• Nenhum resultado encontrado

ẽ estando ainda ẽ Roma, foi feita grande discordya antre / [226b] o emperador e o papa E o emperador prendeu o papa e os cardeaaes e deytouhos ẽ hũu carcer E dom Bordỹ, com o despeito, foisse

Reconstituição do ms L fols 113c – 322b

CAPÍTULO DXL

E, ẽ estando ainda ẽ Roma, foi feita grande discordya antre / [226b] o emperador e o papa E o emperador prendeu o papa e os cardeaaes e deytouhos ẽ hũu carcer E dom Bordỹ, com o despeito, foisse

pẽra o ẽperador, cuydando a fazer outro papa. E o emperador, quando vyo a sua agudeza, fezeo logo alçar por papa. E, desque o foy como nõ devya, entrou em Roma cõ o poder do emperador e assentousse ẽna cadeira de Sam Pedro, assy como apostolligo, e fez cantar missa muy alta e chamousse Gregorio VIIIº.

E, em todo esto, livrou Deus do carcer o papa Pascal e os cardeaaes e fogirom per mar a Pulha. E murou hy longa sazon, sofrendo muyta lazeira. E assi morreo ẽna cidade de Gayeta. E foy logo papa, per dereita ẽliçõ, Gollasyo, o segundo. E este ẽvyou logo suas leteras ao arcebispo de Tolledo ẽ esta forma:

«Gollasyo, bispo de Roma, servo dos servos de Deus, ao amado filho Bernaldo, arcebispo de Tolledo e primado d’Espanha, saude e apostolical bẽeçom: Bem sabedes ẽ como Bordym Mouris, arcebispo de Bragaa, leixou sua igreja e veosse pera o escomungado emperador. E elle he outrossy escomungado cõ elle do papa Pascal, nosso antecessor; e mandou que emlegessẽ outro por arcebispo, por que elle he papa contra dereito e cõtra ley, cõ poder do emperador. Onde vos mãdamos que proveades a igreja de Bragaa d’arcebispo, e que scomũguedes e denuciedes por scomũgado o dicto Bordym. Dada ẽ Gayeta, VIIIº dias de Março».

23 Este meesmo papa veeo a Leon do Rodõo e nõ comprio o ãno. E foy posto ẽ seu logar Collito,

que era de Viana, irmãao de dom Remõ que foy padre do emperador d’Espanha. Eeste papa Colito fez avẽeça cõ o emperador Octho e cobrou logo a cadeira de Sam Pedro e toda sua dignidade. E deytou da cõpanha do emperador este Bordym e correu cõ elle e ẽçarrouho ẽ Sucro; e prendeuho meteuho ẽ Callavria em hũu moesteiro da Trindade ẽ hũa cova; e alli jouve preso e cativo ẽ toda sua vyda, ataa o tempo de Eugenio papa IIIº, que foy despois Aleixãdre, o quarto. Ediz o arcebispo dõ Rodrigo que, enno / [226c] paaço do emperador Costantĩ, em hũa camara, stavã scriptos verssos em latim que diziam assy: «Recem Celestos, honor patrie, decus imperiale, nequam Bordim depremad petre reffertete». Esto quer assy dizer: «Cilo ẽleito, honrra da terra e apostura imperial, como davã a dom Bordym e meteu paz antre sy e o emperador Octho».

E estes homẽes bõos que dissemos trouxe cõssigo o arcebispo dõ Bernaldo ẽ Spanha pera a sua igreja. E despois forom ende honrrados e forom nembros da santa igreja, ca fezerõ sãcta vida; e, per seu bõo exemplo, acrecentarõ os fiees de Deus e guaanharõ muy bem pera suas igrejas, que lhes derom os reis por honrra de sua santidade.

24 CAPÍTULO DLVI

Como o arcebispo de Tolledo guaanhou o castello d’Alcalla de Fenalles

Este dom Bernaldo, arcebispo de Tolledo, per outorgamẽto del rei dõ Affomso, cercou o castello d’Alcalla de Fenares, que era de mouros. E, por que era muito forte e nõ o podyam combater e mandou fazer, em hũu cabeço que estava ẽ cima do castello, outro que era como cortigo. E tanta guerra lhes fez dally que nõ podiam aver vyanda e morriam de fame. E por esto leixarõ o castello e fogirõ. E assy o cobrou o arcebispo. E el rei dom Afonso lhe deu privilegios, que o ouvessem sem cõtenda os arcebispos de Tolledo. E despois pobrarom ẽno chãao a vylla que chamã Alcalla de Santa Justa, em que fazẽ as boas feiras.

