• Nenhum resultado encontrado

Reconstituição do ms L fols 113c – 322b

CAPÍTULO D

Como o Cide retou os de Çamora

Despois que el rey foy morto, como ja avedes ouvydo, o Cide retou os de Çamora por a morte del rei. E responderrõlhes os da vylla que nõ deziã verdade, ca se nõ / [208d] fezera per seu consselho nẽ per seu mãdado nem lhes prazia dello. Pero nõ se partio por esto o reto, ca ouverom a lidar per esta guisa: o Cide soo cõ XV cavalleiros dos melhores que estavã ẽ Çamora armados per esta guisa: os VII cavalleiros fossem armados de loriga e os oito fossem armados de perpontos. E o Cide matou hũu delles e chagou os dous muy mal e derribou os VII e fogirom os V.

E sabede que, como quer que o Cide vencesse este reto, que despois retou dõ Diego Ordonez os de Çamora e lidou cõ elles assy como adiante ouviredes. E diz em este logar o arcebispo dom Rodrigo que, quando el rei dom Sancho foi morto, que algũus fogiã pera suas terras e leixavã as tendas e o que tiinham. Outros dizem que esto nõ he verdade por que os nobres Castellãaos, parando mentes ẽ aquello que elles sempre guardarõ, convem a saber, dereito e verdade e lealdade, nõ se quiserom arrevatar pero seu senhor era morto, mas chamarõ os 390 prellados que hi erã e algũus dos outros ricos homẽes e levarom o corpo del rei honrradamente ao moesteiro d’Onha e soterrarõno hy, assi como cõviinha a rey. E todos os mais altos homẽes e melhores ficarõ nos arreaaes sobre Çamora. E morreo este rey dom Sancho ẽna era de mil e cento e dez ãnos VI dias de Novembro; e reynou VII ãnos e nove meses e poucos dias.

CAPÍTULO DI

Como os Castellãaos ouverõ seu acordo pera retar os de Çamora

Despois que el rei dõ Sancho foy morto e soterrado, tornarõsse, os que com elle forom, ao cerco de Çamora e acordarõ como mandassem dizer mal aos da vylla.

E levantousse o conde dom Nuno e o cõde dõ Garcia de Cabra / [209a] e disserõ:

– Amigos, ja bem veedes como avemos perdido nosso senhor e como o matou o treedor de Vellido, seendo seu vassallo. E os de Çamora receberõno na vylla, assi como vos veedes. E, segundo o que nos foi dicto, fezeo per seu cõsselho. E, se ouver aquy quem lhes queira dizer mal porẽ, nos todos darlh’ emos todo aquello que lhe mester for, ẽ maneira que saya ende con honrra, con tanto que o reto seja comprido.

Entom se levãtou hũu cavalleiro castellãao muito esforçado e de grande guisa e avya nome dom Diego Ordonhez, filho do conde dõ Ordonho de Lara, e disse:

– Se outorgardes o que dizedes, eu farei este reto aos de Çamora polla morte del rei dom Sancho, meu senhor.

E elles outorgaronlho de o comprir.

391 CAPÍTULO DII

Como dom Diego Ordonhez retou os de Çamora

Dom Diego Ordonhez, despois do outorgamento que lhe foi feito, foisse pera sua pousada e armousse muy bem o corpo e o cavallo de todas armas. E foisse pera a villa. E, quando foi preto do muro, cobriosse do scudo, que o nõ ferissem os da villa, e começou a chamar em grandes vozes se estava hi dom Airas Gonçallo, que lhe queria dizer hũu mandado. E hũu scudeiro que guardava o muro foyo logo chamar, dizendolhe como estava hũu cavalleiro armado acerca do muro que o chamava, se queria que lhe tirasse do arco. E dõ Airas disse que nõ. E dom Airas Gonçallo e seus filhos que guardavã daquella parte sobirõ ẽ cima do muro por saber o que demandava o cavalleiro. Entõ lhe disse dõ Airas:

– Amigo, que demandades? E dom Diego respondeulhe:

– Os Castellãaos ham perdido seu senhor e matouho o treedor / [209b] de Vellido, seendo seu vassallo. E vos, os de Çamora, acolhestello ẽna villa. E porem digo que soodes treedores, por que quẽ treedor colhe conssigo sabe da treiçon e cõsente em ella. E porem reto os de Çamora, tã bem os grandes como os pequenos, assi o que he nado como o que he por nacer, e o morto e o vyvo, e reto as auguas que corrẽ per o rio, e reto os pãaes e os vynhos. E, se hi ha algũu enna villa que desdiga o que eu digo, lidarlo ey cõ a mercee de Deus e ficarã por quaaes eu digo.

