyndo e queymando villas e logares, assy que muytas dellas avyam despobradas. E os Allarves que forom a Zitava a matar os de Çolleyma, quando virom o mal e o estragamento que os Barboros pella terra andavã fazendo ẽna Andaluzia, ouverõ seu consselho; ẽ matar Alhabibi Alhemeri; e com consselho delles se fez quanto se despois fez. Desy, em hũu dia de Pascoa dos mouros, enna qual elles fazem grãde festa, ẽvyarõ seus homẽes ao alcacer, que prendessem Mahomat Almohadi. E elles forom alla e tomarõ logo o alcacer e prenderõ Mahomat Almohady / [165a] e trouverõno.

Entõ elles tirarom da prisom Issem, o que ja outra vez fora rey, e alçaronno outra vez come de cabo por rey. E trouxeronlhe logo aquelle Mahomat que tiinham preso. E Yssem, quando o vyo, disselhe:

– Tu es treedor a Deus e a mỹ, que fezeste matar todollos mouros que eram cõmigo e tomastelhes todos seus averes que avyam e fezeste a muytos perder e andar pobres e mizquinhos. E, depois que esto ouve dito e outras muytas cousas, mandou logo a hũu algoz que o escabeçasse e que despenasse o corpo de cima do muro enna rua. E logo assy foy feito. E fezerõno todo em peças e tomarom a cabeça e poserõna sobre o muro. Mas primeiro a trouxerom per toda a cidade. E avyam em esto todos grande alegria, ca se acordavã dos malles e tortos que delle recebiam.

E, depois que esto assy foi acabado, veherom bõos homẽes pedir aquelle corpo a el rey pera o averem de soterrar. E el rei deulho e foy soterrado em 211 hũu cabo da mizquita. E mandou el rey tomar a cabeça delle e mandouha a Çoleyma que entom morava ẽ Citava, cuydando que, logo que a vysse, que se tornaria seu vassallo.

Em aquella sazõ morava em Tolledo hũu filho daquelle Mahomat, que avya nome Abdella; e era muyto amado de todos. E Çoleyma, logo que ouve tomada a cabeça, ẽvyouha a aquelle Abdella e com ela mil maravedis. E elle com os de Tolledo tomarom a cabeça e enterrarõna na mizquita.

CAPÍTULO CDV

De como os Barboros correrom terra de Cordova e de como foy a elles rey Issem

[165b] Andados dez e seis annos do reinado del rey dom Afonsso de Leom – e foy esto enna era

de mil e XXIX ãnos e o anno da encarnaçõ de Nosso Senhor Jhesu Cristo em novecentos e noventa e hũu e o de Octavyano, o segundo emperador de Roma, em dez e sete – em esse anno aquelle Issem, depois que ouve o reyno e foy poderado em elle e fez Alhazibi Alhameri poderoso assy como fora em tempo de Mahomat Almohadi, mateve seu reyno muyto em paz. E pose dos seus cavalleiros pellos castellos e villas e pellas terras que guardassem os portos e os logares das entradas. E mandou dizer aos moradores das terras que estevessem aparelhados pera cavalgar com ele, quando andasse pella terra ou cavalgasse pella cidade. E esto fazia elle cada dia e prazia dello muyto a todos e amavãno por ello mais que da outra vez, quando fora rey e nõ se chegava nem hũu a ele nem leixavam entrar onde elle estava por seer melhor guardado – e esto por que viinha do linhajem dos reis. Mas elle assy se sabya aver com o seu poboo que todos o desejavã veer e o amavam muyto.

212 Hũu dya, andando elle per seu alcacer catando sua fortelleza e veendo as sepulturas dos reis,

quando vyo a sepultura de seu padre e de sua madre e daquelle cristãao que por elle fora morto por Mahomat Almohady, como ja dissemos, disse entom:

– Em este logar quero eu aver mynha sepultura.

Mas, com todo esto, os Barboros, de que ja dissemos, nõ quedavã de dar guerra e correr toda a terra em redor de Cordova, de guisa que destroirom e estragarom Eceja e Carmona toda a ribeira / [165c] d’Alquyvir. E tam grande foy o medo que meterom per toda a terra que tam soomente nõ ousavã sayr nem hũus cavalleiros de Cordova a Nova a Cordova a Velha nem aos logares em que tiinhã suas atallayas, tam malamente corriã a terra. E tam grandes dampnos fazia que muytos logares ficavã despoboados pollo grande medo que delles avyam. E tomavam os Barboros os logares, dos quaaes, con medo delles, nõ ousavã a trager nem hũa vyanda a Cordova nẽ sayr do logar. E, por esta razom, ouve de vĩir na cidade de Cordova tam grande fame que se nõ podyam dar a consselho.

Quando esto virom os da cidade de Cordova, forom a Issem e disseronlhe como estavam em este

Documentos relacionados