CAPÍTULO DLVII

Como el rei dom Afomso fez fazer concelho ẽ Leõ por confirmar ho officio romãao

O muy nobre rey dõ Afomso, teendo que lhe fezera Deus muyta mercee ẽna conquista de Tolledo e

ẽnas outras cousas que começara, foisse pera Castella e levou conssigo o arcebispo dom Bernaldo. /

[226d] E, quãdo chegou a Leon, achou ja hy o legado dom Reynel, que era homẽ de santa vyda. E el rei

teve por bem de fazer hy concelho por confirmar ho oficio romãao em Espanha. E entõ o legado e o primado fezerõ hy concelho cõ muytos clerigos e stabellecerõ muitas nobres cousas sobre ho oficio da igreja. E mandarom que dally en dyante husassem ho oficio de Roma. E mandaron aos scriptores que nõ fezessem letra tolledãa. E esto por que dom Godilfos, que foy arcebispo dos Godos, fez no a b c romãao certas feguras de leteras por nõ husarẽ do a b c romãao.

25

E, estando ẽ este concelho, adoeceu a iffante dona Elvyra e morreo dessa infirmidade e foy soterrada a par de dom Garcia, seu irmãao, enna igreja de Santo Ysidoro, muy hõrradamente.

CAPÍTULO DLVIII

Como Ayhya cuydou de guaanhar Valẽça e ẽvyou alla hũu mesejeiro

Despois que Ayhya Alcodyr, neto del rei Alle Meymõ, ouve sua preitesya cõ el rei dõ Afomso, quando mandou cercar Tolledo, que hy acolherom el rei de Badalhouce, segundo ja avedes ouvydo, este Ayhya fez todo seu poder por que el rei dõ Afomso cobrasse Tolledo, cõ tal cõdiçõ que lhe ajudasse a guaanhar Valença, que fora de seu padre e que de dereito devya de seer sua, e Sancta Maria d’Alvarazĩ e o reyno de Denya. E, por esforço del rei dom Afomso, Yahya foisse pera Valença. E el rei tiinha que, por a grande discordya que era antre os mouros, faria toda a terra sua. E, despois que aquelle Yahya foy ẽ Alvarazĩ,

vyou a Vallença hũu seu primo que avya nome Abem Alfaras, por saber se lha daria Audela / [227a] Hazis que a tiinha, ou que a tiinha em coraçõ de fazer, ca dovydava em elle por que casara sua filha com el rey de Saragoça.

Este messejeiro foy allo e pousou com hũu mouro que avya nome Abulurom. E esteve hi hũu grande tempo, ataa que foy feito o casamento daquella filha d’Abubetar com el rey de Saragoça. E, elle hi estando, adoeceu o senhor da vylla e morreo. E o mandadeiro, por saber a quem se daria o senhorio da villa, ficou hy. Mas os da villa andavom muy tristes por a morte delle. E elle avya dous filhos que eram muy mal avĩidos em vida do padre e forõno ainda despois peor.

26 CAPÍTULO DLIX

Como Yahya cobrou o senhorio de Valença e foy recebido cõ grãde hõrra

Despois que foy morto aquelle senhor da villa, que dissemos, os filhos partirom todo o que lhes elle leixou, mostrando grande cobiiça em esso que avyam de partir, em tal guyssa que ataa mais pequena cousa partirom. E fezerõ de si dous bandos e partironsse hũu do outro, cuydando cada hũu seer senhor. E outrossi a jente da villa partironsse em outros dous bandos. E hũu delles queria dar o senhorio ao rey de Saragoça e outros a Yahya – e esto por medo del rei dom Afomso, ca bem sabyam elles o prometimento que antre elles avya por razom da tomada de Tolledo e bem sabyam como el rey de Badalhouce dhy fora malandante.

E, cõ as novas deste desacordo, se tornou Abenalfas a Yahya e contoulhe todo o feyto como era. E elle teve que, pois hy avya bandos, que poderia cobrar a cidade. Entõ mandou por dom Alvaro Fernandez, a que el rey dom Afonsso mandara cõ elle cõ peça de companha de cristãaos, e foisse pera Valẽça. E mandou dizer aos da vylla / [227b] como hya e ẽvyoulhes dizer per vya d’afaagos que lhes faria muyto bem e mercee. E elle foy pousar perto da villa a hũu logar que avya nome Sepa. E os mayores da villa ouverõ seu consselho de lhe dar a villa e o receber por seu. E esto faziã elles mais por medo del rey dõ Afomso que por amor que lhe ouvessẽ. Entom lhe mãdarõ dizer que o receberyã cõ grande homildade. E logo em outro dia sayu o alcayde cõ elle todollos homẽes bõos de Vallença e receberõno muy bem e entregaronlhe o alcacer.