Respondeolhe entom dõ Airas Gonçallo e disse:

– Se eu sõo tal como tu dizes, nom devera de seer nado. Mal fallaste em quanto as dicto e fuste mal consselhado. Ca quẽ reta concelho deve de lidar cõ V hũu empos ho outro. E, se algũu dos V o matar ou vencer, fica o concelho quite e o cavalleiro fica vẽcido. E, se o cavalleiro matar ou vẽcer os V cavalleiros, 392 fica elle por verdadeiro e o concelho fica por culpado. E demais que nõ hã culpa os grandes do que fazẽ os pequenos, nẽ o que fazem os mortos aos vivos, nem os por nacer do que fazẽ os nados.

Dom Diego, quando esto ouvyo, pesoulhe muito dello, empero que o emcobrio mui bẽ. E enton disse a dõ Airas Gonçallo:

– Eu darei doze cavalleiros castellãaos e vos dade outros doze de Leon. E jurẽ todos ẽnos Avãgelhos que nos julguẽ em dereito em este logar. E, se acharem que com V devo de lidar, lidarei com elles.

E dom Airas Gonçallo outorgoulho e poseron tregoas de tres IX dias, ataa que fosse posto este feito e que lidassem sobre elle.

Mas agora leixa o conto a fallar e torna a contar como fez a iffãte dona Orraca.

CAPÍTULO DIII

Como a iffante dona Orraca fez saber a el rei dom Afomso, seu irmãao, a morte del rei dom Sancho Despois desto que dicto avemos, fez a iffante dona Orraca suas cartas e ẽvyouhas em grande puridade a seu irrnãao, / [209c] el rei dom Afomso, a Tolledo, em que lhe fazia saber como era morto rey dom Sancho e nõ avya outro que herdasse os reynos e porẽ que se vehesse quãto mais cedo o podesse fazer pera receber os reynos; e que esto fezesse o mais escuso que podesse, por se guardar do retiimẽto que lhe os mouros poderiã fazer.

393 Outrossi diz em este logar o arcebispo dom Rodrigo que os Castellãaos e os Leoneses, por

guardarẽ verdade e lealdade, que se ajuntarõ pera aver seu acordo ẽ feito do reyno e acharõ que, pois que el rei dom Sancho nõ leixara herdeiro, que os reynos viinhã de dereito a el rei dõ Afomso. E diz que lho fezerõ saber ẽ segredo que se vehesse ao reyno. Pero esto nõ poderõ elles tanto ẽ puridade fazer que os mouros nõ ouvessẽ de saber.

Mas dom Pero Ãçores, que era homẽ de grande cõsselho, sabya mui bem a aravya. E, despois que ouvera sabido da morte de dom Sancho, nõ penssava ẽ outra cousa se nõ como poderia tirar el rei dõ Afonso de Tolledo. E por esto cavalgava ẽ cada hũu dia fora da vylla e hiasse acerca dos caminhos que viinhã de Castella e esto por saber novas certas. E aconteceolhe hũu dya de achar hũu homẽ em aquelle camynho que viinhã cõ o recado a el rei de Tolledo ẽ como era morto el rei dõ Sancho. E dom Pero Ançores, per suas fremosas pallavras, desviouho fora do camynho, fazendolhe entender que o queria pregũtar por muytas novas. E, como o teve apartado, cortoulhe a cabeça e tornousse logo ao caminho. E achou outro messejeiro e fezlhe outro tal. E esto fazia el que o rei mouro nõ soubesse nẽ hũa cousa ataa que elle ouvesse tempo bẽ apreitado pera fugir cõ seu senhor. Pero aacima ouveo de saber rey de Tolledo.

E, estando dom Pero Ãçores no caminho como dissemos, ex os messejeiros de dona Orraca que chegarõ a elle e lhe disserom o feito todo como era. E elle emtom tornousse aa vyla, / [209d] a fazer guisar todas suas cousas pera quando se ouvesse d’hyr seu senhor.

394 E diz dom Rodrigo que em este medês dya chegou a el rei dom Afomso o recado dos

Castellãaos.

E dom Pero Ançores temiasse que, se el rei de Tolledo soubesse esto, que nom leixaria partir el rei dom Afomso sem lhe fazendo grandes posturas. E elles estando em este medo, entenderõ que se o rei de Tolledo soubesse primeiro d’outrem que delles, que seeria peor. Entom disse el rei dom Afomso:

– Amigos, bẽ sabees que, quando me vĩi pera el rei de Tolledo, que me recebeu cõ muy grande honrra e deume quãto ouve mester. Pois como lh’ey de negar a mercee que me Deus faz? Certo querolho dizer em toda guisa.