Mas, logo a poucos dias, morreo el rey de Saragoça. E Abueçã e Alurom e Audella Haris quiseronsse partir do preito de Vallença e hirensse pera Murvedro que era seu – e esto faziã elles por a grande discordia que era antre os da villa. E tomarõ conssigo hũu sabedor, que avya nome Mahomed Abuid, 27 e disseronlhe o que queriam fazer. E, quando elle ouvyo o que diseron, disse que nõ era bem de ẽ tal tempo leixarem a villa. E fezeos ficar. Entõ fezerom preito de se ajudarem cõtra todollos homẽes do mundo com os corpos e averes. E Abueçã tiinha aquelle castello de Murvedro e outro que avya nome Castro e outro que avya nome Sancta Cruz; e ẽvyouuhos guardar a homẽes seus parentes de que fiava.

E, quando aquelle Albueçã, que era alcaide, saira a receber el rey Yahya com os outros, como ja ouvistes, prometeulhe fazer muyto serviço. E el rey, despois que ouve assessegado seu reyno, fezeo algazil mayor e deulhe poder em seu reyno. E, pero que lhe esto fazia, nõ era delle seguro, por que tevera sempre cõ elle. E por esto nõ sabia que fezesse, se se partira del rei ou nõ, por segurar tal duvida. Pero trabalhavasse quãto podia de servyr bem e lealmente, por amor de lhe perder a sospeita que delle avya.

CAPÍTULO DLX

Como o rey de Vallença nõ podia fazer a custa a dõ Alvaro Fernandez e como deytou peita ẽ Valẽça

[227c] Quando el rey vyo que aquelle Abueçã tam de coraçõ lhe fazia serviço e assi lealmente,

fezeo seu privado muy mais chegado e honrrouho e fezelhe preito e jura, com cartas bem firmadas, que nũca lhe tolhesse aquella privãça nẽ fezesse ẽno reyno cousa sem seu consselho. E por esto foy Abueçam mais seguro del rei e perdeu delle a duvyda que tiinha. E desy os que lhe tiinham os castellos adusserom muy grandes presentes e muytas doas a seu senhor el rei cõ grande homildade, assi como os mouros o sabẽ

fazer. E esto faziam elles por segurar el rei. E disserõlhe que ẽvyasse dom Alvaro Fernandez, ca lhe fazia muy grande 28 custa, ca lhe custava cada dia VIc marcos e el rey nõ avya nẽ hũu nẽ com que o mantẽer e por esta razõ queixavansse muyto as gentes.

E el rei tiinha que, se ẽvyasse dõ Alvaro Fernãdez, que se lhe alçariam os mouros. E, pera o mantẽer, lançou grande peita ẽ Vallença e ẽno termho, dizendolhes que o queria pera cevada. E foy tirada aquella peita do mayor ao mais pequeno. E esto teverõ todos por grande mal e por desaforamento ẽ lhes passar seus custumes e tiinhã que por esto se perderia Valença, assi como se perdera Tolledo. E assi lhes pesou desto que andavã dizendo pella villa, como por exemplo, hũus aos outros:

– Dá cá a cevada!

E dizẽ que avya hi hũu alãao na carneçaria, com que matavã as vacas, e quando lhe deziã: «Dá cá a cevada!», começava de ladrar e rẽger. E disse hũu sabedor:

– Graças a Deus, por que á na villa muytos que semelhã aquelle alãao e dã braados e rẽgem cõ elle!

E passarõ assi hũus poucos de dias.

CAPÍTULO DLXI

Como os dos castellos trouxerõ grandes serviços a el rey

Conta a estoria que, quando os dos castellos / [227d] trouxerõ seus presentes a el rey, que hũu mouro que avya nome Abũmator, que tiinha hũu castello que avya nome Xativa, que nõ quis hi vĩir nẽ

ẽvyar nẽ hũu. E el rei ẽvyou por elle. Mas el nõ quis vĩir e ẽvioulhe hũu mandadeiro cõ seus presentes muy ricos e ẽvioulhe dizer que nõ podia hi vĩir, pero que lho nõ fazia por outra scusa e que sempre seeria a seu serviço; e que lhe pedia por mercee que lhe leixasse aquelle logar e 29 que lhe daria as rendas delle; pero, se o quisesse pera poer hi outro, que lhe desse algũa cousa ẽ que vivesse e elle que terria sẽpre cõ elle. E el rei ouve consselho como o seu alguazil Abueçã e el consselhoulhe que fezesse seu rogo e que lhe leixasse aquelle logar, como o tiinha; e que ẽvyasse dom Alvaro Fernandez, ca lhe fazia grande custa. E elle o cõsselhava muy bem. Mas el rei o nõ quis fazer e tomou consselho cõ os filhos de Bubecar que se davã por seus amigos e disselhes o consselho que lhe dera o alguazil. E elles disserom que o consselhava mal, mas que tirasse sua hoste e fosse sobr’elle e que lhe tomasse o castello. E elle teve que o cõsselhavã bem. E sacou logo sua hoste e foy sobre elle.

E, o primeiro dia que chegou, entrou o mais chãao da villa. E Abũmator alçousse ao alcacer e outras fortellezas que hi avya e defenderõ o mais da villa. E el rey teveo cercado quatro meses; e hyanlhe mỹguando as viandas e as auguas, aos de fora como aos de dentro. E os de Valença nõ podiã sofrer a custa del rei e de dom Alvaro Fernandez.

E, despois que el rey conheceu que fora mal consselhado, mãdou a hũu dos filhos de Bubecar que fezessẽ a custa a dõ Alvaro Fernandez XXX dias, por que lhe dera maao cõsselho. E mãdou prender hũu judeu que era almoxarife da vila, e fezelhe tomar quanto avia e, ẽquanto lhe durou aquele aver, folgarõ os de Valẽça.

CAPÍTULO DLXII

Como Abũmator pedio acorro a el rei de Denia e como elle quis aver Vallença

[228a] Quando aquelle Abũmator vyo o tallãte que el rey que avya pera o tomar e que o

apremava quanto mais podia, mandou dizer a el rey de Denya e de Tortossa que lhe ẽvyasse acorro e que lhe daria Xativa e os outros castellos que tiinha. E el rey, quando o soube, prouguelhe muyto e ẽvyoulhe hũu mãdadeiro que era 30 alcaide, que avya nome Esquerdo. E el rey guysou muy bẽ sua hoste de cristãaos e de mouros, ca nõ ousou vĩir sem cristãaos e de mouros por medo de dom Alvaro Fernandez, e trouxe conssigo Giraldo, o Romão, cõ muy grande hoste de Franceses, e veosse pera Xativa. E, quando esto soube el rei de Vallẽça, ouve tã grande medo que começou de fogir e meteusse na islla do mar e desy foisse pera Vallença e tevesse por muy scarnydo.

El rei de Denya ouve entõ Xativa cõ os outros logares que tiinha Abũmator. E el rei de Vallença escapou assy muy deshonrrado, por que dõ Alvaro Fernandez nõ o ajudou como devya. E os que tiinhã os castellos por elle forõlhe perdendo a vergonça e os da villa outrossy, em tal guisa que deziã que ante queriam seer del rey de Denya ca nõ delle, ca nõ podyã comprir a sua custa e dos cristãaos.

El rey de Denya partiosse de Xativa e foy sobre Vallença, cuydandoa de cobrar por o muy grande desamor que os da vylla avyã ao seu rey e outrossi por a grande prema que sofriam dos cristãaos. E foy pousar a hũu logar que era oratorio dos mouros ẽ suas festas, e avya nome ẽ aravygo Axerea. E andou arredor da vylla per hu quis, vendoo el rei e dõ Alvaro Fernandez que estavã percebidos cõ suas jentes por

medo dos Franceses. E, despois que el rei de Denya vyo que nõ podya mais fazer, tornousse pera Tortossa.

E el rey de Valẽça / [228b] era ẽ muy grande pressa cõ dom Alvaro Fernandez que lhe demandava sua despesa e, buscando carreira pera lha dar e prender hũu dos filhos de Bubecar e outros homẽes bõos da villa e levou delles grande aver.