E dom Pero Ãçores disselhe que o nõ fezesse per nẽ hũa maneira.

Pero diz aqui dom Lucas de Tuy que, emquãto dom Sancho era vivo, que el rei dõ Afomso dissera a el rei de Tolledo que lhe desse algũa jente, se tevesse por bẽ, que queria vĩir ajudar os seus vassallos, e que o rey mouro lhe dissera que o nõ faria, ca avya medo que lhe vehesse del rei dõ Sãcho algũu mal, e que esto ficaria assi.

Mas aqui he de saber que el rei dõ Afomso foi a rey de Tolledo e lhe disse todallas novas, como elle sabya que seu irmãao el rei dõ Sancho era morto, e contoulhe todo o feito como era e que lhe rogava que lhe desse algũa jente, ca elle nõ avya de quẽ se temer.

Conta aqui o arcebispo dõ Rodrigo quando lhe esto ouvyo, que lho gradeceo muyto por que lhe dissera que queria hyr a sua terra e lhe pedira ajuda. Ca ja elle sabya mui bẽ todo o feito da morte del rei

dõ Sancho e porẽ mandara ja tẽer todollos caminhos e os passos que, ẽ caso 395 que el rei dõ Afomso se quisesse hyr, que nõ podesse. Pero perdeo delle tal sospeita por que lhe descobrira sua puridade. E, cõ grande prazer que desto ouve, disse:

– Muyto te agradeço / [210a] Afomso, o que me as dicto e por que me descobriste que te querias hyr a tua terra. Ca, se te foras sem mo fazendo a saber, nõ poderas scapar de grande dãpno ou de morte ou de prison. Mas, pois que assi he, vay des aqui adeante a teu reyno e tomao, se poderes. E eu te darei do meu o que ouveres mester pera dares a teus vassallos pera cobrares os corações delles.

E entõ lhe rogou que outra vez lhe renovasse a jura que lhe avia feita, convem a saber: de o ajudar sempre e seus filhos e de nũca hyr contra elles ẽ nẽ hũa maneira. E esta meesma jura fez o rey de Tolledo a dom Afomso. E el rei de Tolledo amava muito hũu seu neto que nõ ẽtrou ẽ esta postura e nõ foy elle theudo despois em lha guardar.

Despois da jura, o rey de Tolledo hyao deteendo de dia em dia e nõ o leixava hyr. E el rei dom Afonsso seguyao muyto em cada hũu dya. E o rei mouro, seendo anojado por que o afficava tãto, disselhe com sanha:

– Vaite agora, ca devagar fallaremos em esto!

E esto era ja noyte. El rei dom Affomso, teendo que avya mandado o rey que o nõ leixasse hyr por aquello que disse: «vayte agora», sayusse logo 396 do paaço e guisousse como se fosse. E dom Lucas de Tuy diz em este logar que, em jogando o eixedrez com el rei, que o anojou tanto ataa que lhe mandou que se fosse.

CAPÍTULO DIV

Como el rei dom Afomso partio de Tolledo

Despois que se el rei dom Afonsso partio del rei de Tolledo, dõ Pero Ãçores, como era homem de grande intendimento em todos seus feitos, tiinha ja fora da vylla muitas bestas e muy bem guisadas, ẽ tal guisa que o nõ entendeu nẽ hũu. E, como el rei se partio do paaço, logo sẽ mais tardar o tomarõ os seus vassallos e per cordas o poserõ fora / [210b] per cima do muro. E, despois que elle foy fora, sairom todos seus cavalleiros e cavalgarom em suas bestas e andarom toda a noyte, nõ sabendo desto o rey mouro nẽ hũua cousa.

Mas, despois que se dõ Afomso partio do rey de Tolledo, aa noyte, fazendo semelhãça de se hyr pera sua pousada, pregũtarõ os mouros, ẽ razoando cõ el rei, que razõ era por que se el rei dom Afomso queria hyr a sua terra. Entom disse hũu dos privados:

– Certo, senhor, eu cuydo que elle ha mãdado de seu irmãao que dizem que he morto. – Pois que me consselhades vos outros que faça ẽ esto?

397 E foy entom acordado per el rei com todos seus privados que em outro dya na manhãa fosse

preso el rei dõ Afonsso e que o guardassẽ em tal guisa que lhes nõ vehesse delle mal nẽ dampno.