31 CAPÍTULO DLXIII

Como dom Alvaro Fernandez foy correr terra de mouros

Conta a estorya que se aveherõ el rey e dõ Alvaro Fernandez em tal maneira que ficasse hy cõ elle; e deulhe muytas e boas herdades per que vivesse. E, quando os mouros virõ que tal poder avya dom Alvaro Fernandez, hyansse pera el quantos reffiãaes e malfeitores avya na villa. E era ja em poder dos cristãaos a cidade, ẽ tal guisa que os mouros a desemparavã e nõ prezavam as herdades nẽ hũa cousa, por que nõ erã seguros dos corpos nẽ dos averes. E ẽ esto guyssousse dom Alvaro Fernandez e foy correr terra de Denya e

ẽtrou villas e castellos e matou e prendeu muytos mouros e trouxe muitos gaados e grande aver ẽ ouro e prata e tornousse a Vallença cõ todo o roubo.

CAPÍTULO DLXIV

Como el rey dom Affomso ẽvyou rogar o rey de Vallẽça por o filho de Bubecar

Despois que o filho de Bubecar preytejou cõ el rei de Vallẽça, soltouho da prisom. E desi pos seu amor cõ dõ Alvaro Fernandez e cõ o algazil del rey e cõ hũu judeu que era messejeiro del rei dom Affomso. E estes todos tres ẽvyarõ rogar a el rey dõ Afomso que o recebesse em sua guarda cõ todo o seu,

ẽ tal maneira que lhe nõ fezesse mal el rey de Valença nem lhe tomasse o seu, e elle que desse por esto a el rei dõ Affomso ẽ cada hũu anno XXX mil marcos. E el rei dom Afomso fez seu rogo e mãdou per suas cartas dizer a el rey de Vallença 32 que lhe nõ fezesse mal nẽ lhe tomasse o seu, ca elle o recebera ẽ sua ẽcomẽda. E, quando foy o tempo do prazo, foy o judeu cõ o recado a el rey de Vallença. E entom / [228c] demandou os XXX mil marcos aaquelle filho de Bubecar.

CAPÍTULO DLXV

Como se foy pera Murvedro aquelle filho de Bubecar por que se nõ asegurava ẽ Vallença

Por o rogo del rei dom Affomso era aquelle filho de Bubecar guardado que lhe nõ faziam nẽ hũu mal, pero estava em sua casa que nõ ousava de sayr. E dizem que hũu dya sayo fora da casa em vestiduras de molher e esteve todo esse dia em hũa orta. E, logo que foy noite, cavalgou ẽ hũu cavallo e foisse pera Murvedro. E, quando o soube o alguazil Abueçã, prendeolhe hũu seu filho. Mas deuho logo por fiadores a hũu seu tyo que avya nome Abuagad – e esto lhe fez por amor del rey dom Affomso. E demandoulhe o judeu os XXX myl marcos; e mandarõ por elles a Murvedro. E deulhe a meatade ẽ vyandas e a outra meyatade ẽ ouro e prata. E o judeu tornousse logo pera el rey dom Afomso. E, ẽ esto, sayo da prison ho outro seu irmãao per rogo del rey de Saragoça e foisse logo pera elle. E fogirõ entom muytos bõos homẽes da vylla e foronsse pera Murvedro.

Mas agora leixa a estorya a fallar desto e torna contar como passarõ os Allarves ẽ Espanha e como matarom Abenalfage.

CAPÍTULO DLXVI

Como e por qual razõ passarõ os Allarves em Espanha

Conta a estoria que a razõ por que os Allarves desta vez passarõ ẽ Espanha foy esta:

Dito vos avemos ja em esta estorya de como el rei dom Affomso ouvera 33 cinquo molheres, as quaaes avyã estes nomes: a primeira ouve nome dona Ynes; e a segunda, dona Costãça; e a terceira, dona Beatriz; e a quarta, dona Ysabel; e a quinta, dona Branca. E,despois da morte desta, estãdo / [228d] elle por casar, a esta sazon reynava ẽ Sevilha hũu rey mouro que avya nome Abuhabed e era homen de boos custumes e muy poderoso; e avya no reyno de Tolledo as villas e castellos que vos cõtamos de suso, convem a saber: Conca e Hucres e Amassa Triigo e outros. E avya hũa filha muy fremosa donzella e de nobres custumes e avya nome Çayda. E amavaa muito o padre. E, por a mais honrrar e aver melhor

casamento, deulhe todollos logares do reyno de Tolledo que vos ja dissemos, cõ muy boas cartas e cõ bõo firmamẽto.

Documentos relacionados