Mas el rei dom Afomso, que hya ja seu caminho, como dissemos, andou aquella noite e passou o porto de Valla Come. E despois er nõ quedou de andar assi noyte como dia, ataa que foi posto ẽ salvo.

El rei de Tolledo, em outro dya, como tiinha determinado ẽ seu consselho, mãdou chamar el rei dom Affomso que vehesse a elle ao paaço. E elle tiinha muy bem guisados seus monteiros pera o prender. E o que o foi chamar nom achou nem hũu e achou as cordas per onde descenderom do muro. E tornousse a el rey e disselhe como se fora. E, quando elle esto ouvyo, ouve dello muy grande pesar, pero nõ o quis mostrar aos mouros. Ante lhes deu a entender que nom dava porem nada.

Mas agora leixaremos aquy a fallar desto e tornaremos a cõtar como dom Diego Ordonhez lidou seu reto.

398 CAPÍTULO DV

Como forom tomados os juizes pera julgar o reto ãtre dom Diego Ordonhez e os de Çamora Em quanto os messejeiros de dona Orraca forom a Tolledo, sayo da villa dom Airas Gonçallo, polla tregoa que era antre elles, co/mo [210c] vos ja dissemos, e foisse veer com os Castellãaos, pera se acordarem como avyam de fazer sobre o reto que fezera dom Diego aos de Çamora. E teveron por bem de poerẽ doze cavalleiros de cada parte que julgassem como avyã de fazer e con quantos avya de lidar o que reta concelho. E foy achado per os quatorze cavalleiros juizes que era dereito que o cavalleiro que retava concelho que lidasse cõ cinquo. Entõ levantaronsse os mais honrrados e mais sabedores dous cavalleiros, delles, hũu castellãao e outro leones, e julgarom per sentença que todo homẽ que reta concelho de vyla em que aja bispo ou arcebispo que deve de lidar com cinquo hũu empos outro. E, cõ cada hũu, devẽ dar ao retador cavallo e armas e de comer e de bever vinho ou auga qual elle quisesse. E esta sentença que

elles assi derom, confirmarõna os outros.

Em outro dia que a sentença foy dada, a hora de terça, aderençarom o campo onde avyã de lidar em hũu arreal aalem do rio, contra hu dizem Siago. E poserom em meo do campo hũa vara e ordenarõ que o que vencesse, que deitasse mãao da vara e dissesse que avya vencido. E, desque esto ouverõ posto, 399 poseron logo prazo de dez dias a que lidassem, em aquelle dya e logar que avyã assinado.

Depois que esto assi ouverõ feito e firmado, como avedes ouvydo, tornousse dom Airas Gonçallo pera a vylla e contou aa iffante como se livrara o feito do repto. E ella logo mandou apregoar a concelho que vehessem a ella todos os da villa. E, desque forom ajũtados, disselhes dõ Airas Gonçallo:

– Amigos, se aquy ha algũu de vos que fosse consselheiro ou consentisse ẽ a morte del rei dom Sancho ou o soubesse, digao e nõ o negue, ca ante eu quero cõ meus filhos yrme pera terra de mouros que seermos vẽçudos ẽ cãpo e ficarmos por aleyvosos.

Entõ responderõ todos que nõ avya hi tal que o soubesse nẽ lhe prou/vesse, [210b] nem Deus nõ o quisesse. Desto prougue muito a dõ Airas Gonçallo e mandoulhes que se fossem pera suas pousadas. E escolheu logo delles os quatro que lidassem cõ o cavalleiro e que elle queria seer o quinto.

E castigouhos e enssynouhos como fezessem quando fossem ẽno campo e que elle seeria o primeiro. «E se he verdade o que diz o cavalleiro – disse el – eu quero morrer primeiro que nõ veer o vosso pesar. E, se elle nõ diz verdade, veelo ey eu e vos ficaredes salvos e hõrrados».

CAPÍTULO DVI

Como dõ Diego Ordonhez lidou o reto por a morte de seu senhor

Quando foy o prazo a que ouveron de lidar, que era o primeiro domĩgo de Janeiro, quando andava a era em mil e cento e sete ãnos, dõ Airas Gonçallo armou dous seus filhos de grande manhãa. E deshy armarõ elle. Em esto, che 400 goulhe mãdado como ja ãdava dõ Diego ẽno cãpo. E elle e seus filhos cavalgarõ. E, ẽ sayndo pella porta de seu paaço, ex que chegou a iffante dona Orraca e disselhe chorando:

– Dom Airas Gonçallo, venhavos ẽ mente como meu padre el rei dom Fernando me vos

ẽcomendou. E vos jurastes em suas mãaos que nũca me desemparassedes. E agora me parece que queredes hyr contra vossa verdade e me desemparar, por que vos rogo que o nõ queirades fazer e fiquedes e nõ vaades aa batalha, ca assaz ha hi quẽ vos scuse de lidar.

Entom travou delle em guisa que o nõ leixou allo hyr e fezeo desarmar. Entõ se apressentarom ante elle muitos bõos cavalleiros, demandandolhe as armas pera lidar em seu logar. Mais nõ as quis dar a nẽ hũu. E chamou hũu seu filho que avya nome Pedr’Airas, que era muy vallente cavalleiro, pero era de muy poucos dias. E elle avya ja ante desto / [211a] rogado ao padre que o leixasse hyr lidar por elle com Diego.

E o padre armouho con aquellas suas armas e castigouho como fezesse e deshy deulhe a beençom, dizendolhe que em tal hora fosse lidar por os de Çamora, como vehera Jhesu Cristo ẽna virgem Santa Maria por salvar o mundo.

E deshy foisse pera o cãpo onde o estava sperando dom Diego Ordonhez muy bem armado. E os fiees meterõnos enno cãpo e partironlhes o sol. Deshy saironsse do campo.

E, logo que os fiees foron fora do campo, volveron as redeas aos cavallos e foronsse ferir muy bravamente, como bõos cavalleiros, e deronsse cĩquo golpes das lanças. E aas seis vezes as quebrarõ em sy. E meterõ mãaos aas spadas e deronsse muy grandes golpes, assy que cortavã os elmos. E esto durou ataa o meyo dya. Quando dom Diego vyo que se lhe tiinha tanto e o nõ podya vencer, veolhe ẽ mente como lidava por a morte de seu senhor que fora morto a tã grã traiçõ 401 e esforçousse muy bẽ e alçou a espada e foi ferir Pedr’Airas per cima do elmo que lho cortou e a loriga e o testo da cabeça cõ do meolo. E Pedr’Airas, cõ a grã coita da morte e do sangue que se lhe hya aos olhos e do golpe, abraçousse aa coma do cavallo. Pero nõ perdeu as estribeiras nẽ a espada da mãao.

E dõ Diego, quando o assy vyo estar, disse ẽ mui grandes vozes: – Dom Airas Gonçallo, ẽvyade outro filho!

E o filho, que andava ẽno cãpo, quando aquello ouvyo, pero assi era muy mal ferido de morte, alimpou o rosto cõ a mãga da loriga e tomou a espada cõ amballas mãaos e, cuydandolhe a dar per cima da cabeça, errouho e deu hũu tã grande golpe ao cavallo que lhe cortou os narizes e as redeas e o cavallo começou logo de fugir cõ a mui grande ferida que lhe dera. Dom Diego, quando vyo que nõ avya redeas cõ que tornar o cavallo, leixousse cayr ẽno cãpo. E Pedr’Airas cayo ẽ terra morto fora do campo. E dõ Die/go [211b] lançou logo a mãao ẽna vara e disse:

– Louvado seja Deus, ca ja eu ey vençudo hũu dos cinquo cavalleiros!

E os fiees veherõ logo e tomarõno e levarõno aa tenda e desarmarõno e derõlhe de comer e de bever. E, depois que folgou hũu pouco, deronlhe outras armas e outro cavallo muy boo e foronsse com elle ao campo.

Entõ chamou dõ Airas Gonçallo outro seu filho que avya nome Dieg’Airas e disselhe: – Filho, cavalgade e yde lidar por livrar este concelho e pera vingar vosso irmãao! E Dieg’Airas lhe disse:

– Senhor, pera esso som aqui vĩido.

402

Entom lhe beyjou a mãao e o padre deulhe a bẽeçon. E foi tomar suas armas e cavalgou em seu cavallo e foisse pera o campo.

E dom Diego comera ja duas sopas e bevera hũu vaso de vinho. E depois entrou ẽno campo. E os fiees os meterõ ẽno cãpo, assy como de dereito devyam de fazer, e sayrõsse fora. E elles leixaronsse correr assy ryjamente e deronsse muy grandes lançadas e andarõ assi pello cãpo, dandosse muyto amehude grãdes golpes assynados. E assi andarõ hũa peça do dya pello cãpo e as lanças erã ja quebradas

Documentos relacionados